domingo, 31 de janeiro de 2010

Pesquisa Vox Populi - TV Bandeirantes

Dilma sobe menos se Ciro sai da disputa, diz Vox Populi

Pesquisa eleitoral Vox Populi indica que por enquanto não se comprova a tese governista de que menos postulantes favoreceriam a pré-candidata do PT a presidente, Dilma Rousseff.

Quando Ciro está entre os possíveis candidatos, Dilma Rousseff sobe 9 pontos percentuais em relação ao que tinha em dezembro na pesquisa Vox Populi. Se o candidato do PSB é retirado da lista de candidatos, Dilma sobe 8 pontos no mesmo levantamento.
Eis os dados comparando as duas últimas pesquisas Vox Populi:

Cenário com Ciro em 11-14.dez.2009 e em 14-17.jan.2010
José Serra (PSDB) – 39% > 34% (caiu 5 pontos)
Dilma Rousseff (PT) – 18% > 27% (subiu 9 pontos)
Ciro Gomes (PSB) – 17% > 11% (caiu 6 pontos)
Marina Silva (PV) – 8% > 6% (caiu 2 pontos)
Indecisos, brancos e nulos – 18% > n.d. (variação?)
Cenário sem Ciro em 11-14.dez.2009 e em 14-17.jan.2010
José Serra (PSDB) – 46% > 38% (caiu 8 pontos)
Dilma Rousseff (PT) – 21% > 29% (subiu 8 pontos)
Marina Silva (PV) – 11% > 8% (caiu 2 pontos)
Indecisos, brancos e nulos – 23% > n.d. (variação?)
A pesquisa Vox Populi entrevistou 2.000 pessoas em todas as regiões do Brasil e tem margem de erro de 2,2 pontos percentuais. Não foram divulgados no início da noite de sexta-feira (29.jan.2010) os percentuais de indecisos, brancos e nulos pelo contratante do levantamento, a TV Bandeirantes.
Com os dados à disposição, a pesquisa Vox Populi de janeiro na comparação com a dezembro indica o seguinte:
• Ciro Gomes fora da disputa não favorece necessariamente e integralmente a Dilma Rousseff. Aparentemente, uma parte das intenções do pré-candidato do PSB acabam desaguando na categoria de indecisos, brancos e nulos;
• Dilma está crescendo e José Serra está caindo;
• Marina Silva e Ciro Gomes estão em queda.

É claro que também pode-se argumentar que esse levantamento do Vox Populi apresenta altas de 8 e 9 pontos para Dilma nos 2 cenários. E que Serra cai 5 a 8 pontos. É verdade. Mas essa tendência já estava detectada em outros levantamentos, sobretudo no Datafolha de dezembro.

A grande dúvida agora é se a saída de Ciro Gomes favorece ou não a pré-candidata do PT. De acordo com esse levantamento do Vox Populi, não fica claro se a desistência de Ciro de fato fará com que todos os votos dele migrem para Dilma. Pode ser que isso ocorra mais adiante. Por enquanto, não está claro esse cenário – a saída do postulante do PSB parece apenas confundir os eleitores, com mais gente ficando indecisa.

Blog do Fernando Rodrigues, 29/01/2010

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Interpretando o cenário

A quem interessa a polarização?

O jornalista Fernando Rodrigues postou em seu blog - http://uolpolitica.blog.uol.com.br/ , no domingo, 24/01/2010, resultados de duas pesquisas eleitorais realizadas no Rio de Janeiro.

O Instituto Vox Populi, sob encomenda da TV Bandeirantes, realizou pesquisa no período de 14 a 17/01/2010. Foi apurado: Serra com 27%, Dilma com 26%, Ciro com 14% e Marina com 9%.

O Instituto Data Folha realizou pesquisa no período de 14 a 18/01/2010. Foi apurado: Serra com 29%, Dilma com 21%, Ciro com 14% e Marina com 12%.

Os resultados indicam que Dilma se afastou de Ciro e se aproximou de Serra, e que Ciro e Marina se mantiveram estáveis, quer dizer, sem crescimento nem queda.

O crescimento de Dilma anima a estratégia do Governo Lula de forçar a polarização entre os candidatos do PT e do PSDB.

