quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Novas filiações no PV

30/09/2009 - 17h27


PV filia presidente da Natura em busca de vice para Marina Silva

REGIANE SOARES

da Folha Online

Pré-candidata à Presidência do PV, a senadora Marina Silva (AC) participou hoje da filiação de um grupo de empresários ao partido. Setores do PV defendem que o vice de Marina na eleição de 2010 seja do meio empresarial.

Entre os nomes que entraram na lista de cotados para vice de Marina está o fundador e co-presidente do conselho de administração da Natura, Guilherme Leal, que se filiou hoje ao PV.

O empresário rejeitou comparações com o vice-presidente José Alencar e negou ter um projeto político. "Com todo o respeito que merece o vice José Alencar, eu sou o Guilherme Leal. E com todo o respeito que merece a senadora, sou um servidor do projeto de construção de um Brasil mais próspero, justo e sustentável", afirmou.

Em seguida, entretanto, ele não descartou a possibilidade de sair candidato. "Estou a serviço de um projeto para o país sob a liderança de Marina Silva. Quem assina uma ficha antes de 3 de outubro se coloca à disposição de um projeto político", afirmou ele.

Também se filiaram ao PV o presidente do Instituto Ethos, Ricardo Young, o presidente do Instituto Sócio-Ambiental Henrique Svirsky, o presidente do Moinho Brasil, Fernando Simões, a empresária e socialite Ana Paula Junqueira, o jurista José Afonso da Silva e Fernando Monteiro de Carvalho Garnero, do grupo Garnero.

Marina evitou dizer que as filiações tenham compromisso eleitoral, ressaltou que é um grupo de pessoas "altamente qualificadas" que resolveram mostrar que estão juntas institucionalmente do ponto de vista partidário.

"O que não podemos é nos dispor a contribuir como partido e não estar aptos para que se por ventura alguma decisão política venha a ser tomada não seja viável do ponto de vista legal. [...] Não significa que [os filiados] são candidatos. Eles estão se dispondo", afirmou a senadora.

Artigo de João Alfredo Telles Melo

O outro lado do pré-sal: uma abordagem ambientalista.



No momento em que o Congresso Nacional discute os projetos referentes ao marco regulatório do pré-sal, se faz necessário fugir do lugar-comum do ufanismo dominante e debater as implicações ambientais desse tipo de exploração.

Primeiro, é importante saber que, por ser uma formação mais profunda e antiga, a concentração de CO² (principal gás de efeito-estufa) pode ser entre 3 e 4 vezes superior à dos campos do pós-sal. Assim, supondo reservas de 80 bilhões de barris e considerando as altas concentrações de CO² dos poços do pré-sal, se o nosso país utilizar o combustível em um período de 40 anos, teremos uma liberação anual de 1,3 bilhão de toneladas equivalentes de carbono, ou seja, o dobro das atuais emissões do país (o que pode nos colocar no topo dos países mais poluentes do planeta).

O mais grave é que parece não haver ainda métodos disponíveis no mundo para evitar que a exploração do pré-sal venha a poluir ainda mais o planeta. Há, inclusive, controvérsias quanto ao custo de captura do CO², que pode variar de 10 a 100 dólares por tonelada, segundo o Greenpeace. Pela previsão mais conservadora, a emissão potencial de 18 bilhões de toneladas de CO² do pré-sal pode levar esse custo a mais de 100 bilhões de dólares, valor próximo ao investimento que a PETROBRAS planeja para o pré-sal até 2020.

Ora, se quisermos evitar que a temperatura média do planeta se eleve acima de 2°C até o fim do século XXI, não poderemos queimar mais do que um quarto das reservas descobertas de petróleo no mundo. Por outro lado, o pré-sal só entrará em ritmo comercial entre o meio e o fim da próxima década, provavelmente em uma época em que as restrições sobre as emissões de CO² serão muito maiores e a difusão de outras formas de energia e a redução do consumo de petróleo também.

Lamentavelmente, o que está ocorrendo já, neste momento, é que os trabalhos legislativos da comissão especial de energias renováveis têm sido atrasados por conta da tramitação dos projetos de lei do pré-sal. Em termos de investimentos, ainda que as receitas do pré-sal possam vir a auxiliar o desenvolvimento de pesquisas e subsidiar as energias limpas, os gastos com a exploração do óleo e, posteriormente, com a captura de carbono, poderão vir a comprometer os investimentos nacionais em renováveis. A descoberta do pré-sal está levando a uma aposta ainda maior na matriz suja, vide o anúncio do Ministério de Minas e Energia de propor o diesel em carros de passeio.

O investimento no petróleo do pré-sal - em tempos de aquecimento global e mudanças climáticas - pode vir a ser um atraso, em um país que, rico em mega-diversidade e com um potencial fantástico em energias limpas (como a solar, a eólica e a de biomassa), deveria estar na vanguarda da nova economia pós-carbono, que se faz necessária e urgente para a manutenção da vida em nosso planeta.


João Alfredo Telles Melo, Vereador pelo PSOL em Fortaleza, professor de Direito Ambiental e ex-consultor de Políticas Públicas do Greenpeace Brasil.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

"O Ponto da Virada", de Malcolm Gladwell

Malcolm Gladwell é colunista do jornal The New Yorker e escreveu três livros que alcançaram um grande sucesso de vendas: The tipping point (O ponto da virada), Blink (A decisão num piscar de olhos) e Outliers (Fora de série).

No livro “O ponto da virada”, Gladwell quer responder à seguinte questão: Por que alguns comportamentos, produtos e idéias se espalham como epidemias e outros não? Seria possível controlar intencionalmente tais processos?

O autor parte da seguinte idéia: a melhor maneira de compreender o fluxo e refluxo das tendências sociais é pensá-las como epidemias. “Idéias, produtos, mensagens e comportamentos se espalham como vírus.”

O Ponto da Virada é aquele momento em que pequenas mudanças ultrapassam um determinado limite e a partir daí provocam grandes e rápidas mudanças. “O Ponto da Virada é o momento de massa crítica, o limiar, o ponto de ebulição.”

O autor enumera três “agentes de mudança” que explicam o processo de contágio que origina uma epidemia: “a Regra dos Eleitos, o Fator de Fixação e o Poder do Contexto.” A Regra dos Eleitos explica como algumas pessoas com características particulares (sociabilidade, entusiasmo, energia, conhecimento e influência) são capazes de transmitir ou espalhar uma novidade, criando uma tendência. O Fator de Fixação explica como uma mensagem pode conter elementos inovadores que a tornam inesquecível, ampliando a intensidade do seu impacto. O Poder do Contexto explica como as pessoas são profundamente influenciadas pelo ambiente, o que também contribui para a criação de tendências.

Segundo a Regra dos Eleitos, as epidemias são geradas por “pessoas dotadas de um conjunto raro e particular de talentos sociais.” Essas pessoas podem ser classificadas como: “Comunicadores, Experts e Vendedores”.

Os Comunicadores são aqueles “com um talento especial para reunir pessoas” ou “com um talento extraordinário para fazer amigos e conhecidos.” A importância dos Comunicadores não está apenas na quantidade de pessoas que conhecem, mas também na diversidade. Para o autor, “a capacidade de circular entre muitas áreas tem origem em algo intrínseco à sua personalidade – uma combinação de curiosidade, autoconfiança, sociabilidade e energia.” Acolhendo o conceito do sociólogo Mark Granovetter sobre “a força dos laços fracos”, onde se afirma que a melhor maneira de entrar em algum lugar é por meio de um contato pessoal, os Comunicadores tornam-se socialmente poderosos e valiosos porque têm muitos conhecidos em lugares diversos, o que amplia suas oportunidades de acesso a mundos, lugares e ambientes aos quais não pertencem.

Assim como os Comunicadores são especialistas em gente, os Experts são especialistas em informações. “O Expert é o que acumula conhecimento.” Porém, “não são colecionadores passivos de informações.” É aquele tipo de gente que quando descobre uma novidade valiosa, quer difundi-la para que todos tirem proveito. “Os Experts têm o conhecimento e as habilidades sociais para iniciar epidemias de propaganda boca a boca. O que os distingue, porém, não é tanto o que sabem, mas como passam adiante o que conhecem. O fato de os Experts quererem ajudar simplesmente porque gostam de fazer isso acaba sendo uma excelente maneira de chamar a atenção dos outros.”

Entretanto, a preocupação dos Experts é apenas a de passar adiante uma informação relevante. Eles não estão preocupados em ser convincentes, em persuadir. “Numa epidemia social, os Experts são os bancos de dados. Eles fornecem a mensagem. Os Comunicadores são a cola social: eles a espalham. Entretanto, existe também um conjunto seleto de indivíduos – os Vendedores – capazes de nos convencer quando não acreditamos no que estamos ouvindo.”

O Fator de Fixação é aquela característica da mensagem que a torna memorável, inesquecível. “Nas epidemias, o mensageiro é fundamental: é ele que faz alguma coisa se disseminar. Porém, o conteúdo da mensagem também é importante. E o aspecto específico necessário ao seu sucesso é a ‘fixação’.”

