domingo, 28 de fevereiro de 2010

Intervenção Já

Mais exemplos didáticos para explicar quem tem medo da intervenção

Deixa estar 1. O novo governador interino do DF, Wilson Lima (PR), ganhou apoio de entidades do comércio e do empresariado de Brasília, que lançaram manifesto contra a possibilidade de intervenção federal. Temem a "paralisação da atividade econômica".


Deixa estar 2. Diz o texto: "Não há necessidade de intervenção. Acreditamos que os dispositivos legais e constitucionais e o respeito à linha sucessória legal são instrumentos suficientes para a busca de soluções para a crise política".


Ponte. O contrato da Serveng Civilsan para a construção do metrô de Brasília vem sendo prorrogado há 13 anos sem licitação. A empresa, que no governo Arruda recebeu R$ 176,4 milhões, destinou R$ R$ 1,2 milhão à campanha de Gilberto Kassab em 2008.


Renata Lo Prete
Coluna Painel – painel@uol.com.br
Folha de São Paulo, 28/02/2010

Pesquisa Datafolha

Vantagem de Serra sobre Dilma baixa para 4 pontos

Em cenário com Ciro, tucano cai 5 pontos e vai a 32%, e petista sobe 5, para 28%
Candidato do PSB tem 12% e está estagnado, assim como Marina Silva, do PV, que mantém o patamar de 8% do levantamento anterior

A pré-candidata a presidente pelo PT, Dilma Rousseff, registrou crescimento de cinco pontos percentuais na sua taxa de intenções de voto de dezembro para cá. Atingiu 28% e encurtou de 14 para 4 pontos percentuais a distância que a separa de seu principal adversário, José Serra, do PSDB, hoje com 32%.

Esse é o principal resultado da pesquisa Datafolha realizada nos dias 24 e 25 de fevereiro, com 2.623 pessoas de 16 anos ou mais. Confirmou-se a curva ascendente de Dilma, não importando o cenário nem quais são os candidatos em disputa.

Apesar do crescimento da petista, é impreciso dizer que o levantamento indica um empate estatístico entre Dilma e Serra. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

Os dois só estariam empatados tecnicamente em 30% na raríssima hipótese de o tucano estar no seu limite mínimo e sua adversária no limite máximo, segundo a estatística Renata Nunes, do Datafolha.

"A proximidade entre os candidatos é algo visível, mas mais importante nessa pesquisa é mostrar as curvas de alta da candidata do PT e de queda do candidato do PSDB -considerando os levantamentos anteriores", diz Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha.

No cenário no qual Dilma está com 28% e Serra com 32%, Ciro Gomes (PSB) tem 12%. Marina Silva (PV), 8%. Os que votam em branco, nulo ou nenhum são 9%. Indecisos, 10%.

Ciro e Marina estagnados

A pesquisa também revela uma estagnação de Ciro e de Marina. Ambos tiveram exposição em fevereiro, quando seus partidos usaram os dez minutos a que têm direito em rede nacional de rádio e TV.

O efeito foi nulo. Ciro tinha 13% em dezembro. Agora, fica com 12%. Marina parou nos 8% -no cenário mais provável, no qual estão Serra e Dilma.

Os números do Datafolha dão pistas sobre os efeitos da eventual desistência de Ciro -algo desejado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em dezembro, sem o nome do PSB, havia a possibilidade de Serra vencer no primeiro turno: ele tinha 40% contra 37% de Dilma e Marina somadas. A eleição é liquidada na primeira votação quando alguém recebe acima de 50% da soma de todos os votos dados aos adversários.

Agora, deu-se uma inversão. Quando Ciro está fora, Serra tem 38%, contra 41% somados de Dilma e Marina. Fica mais remota a hipótese de o tucano vencer no primeiro turno. Registre-se que a petista cresce cinco pontos nos cenários principais, com ou sem Ciro.

Num teste com Aécio Neves sendo o candidato do PSDB as coisas ficam mais fáceis para Dilma. Ela lidera com 34% contra 18% do tucano em um cenário sem Ciro Gomes. Quando o nome do PSB está presente, a petista tem 30% contra 21% de Ciro -Aécio fica com 13%.

2º turno

Em dezembro, numa simulação de segundo turno, Serra estava com 49% contra 34% de Dilma. A vantagem de 15 pontos caiu para 4. Hoje, segundo o Datafolha, o tucano registra 45% contra 41% da petista. Em outro cenário de segundo turno, Dilma vence com 48% contra 26% do tucano Aécio Neves.

Todos os candidatos tiveram variação para cima nas suas taxas de rejeição, o que é comum quando o período eleitoral se aproxima. O destaque nesse trecho da pesquisa Datafolha é Serra, cujo percentual subiu de 19% em dezembro para 25% no atual levantamento.