Coerentemente com essa estratégia, o Governo Lula  e o PT pressionam o PSB pela retirada da candidatura de Ciro. Dirigentes do PSB exigem que seja mantido o acordo anterior, onde o prazo para essa decisão seria o mês de março. Ciro, que retornou de férias ontem, declarou, segundo divulgado hoje, no blog do jornalista Josias de Sousa - http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/ , que não tem interesse em se candidatar ao governo de São Paulo (conforme desejo do Presidente Lula), que mantém sua candidatura à presidência e que só a retirará por decisão do PSB. Nesse caso, ficará fora da disputa eleitoral. Ciro continua acreditando que a polarização pode resultar na vitória de Serra no primeiro turno.

Coerentemente com essa mesma estratégia, o Governo Lula e o PT tentam esvaziar a candidatura de Marina. São produzidos boatos de que Marina estaria pretendendo ser vice de Serra ou que representaria uma "linha-auxiliar" do PSDB, para tentar impedir a adesão de um expressivo número de eleitores de Lula e militantes do PT que não aceitam a candidatura de Dilma, inventada e imposta sem discussão democrática no partido, quebrando sua tradição histórica. Outra variante tem sido a de argumentar que a candidatura de Marina é inviável, que apenas tira votos de Dilma, tornando-se uma ameaça à continuidade das conquistas representadas pelo Governo Lula, como se os eleitores desejassem apenas "mais do mesmo".

A estratégia de Serra é adiar ao máximo o início da campanha, o debate público e os confrontos inerentes a uma disputa eleitoral, de modo a se manter na dianteira, apostando numa vitória ainda no primeiro turno.

A estratégia de Ciro é se colocar como principal opositor de Serra. Confia no seu talento como polemista e nas fragilidades de Dilma, que nunca disputou uma eleição, para conseguir crescer nas pesquisas e se afirmar como a alternativa mais competitiva, terminando por obrigar o Governo Lula a apoiá-lo. Sua estratégia esbarra apenas nos interesses dos governadores do PSB, que desejam o apoio do Presidente Lula para garantirem suas respectivas reeleições, o que pode levá-los a ceder à estratégia da polarização. Convém observar que Ciro, mesmo sumido do noticiário em todo o período do final do ano, mesmo tendo sua candidatura questionada por todos os lados, manteve-se estável nas pesquisas, o que o autoriza a considerar que pode crescer, na medida em que reforçar suas atividades como pré-candidato.

A estratégia de Marina é mostrar que a polarização entre Serra e Dilma condena o país à repetição do passado. Sendo a pré-candidata com menor rejeição e menor reconhecimento pelos eleitores, é a que tem as maiores oportunidades de crescimento. Mesmo sem grande estrutura partidária, sem alianças com outros partidos, sem recursos materiais e sem exposição na mídia, também vem se mantendo estável nas pesquisas. Portanto, tudo leva a crer que crescerá, na medida em que intensificar sua pré-campanha. Além disso, como bem observado pelo jornalista Fernando de Barros e Silva, na edição de hoje do jornal Folha de São Paulo, Marina concentra sua preferência eleitoral, nesse momento, nos eleitores jovens e nos eleitores urbanos, com maior acesso à informação, com formação de nível superior, residentes nas capitais, ou seja, setores que são considerados pelos especialistas como "formadores de opinião", o que representa um grande potencial multiplicador.

Portanto, a estratégia da polarização é uma impostura política que serve apenas aos interesses do PT e do PSDB de se reproduzirem no poder, cerceando o acesso de outras representações políticas ao espaço público do debate sobre o futuro do país. Trata-se, claramente, de uma estratégia anti-democrática, que pretende impedir a diversidade, o pluralismo, a manifestação do dissenso, a afirmação da diferença. O povo brasileiro, que resistiu à Ditadura Militar, que fez a luta pelas Diretas Já, que redemocratizou o país, que soube exigir o impeachment de um presidente eleito em nome da ética na política, que soube eleger um operário metalúrgico para presidir o país quando este representava uma promessa de mudanças, tem suficiente maturidade política para não se deixar enganar por manobras que fragilizam nossa democracia.