“A fixação parece algo fácil de compreender. Quando queremos garantir que o que estamos dizendo será lembrado, falamos com ênfase. Elevamos a voz e repetimos aquilo várias vezes. Os profissionais de marketing pensam da mesma forma. Em publicidade, existe um lema que diz que, para que alguém se recorde de um anúncio, é preciso que o tenha visto pelo menos seis vezes.”

O Poder do Contexto é a constatação de que “as epidemias são sensíveis às condições e circunstâncias do tempo e do lugar em que ocorrem.” Um exemplo é a “teoria das janelas quebradas” dos criminologistas James Q. Wilson e George Kelling. Eles consideram que o crime resulta da desordem, ou seja, um ambiente sujo e desorganizado passa uma mensagem de permissividade, indisciplina, falta de controle, o que incentiva e autoriza comportamentos transgressores. Tais comportamentos, encontrando um ambiente propício, tendem a se multiplicar, criando uma tendência social. Assim sendo, pequenas mudanças no ambiente podem induzir tendências de sentido inverso.

Assim como o ambiente, grupos também influenciam comportamentos, ou seja, “quando as pessoas estão em grupo, a responsabilidade de agir fica difusa.” Todavia, segundo o antropólogo Robin Dunbar, quando os grupos ultrapassam 150 membros, a coesão social enfraquece e surge a tendência à fragmentação. “O número 150 parece representar a quantidade máxima de pessoas com quem podemos ter um autêntico relacionamento social, o que significa saber quem elas são e como se relacionam conosco.”

Para Gladwell, “a Regra dos 150 sugere que o tamanho de um grupo é mais um desses fatores contextuais sutis que podem fazer grande diferença.” Por isso conclui que “precisamos manter o número de pessoas nos grupos abaixo do Ponto de Virada dos 150. Acima disso, surgem obstáculos estruturais à capacidade que os grupos possuem de concordar e agir de maneira uniforme.”

O autor afirma que para deflagrar epidemias é necessário concentrar recursos em poucas áreas essenciais. “A Regra dos Eleitos diz que os Comunicadores, Experts e Vendedores são os responsáveis por iniciar epidemias boca a boca. Isso significa que, se você estiver interessado em desencadear algo do gênero, seus recursos devem ser dirigidos somente a esses três grupos. Ninguém mais importa.”

Gladwell diz que “o que deve sustentar as epidemias de sucesso, no fim das contas, é uma fé inabalável de que é possível mudar, que as pessoas são capazes de transformar radicalmente seus comportamentos ou suas crenças diante do estímulo certo.”

Finalmente, o autor examina suas idéias diante do crescimento do fenômeno das redes sociais, sobretudo na internet. Constata que “pertencer a uma grande rede pode ser algo maravilhoso e, teoricamente, quanto maior o seu tamanho, mais forte ela é. Contudo, à medida que a rede cresce, os custos relativos a tempo e aborrecimentos contabilizados por seus membros também aumentam.” Surge daí o fenômeno da “imunidade”, ou seja, uma resistência aos relacionamentos virtuais.

Gladwell observa que “quando as pessoas ficam soterradas em informações e desenvolvem imunidade a formas tradicionais de comunicação, elas buscam conselhos e informações com aqueles por quem têm admiração e respeito e em quem confiam. A solução para a imunidade é encontrar Comunicadores, Experts e Vendedores.”

O autor conclui o livro afirmando que “num mundo dominado pelo isolamento e pela imunidade, entender os princípios da propaganda boca a boca é mais importante do que nunca.”

Resenha elaborada por Juarez de Paula.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Artigo de Marina Silva

Contagem regressiva


Marina Silva

Faltam 74 dias para a 15ª Conferência das Partes sobre o Clima (COP 15), em Copenhague, na Dinamarca, que reunirá líderes mundiais em torno de um novo acordo global para enfrentar os problemas decorrentes das alterações do clima. Até lá estaremos em contagem regressiva para avançarmos numa agenda de negociações capaz de responder ao desafio ímpar que o mundo tem pela frente.

Cerca de 100 líderes mundiais se reuniram ontem na sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova Iorque, nos Estados Unidos, convocados pelo secretário-geral da organização, Ban Ki-moon. Para ele, essa cúpula do clima é a última chance de mobilizar chefes de Estado para "selar o acordo" sobre o clima.

É compreensível o temor de não haver progresso consistente nas negociações, que resulte em um acordo significativo em Copenhague. Pois parece faltar, ainda, uma consciência política de que o enfrentamento das mudanças climáticas vai exigir medidas urgentes em escala planetária e compromisso de todos os países para uma economia de baixo carbono, cada um segundo a sua capacidade.

Mudança climática não é apenas um problema ambiental. É uma questão que exigirá mudanças estruturais profundas, criando novo paradigma de desenvolvimento. Deve ser o prisma de qualquer investimento para gerar emprego, renda, produção ou tecnologia no século 21. Nenhum país pode atrasar seu engajamento na transição para uma sociedade de baixo carbono. O dilema sobre como promover o crescimento sem agravar as conseqüências do aquecimento global é universal.

Para países pobres e em desenvolvimento, essa transição ganha contornos dramáticos diante do desafio de dar qualidade de vida a milhões de pessoas que ainda vivem na pobreza. Como crescer dialogando adequadamente com as necessidades e responsabilidades irrecusáveis impostas pela crise ambiental, cujo eixo central são as mudanças climáticas?

Em seu discurso, ontem, o presidente da Comissão Européia, José Manuel Barroso, disse que as negociações da ONU se encontram perigosamente num impasse. "Não se trata de uma discussão que podemos retomar no próximo ano. Isso poderia resultar num terrível colapso, num atraso de anos para que as ações contra as mudanças climáticas comecem a ser adotadas". Ele ressaltou ainda que as alterações climáticas parecem estar acontecendo mais rapidamente do que previu o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) há dois anos. "Precisamos encontrar soluções agora".

O governo chinês anunciou na cúpula um plano de tornar sua matriz energética 15% renovável até 2020, a iniciativa de plantar 40 milhões de árvores, reduzir as emissões tóxicas de veículos automotores, de fábricas e de suas usinas de carvão e oferecer ajuda para países mais pobres.

A União Européia também noticiou a meta de reduzir em 20% o volume de emissões até 2020. Já a proposta americana mais agressiva anunciada até agora fala em cortes de 4%, quando comparados com as emissões de 1990.

Enquanto isso, outras nações, a maioria em desenvolvimento, estão surgindo com iniciativas mais criativas e ousadas, embora não seja fácil no âmbito de cada uma. A Costa Rica, por exemplo, propõe uma transição para a neutralidade de carbono até 2021. As Maldivas e outras nações insulares pretendem alcançar a neutralidade de carbono até a metade do século. Já a Coréia do Sul está investindo cerca de 80% do seu pacote de estímulo fiscal em medidas relacionadas ao clima.

O Brasil, que tem papel importante neste debate, infelizmente, se ausentou do encontro, sem justificativa plausível. E até agora tem anunciado metas pouco ambiciosas. O plano é reduzir as emissões provenientes do desmatamento na Amazônia - a principal fonte de emissões de gases - em 80% até 2020, e ampliá-lo com cortes nas emissões globais provenientes de outros setores. Poderíamos avançar mais, principalmente no compromisso com metas de desmatamento zero para todos os biomas.

Precisamos de mais clareza das nações em seus compromissos, mesmo que sejam compromissos voluntários. O mundo desenvolvido e o em desenvolvimento, a partir de esforços multilaterais, precisam um do outro para sair do impasse e avançar numa parceria que funcione apoiada em propósitos generosos e solidários, com investimentos substanciais.

A sociedade também deve participar dessas negociações e se fazer ouvir, clamando por uma representação que leve em conta suas prioridades e problemas, não apenas as conveniências da cultura política tradicional, ultrapassada mas ainda muito poderosa.

Na última segunda-feira, dia 21, foi o dia do alerta geral da Campanha Global de Ações pelo Clima (GCCA), mais conhecida como TicTacTicTac, com ações ao redor do mundo para chamar a sociedade e persuadir os líderes internacionais pela assinatura de um acordo justo e eficiente na reunião de Copenhague. Para participar, consulte os sites http://www.tictactictac.org.br/ ou http://tcktcktck.org/.


A ONU também está convocando a população mundial a assinar uma petição pela internet, parte da campanha "Seal the Deal" (Selar o acordo), pedindo medidas urgentes no combate às mudanças climáticas. As assinaturas coletadas serão entregues aos líderes mundiais durante a COP-15. Basta acessar o site http://www.sealthedeal2009.org/  

E no domingo, dia 27, estarei, juntamente com o Partido Verde, o Movimento Brasil no Clima e várias organizações não-governamentais no Rio de Janeiro para uma caminhada, a partir das 11h, do Leblon ao Leme. Pediremos ao governo brasileiro que assuma metas de redução de emissões de carbono e que adote políticas que apontem, entre outros objetivos, para o desmatamento zero e o fim de novas termoelétricas a carvão. É preciso que o governo se posicione claramente e assuma de forma obrigatória e internacionalmente verificável, essas metas na Conferência de Copenhague. Participe conosco. Mais informações no site http://www.pv.org.br/.