Dilma oscilou de 21% para 23%. Ciro foi de 18% a 21%. Marina, de 17% para 19%.

Quando o Datafolha faz a pesquisa sem mostrar nomes, surge um dado revelador sobre a percepção do eleitor a respeito do processo sucessório: uma queda vertiginosa das menções ao presidente Lula.

O petista era citado espontaneamente por 27% dos eleitores em agosto. Caiu para 20% em dezembro. Agora, bateu em 10%. Apesar da sua popularidade recorde, Lula é cada vez menos citado "porque o eleitor está percebendo que ele não será candidato", diz Mauro Paulino.

Na pesquisa espontânea, Dilma chegou a 10% (a mesma taxa de Lula), contra 7% de Serra.

Fernando Rodrigues
Folha de São Paulo, 28/02/2010

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

A fila anda

Leonardo Prudente renuncia para  escapar de cassação

O deputado distrital Leonardo Prudente, ex-presidente da Câmara Distrital do DF, aquele que aparece nos vídeos tornados públicos pela operação Caixa de Pandora escondendo dinheiro nas meias, renunciou nesta sexta-feira, para escapar do processo de cassação do mandato.

Na sua carta-renúncia, afirma que não disputará nenhum cargo eletivo em 2010. Menos mal, já que a renúncia antecipada evita a suspensão dos seus direitos políticos.

Como o Projeto Ficha Limpa ainda não foi aprovado, é provável que outros deputados distritais usem do artifício da renúncia para escapar da cassação e da consequente suspensão dos direitos políticos, assegurando suas candidaturas no final do ano. Restará aos eleitores completar o serviço de faxina política no DF e derrotá-los nas urnas.

Resta saber se o GDF continuará mantendo os contratos milionários com as empresas de Leonardo Prudente.

Juarez de Paula

Artigo de Frei Betto

Valores na economia pós-crise

A crise financeira desencadeada a partir de setembro de 2008 exige, de todos, profunda reflexão e mudança de atitudes. Ela encerra uma crise mais profunda: a do modelo civilizatório. O que se quer: um mundo de consumistas ou um mundo de cidadãos?
Frente às oscilações do mercado agiram os governos. A mão invisível foi amputada pelos fatos. A destrambelhada desregulamentação da economia requereu a ação regulamentadora dos governos. O mercado, entregue a si mesmo, entrou em parafuso e perdeu de vista os valores éticos para se fixar apenas nos valores monetários. Foi vítima de sua própria ambição desmedida.
A crise nos impõe, hoje, mudanças de paradigmas. O que significa a robustez dos bancos diante da figura esquálida de 1 bilhão de famintos crônicos? Por que, nos primeiros meses, os governos do G8 destinaram cerca de US$ 1,5 trilhão (até hoje, já são US$ 18 trilhões) para evitar o colapso do sistema financeiro capitalista e apenas (prometeram em L’Aquila, ainda não cumpriram) US$ 20 bilhões para amenizar a fome no mundo?
O que se quer salvar: o sistema financeiro ou a humanidade? Uma economia centrada em valores éticos tem por objetivo, em primeiro lugar, a redução das desigualdades sociais e o bem-estar de todas as pessoas. Sabemos que, hoje, mais de 3 bilhões — quase metade da humanidade — vivem abaixo da linha da pobreza. E 1,3 bilhão ,abaixo da linha da miséria. A falta de alimentação suficiente ceifa, por dia, a vida de 23 mil pessoas. E 80% da riqueza mundial encontram-se concentrados em mãos de apenas 20% da população do planeta.
Sem alterar esse panorama, a humanidade caminhará para a barbárie. Os governos deveriam estar mais preocupados com o crescimento do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do que com o aumento do PIB (Produto Interno Bruto). O que importa, hoje, é a FIB (Felicidade Interna Bruta). As pessoas, em sua maioria, não querem ser ricas, querem ser felizes.
A crise nos faz perguntar: que projeto de sociedade legaremos às futuras gerações? Para que servem tantos avanços científicos e tecnológicos se a população não conta com serviços de saúde acessíveis e eficazes; educação gratuita e de qualidade; transporte público ágil; saneamento básico; moradia decente; direito ao lazer?
Não é ético e, portanto, humano, um sistema que privilegia o lucro privado acima dos direitos comunitários; a especulação à frente da produção; o acesso ao crédito sem o respaldo da poupança. Não é ético um sistema que cria ilhas de opulência cercadas de miséria por todos os lados.
Uma ética para o mundo pós-crise tem como fundamento o bem comum acima das ambições individuais; o direito de o Estado regular a economia e assegurar a toda a população os serviços básicos; o cultivo dos bens infinitos, espirituais, mais importante que o consumo de bens finitos, materiais.
A ética de um novo projeto civilizatório incorpora a preservação ambiental ao conceito de desenvolvimento sustentável; valoriza as redes de economia solidária e de comércio justo; fortalece a sociedade civil organizada como normatizadora da ação do poder público.
O velho Aristóteles já ensinava que o bem maior que todos buscamos — até ao praticar o mal — não se encontra à venda no mercado: a própria felicidade. Ora, o mercado, não tendo como transformar esse bem num produto comercializável, procura nos incutir a convicção de que a felicidade resulta da soma dos prazeres. Ilusão que provoca frustração e dilata o contingente de fracassados espirituais reféns de medicamentos antidepressivos e drogas oferecidas pelo narcotráfico.
O pior de uma crise é nada aprender com ela. E, no esforço de amenizar seus efeitos, não se preocupar em suprimir suas causas. Talvez as religiões não tenham respostas que nos ajudem a encontrar novos valores para o mundo pós-crise. Mas com certeza a tradição espiritual da humanidade tem muito a dizer, pois é na espiritualidade que a pessoa se enxerga e se mede. Ou, na falta dela, se cega e se atola. O ser humano tem sede do Absoluto.
Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: “Faço apenas um passeio socrático”. Diante de olhares espantados, explico: “Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: “Apenas observo quanta coisa existe que não preciso para ser feliz”.