Juarez de Paula

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Artigo de Marina Silva

Um fórum pelo mundo


Começa hoje, em Porto Alegre, mais uma edição do Fórum Social Mundial. Em dez anos de existência, muita coisa mudou pelo planeta. Ataque do 11 de Setembro, Guerra do Iraque, crise financeira mundial, Obama, Lula, ascensão dos Bric, fortalecimento da agenda ambiental e, ao mesmo tempo, agravamento da crise planetária expressa nas mudanças climáticas. Mas, em todo esse tempo, o espaço multicêntrico de poder e conhecimento que é o FSM teve um papel sinalizador e criou uma referência.

"Um outro mundo é possível", avisava, de pronto, o ousado movimento, que, de Porto Alegre, fazia ecoar a voz de atores políticos e sociais envolvidos com as mais variadas causas, estabelecendo um contraponto com o Fórum Econômico Mundial, que se realiza anualmente em Davos, na Suíça.

Nesse tempo, o FSM foi ganhando estatura e correu o mundo. Agora retorna a Porto Alegre como um espaço já consolidado e descentralizado do debate livre da sociedade civil global, lembrando a cada ano que as grandes questões contemporâneas não são monopólio do poder econômico ou do poder de Estado. Elas são pensadas, sentidas e compartilhadas fora das regras excludentes das vontades hegemônicas, sem direcionamento e sem donos, demonstrando que há uma fonte poderosa de energia de onde pode emergir um mundo melhor, mais justo e equilibrado.

Talvez o principal produto dessa energia seja a visibilidade dada à necessidade de aperfeiçoar os mecanismos de participação na democracia representativa, como forma, inclusive, de renová-la e reconectá-la urgentemente com a sociedade.

Não se trata de desconstituir Davos. Mas, mais do que nunca, é preciso afirmar que os problemas do mundo não são apenas da conta de um pequeno grupo de atores políticos e econômicos. Assim como o G7 hoje tem menos peso ante o G20, que inclui os países emergentes, e reconhece sua força, Davos e seu modo economicista de ser já reconheceu a força do ponto de vista socioambiental e a perspectiva de direitos humanos que são a alma do FSM.

Lá estarei uma vez mais. Para ouvir, trocar e debater, como é o espírito do Fórum. Não com a pretensão de chegarmos a um detalhado e generalizado consenso sobre os melhores caminhos para a política e a sociedade. Mas com a certeza de que muitos consensos se formarão e gerarão ações, compromissos, articulações e atitudes convergentes em todo o mundo. E muitos dissensos ficarão evidentes, o que é bom para avançar na direção de uma sociedade mais generosa, plural, capaz de dividir e de conviver com a discordância.

Marina Silva é Senadora.

Folha de São Paulo, 25 de janeiro de 2010.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Heloísa Helena mantém apoio a Marina

Heloísa Helena lamenta fim de negociações com PV

LUCIANA NUNES LEAL - Agencia Estado

RIO - A presidente nacional do PSOL, Heloísa Helena, lamentou hoje a decisão da direção partidária de interromper as negociações para apoiar a candidata do PV à Presidência da República, senadora Marina Silva. Ex-senadora e hoje vereadora em Maceió, Heloísa disse que continua a torcer pela eleição de Marina e que está à disposição da candidata para contribuir na elaboração do programa de governo.

Ontem, a maioria do PSOL optou pelo lançamento de candidatura própria ao Palácio do Planalto. Heloísa defendia apoio formal a Marina, mas sem participar das alianças, por causa da opção do PV de se unir, em alguns Estados, a partidos como o PSDB.

"Quero deixar claro que todo respeito, admiração e amizade que tenho por Marina estão preservados. Ele é competente, honesta, sensível e absolutamente preparada. Torço muito para que seja eleita", disse Heloísa. "Onde Marina entender que eu posso ajudar, com minha experiência, na construção do programa, vou contribuir, especialmente em segurança pública, saúde e educação", ofereceu a ex-senadora.

Gota d´água

A costura de uma aliança dos verdes com o PSDB no Rio, em torno da candidatura do deputado Fernando Gabeira ao governo, foi decisiva para a interrupção das negociações do PSOL com o PV. "Infelizmente a tática eleitoral do PV no Rio acabou por obstaculizar a aliança que seria feita. Minha proposta era apoio a Marina independente de aliança com o PV e com interferência no programa de governo. Infelizmente o PSOL não entendeu dessa forma", lamentou Heloísa.