Publicado em:

Terra Magazine
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3991214-EI11691,00-Contagem+regressiva.html

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Análise da Pesquisa CNI / IBOPE

A pesquisa CNI/IBOPE trabalhou com seis cenários diferentes. Considerando o cenário mais provável, hoje, os resultados são: José Serra - 35%; Ciro Gomes - 17%; Dilma Rousseff - 15%; Marina Silva - 8%; branco/nulo - 14% e não sabem - 10%.

Serra caiu, mas é o que apresenta menor rejeição, portanto, pode voltar a crescer. Ciro está crescendo e tem a segunda menor rejeição, portanto, pode crescer ainda mais. Dilma caiu e tem a maior rejeição, portanto, terá dificuldades para reverter a tendência de queda, embora tenha tempo e estrutura de apoio para isso. Marina é a menos conhecida, o que significa que pode crescer. Parte de um excelente patamar, ou seja, metade das intenções de voto de Ciro ou Dilma, nomes colocados há mais tempo como presidenciáveis. Mas precisa se preocupar com o índice de rejeição, que está muito alto (37%).

Desconsideramos os cenários que incluem Aécio Neves e Heloísa Helena porque a tendência atual é de que não sejam candidatos a presidente.

É o que se pode concluir, por enquanto.

Juarez de Paula

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Pesquisa CNI / IBOPE

Serra e Dilma caem; Ciro sobe, diz Ibope


Piero Locatelli
Do UOL Notícias
Em São Paulo
Atualizada às 12h13


Pesquisa do Ibope sobre a eleição presidencial de 2010 revela que o pré-candidato do PSDB José Serra caiu 4 pontos percentuais em relação ao levantamento realizado em junho. No único cenário em que é possível comparar os dados, Serra passou de 38% para 34%.


Apesar da queda, o governador de São Paulo lidera em todos os três cenários em que aparece. A intenção de votos para Serra oscila entre 34% e 35%, dependendo dos seus adversários.


A pré-candidata do PT, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), atinge entre 14% e 18%. Dilma caiu nos dois cenários em que aparece e em que é possível a comparação com a pesquisa realizada em junho.


Quem mais subiu foi o pré-candidato do PSB, o deputado federal Ciro Gomes (CE). Ciro diminuiu a diferença em relação a Serra no cenário em que é possível comparar os dados anteriores: a diferença entre os dois caiu de 26 pontos para 17 pontos.


Ciro atinge entre 14% e 28%, dependendo do cenário. Ciro ganha de Dilma e lidera em todos as simulações quando o candidato do PSDB é o governador de Minas, Aécio Neves. Nos cenários em que o candidato tucano é José Serra, Ciro aparece empatado com a ministra.


A pré-candidata do PV, senadora Marina Silva (AC), tem entre 6% e 11%. Heloisa Helena, vereadora do Psol em Maceió (AL), varia entre 8% e 13%.


Os números são da pesquisa Ibope divulgada nesta terça-feira (22), contratada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria). A pesquisa foi realizada entre 11 e 14 de setembro com 2.002 entrevistado de 142 municípios. A margem de erro da pesquisa é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos.


Rejeição


Dilma Rousseff e Heloísa Helena (Psol) são as candidatas com a maior rejeição entre os seis pré-candidatos testados pelo Ibope: 40% dos eleitores dizem que não votariam de jeito nenhum em cada uma delas.


Entre todos os candidatos, Serra é o mais conhecido e também o que tem a menor rejeição. Segundo a pesquisa, 66% dizem que o conhecem e somente 30% dizem que não votariam nele de jeito nenhum.


A candidata menos conhecida é Marina Silva - apenas 18% dos entrevistados dizem saber quem é a ex-ministra do meio ambiente.

Marina Silva no Roda Viva - 2

Você pode assistir aos melhores momentos da entrevista de Marina Silva no Roda Viva pelo site:
http://www.iptvcultura.com.br/
Vale à pena conferir!

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Marina Silva no Roda Viva

A Senadora Marina Silva participa hoje do programa Roda Viva.
Você pode acompanhar e participar da gravação, ao vivo, a partir das 18h30, pelo web site http://www.iptvcultura.com.br/
Pode também assistir a entrevista na íntegra, hoje, às 22h10, na TV Cultura.

Artigo de José Goldemberg

Pré-sal e desenvolvimento sustentável


José Goldemberg

Há 35 anos os países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) cortaram radicalmente a sua produção e lançaram o mundo ocidental - inclusive o Brasil - na pior crise de energia do século 20. Não havia, na época, uma compreensão clara das consequências ambientais do aumento do consumo de combustíveis fósseis e das emissões resultantes, que são responsáveis pelo aquecimento da atmosfera. Consumir mais era um sinônimo de progresso econômico e riqueza.

O Brasil, na ocasião, importava quase todo o petróleo que consumia e gastava, antes da crise, cerca de US$ 500 milhões por ano. Após a crise, a "conta petróleo" subiu para mais de US$ 4 bilhões, cerca da metade de todas as exportações do País. Demorou mais de 20 anos e um trabalho intenso da Petrobrás para descobrir e explorar petróleo na plataforma continental e nos levar à autossuficiência. Ainda assim, as reservas avaliadas até agora não devem durar mais de 15 anos.

Com a redução da produção dos países da Opep, os países industrializados fizeram grandes esforços para reduzir o consumo e desenvolver fontes adicionais de petróleo e energia. A produção de petróleo a partir do xisto betuminoso no Canadá é um exemplo desses esforços, apesar de este ser um processo caro e complicado. A produção de etanol de cana-de-açúcar no Brasil é outro exemplo.

Se o pré-sal tivesse sido descoberto em 1975, com suas enormes reservas estimadas, a história da energia no mundo talvez tivesse sido diferente. O País seria visto como uma salvação do mundo ocidental, que viria todo investir aqui e nos ajudaria a colocar petróleo do pré-sal nas refinarias.

Quando a crise criada pela Opep passou e o petróleo passou de novo a ser abundante e relativamente barato, a febre do consumismo voltou com força total, os projetos de xisto no Canadá e muitos outros foram abandonados. Talvez a única exceção tenha sido o apoio constante que o governo brasileiro continuou a dar à produção de álcool da cana-de-açúcar, o que é, de fato, extraordinário e louvável.

Hoje a situação é diferente, por duas razões:

Em primeiro lugar, porque sabemos muito bem que é preciso reduzir as emissões de gases que resultam da queima do petróleo. Estão em curso negociações internacionais - que vão culminar com a conferência internacional em Copenhague, em dezembro - que poderão estabelecer limites severos ao uso de combustíveis fósseis. Eles foram os responsáveis pelo progresso da humanidade no passado, mas o futuro hoje não é visto como mais petróleo, mais gás e mais carvão, e sim energias renováveis.

Em segundo lugar, porque as reservas internacionais de petróleo e gás estão em processo de exaustão e sua vida remanescente estimada não é maior do que 40 ou 50 anos.

Por essas razões, uma euforia exagerada em relação à descoberta de mais petróleo tem de ser evitada, a fim de não levar o País a abandonar recursos e tecnologias que sejam sustentáveis a longo prazo e que não se vão exaurir como o petróleo ou gás.
Vários países do Oriente Médio, os maiores produtores mundiais de petróleo - e que possuem as maiores reservas provadas -, já se deram conta disso e estão diversificando suas fontes de receita, como é o caso de Abu Dabi, Dubai e outros, que são não apenas locais para turismo, mas também grandes centros comerciais e de desenvolvimento tecnológico. Dependência do petróleo simplesmente não é o caminho de um desenvolvimento sustentável.

Há outros aspectos em que a situação atual é muito diferente da de três décadas atrás. Não existe falta de petróleo e os grandes produtores do Oriente Médio têm capacidade ociosa, já que com a crise mundial o consumo caiu. Essa é uma das razões por que o preço do barril se estabilizou em torno de US$ 60, muito abaixo dos US$ 140 do ano passado, antes da crise. Outra razão é a especulação pura e simples. O que pode ocorrer é, simplesmente, não haver compradores para petróleo do pré-sal no futuro.

O que fazer, portanto, com o pré-sal, riqueza encontrada pela Petrobrás no fundo do oceano, a centenas de quilômetros da costa e a mais de 7 mil metros de profundidade?

Sob um certo ponto de vista, essa riqueza ainda não é real: é como se fosse um diamante bruto que precisa ser lapidado. Ou talvez, mal comparando, como o minério de urânio - do qual o Brasil tem reservas razoáveis -, que só ganha valor se for "enriquecido", um processo caro e complicado. Altas autoridades do País frequentemente confundem as duas.

Investir agora enormes recursos do governo na exploração do pré-sal - que certamente vão fazer falta em outras áreas, como educação e saúde -, contando com grandes ganhos no futuro, é pelo menos temerário. Não é possível prever qual será a taxa de sucesso na abertura dos poços para a retirada do petróleo, já que não existe experiência prévia nessa área. Tampouco se pode prever se não surgirão problemas ambientais novos, o que pode atrasar a exploração. Sob esse prisma, uma grande batalha para dividir os royalties que o pré-sal vai gerar é, no mínimo, prematura.