Frei Betto
Correio Braziliense, 26/02/2010

Marina Silva na CBN

Marina Silva apoia a intervenção federal no DF

Falando sobre a necessidade da reforma política para conter os sucessivos escândalos, a senadora Marina Silva afirmou que "O maior exemplo do que há de pior está acontecendo em Brasília. A capital da República está acéfala. Tem que ter ali uma intervenção."

Ouça a íntegra da entrevista de 55 minutos concedida pela senadora Marina Silva à comentarista política da CBN Lucia Hippolito na manhã desta sexta, 26/02/2010.

link: http://cbn.globoradio.globo.com/editorias/politica/2010/02/26/OUCA-A-INTEGRA-DA-ENTREVISTA-A-LUCIA-HIPPOLITO.htm

Intervenção Já - Opinião

As aparências nem sempre enganam

O Correio Braziliense, destinatário de parte muito significativa da verba publicitária do GDF, publicou na sua edição de ontem um Editorial contra a intervenção federal no GDF.

A OAB/DF, cujo presidente Francisco Caputo integra escritório que advogou para o governador José Roberto Arruda, iniciou um movimento da "sociedade civil" contra a intervenção federal no GDF.

Diversos partidos estão se movimentando para promover um "acordo político" que dê sustentação ao governador Wilson Lima, ex-presidente da Câmara Distrital, empossado no governo após a renúncia do vice-governador Paulo Octávio.

O objetivo deste "acordo político", segundo comentários da imprensa, é a manutenção dos cargos comissionados no GDF, a manutenção dos contratos com os fornecedores de produtos e serviços pagos pelo GDF e suas consequentes conexões com interesses políticos e eleitorais do grupo instalado no poder.

As notas da Coluna Painel, da edição de hoje do jornal Folha de São Paulo, reproduzidas neste blog, são didaticamente esclarecedoras.

Giuseppe Tomasi de Lampedusa (1896 - 1957), autor do clássico italiano "O Leopardo", escreveu uma frase que se tornou célebre: "É preciso que tudo mude para que tudo permaneça como está."

Este é o sentido do movimento político em curso no DF.

As evidências demonstram porque a intervenção federal no GDF é justificada e imprescindível para interromper o processo de corrupção e abuso do poder político e econômico que sobrevive e teima em resistir, à revelia dos interesses da população. Basta!

Juarez de Paula

Intervenção Já

Picolé 1. Aliados do governador interino do DF, Wilson Lima (PR), articulam acordo para tentar mantê-lo na cadeira até o final do ano. O principal ponto seria um pacote de bondades para a CUT, com aumento salarial de professores e a implementação de um plano de saúde para todos os servidores da máquina.

Picolé 2. Para o grupo de José Roberto Arruda, o interino se comprometeria a manter servidores em cargos de pequeno e médio escalão.

Da hora. Saltitante com a ideia de herdar a máquina do DF em pleno ano eleitoral, o PR planeja um evento para homenagear Wilson Lima.

Time. Com Lima, estão em alta o ex-deputado José Edmar (PR), preso à época da CPI da Grilagem de Terras, e João de Deus (PPS), prefeito de Água Fria de Goiás.

Canetada. A Secretaria de Saúde do DF, uma das passagens do propinoduto, firmou anteontem contrato sem licitação de R$ 6,2 mi com a empresa de segurança Ipanema, também citada no suposto esquema de superfaturamento das terceirizadas no Senado.