Internamente, a principal líder do PSOL vai trabalhar pela candidatura do presidente do diretório de Goiás, Martiniano Cavalcanti, ao Palácio do Planalto. Martiniano vai disputar a indicação com o ex-deputados Babá e Plínio de Arruda Sampaio em prévia que deverá acontecer em março.

Heloísa negou a existência de uma divisão no PSOL e disse compreender a decisão do partido que preside. "Vejo com tristeza, mas acato. Nem minha candidatura à Presidência da República era consenso no partido. Existiam pessoas que queriam minha candidatura apenas pelo eleitoralismo, para ajudar nos Estados", afirmou Heloísa Helena. Questionada se continuará no comando do PSOL, ela respondeu: "O que acontecerá com o partido o tempo dirá."

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Notícias do PV

Sirkis será o coordenador-geral da campanha de Marina

ANA CONCEIÇÃO - Agencia Estado


SÃO PAULO - Após semanas de conversas entre os integrantes da executiva nacional, o vereador e presidente do Partido Verde no Rio de Janeiro, Alfredo Sirkis, foi nomeado coordenador-geral da pré-campanha da senadora Marina Silva (PV-AC) à Presidência da República. Junto com ele, mais cinco nomes foram definidos ontem à noite, durante reunião no diretório estadual da legenda em São Paulo: o empresário Guilherme Leal, sócio da Natura; João Paulo Capobianco, ex-secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente durante a gestão de Marina; o ex-deputado federal Luciano Zica (PV-SP); Regina Gonçalves, presidente da executiva estadual do PV em São Paulo; e Sérgio Xavier, presidente do PV de Pernambuco.
Juntos, os seis formam o que o partido chamou de Comitê Verde de Pré-Campanha. De acordo com Sirkis, esse será o núcleo inicial da campanha, que será ampliado para 10 a 12 pessoas.

Na prática, os integrantes do comitê recém-criado têm se reunido há pelo menos um mês em São Paulo. O que ocorreu ontem foi a oficialização das pessoas que comandarão a pré-campanha até o final de junho. A partir daí, alguns membros sairão para poder tocar suas próprias campanhas e serão substituídos por outros, de acordo com Sirkis. "Eu mesmo vou passar o bastão para me candidatar a deputado federal", explicou.
Regina Gonçalves e Sérgio Xavier também devem sair para concorrer ao governo paulista e pernambucano, respectivamente. Além dos dois Estados, o PV quer ter candidatura própria no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Rio Grande do Sul.

O Comitê Verde vai trabalhar paralelamente à coordenação nacional do PV, que conta com 21 integrantes escolhidos pelo partido e por Marina Silva. Enquanto o grupo dos seis trabalhará diretamente com questões de campanha, a coordenação será responsável pela formulação do programa político e a direção que tomará o partido durante o ano eleitoral.

Como relatou a coluna de Sonia Racy na edição de hoje do jornal O Estado de S. Paulo, outros nomes que foram agregados à pré-campanha de Marina são o do jornalista e consultor de novas mídias Caio Túlio Costa, que cuidará de internet e redes sociais, e Orjan Olsen, especialista em pesquisas. Marina também já conta com uma consultoria informal do cineasta Fernando Meirelles.

Lista quádrupla

O PV carioca definiu em reunião da executiva estadual na segunda-feira à noite que o deputado federal Fernando Gabeira será de fato o candidato do partido ao governo do Rio de Janeiro. A legenda também terá candidatura própria para o Senado. A escolhida foi a vereadora Aspásia Camargo. A executiva carioca garantiu que essas duas candidaturas serão mantidas, em definitivo, para as eleições de 2010.
Sirkis, presidente do PV no Rio, afirmou que o candidato a vice será escolhido pelo PSDB. O indicado sairá de uma lista de quatro nomes: o ex-vice-governador Luiz Paulo Corrêa da Rocha (gestão Marcello Alencar), os deputados federais Márcio Fortes e Otávio Leite e a presidente do Flamengo e ex-nadadora, Patrícia Amorim.