O que parece razoável é investir cautelosamente na exploração e dividir o risco e os custos com outras empresas de petróleo, sobretudo nas pesquisas científica e tecnológica indispensáveis para aumentar as "chances" de sucesso dos empreendimentos. Se fracassos ocorrerem, os custos serão divididos. Se houver sucesso, serão divididos os lucros, mas não há como ganhar sempre.
Vender ilusões e miragens pode ser uma boa tática eleitoral, mas neste caso elas poderão custar muito. Enquanto isso, investir mais nas tecnologias do futuro (energia solar, dos ventos, biomassa e carros elétricos) parece um caminho mais seguro.
José Goldemberg é professor da Universidade de São Paulo
Artigo publicado em O Estado de São Paulo, 21/09/2009.

A Era da Estupidez - o filme

Filme denuncia "estupidez" humana na crise do clima


Ficção projeta futuro do planeta após meio século sem combate ao efeito estufa
Sem mensagem edificante, "A Era da Estupidez" pinta cenário cientificamente mais realista do que outros que dramatizaram o tema
Claudio Angelo
Editor de Ciência da Folha de São Paulo

O ano é 2055. Catástrofes naturais causadas pela mudança climática, seguidas de guerras, levaram ao colapso da civilização e à quase extinção da humanidade. Numa torre solitária, num Ártico livre de gelo, um sobrevivente reprisa vídeos do começo do século, quando as catástrofes começaram a acontecer. E se pergunta: "Por que não salvamos a nós mesmos quando tivemos a chance?"

É esse o argumento de "A Era da Estupidez", filme que pretende mobilizar a opinião pública para a crise do clima e para o novo acordo global contra os gases-estufa, a ser negociado dezembro em Copenhague.

Meio ficção, meio documentário, o filme estrelado por Pete Postlewhaite (o pai de Daniel Dey-Lewis em "Em Nome do Pai" e o caçador de "Jurassic Park") explora as consequências do chamado cenário "mesmo de sempre", no qual as emissões de dióxido de carbono por atividades humanas continuam subindo sem parar.

Mais do que isso, no entanto, a produção da diretora britânica Franny Armstrong mostra por que esse é o futuro provável da espécie, ao contar histórias reais de pessoas comuns -cujas ações cotidianas contribuem para o problema.

Um dos personagens, por exemplo, é o milionário indiano Jeh Wadia, que aos 32 anos criou a primeira empresa aérea econômica da Índia, a Go (a aviação é uma das principais fontes de CO2). Há também o engenheiro britânico Piers Guy, que monta uma turbina eólica no quintal de casa para cortar as próprias emissões, mas não consegue montar uma pequena usina eólica em sua região por oposição dos vizinhos, ciosos de sua "paisagem".

Do outro lado estão Fernand Pareau, o guia de montanha francês que vê o aquecimento mudar as geleiras onde cresceu, nos Alpes; a nigeriana Layefa Maleni, cuja aldeia é arruinada pela atividade da Shell no delta do Níger; e duas crianças iraquianas que se refugiam da Jordânia após terem o pai morto na invasão americana de 2003 -uma guerra por óleo.

Talvez a história mais emblemática de todas seja a de Alvin DuVernay, um morador de Nova Orleãs que se recusa a evacuar a cidade durante o furacão Katrina, perde tudo o que tem e que acaba virando um herói local, resgatando uma centena de pessoas com seu barco.

Depois de contar sua história, Alvin é filmado em seu local de trabalho: uma plataforma de petróleo da Shell na Louisiana, onde ele analisa amostras de fósseis marinhos para decidir onde é melhor furar... em busca de petróleo.
Libelo

Com estreia nos EUA e no Canadá hoje, véspera da reunião extraordinária da ONU sobre o clima, e no resto do mundo amanhã (inclusive no Brasil), o filme é um libelo político. Para não arriscar diluir sua mensagem, Armstrong optou por uma produção 100% independente, financiada pela venda de cotas a pessoas físicas (leia texto acima, à direita.).

"Nós queríamos independência para dizermos o que quiséssemos sobre mudança climática", disse à Folha a produtora de "A Era da Estupidez", Lizzie Gillett. "Não queríamos ninguém chegando no final e fazendo cortes."

O roteiro tem a tarefa difícil de emocionar um público já saturado de mensagens catastrofistas sobre o clima e exposto nos últimos anos a filmes como o ficcional-tragédia "O Dia Depois de Amanhã" (2004) e o documentário "Uma Verdade Inconveniente" (2006).

À diferença do primeiro, as tragédias climáticas mostradas são reais. À diferença do último, "A Era da Estupidez" não poupa empresas nem traz mensagens edificantes. O espectador sai do cinema deprimido e revoltado consigo.

Questionada sobre a eficiência desse discurso, Gillett afirma: "Você quer contar às pessoas a verdade, que é bem sombria e deprimente, mas não quer deixá-las deprimidas. Mas, se as pessoas conhecem os fatos, eles são bem deprimentes e bem assustadores, então quisemos contar a verdade, mas de uma forma inteligente, sem passar a mão na cabeça delas e dizer: "Se você trocar suas lâmpadas vai ficar tudo bem", porque isso obviamente não é verdade."
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FILME - "A Era da Estupidez" de Franny Armstrong, com Pete Postlewhaite; 92 min.

Artigo de Marina Silva

Outros passos


Depois de muitos adiamentos, foi finalmente lançado o zoneamento agroecológico da cana-de-açúcar. Apesar da demora, o ponto positivo é que foram levadas em conta as diretrizes defendidas pelo Ministério do Meio Ambiente desde que o debate se instalou no governo, em 2007. A proteção da Amazônia, do Pantanal e dos remanescentes de florestas nos demais biomas, assim como a observância da segurança alimentar, estão contempladas. Mas não ainda garantidas. São fundamentais medidas complementares para assegurar, de fato, a sustentabilidade da nossa produção de etanol e outros biocombustíveis.

É preciso impedir que a pecuária -que cederá espaço para a expansão da cana- migre de modo anárquico para a Amazônia ou outros biomas, agravando o que já ocorre.

Falta também política de incentivo para um salto tecnológico que eleve a produtividade na pecuária -cuja média nacional beira a uma cabeça por hectare- e incorpore o adequado manejo dos recursos naturais em suas práticas, a partir de tecnologias disponíveis na Embrapa e já adotadas por vários produtores. Dessa forma, será possível aumentar o rebanho e a renda do produtor e ainda liberar áreas para a produção de biocombustíveis, reflorestamento comercial e outras culturas, descartando novos desmatamentos, o que significa reduzir emissões de carbono.

Mas nada disso terá sentido se o projeto de lei for desfigurado no Congresso Nacional. É imprescindível um cuidadoso e consistente processo de articulação política que garanta a aprovação da proposta, de modo a que não se resuma a mera "boa intenção" do governo.

Outro passo necessário é estabelecer um processo de certificação independente para a produção de biocombustíveis, atestando o cumprimento da legislação trabalhista, ambiental e do próprio zoneamento. Estaria assim assegurada a sustentabilidade dos nossos biocombustíveis, tornando-os praticamente imbatíveis no mercado global. Apesar da forte resistência de alguns setores, o zoneamento sinaliza que é possível mudar o jogo e chegar a uma produção agrícola compatível com a economia descarbonizada do futuro. Sinaliza também que a virada começa numa nova qualidade de pensamento e planejamento estratégico para o setor agrícola.

Se o Brasil consolidar políticas nessa direção e assumir metas obrigatórias de redução de suas emissões totais, certamente chegará a Copenhague como referência para a negociação de um compromisso internacional decisivo na contenção do aquecimento global.

Reunimos as melhores condições, há que se perseverar na decisão politica para desempenhar esse papel.

Artigo publicado na Folha de São Paulo, 21/09/2009.

domingo, 20 de setembro de 2009

Nota do Blog do Josias de Souza

Ciro sobe: A pesquisa CNI/Ibope a ser divulgada na segunda-feira trará uma novidade inconveniente para o governo – e não são os cerca de 40% das preferências para José Serra.

O incômodo maior será ver Ciro Gomes em segundo lugar. A diferença real entre Ciro e Dilma Rousseff pode até nem existir, pois está dentro da margem de erro da pesquisa, mas sua divulgação fará grande barulho.

Na mesma pesquisa, Marina Silva começa a dizer a que veio – ela surgirá com 6% das intenções de voto.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Negócios Verdes

Negócios Verdes

Os indicadores econômicos internacionais começam a dar sinais de que estamos superando o quadro de recessão mundial. A mídia internacional já anuncia o fim da crise. O Brasil, conforme previsão de que seria um dos últimos países a entrar na crise e um dos primeiros a sair, depois de dois trimestres com redução da atividade econômica, retomou o crescimento industrial, segundo dados do último trimestre.

O problema é que pouco adianta retomar o crescimento econômico se não há mudança estrutural no padrão de produção e consumo, pois como se trata de um modelo não sustentável, é mera questão de tempo até que nos vejamos imersos em nova crise, provavelmente de maior profundidade e extensão.

É preciso iniciar a transição para uma sociedade pós-carbono, ou seja, para um novo padrão de produção e consumo menos intensivo no uso de energia e menos dependente dos combustíveis fósseis, cujas reservas são finitas e estão em processo de esgotamento.