Renata Lo Prete - Coluna Painel – painel@uol.com.br
Folha de São Paulo, 26/02/2010

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Ficha Limpa

Veja vídeo do INESC - Instituto de Estudos Sócioeconômicos sobre a tramitação do PLP 518/09 - Projeto Ficha Limpa.

link: http://www.youtube.com/watch?v=XyeIo5DuviU&feature=player_embedded

Precisamos fortalecer esta luta e impedir a candidatura de pessoas que respondem processos judiciais por crimes graves.

Pré-campanha de Marina Silva

Só Marina é futuro


JOSÉ ELI DA VEIGA

Desta vez não há escapatória: o "fator Marina" obriga todos os pré-candidatos à Presidência a dar substancial destaque ao meio ambiente. E é provável que a questão seja muito bem tratada pelos dois favoritos, pois contarão com a ajuda dos competentes times de governos, conduzidos por Carlos Minc, no federal, e por Xico Graziano e José Carlos Carvalho, nos paulista e mineiro. Equipes em que predominam técnicos identificados com a senadora Marina Silva, mesmo que, por razões mais pragmáticas que altruísticas, não apoiem sua pré-candidatura.

Impõe-se, então, uma óbvia pergunta: poderá haver diferença significativa entre o discurso da senadora e os que serão os adotados pelos favoritos, caso realmente assimilem as ideias de seus ambientalistas?

Ao contrário do que parece, a resposta é um retumbante sim. E o total contraste inviabilizará qualquer conciliação programática para o segundo turno, mesmo que ocorra algum acordo por motivos táticos. Só não percebe quem esquece ou ignora o antagonismo que há entre o imperativo da sustentabilidade e a esclerosada visão socialdemocrata do capitalismo.

Por mais que tenha havido diversificação da fauna partidária socialdemocrata em seus quase 150 anos de adaptações a uma miríade de circunstâncias históricas e político-culturais, nada impediu que nela persistisse sua própria razão de ser, chame-se de "paradigma" ou de "DNA".

Do trabalhismo ao comunismo, passando por todas as espécies de socialismo, o essencial continua a ser a busca de maximização do crescimento econômico conjugada a políticas sociais que reduzam a pobreza e -quando possível- desconcentrem a repartição da renda. Nesse tronco pode ser facilmente enxertado um ramo ambiental, mas sem consistência, já que tomar cuidado com a base natural da sociedade atrita com a opção primordial por pisar fundo no acelerador do PIB.

A nova visão, que brotou no pós-1968, tanto repele a dicotomia entre as esferas social e ambiental da vida humana quanto abomina o reducionismo socialdemocrata por entender que o estilo de crescimento econômico é que deve ser subordinado ao objetivo de melhoria sustentável da qualidade de vida, e não o contrário.

Ou seja, absoluta prioridade "socioambiental" (só uma palavra bem antes de ser autorizada pela nova ortografia). Nada a ver com a concepção de turbinar o PIB com aborrecidas concessões a uma exigência ambiental que seria restritiva, além de separada da social.

Tudo isso poderia cheirar abstrato demais se não pululassem exemplos concretos. A suprema aspiração do governo foi acelerar o crescimento (PAC), criando os conflitos que tangeram a ministra Marina Silva para fora.

E Carlos Minc estava na mesma rota quando a mudança do quadro eleitoral provocada pela pré-candidatura de sua antecessora elevou a cotação do "cerradinho" em detrimento da "soja", segundo metáfora de Gilberto Carvalho sobre a índole de Lula.

Por acaso há político socialdemocrata que discorde da linha do governo Lula, esteja ele no PT, PSDB, PDT, PSB, PPS, PC do B ou PSOL, tenha ficado no PMDB ou baldeado para o atual DEM? Claro que não. Alguns adoram malhar a ineficiente gestão do PAC, mas só porque querem mais do mesmo. A nenhum jamais ocorreria a imprescindível necessidade de substituí-lo por um "Plano de Transição ao Ecodesenvolvimento", sem investimentos contrários à realidade socioambiental. Caso dos mais emblemáticos está na BR-319, que precisa ser abortada, e seus recursos transferidos para obras de saneamento ou de geração de energia limpa.

Sim, a economia brasileira ainda precisa crescer. E muito. Mas não de qualquer maneira, e ainda menos a qualquer custo, como querem os duetos Dilma/Ciro e Serra/Aécio. Para o projeto nacional que agora engatinha com Marina, importa muito mais a direção e a qualidade do crescimento econômico do que sua velocidade.

Aliás, se o contrário fosse melhor, este país já seria um dos mais desenvolvidos do mundo, pois nenhum outro PIB nacional aumentou mais do que o seu entre 1900 e 1980: algo como 50% mais do que o dos EUA.

Em suma: mesmo que o noticiário eleitoral coloque Marina numa suposta terceira via, ela está na primeira para o futuro do Brasil, pois todos os demais candidatos se engalfinham na carcomida segunda.