A questão do palanque duplo - para Marina Silva e para o pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra (SP) - ainda não foi resolvida. "O candidato a vice do PSDB poderá recepcionar Serra durante a campanha", avaliou Sirkis. Há dúvidas, porém, sobre a situação se houver segundo turno. "É a executiva nacional que vai resolver", afirmou.

Quarta-feira, 20 de janeiro de 2010, 17:29

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Artigo de Eduardo Jorge

Inspeção veicular em São Paulo


Em muitos outros países já é uma rotina de décadas a realização de inspeções anuais nos veículos automotores para verificar se estão bem regulados e, assim, emitindo menos poluentes e consumindo menos combustível.

No Brasil, ficamos muito atrasados nessa política pública. No início do governo municipal Serra/Kassab, em 2005, a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente buscou viabilizá-lo na cidade, afinal de contas era o ponto número um no programa ambiental da campanha eleitoral. Como a licitação existente era antiga, de dez anos, foi necessária demorada revisão pela Secretaria de Negócios Jurídicos sobre sua validade.

Concluído o estudo de forma positiva, superando os questionamentos que se tinha na própria administração municipal, o prefeito deu ordem de início para o programa em 2008. Em uma cidade-país como São Paulo, com uma das maiores frotas de veículos registrados no mundo, a implantação deveria ser progressiva.

Em 2008, iniciamos com a frota a diesel, que é o combustível mais poluente. Em 2009, estendemos para 100% da frota de motos e para parcela dos automóveis Em 2010, 100% de todas as frotas a diesel, motos e automóveis estão convocadas, completando assim o processo de implantação.

A empresa licitada teve, nesse período, que construir os postos de inspeção. Em 2008, eram seis. Em 2009, 15. Em 2010, serão 20, podendo chegar a 30 se houver demanda. Decisivo para o sucesso do programa é a participação dos proprietários de veículos. Como havia dúvidas e resistências naturais a um programa pioneiro como esse, foi fundamental o apoio da Faculdade de Medicina da USP, com estudos detalhados mostrando o impacto da poluição nas cidades brasileiras. Nós perdemos um ano e meio de expectativa de vida devido a essa agressão aos nossos sistemas respiratórios e circulatórios. Idosos e crianças perdem até três anos!

A conscientização ambiental foi o principal trabalho feito pela comunicação da prefeitura. Os proprietários devem fazer a inspeção para proteger a saúde de suas famílias e da cidade. Nesse período, os estímulos educativos positivos deixam para um plano secundário as ações repressivas para alcançar os inadimplentes.

Essa é uma escolha consciente da SVMA. Fizemos blitze com a Secretaria de Segurança, intimamos e multamos, mas o mais importante nessa fase era conseguir a adesão e a participação consciente dos proprietários. Nos dois primeiros anos, achamos necessário, além disso, um estímulo material, que foi a possibilidade de ressarcimento da tarifa paga à empresa verificadora da regulagem. Isso custou cerca de R$ 35 milhões de subsídio aos primeiros convocados a fazer o teste. Agora, com a universalização do programa, isso não é mais possível nem necessário.

Os resultados já são verificáveis. A adesão dos proprietários foi expressiva. Em 2009, devemos chegar perto de 80% da frota alvo, com cerca de 1,6 milhão de veículos inspecionados. A frota com menor adesão é a das 700 mil motos, devido ao elevado número de veículos na informalidade.

Além da conscientização dos proprietários, empresas montadoras e oficinas de manutenção modernizaram seus procedimentos para apoiar o programa. Com a regulagem dos veículos, conseguimos diminuir significativamente a poluição, mesmo com a implantação ainda parcial em 2008 e 2009.

Além disso, dois outros resultados foram colhidos. A experiência de São Paulo levou o governo estadual a mandar para a Assembleia Legislativa projeto de lei em setembro de 2009 para criar a inspeção em todo o estado.

Em Brasília, a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo ajudou o Ministério do Meio Ambiente a aprovar resolução no Conselho Nacional do Meio Ambiente, em outubro de 2009, determinando a implantação nacional da inspeção e dando prazos para governos estaduais e municipais para organizar o programa.

O programa de SP mostrou a urgência de uma legislação mais ágil para permitir à Secretaria de Segurança recolher os veículos ilegais. Também a necessidade de uma política nacional de renovação da frota e reciclagem obrigatórias dos veículos usados e a inadiável urgência da implantação da inspeção de segurança simultânea e paralela à inspeção ambiental.