Quando se fala numa “Agenda Verde de Desenvolvimento”, muita gente reage como se fosse uma utopia irrealizável. Utopia não deixa de ser, vez que significa “não-lugar”, ou seja, aquilo que não está posto. Mas Utopia não significa aquilo que nunca vai existir, como querem alguns. Pelo contrário, tem significado sempre, ao longo da história, aquele tipo de sonho que move os revolucionários e inovadores, gerando processos de mudança.

Pensar em um novo padrão de produção e consumo que contribua para a realização de uma Agenda Verde do Desenvolvimento, ou seja, para a afirmação de um modelo de desenvolvimento sustentável, significa pensar em novos negócios, capazes de gerar crescimento econômico, mais empregos e mais renda, ao tempo em que se avança na conquista da sustentabilidade.

Imagine, por exemplo, todo o mercado em torno do aproveitamento de fontes renováveis e sustentáveis de energia, tais como a energia solar, a energia eólica, a energia cinética das marés, a produção de biocombustíveis (etanol, biodiesel, etanol celulósico). Quantos empregos serão gerados em pesquisas tecnológicas, desenvolvimento de máquinas e equipamentos, instalação e gerenciamento de novos sistemas de produção e distribuição de energia?

Ainda nesta área, é fundamental aumentar a eficiência energética das máquinas e equipamentos existentes, o que também demandará inúmeros novos negócios, seja no desenvolvimento de novas tecnologias, seja na adaptação de inovações para uso nas máquinas e equipamentos disponíveis.

Outro mercado importante é aquele que gravita em torno das atividades de captação, eficiência no uso e reciclagem de recursos hídricos. Assim como os combustíveis fósseis, a água também é um recurso natural escasso que exige aproveitamento racional.

Produção e adaptação de habitações ecoeficientes é outro negócio promissor. A arquitetura, o design e a indústria da construção civil, incluindo a indústria dos materiais de construção, precisarão criar soluções de iluminação, climatização, reciclagem de emissões, destinação de resíduos, dentre outras, compatíveis com o conceito de desenvolvimento sustentável.

O urbanismo e o design das cidades também serão afetados, de modo que se eleve a qualidade de vida e se reduza o consumo de energia e a emissão de poluentes. Nesse sentido, a redução das necessidades de deslocamentos e novas soluções em transporte coletivo são desafios capazes de gerar novos modelos de negócio.

Desenvolvimento de embalagens biodegradáveis a partir de matérias-primas renováveis, tais como os bio-plásticos derivados de polímeros de mandioca ou cana-de-açúcar, é outro grande mercado, que se somará àquele das atividades de coleta seletiva, reciclagem e destinação de resíduos, buscando uma radical redução da produção de lixo.

Produção agroecológica de alimentos, reduzindo a utilização de fertilizantes e pesticidas químicos, é outro mercado em expansão. Para além da melhoria na qualidade dos alimentos, vai estar também em foco a necessidade de redução da “pegada ecológica”, ou seja, dos custos de energia e emissão de carbono decorrentes do transporte dos alimentos, de modo que será cada vez mais valorizada a produção e comercialização local.

Captação e fixação de carbono é outro segmento de negócios a ser considerado, provavelmente como um serviço associado à atividade agroflorestal. Remuneração de serviços ambientais tais como a preservação de nascentes, de matas ciliares, de áreas verdes, passará a ser uma alternativa rentável nas áreas rurais.

Mesmo soluções muito simples, para reduzir o consumo doméstico de energia, serão capazes de criar novos negócios. Por exemplo, chuveiros elétricos e ferros de passar roupa são os principais responsáveis pelo consumo de energia elétrica domiciliar. Assim, equipamentos de baixo custo para aquecimento solar da água e artigos de vestuário com tecidos que não amassem serão negócios promissores.

Numa sociedade do conhecimento, os serviços de educação e as tecnologias de informação terão demandas crescentes. A população mundial já está em torno de sete bilhões de pessoas. Imaginar um crescimento populacional ilimitado também não é sustentável. Portanto, a necessária estabilidade demográfica exigirá a melhoria dos serviços de planejamento familiar e, conseqüentemente, o envelhecimento relativo da população implicará em novas demandas nos serviços de saúde e previdência.

São alguns poucos exemplos de como é possível gerar negócios, empregos e renda, fazendo a transição para um novo padrão de produção e consumo que contribua para a construção de um modelo sustentável de desenvolvimento.

O futuro imediato da humanidade exige um modo de vida diferente, onde todos tenham acesso a uma vida mais frugal, mais saudável, mais local, mais próxima da natureza. Isso não significa regredir às condições do período medieval. Significa apenas reconhecer que as condições da sociedade industrial não são sustentáveis.

Não se trata, todavia, de um destino inexorável. Trata-se de uma escolha: racional, intencional, consciente. Podemos escolher uma vida confortável para todos, construindo um modelo de desenvolvimento sustentável e includente, ou podemos escolher o caminho do colapso ambiental, com seu conseqüente e previsível cenário de barbárie e de caos.

Juarez de Paula

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Artigo de Marina Silva

Do pré-sal ao pós carbono

Por Marina Silva - senadora e ex-ministra do meio ambiente.

A descoberta do petróleo no pré-sal e suas consequências para o Brasil são assuntos de enorme importância, mas estão sendo discutidos de maneira que mais confunde do que esclarece.
Os recursos advindos dessa descoberta deveriam ajudar o país a construir os meios para a superação, ao longo do tempo, da dependência das energias fósseis e do modelo de desenvolvimento que elas simbolizam. Que produz bens e riqueza material e também pobreza extrema, degradação dos recursos naturais, poluição, doenças.

E se escora em razões que parecem se bastar, sem levar em conta que tornam praticamente inalcançável, para a maioria das pessoas, uma vida digna e saudável.É absurdo não perceber que a nova fonte de petróleo, que ainda será estratégico e indispensável por décadas, deveria servir ao propósito inovador de criar as condições de trânsito para aquilo que se mostra cada vez mais inescapável: uma economia de baixo carbono e uma sociedade pós-ideologia do consumo.

Para chegar a esse futuro, é fundamental entendermos hoje como as prioridades se relacionam. Tomemos a educação no Brasil. Precisa estar no topo das prioridades, não apenas para ser um sistema mais eficiente do ponto de vista tradicional, mas, sim, para colocar crianças e jovens em diálogo com os novos paradigmas que serão a marca deste século. Por sua vez, isso depende de pesquisa científica e tecnológica para o desenvolvimento de novos materiais, fontes de energia renovável e práticas produtivas baseadas nos amplos recursos naturais de que o Brasil dispõe.

Nessa nova sociedade, a redução da pobreza e das desigualdades sociais será objetivo indissociável da educação de qualidade, da capacidade tecnológica, da sustentabilidade socioambiental, venham os recursos de onde vierem.

O ufanismo com os números do pré-sal não pode jogar para debaixo do tapete a necessidade de mitigar a emissão de carbono, ampliando o combate ao desmatamento e os programas de reflorestamento.
A novidade, a rigor, só aumenta nossa responsabilidade ética em propor metas obrigatórias de emissão de carbono em Copenhague, no final deste ano. Pré-sal e o papel do Brasil em Copenhague não são assuntos estanques. São a mesma equação, embora a discussão em curso não reflita isso.

O desenho de um novo Brasil não pode estar contido na camisa de força da tramitação em regime de urgência do marco legal do pré-sal, feita para contemplar cronogramas políticos e sem a participação da sociedade, essencial porque estamos numa democracia e porque as questões reais precisam ter, pelo menos, chance de vir à tona.

Artigo publicado originalmente no jornal Folha de São Paulo de 07-09-2009.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O detalhe que falta

O presidente Lula tem aproveitado o debate sobre a regulação do processo de exploração das reservas de petróleo do pré-sal para discutir a destinação dos resultados desta riqueza mineral recem-descoberta. Tem proposto que a riqueza não fique concentrada apenas nos estados "produtores" de petróleo (na verdade foi a decomposição natural de matéria orgânica que o produziu), mas que seja distribuída para todas as unidades da Federação. Além disso, tem proposto que parte desta riqueza seja dirigida para um fundo social, destinado a investimentos em educação, preservação ambiental e combate à pobreza. Também tem defendido restrições à exportação de petróleo, de modo que o país desenvolva ainda mais sua indústria petroquímica, exportando derivados, com maior valor agregado, gerando empregos e oportunidades de negócios no mercado interno. Por fim, tem reforçado o monopólio da PETROBRAS na exploração das reservas, de modo que o país não perca o controle sobre os estoques.

Considero todas as preocupações essencialmente corretas. Porém, ficou faltando um detalhe. Todos sabemos que reservas de petróleo, por maiores que possam ser, são recursos finitos. Portanto, é preciso colocar a questão: e quando o petróleo acabar? Quanto da riqueza do petróleo do pré-sal será destinada ao desenvolvimento de tecnologias para aproveitamento de fontes energéticas sustentáveis e renováveis, tais como a energia eólica, a energia solar, a energia cinética das marés ou os biocombustíveis?