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JOSÉ ELI DA VEIGA , 61, é professor titular de economia e orientador do programa de pós-graduação em relações internacionais da USP e autor, entre outras obras, de "Mundo em Transe".

http://www.zeeli.pro.br/

Crise no DF - opinião

A crise continua

A despeito da posse do deputado distrital Wilson Lima como governador do DF, a crise continua. Sim, porque caso deseje ser candidato nas eleições de 2010, Wilson Lima terá que se desincompatibilizar do cargo em abril. O atual presidente da Câmara Distrital, Cabo Patrício, ficará na mesma situação. Assim sendo, o sucessor seria o presidente do TJDF, que já afirmou não desejar a tarefa, razão pela qual convocaria imediatamente eleição indireta a ser efetuada pelos deputados distritais.

A Câmara Distrital tem 08 de 24 deputados diretamente envolvidos nas denúncias da operação Caixa de Pandora. Além disso, 03 outros deputados são proprietários de empresas com contratos milionários do GDF. Quase todos são acusados de terem recebido uma volumosa quantia pela aprovação do Plano Diretor de Ordenamento Territorial - PDOT. Quase todos têm de dezenas a centenas de funcionários nomeados no GDF. Qual a legitimidade de uma Câmara Distrital com este perfil para eleger um governador que tenha como tarefa por fim ao tráfico de influência, às propinas e à arrecadação ilegal de recursos para campanha eleitoral?

Tem muita gente importante que continua dizendo que a intervenção federal agride a autonomia política do DF. Dizem que o DF não pode parar. Mas isso quer dizer que a corrupção também não pode parar? Porque sem intervenção, o que vai acontecer é a manutenção do mesmo grupo no poder, interferindo no resultado eleitoral através do abuso do poder político e econômico. Talvez seja isso mesmo o que deseja essa gente importante.

Juarez de Paula

Crise no DF

É para rir ou para chorar?


A crise política -ou policial?- da capital da República evolui de tragédia para um pastelão de matar qualquer um de "indignação e vergonha", até Joaquim Roriz, que se disse escandalizado na TV.

Logo ele, a origem de tudo e candidatíssimo a um quinto mandato ao governo. É muita cara de pau.

Além dessa, outras cenas chocantes são a falsa arguição de suspeição sendo protocolada no Supremo contra Marco Aurélio de Mello no caso Arruda e o novo governador, Wilson Lima, se aboletando no "Buritinga", mistura de Buriti (árvore do cerrado que dá nome à sede do governo, em reforma) com Taguatinga (centro industrial do DF, se é que se pode chamar assim).

Deputado distrital e empresário, Lima registra uma invejável versatilidade no seu currículo de "vendedor de picolé, frentista, mecânico, lanterneiro, pintor, balconista e cobrador de ônibus".

Substitui Paulo Octávio, que não precisou desarrumar as gavetas, porque nem tivera tempo de arrumá-las, e José Roberto Arruda, que vai ficando na cadeia. Passou o Carnaval, já estamos entrando em março e lá está ele, enfim um troféu para a Justiça, cansada de só perder a corrida para a opinião pública.

O habeas corpus de Arruda é uma história paralela no pastelão. Um dos advogados tinha certeza de que o ministro Fernando Gonçalves (STJ) não iria mandar prender o governador. O outro, de que Marco Aurélio, o acatador-mor de habeas corpus, não iria negar justamente o de Arruda. Erraram feio. E ficaram mais desconfiados e racharam.

Daí o pedido de adiamento da votação de hoje do HC. Sabiam ou intuíam que Arruda iria perder mais essa e, perdido por um, perdido por mil. Melhor ganhar tempo para encorpar os argumentos jurídicos e diminuir os holofotes políticos.

Arruda na cadeia por mais uma semana no mínimo, Paulo Octávio expelido, o tal Wilson se empavonando, Roriz voltando. A crise não só continua. Piora a olhos vistos.

Eliane Cantanhêde
Folha de São Paulo, 25/02/2010

Crise no DF

Nuvens em Brasília


Tormam-se ainda mais graves as perspectivas políticas do Distrito Federal com a renúncia do vice-governador Paulo Octávio. Seu sucessor, o presidente da Câmara Legislativa, Wilson Lima (PR), já é o terceiro mandatário da capital do país em apenas 12 dias.

Há dúvidas sobre as condições políticas e administrativas de Lima para exercer a função. Sabe-se, além disso, que ele tem planos de se candidatar a um novo mandato na Câmara, o que o obrigaria a desvincular-se do cargo no início de abril. Caso opte por permanecer, há ainda a hipótese de que venha a ser atingido por denúncias -ele que é aliado do governador José Roberto Arruda, ora em prisão preventiva.