Além de ser um grande programa de saúde pública, ele combate o aquecimento global -ao promover a regulagem dos veículos, promove a eficiência energética, o menor consumo de combustível fóssil e, portanto, a redução das emissões de gases-estufa. Apoiar a experiência de São Paulo, superar as dificuldades iniciais, continuar aperfeiçoando e tornando mais rigorosos os padrões de regulagem é uma decisão política e administrativa de coragem que precisa ter continuidade por outras administrações nos três níveis de governo do Brasil.

EDUARDO JORGE MARTINS ALVES SOBRINHO, 60, médico sanitarista, é secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo. Foi secretário municipal de Saúde de São Paulo nas gestões Luiza Erundina e Marta Suplicy.

Folha de São Paulo, 18/01/2010.

Artigo de Marina Silva sobre Zilda Arns

Haiti, Zilda Arns e nós


Catástrofes da magnitude da que atingiu o Haiti podem ter dois desdobramentos: o desfecho trágico, sacramentando o fim de um povo ou de uma nação, ou, pelo contrário, um grande recomeço. Já vimos exemplos assim.

Povos foram varridos por cataclismos e guerras. Mas, por outro lado, nações se ergueram mais belas, mais justas, mais fortes, após viverem a mais avassaladora destruição. Podemos citar como exemplo os países atingidos em 2004 por um terrível tsunami, o que levou à maior mobilização de solidariedade global já vista.

As imagens da capital haitiana são de aniquilação e desespero. Mas o espírito de solidariedade que tem condoído as pessoas pelo mundo ante a situação no Haiti aponta para esse outro desfecho, o da reconstrução e do recomeço.

Governos, agências humanitárias, ONGs, igrejas, empresas, doadores e voluntários de todas as nacionalidades se movimentam para salvar os haitianos não só dos efeitos do terremoto mas também da situação de miséria extrema. A onda de solidariedade terá que ser maior do que o abismo em que o Haiti foi lançado. E isso é possível.

A morte, no Haiti, da médica brasileira Zilda Arns, fundadora e coordenadora da Pastoral da Criança, pode apontar para esse recomeço. Morrer no país mais necessitado das Américas, onde lançava sementes de solidariedade, foi o desfecho de sua maravilhosa missão: nesses 27 anos, seu trabalho livrou do fim certo um número incalculável de crianças e mães. Assim, o capítulo final da vida de Zilda Arns pode representar uma espécie de chamado.

Pois quando perdemos alguém com a sua estatura, alguém insubstituível, só há a alternativa de muitos de nós somarem os esforços para manter sua missão em atividade. Simbolicamente, seu exemplo nos une ainda mais com o esforço para mudar a história daquele país.

Inspirador também o heroísmo dos soldados das Forças Armadas brasileiras que atuam na missão de paz das Nações Unidas. Imediatamente após o terremoto, eles já estavam em busca de sobreviventes, arriscando suas próprias vidas.

Não é difícil ouvir pelo Brasil que, se temos tantos problemas, não deveríamos dar tanta atenção a outro país. Mas a verdade é que socorrer o Haiti é responsabilidade de toda a comunidade internacional, e particularmente do Brasil, que lá mantém uma força de paz.

E ajudar vigorosamente o Haiti também nos trará benefícios. Estaremos mais bem preparados para lidar com nossos próprios problemas, tenham eles raiz na desigualdade social ou em causas naturais. Que saibamos responder ao exemplo de Zilda Arns, que, tendo feito tanto aqui, não se esqueceu dos que sofrem em outras nações.

Folha de São Paulo, 18/01/2010.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Artigo de Frei Betto sobre Zilda Arns

Zilda Arns, a mãe do Brasil


Pode-se repetir que ninguém é insubstituível, mas a dra. Zilda Arns, vítima do terremoto que arruinou o Haiti, era, sim, uma pessoa imprescindível. Nela mostrava-se imperceptível a distância entre intenções e ações. Formada em medicina e movida por profundo espírito evangélico -era irmã do cardeal dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo-, fundou a Pastoral da Criança, alarmada com o alto índice de mortalidade infantil no Brasil.