A era do petróleo está chegando ao fim. Não necessariamente porque os estoques de petróleo estejam em declínio, o que também é verdade. Mas principalmente porque o consumo de energia tem sido crescente, porque a maior parte dessa energia tem sido gerada a partir de combustíveis fósseis (petróleo, gás natural e carvão mineral) e isso tudo tem ampliado o efeito estufa, provocando mudanças climáticas imprevisíveis, incontroláveis e que ameaçam a manutenção da vida no planeta. Dentro em breve, as restrições ambientais ao uso de combustíveis fósseis será de tal ordem, que os estoques remanescentes de petróleo, gás natural e carvão mineral perderão valor. Alguém já disse que "a idade da pedra acabou não porque as pedras tenham acabado". O mesmo vale para os combustíveis fósseis.

A era do petróleo vai acabar na medida em que as tecnologias para aproveitamento de fontes energéticas sustentáveis e renováveis forem competitivas, em termos de custos, para a substituição dos combustíveis fósseis. Hoje, os custos de exploração das reservas de petróleo do pré-sal só são viáveis em razão do constante crescimento do preço do barril do petróleo, que é um reflexo da redução da oferta e do crescimento do consumo. Porém, na medida em que se ofereçam alternativas mais baratas, ou de igual custo, mas sem os passivos ambientais decorrentes do uso dos combustíveis fósseis, toda a indústria do petróleo ficará obsoleta.

O Brasil possui todas as condições naturais para ser uma potência no aproveitamento de fontes sustentáveis e renováveis de energia. Porém, precisa dar prioridade a essa tarefa e precisa investir seriamente em ciência e tecnologia aplicada para este fim. A riqueza do pré-sal deveria ser fortemente orientada nesta direção. Não interessa ser a última potência da era do petróleo. É melhor ser a primeira potência em tecnologia de aproveitamento de fontes sustentáveis e renováveis de energia. É assim que vamos ter "crescimento econômico com distribuição de renda", ao tempo em que abrimos caminho para um modelo de desenvolvimento sustentável.

Juarez de Paula

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Senadora Marina Silva no Programa do Jô

Confira a entrevista da Senadora Marina Silva no Programa do Jô de 31/08/2009.
http://video.globo.com/Videos/Player/Entretenimento/0,,GIM1115677-7822-SENADORA+MARINA+SILVA+FALA+SOBRE+POLITICA,00.html

Uma agenda para o futuro

O Brasil saiu de 20 anos de Ditadura Militar (1964-1984) num ambiente que refletia certa instabilidade democrática. A despeito das grandes mobilizações da Campanha das Diretas-Já, a emenda das eleições diretas para presidente foi derrotada e a chapa Tancredo Neves - José Sarney saiu vitoriosa no Colégio Eleitoral. Todavia, o presidente eleito morreu antes de tomar posse e José Sarney foi empossado com baixa legitimidade, posto que não representava o movimento social pela redemocratização do país. Além disso, seu governo ficou marcado pela instabilidade monetária, resultando numa economia hiperinflacionária.

A eleição de Fernando Collor, em 1989, impondo uma derrota a Lula através de forte manipulação dos meios de comunicação social, seguida pelo seu impeachment no meio do mandato, também contribuíram para a manutenção do cenário de instabilidade democrática e monetária.

Assim sendo, os governos de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso tiveram uma agenda marcada pela busca da consolidação democrática e da estabilidade monetária, o que foi alcançado, simbolicamente, pela construção de governos de coalizão, pelo Plano Real e pela Lei de Responsabilidade Fiscal. A transferência de poder de Fernando Henrique Cardoso para Lula, representou, também simbolicamente, um marco na conclusão do processo de transição democrática. A eleição de um ex-retirante nordestino, ex-operário metalúrgico, ex-sindicalista, como presidente do país, deixou evidente que o Brasil efetivamente sofrera uma mudança.

O governo Lula representa a afirmação de uma nova agenda: a inclusão social e o combate à pobreza. Políticas públicas de transferência de renda, a exemplo do Programa Bolsa Família, dentre outras iniciativas de igual sentido, representam simbolicamente o reconhecimento de que todos os brasileiros devem ter o direito de usufruir dos resultados do crescimento econômico.

Ocorre que o mundo está diante de um novo cenário e novas escolhas estratégicas estão sendo exigidas. Estamos confrontados pelo fenômeno do aquecimento global, decorrente do modelo de produção e consumo que se tornou hegemônico. Um fenômeno que ameaça a manutenção da vida no planeta e que exige uma profunda mudança de paradigmas.

A modernidade nos convenceu a acreditar no mito do progresso material e ilimitado. O conceito de desenvolvimento foi confundido com o conceito de crescimento econômico. Agora, somos obrigados a considerar que há limites para o crescimento e que precisamos construir um novo conceito de desenvolvimento, que não ignore as exigências da sustentabilidade.

O atual padrão de produção e consumo que caracteriza o modo de vida das populações de maior renda, não é sustentável, caso pretendamos estendê-lo a todos os habitantes do planeta. Portanto, a idéia de democracia, de igualdade de direitos e oportunidades, que também é um legado da modernidade, exige que reconheçamos a necessidade de um novo modelo de desenvolvimento, sustentável e includente. Esta é a agenda do futuro, que precisa ser construída a partir de agora.

É preciso ir muito além da perspectiva do "crescimento com distribuição de renda", pois essa é uma agenda do passado, quando se acreditava que poderíamos manter o mesmo modelo de produção e consumo atual, típico da "sociedade industrial". Estamos em um outro tempo, com outros desafios, que exigem outras respostas.

Não se trata, evidentemente, de negar aos dois terços da humanidade que estão excluídos do acesso aos bens de consumo do mundo capitalista, a perspectiva de conquistarem condições dignas de vida. Trata-se, ao contrário, de aceitar o desafio de assegurar qualidade de vida para todos, inclusive para os que ainda viverão no futuro, o que exige pensar uma outra economia, um outro mundo possível.

Dentre os agentes políticos presentes no cenário nacional, quem melhor poderia representar a afirmação desta nova agenda, a agenda do desenvolvimento sustentável, sem renunciar às agendas da democracia, da inclusão social e do combate à pobreza? Qual a personalidade política que poderá colocar esse tema no debate político com maior legitimidade? Quem, simbolicamente, poderá representar um avanço que não significa a negação de todas as conquistas que o povo brasileiro vem acumulando nas últimas décadas?

Não tenho outra resposta que não seja Marina.

Juarez de Paula

Artigo de Leonardo Attuch

Leonardo Attuch é colunista da Revista Isto É

Lula de saias

Quem observa a tímida nascente que forma o lago Lauricocha, no sul do Peru, não é capaz de imaginar que aquelas pequenas gotas que descem das montanhas dão início ao rio mais caudaloso do mundo.

O Amazonas é assim, nasce frágil e desemboca no Atlântico com o maior volume de água da face da Terra, carregando tudo aquilo que encontra pela frente. Em 2010, o Brasil poderá assistir a um fenômeno semelhante na política. A senadora Marina Silva, lançada à Presidência pela Partido Verde, é também um Amazonas em formação. Na nascente, ela parece frágil. Mas sua candidatura, se bem conduzida, tem tudo para inundar e até afundar as canoas dos adversários, desaguando no Palácio do Planalto. Num tempo marcado pelo profundo desencanto com a política, Marina responde a uma necessidade básica do eleitor brasileiro: a de eleger mitos e heróis.

Acreana, seringueira e analfabeta até os 17 anos, a senadora Marina tem uma biografia inatacável. Carrega um belo passado, em defesa dos povos da floresta, e tem ficha limpa, o que não é pouca coisa nos dias de hoje. Marina simboliza ainda a agenda do futuro, que é o desenvolvimento sustentável, combinando progresso e preservação dos recursos naturais. E, se o Brasil parece estar pronto para eleger pela primeira vez uma mulher, seria o caso de compará- la com sua principal adversária: a ministra Dilma Rousseff , da Casa Civil. Se Dilma é mandona e fala grosso, Marina é doce e busca o consenso. Enquanto uma pratica a realpolitik e aceita qualquer tipo de aliança, mesmo as mais espúrias, Marina representa a utopia. Se Dilma é a mãe do PAC e a candidata das empreiteiras, Marina poderá incendiar a juventude, assim como Lula nos seus bons tempos. Dilma talvez fale à razão. Marina atinge diretamente o coração do eleitor.
Há quem enxergue o dedo de José Serra por trás do lançamento da candidatura do PV. Tudo não passaria, segundo os adeptos das teorias conspiratórias, de uma estratégia para rachar a esquerda e vencer a disputa no primeiro turno.

Se foi isso, o tiro poderá sair pela culatra. O que menos interessaria ao candidato que lidera com folga as pesquisas, mas não tem muito carisma, seria a entrada de um herói na disputa. Quando perdeu a disputa para Lula em 2002, Serra disse que era muito difícil, quase impossível, enfrentar um mito. Marina talvez seja um Lula de saias, sem as máculas de campanhas ou de governos anteriores - e, por isso, ela assusta tanto o PT. É um sopro de esperança na política brasileira e pode ser a única pessoa capaz de derrotar petistas e tucanos em 2010.

Artigo de Leonardo Boff (2)

Leonardo Boff é Teólogo

Marina Silva: um novo olhar sobre o Brasil

Erram os que pensam que a saida da senadora Marina Silva do PT obedeçe a propósitos oportunistas de uma eventual candidatura à Presidência da República.