Numa eventual ausência de Lima, caberia a seu vice na Câmara, conhecido como Cabo Patrício (PT), assumir o cargo. Mas também ele pretende se apresentar no pleito. Quanto ao presidente do Tribunal de Justiça, a quem, por fim, caberia o bastão, já avisou que não o aceitará.

Há no entanto uma pequena chance de a prisão de Arruda ser suspensa pela Justiça e o governador retornar ao cargo. É um desdobramento formalmente possível, embora improvável.

Restaria a alternativa da intervenção, que será objeto de análise pelo Supremo Tribunal Federal, em março. Há sinais de desconforto da corte e do próprio Executivo para assumir o ônus da decisão, que é, de fato, extrema. Em tese, deveria ser evitada em prol de uma solução política. A questão é saber se a presença de Lima no cargo poderá se configurar como tal solução.

Editorial da Folha de São Paulo, 25/02/2010

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Pré-campanha de Marina Silva

PV acerta com consultoria de olho em Obama


DA FOLHA ONLINE

O jornalista Caio Túlio Costa irá colaborar com a pré-campanha da senadora Marina Silva à Presidência. Consultor de novas mídias, ele deverá assumir, na campanha do PV, a função de replicar e adaptar à realidade brasileira as técnicas utilizadas, com sucesso, por Barack Obama na corrida presidencial americana, em 2008.

O coordenador-geral de comunicação da pré-campanha de Marina, Nilson de Oliveira, não comenta os planos da equipe, mas diz que a última eleição americana se tornou um paradigma.

Em 2008, a campanha do então senador por Illinois Barack Obama bateu recorde de arrecadação, com mais da metade arrecadada oriunda de pequenas doações feitas on-line por pessoas físicas.

Texto preliminar do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), porém, deixa em aberto a possibilidade de contribuição eleitoral on-line. Partidos manifestaram dúvidas em relação à operacionalidade da arrecadação via internet, ponto que também sofre oposição dos bancos.

Outras técnicas de Obama que notabilizaram a campanha foram a mobilização por meio de um site de relacionamentos próprio e a fidelização por meio de e-mails de conteúdo pessoal.

Todos esses aspectos que foram nada ou pouco explorados em campanhas brasileiras do passado podem ser cruciais para o PV, que conta com pouco tempo de TV, mas apela ao público jovem, ligado à rede. Marina é uma internauta novata, mas, de acordo com seu coordenador, "estará a frente" das decisões tomadas no setor.

Oficialmente, a pré-campanha de Marina tem, por enquanto, um blog e uma conta no Twitter. "É uma parte muito pequena do que a gente vai colocar à disposição do público", diz Oliveira.

Nem Dilma Rousseff nem José Serra têm sites oficiais.

O especialista do PV para a internet trabalhou 21 anos no Grupo Folha, onde foi editor da Ilustrada, secretário de Redação e correspondente em Paris. Em 1989, Costa se tornou o primeiro ombudsman da imprensa brasileira. Em 1995, participou da fundação do UOL, do qual foi diretor-geral até 2002.

Costa trabalhou na Fundação Semco e, em 2006, assumiu a presidência do iG (Internet Group), que reunia os portais iG, iBest e BrTurbo. Com a aquisição da Brasil Telecom pela Oi, Costa se tornou consultor de novas mídias.

Desde os tempos de ombudsman, o jornalista mineiro estuda a ética no jornalismo. Sua tese de doutorado em ciências da comunicação pela USP (Universidade de São Paulo) foi lançada como livro ano passado, sob o título "Ética, Jornalismo e Nova Mídia - Uma Moral Provisória". Desde 2003, ele leciona a disciplina de ética no curso de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero.

Folha de São Paulo, 24/02/2010

Pré-campanha de Marina Silva

Gianetti participará da campanha de Marina


Crítico da alta carga tributária no país, o economista deve auxiliar na montagem do programa da pré-candidata do PV

ANA FLOR
DA REPORTAGEM LOCAL


O PV confirmou ontem a participação do economista e escritor Eduardo Gianetti da Fonseca na estruturação do plano de governo de sua pré-candidata à Presidência, a senadora Marina Silva (AC), 52.

Gianetti é professor da faculdade Ibmec/SP e Ph.D em economia pela Universidade de Cambridge. Uma de suas principais críticas ao governo Lula é a alta carga tributária no país.

A campanha de Marina tem como desafio provar que ela pode ir além do discurso ambiental e ter propostas para outras áreas, como a econômica.

O grupo que trabalha no plano de governo de Marina deve propor como um dos focos a transparência do setor público e o combate à corrupção.