Em iniciativas de voluntariado podem-se mapear dois tipos de pessoas: as que, primeiro, agem, põem o bloco na rua e depois buscam os recursos, e as que se enredam no cipoal das fontes financiadoras e jamais passam da utopia à topia.

Zilda Arns arregaçou as mangas e, inspirada na pedagogia de Paulo Freire, encontrou, primeiro, recursos humanos capazes de mobilizar milhares de pessoas em prol da drástica redução da mortalidade infantil: mães e pais das crianças de 0 a seis anos atendidas pela pastoral transformados em agentes multiplicadores.

Ela, sim, fez o milagre da multiplicação dos pães, ou seja, da vida. Aonde chega a Pastoral da Criança, o índice de mortalidade infantil cai, no primeiro ano, no mínimo 20%. Seu método de atenção às gestantes pobres e às crianças desnutridas tornou-se paradigma mundial, adotado hoje em vários países da América Latina e da África. Por essa razão, ela estava no Haiti, onde pagou com a morte sua dedicação em salvar vidas.

Trabalhamos juntos no Fome Zero.

No lançamento do programa, em 2003, ela discordou de exigir dos beneficiários comprovantes de gastos em alimentos, de modo a garantir que o dinheiro não se destinasse a outras compras. Oded Grajew e eu a apoiamos: ressaltamos que apresentar comprovantes não era relevante, valia como forma de verificar resultados. Haveria que confiar na palavra dos beneficiários.

Em março de 2004, no momento em que o governo trocava o Fome Zero pelo Bolsa Família, ela me convocou a Curitiba, sede da Pastoral da Criança. Em reunião com José Tubino, da FAO, e dom Aloysio Penna, arcebispo de Botucatu (SP), que representava a CNBB, debatemos as mudanças na área social do governo. Expus as tensões internas na área social, sobretudo a decisão de acabar com os comitês gestores, pelos quais a sociedade civil atuava na gestão pública.

Zilda Arns temia que o Bolsa Família priorizasse a mera transferência de renda, submetendo-se à orientação que propõe tratar a pobreza com políticas compensatórias, sem tocar nas estruturas que promovem e asseguram a desigualdade social.

Acreditava que as políticas sociais do governo só teriam êxito consolidado se combinassem políticas de transferência de renda e mudanças estruturantes, ações emergenciais e educativas, como qualificação profissional.

Dias após a reunião, ela publicou, neste espaço da Folha, o artigo "Fôlego para o Fome Zero", no qual frisava que a política social "não deve estar sujeita à política econômica. É hora de mudar esse paradigma. É a política econômica que deve estar sujeita ao combate à fome e à miséria".

E alertava: "Erradicar os comitês gestores seria um grave erro, por destruir uma capilaridade popular que fortalece o empoderamento da sociedade civil; (...) por reforçar o poder de prefeitos e vereadores que nem sempre primam pela ética e pela lisura no trato com os recursos públicos. O governo não deve temer a parceria da sociedade civil, representada pelos comitês gestores".

O apelo da mãe da Pastoral da Criança não foi ouvido. Os comitês gestores foram erradicados e, assim, a participação da sociedade civil nas políticas sociais do governo. Apesar de tudo, o ministro Patrus Ananias logrou aprimorar o Bolsa Família e o índice de redução da miséria absoluta no país, conforme dados recentes do Ipea. Falta encontrar a porta de saída aos beneficiários, de modo a produzirem a própria renda.

Zilda Arns nos deixa, de herança, o exemplo de que é possível mudar o perfil de uma sociedade com ações comunitárias, voluntárias, da sociedade civil, ainda que o poder público e a iniciativa privada permaneçam indiferentes ou adotem simulacros de responsabilidade social.

Se milhares de jovens e adultos brasileiros sobreviveram às condições de pobreza em que nasceram, devem isso em especial à dra. Zilda Arns, que merece, sem exagero, o titulo perene de mãe da pátria.

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CARLOS ALBERTO LIBÂNIO CHRISTO, o Frei Betto, 65, frade dominicano, é assessor de movimentos sociais e escritor, autor de "A Mosca Azul - Reflexão sobre o Poder" (Rocco), entre outros livros. Foi assessor especial da Presidência da República (2003-2004).

Folha de São Paulo, 14/01/2010.