Marina Silva saiu porque possuía um outro olhar sobre o Brasil, sobre o PAC (Programa de Acelaração do Crescimento) do governo que identifica desenvolvimento com crescimento meramente material e com maior capacidade de consumo.

O novo olhar, adequado à crescente consciência da humanidade e à altura da crise atual, exige uma equação diferente entre ecologia e economia, uma redefinição de nossa presença no planeta e um cuidado consciente sobre o nosso futuro comum.

Para estas coisas a direção atual do PT é cega. Não apenas não vê. É que não tem olhos. O que é pior.

Para aprofundar esta questão, valho-me de uma correspondência com o sociólogo de Juiz de Fora e Belo Horizonte, Pedro Ribeiro de Oliveira, um intelectual dos mais lúcidos que articula a academia com as lutas populares e as Cebs e que acaba de organizar um livro sobre “A consciência planetária e a religião”(Paulinas 2009) Escreve ele:

“Efetivamente, estamos numa encruzilhada histórica. A candidatura da Marina não faz mais do que deixá-la evidente. O sistema produtivista-consumista de mercado teima em sobreviver, alegando que somente ele é capaz de resolver o problema da fome e da miséria – quando, na verdade, é seu causador. Acontece que ele se impôs desde o século XVI como aquilo que a Humanidade produziu de melhor, ajudado pelo iluminismo e a revolução cultural do século XIX, que nos convenceram a todos da validade de seu dogma fundante: somos vocacionados para o progresso sem fim que a ciência, a técnica e o mercado proporcionam. Essa inércia ideológica que continua movendo o mundo se cruza, hoje, com um outro caminho, que é o da consciência planetária. É ainda uma trilha, mas uma trilha que vai em outra direção”.

“Muitos pensadores e analistas descobriram a existência dessa trilha e chamaram a atenção do mundo para a necessidade de mudarmos a direção da nossa caminhada. Trocar o caminho do progresso sem fim, pelo caminho da harmonia planetária”.

“Esta inflexão era a voz profética de alguns. Mas agora, ela já não clama mais no deserto e sim diante de um público que aumenta a cada dia. Aquela trilha já não aparece mais apenas como um caminho exclusivo de alguns ecologistas mas como um caminho viável para toda a humanidade. Diante dela, o paradigma do progresso sem fim desnuda sua fragilidade teórica e seu dogma antes inquestionável ameaça ruir. Nesse momento, reunem-se todas as forças para mantê-lo de pé, menos por meio de uma argumentação consistente do que pela repetição de que “não há alternativas” e que qualquer alternativa “é um sonho”.

“É aqui que situo a candidatura da Marina. É evidente que o PV é um partido que pode até ter sido fundado com boas intenções mas hoje converteu-se numa legenda de aluguel. Ninguém imagina que a Marina – na hipótese de ganhar a eleição – vá governar com base no PV. Se eventualmente ela vencer, terá que seguir o caminho de outros presidentes sul-americanos eleitos sem base partidária e recorrer aos plebiscitos e referendos populares para quebrar as amarras de um sistema que “primeiro tomou a terra dos índios e depois escreveu o código civil”, como escreveu o argentino Eduardo de la Cerna”.

“Mesmo que não ganhe, sua candidatura será um grande momento de conscientização popular sobre o destino do Brasil e do Planeta. Marina Silva dispensará os marqueteiros, e entrarão em campanha os seguidores de Paulo Freire”.

“Esta é a diferença da candidatura Marina. Serra, do alto da sua arrogância, estimula a candidatura Marina para derrubar Lula e manter a política de crescimento e concentração de riqueza. Lula, por sua vez, levanta a bandeira da união da esquerda contra Serra, mas também para manter a política de crescimento e de concentração da riqueza, embora mitigada pelas políticas sociais”.

“Marina representa outro paradigma. Não mais a má utopia do progresso sem fim, mas a boa utopia da harmonia planetária. A nossa visão não é restrita a 2010-2014. Estamos mirando a grande crise de 2035 e buscando evitá-la enquanto é tempo ou, na pior das hipóteses, buscar alternativas ao seu enfrentamento.

É por isso, por amor a nossos filhos, netos e netas, temos que dar força à candidatura da Marina. E que Paulo Freire nos ajude a fazer dessa campanha eleitoral uma campanha de educação popular de massas”.

Digo eu com Victor Hugo:”Não há nada de mais poderoso no mundo do que uma idéia cujo tempo já chegou”.

Artigo de Leonardo Boff (1)

Leonardo Boff é Teólogo

Uma Silva sucessora de um Silva?

Não estou ligado a nenhum partido, pois para mim partido é parte. Eu como intelectual me interesso pelo todo embora, concretamente, saiba que o todo passa pela parte. Tal posição me confere a iberdade de emitir opiniões pessoais e descompromissadas com os partidos.

De forma antecipada se lançou a disputa: Quem será o sucessor do carismático presidente Luiz Inácio Lula da Silva?

De antemão afirmo que a eleição de Lula é uma conquista do povo brasileiro, principalmente daqueles que foram sempre colocados à margem do poder. Ele introduziu uma ruptura histórica como novo sujeito político e isso parece ser sem retorno. Não conseguiu escapar da lógica macro-econômica que privilegia o capital e mantém as bases que permitem a acumulação das classes opulentas. Mas introduziu uma transição de um estado privatista e neoliberal para um governo republicano e social que confere centralidade à coisa pública (res publica), o que tem beneficiado vários milhões de pessoas. Tarefa primeira de um governante é cuidar da vida de seu povo e isso Lula o fez sem nunca trair suas origens de sobrevivente da grande tribulação brasileira.

Depois de oito anos de governo se lança a questão que seguramente interessa à cidadania e não só ao PT: quem será seu sucessor? Para responder a esta questão precisamos ganhar altura e dar-nos conta das mudanças ocorridas no Brasil e no mundo. Em oito anos muita coisa mudou. O PT foi submetido a duras provas e importa reconhecer que nem sempre esteve à altura do momento e às bases que o sustentam. Estamos ainda esperando uma vigorosa autocrítica interna a propósito de presumido “mensalação”. Nós cidadãos não perdoamos esta falta de transparência e de coragem cívica e ética.

Em grande parte, o PT virou um partido eleitoreiro, interessado em ganhar eleições em todos os níveis. Para isso se obrigou a fazer coligações muito questionáveis, em alguns casos, com a parte mais podre dos partidos, em nome da governabilidade que, não raro, se colocou acima da ética e dos propósitos fundadores do PT.

Há uma ilusão que o PT deve romper: imaginar-se a realização do sonho e da utopia do povo brasileiro. Seria rebaixar o povo, pois este não se contenta com pequenos sonhos e utopias de horizonte tacanho. Eu que circulo, em função de meu trabalho, pelas bases da sociedade vejo que se esvaziou a discussão sobre “que Brasil queremos”, discussão que animou por decênios o imaginário popular. Houve uma inegável despolitização em razão de o PT ter ocupado o poder. Fez o que pôde quando podia ter feito mais, especialmente com referência à reforma agrária e à inclusão estratégica (e não meramente pontual) da ecologia.

Quer dizer, o sucessor não pode se contentar de fazer mais do mesmo. Importa introduzir mudanças. E a grande mudança na realidade e na consciência da humanidade é o fato de que a Terra já mudou. A roda do aquecimento global não pode mais ser parada, apenas retardada em sua velocidade. A partir de 23 de setembro de 2008 sabemos que a Terra como conjunto de ecosissitemas com seus recursos e serviços já se tornou insustentável porque o consumo humano, especialmente dos ricos que esbanjam, já psssou em 40% de sua capacidade de reposição.

Esta conjuntura que, se não for tomada a sério, pode levar nos próximos decênios a uma tragédia ecológicohumanitária de proporções inimagináveis e, até pelo final do século, ao desaparecimento da espécie humana. Cabe reconhecer que o PT não incorporou a dimensão ecológica no cerne de seu projeto político. E o Brasil será decisivo para o equilíbrio do planeta e para o futuro da vida.

Qual é a pessoa com carisma, com base popular, ligada aos fundamentos do PT e que se fez ícone da causa ecológica? É uma mulher, seringueira, da Igreja da libertação e amazônica. Ela também é uma Silva, como Lula. Seu nome é Marina Osmarina Silva.♦ Leonardo Boff é teólogo e escreve no Jornal do Brasil.

Artigo de Marcos Sá Correa

Marcos Sá Correa é jornalista e fotógrafo. Formou-se em História e escreve na revista Piauí e no jornal O Estado de S. Paulo. Foi editor de Veja e de Época, diretor do JB, de O Dia e do site NO.

Marina Silva tem que ser candidata

A candidatura da ex-ministra Marina Silva é o primeiro assunto sério desta eleição presidencial. Ela não resolve as dúvidas sobre o próximo governo. Mas desarruma imediatamente uma campanha que, arrumada como está, só serve para levar o país ao ridículo.

Sem Marina Silva, os governadores José Serra e Aécio Neves poderiam atuar indefinidamente como se disputassem uma vaga nos suplementos dominicais que cobrem com mais conhecimento de causa problemas íntimos de relacionamento ou crises vocacionais. Alguém sabe qual foi a última notícia sobre a plataforma de Aécio Neves, por exemplo? Foi sobre a prancha de surfe que ele acaba de adquirir.