Folha de São Paulo, 24/02/2010

Crise no DF

‘Novo’ interino do DF: ‘Não farei mudanças bruscas’


Brasília passa a conviver, nesta quarta (24), com seu terceiro governador em 12 dias – o deputado distrital Wilson Lima (PR).
Presidente da Câmara Legislativa do DF, ele foi ao comando da Capital depois que Paulo Octávio (ex-DEM), o interino anterior, bateu em retirada.
Wilson Lima é velho aliado de José Roberto Arruda, o governador afastado e preso. Em nota divulgada na noite passada, iluminou suas intenções.
Às voltas com uma administração que reclama reviravolta, Wilson Lima avisa: “Não farei mudanças bruscas”.
Embora a conjuntura aconselhe ação, ele informa que vai enfrentar a nova missão “com serenidade, humildade e muita r-e-f-l-e-x-ã-o".
Reconhece que “há um sentimento de desilusão na população”. Mas é contra a "ruptura política e a intervenção federal”.
Acossado pela anormalidade, o "novo" interino escreve: “O compromisso que posso assumir [...] é com a normalidade democrática”.
Os malfeitos e a suspeição pululam ao redor. Mas Wilson Lima não pensa em auditorias. Não cogita nem mesmo a abertura de uma reles sindicância.
Sua prioridade é manter as obras sociais e a movimentação pesada dos canteiros de obras abertos sob Arruda, o aliado preso.
Promete “[...] não permitir a paralisia do governo, para que as obras e ações sociais sejam levadas até o fim, não piorando ainda mais as coisas”.
O deputado vai ao leme sem ter a mais remota idéia de quanto tempo vai durar sua interinidade:
“Afirmo que farei o que estiver ao alcance de minhas forças para, seja qual for o período em que o GDF estiver sob meu comando, honrar cada minuto de minha passagem por este posto”.
Tomado pela nota inaugural, o deputado Wilson Lima faz bem em contar o tempo em “minutos”. Quando menos perceber, sua hora já terá passado.

Blog do Josias de Souza, 24/02/2010
http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Crise no DF

Câmara do DF lê carta-renúncia, e Paulo Octávio deixa governo; aliado de Arruda assume

Do UOL Notícias
Em Brasília
Atualizada às 17h52

Logo após desfiliar-se do Democratas para não ser expulso do partido, o governador interino do Distrito Federal, Paulo Octávio, renunciou ao cargo nesta terça-feira (23). Paulo Octávio cogitou renunciar na última quinta-feira, mas recuou e tentou, sem sucesso, apoio dos deputados distritais e do DEM para governador. Ao todo, ficou apenas 12 dias como governador.

A íntegra da carta-renúncia foi lida pelo vice-presidente da Câmara Legislativa do DF, Cabo Patrício (PT). A carta já estava redigida pelo menos desde a semana passada.

"Dediquei-me, nos últimos dias, a realizar consultas junto a líderes partidários dos mais variados matizes. Busquei a interlocução com figuras representativas da sociedade. As negociações apenas tornaram mais claras para mim as dificuldades de garantir, neste momento, a tão necessária governabilidade para o Distrito Federal", disse em carta Paulo Octávio. "Permanecer no cargo, nas circunstâncias que chamei de excepcionais, exigiria a criação de condições também excepcionais", continua o ex-governador, que citou a falta de respaldo do próprio partido.

O vice-governador Paulo Octávio havia assumido a cadeira do titular Arruda até ele ser preso no último dia 11 de fevereiro, acusado de participação de tentativa de suborno de uma testemunha do chamado mensalão do DEM, o esquema de enriquecimento ilícito e pagamento de propina a políticos por empresas de informática que tinham contratos no governo do DF, de acordo com investigação da Polícia Federal.

Assume o cargo máximo do Executivo do DF o presidente da Câmara Legislativa, Wilson Lima (PR), próximo do governador afastado José Roberto Arruda (sem partido), preso na Superintendência da Polícia Federal de Brasília.

Octávio é citado nas investigações e nega envolvimento no esquema. Após a prisão de Arruda, o DEM pediu que todos os filiados deixassem o governo do DF. Sem apoio de antigos aliados e do próprio partido, Octávio optou pela desfiliação e pela renúncia. Ele é alvo de quatro de pedidos de impeachment na Câmara Legislativa do Distrito Federal.
Paulo Octávio deve deixar a política para se dedicar apenas às empresas dele, muitas delas com contratos com o governo. Reportagem da Folha de S.Paulo publicada na semana passada mostra que o governo do DF pagou ao menos R$ 10,4 milhões para empresas do empresário veicularem publicidade oficial. O valor se refere aos últimos três anos, quando ele já era vice de Arruda. Octávio disse, por meio de seu advogado, que deixou o comando de todas as suas empresas quando foi eleito vice-governador na chapa de Arruda, em 2006.

Desde a prisão de José Roberto Arruda, em 11 de fevereiro, o vice Paulo Octavio atua como governador interino do Distrito Federal.