Cara limpa

Com a senadora no páreo, a ministra Dilma Rousseff provavelmente mudará de estilo, o que levaria todo mundo nesta história a ser mais sério. Marina Silva, de cara limpa, torna a maquiagem de Dilma Rousseff mais artificial que seu currículo, onde seus graus de mestranda, doutoranda e candidata à presidência da República saíram todos da mesma usina palciana de factóides, que oficializou a técnica marqueteira do “se colar, colou”.

A senadora, ao contrário, tem um currículo que só fez encolher nos cinco anos e meio que ela passou no ministério do Meio Ambiente, trabalhando com um presidente que considera toda conversa de Meio Ambiente uma grande besteira – e como de besteira ninguém entende mais do que ele, sua política ambiental começa e acaba na mais vulgar conversa fiada.

Sob inspiração do chefe e guia iluminado, o resto da equipe aprendeu a tratar o ministério do Meio Ambiente com amigável indiferença ou, no caso da ministra Dilma Rousseff, com franca hostilidade. Marina Silva errou bastante, e não foi só por ficar no cargo mais tempo do que deveria. Ela apostou demais em reservas extrativistas e assentamentos sustentáveis, que fariam sentido na Agricultura ou ou em qualquer programa social do governo. Mas, não no ministério do Meio Ambiente, onde promoveram a troca do essencial pelo acessório e condenaram os parques nacionais à penúria.

Na equipe de Lula, ela acabou se prestando ao papel de disfarçar os consideráveis danos ambientais cometidos soberanamente aqui dentro para uma opinião pública internacional que, lá fora, continuou ouvindo até o fim que Marina Silva era “a mulher que pode salvar a Amazônia” – como publicou no ano passado, pouco antes de sua demissão, o jornal inglês The Guardian. Nesse papel, ele serviu à leviandade ambiental do governo como disfarce e escudo.

Direito de escolha

Marina Silva recuou muitas vezes, vezes demais, perdendo internamente embates decisivos, sobretudo com a ministra das Minas e Energia e, depois, da Casa Civil. Ou seja, Dilma Rousseff, que finalmente está sendo desafiada a enfrentá-la a céu aberto, como adversária explícita.

Apesar de seus equívocos políticos e administrativos, a senadora entrou no governo Lula e saiu do outro sem deixar de ser o que sempre foi. Atravessou todas as encruzilhadas e armadilhas do caminho em linha reta. E esse é um trunfo cada vez mais raro na órbita do presidente, que geralmente desmoraliza indiferentemente vencedores e vencidos que cruzam sua trajetória de sucesso estritamente pessoal.

Contra o currículo falsificado de Dilma Rousseff, o que Marina Silva tem de inigualável é a biografia. E sua biografia tem tudo a ganhar agora com a candidatura presidencial, exceto – como tudo indica – a presidência da República. Concorrendo, ela repararia o prejuízo que causou a si mesma, domesticando as ongs ambientalistas através de contratos para prestar serviços ao ministério. Oficializando-as, silenciou-as. E caladas elas assistiram à sua queda, na hora em que a ministra se demitiu.

Quem está no governo sempre acha que a vida continua a mesma. Mas, com sua campanha nas ruas, Marina Silva daria às ongs aliadas uma oportunidade para sair dos gabinetes, aprendendo o caminho de volta aos protestos e à oposição. Ou melhor, abjurando o governismo que ultimamente as amordaça e imobiliza.

Mostraria de quebra que, de onde menos se espera – o Senado, reduzido na era Lula a uma inutilidade perdulária – ainda pode sair uma supresa limpa e inatacável. E isso, nas circunstâncias, por si só despolui um pouco a democracia brasileira. Provaria além do mais que, mesmo com 80% de aprovação, um governo pode ter outro lado sim, e que este outro lado pode estar lá dentro.

Sobretudo, ofereceria aos brasileiros uma chance que parecia perdida de antemão para ouvirem pela primeira vez em eleição nacional candidatos discutindo, mas discutindo mesmo, queiram ou não, uma política para o país de meio ambiente – porque sem política de meio ambiente não há mais governo no mundo que tire um povo do atraso, da corrupção e da miséria mais aboluta, a que vem da perda dos requisitos básicos de qualquer existência.

Em resumo: Marina Silva é o que faltava nesta eleição para o Brasil escolher outro presidente. Seja quem for esse outro presidente.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Marina comunica sua saída do PT

"Brasília, 19 de agosto de 2009

Caro companheiro Ricardo Berzoini,

Tornou-se pública nas últimas semanas, tendo sido objeto de conversa fraterna entre nós, a reflexão política em que me encontro há algum tempo e que passou a exigir de mim definições, diante do convite do Partido Verde para uma construção programática capaz de apresentar ao Brasil um projeto nacional que expresse os conhecimentos, experiências e propostas voltados para um modelo de desenvolvimento em cujo cerne esteja a sustentabilidade ambiental, social e econômica.

O que antes era tratado em pequeno círculo de familiares, amigos e companheiros de trajetória política, foi muito ampliado pelo diálogo com lideranças e militantes do Partido dos Trabalhadores, a cujos argumentos e questionamentos me expus com lealdade e atenção. Não foi para mim um processo fácil. Ao contrário, foi intenso, profundamente marcado pela emoção e pela vinda à tona de cada momento significativo de uma trajetória de quase trinta anos, na qual ajudei a construir o sonho de um Brasil democrático, com justiça e inclusão social, com indubitáveis avanços materializados na eleição do Presidente Lula, em 2002.

Hoje lhe comunico minha decisão de deixar o Partido dos Trabalhadores. É uma decisão que exigiu de mim coragem para sair daquela que foi até agora a minha casa política e pela qual tenho tanto respeito, mas estou certa de que o faço numa inflexão necessária à coerência com o que acredito ser necessário alcançar como novo patamar de conquistas para os brasileiros e para a humanidade. Tenho certeza de que enfrentarei muitas dificuldades, mas a busca do novo, mesmo quando cercada de cuidados para não desconstituir os avanços a duras penas alcançados, nunca é isenta de riscos.

Tenho a firme convicção de que essa decisão vai ao encontro do pensamento de milhares de pessoas no Brasil e no mundo, que há muitas décadas apontam objetivamente os equívocos da concepção do desenvolvimento centrada no crescimento material a qualquer custo, com ganhos exacerbados para poucos e resultados perversos para a maioria, ao custo, principalmente para os mais pobres, da destruição de recursos naturais e da qualidade de vida.

Tive a honra de ser ministra do Meio Ambiente do governo Lula e participei de importantes conquistas, das quais poderia citar, a título de exemplo, a queda do desmatamento na Amazônia, a estruturação e fortalecimento do sistema de licenciamento ambiental, a criação de 24 milhões de hectares de unidades de conservação federal, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e do Serviço Florestal Brasileiro. Entendo, porém, que faltaram condições políticas para avançar no campo da visão estratégica, ou seja, de fazer a questão ambiental alojar-se no coração do governo e do conjunto das políticas públicas.

É evidente que a resistência a essa mudança de enfoque não é exclusiva de governos. Ela está presente nos partidos políticos em geral e em vários setores da sociedade, que reagem a sair de suas práticas insustentáveis e pressionam as estruturas públicas para mantê-las.

Uma parte das pessoas com quem dialoguei nas últimas semanas perguntou-me por que não continuar fazendo esse embate dentro do PT. E chego à conclusão de que, após 30 anos de luta socioambiental no Brasil – com importantes experiências em curso, que deveriam ganhar escala nacional, provindas de governos locais e estaduais, agências federais, academia, movimentos sociais, empresas, comunidades locais e as organizações não-governamentais – é o momento não mais de continuar fazendo o embate para convencer o partido político do qual fiz parte por quase trinta anos, mas sim o do encontro com os diferentes setores da sociedade dispostos a se assumir, inteira e claramente, como agentes da luta por um Brasil justo e sustentável, a fazer prosperar a mudança de valores e paradigmas que sinalizará um novo padrão de desenvolvimento para o País. Assim como vem sendo feito pelo próprio Partido dos Trabalhadores, desde sua origem, no que diz respeito à defesa da democracia com participação popular, da justiça social e dos direitos humanos.

Finalmente, agradeço a forma acolhedora e respeitosa com que me ouviu, estendendo a mesma gratidão a todos os militantes e dirigentes com quem dialoguei nesse período, particularmente a Aloizio Mercadante e a meus companheiros da bancada do Senado, que sempre me acolheram em todos esses momentos. E, de modo muito especial, quero me referir aos companheiros do Acre, de quem não me despedi, porque acredito firmemente que temos uma parceria indestrutível, acima de filiações partidárias. Não fiz nenhum movimento para que outros me acompanhassem na saída do PT, respeitando o espaço de exercício da cidadania política de cada militante. Não estou negando os imprescindíveis frutos das searas já plantadas, estou apenas me dispondo a continuar as semeaduras em outras searas.

Que Deus continue abençoando e guardando nossos caminhos.

Saudações fraternas,

Marina Silva"