Eleito em 2006 na chapa dos Democratas, Paulo Octávio Alves Pereira também presidia, desde 2008, a Regional do DEM-DF, cargo do qual se licenciou quando assumiu o governo.

Ao tomar posse como vice, Octávio também deixou o mandato de senador, cujo cargo ficou para o primeiro-suplente, Adelmir Santana (DEM-DF). Octávio foi eleito por duas vezes deputado federal, em 1990 e 1998, e eleito senador pelo Distrito Federal em 2002.

Como empresário, ele é dono de um dos maiores grupos de construção civil do Centro-oeste que leva seu nome, fundado em 1975. Segundo os números oficiais da empresa, a Paulo Octávio Investimentos Imobiliários contabiliza 38 mil imóveis entregues e tem 400 mil clientes no Distrito Federal com seus 2,7 milhões de m² de obras construídas.

O mineiro de Lavras é casado com Anna Christina Kubitschek Barbará A. Pereira, neta do ex-presidente da República Juscelino Kubitschek, com quem tem dois filhos.

A prisão de Arruda foi decidida pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) e referendada pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Marco Aurélio Mello na semana passada.O STF ainda vai analisar o mérito do habeas corpus impetrado pela defesa de Arruda, prolongando a permanência dele na prisão.

23/02/2010 - 17h30

Crise no DF

Pressionado, Paulo Octávio pede desfiliação do DEM

GABRIELA GUERREIRO
MÁRCIO FALCÃO
da Folha Online, em Brasília

Pressionado pela cúpula do DEM, o governador interino do Distrito Federal, Paulo Octávio, pediu sua desfiliação do partido. Ele encaminhou o pedido para o presidente da legenda, deputado Rodrigo Maia (RJ).

Segundo o líder do DEM na Câmara, Paulo Bornhausen (SC), Paulo Octávio não apresentou motivos para pedir desfiliação. No entanto, ele estaria evitando ser expulso da legenda. "Ele já sabia que não se enquadrava mais nas nossas diretrizes."

A bancada do DEM no Senado já havia decidido hoje, por unanimidade, pedir a expulsão de Paulo Octávio na reunião da Executiva marcada para amanhã. O partido também havia dado prazo até amanhã (24) para que o governador interino decidisse se queria ficar no partido ou no governo.

O prazo foi dado depois que o governador José Roberto Arruda (sem partido) foi preso e afastado do cargo. Com Paulo Octávio assumindo interinamente o comando da capital, o partido determinou que todos os integrantes do governo do DF que fossem do DEM saíssem imediatamente se quisessem ficar no partido, inclusive o vice.

Hoje, reunido com integrantes da Executiva Nacional, o secretário Alberto Fraga (Transportes) tentou convencer líderes do partido a dar uma nova sobrevida ao governador interino. Em resposta, recebeu o compromisso de parte da cúpula do DEM de que ele poderia ser poupado se renunciasse ao cargo.

"O DEM tomou uma decisão importante desde o início desta crise no Distrito Federal e resolveu agir contra essas denúncias. Agora, o Paulo Octávio tem que tomar a decisão dele. Se quiser continuar governador, tem que deixar o partido. Se quiser continuar no DEM, tem que renunciar ao cargo", disse o vice-presidente do DEM, deputado Onyx Lorenzoni (RS).

Paulo Octávio assumiu o governo no dia 11. Ele e Arruda são suspeitos de participar de um esquema de arrecadação e pagamento de propina no DF.

O governador interino ainda responde a três pedidos de impeachment na Câmara Legislativa do Distrito Federal. Na semana passada, Paulo Octávio irritou os distritais e a cúpula do DEM ao ensaiar a renúncia e depois recuar.

No discurso, Paulo Octávio ainda fez referências ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para se manter no governo. Na avaliação do comando do DEM, ele assinou sua ficha de desfiliação ao citar o presidente.

23/02/2010 - 15h25

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Crise no DF - Opinião

Intervenção Já!

Peço desculpas aos leitores pela reprodução de tantos artigos e matérias sobre a "Crise no DF". 
Escolhi, dentre as muitas informações publicadas na mídia impressa e na internet, alguns materiais que considerei bastante esclarecedores sobre o que vem acontecendo nos bastidores e sobre os reais interesses políticos e sobretudo econômicos que estão em jogo.
Conforme afirmei no artigo que incluí na seção "Textos", intitulado "Algumas razões a favor da intervenção", por mais que a intervenção federal no GDF afronte a autonomia política tão recentemente conquistada, considero que a manutenção desse grupo instalado no poder é muito mais danosa à democracia e à cidadania do que aceitarmos o governo de um interventor.
Nesse momento, o desmonte do governo atual representa uma oportunidade para interromper o funcionamento de uma rede de corrupção que, caso mantida, certamente interferirá no processo eleitoral de 2010.
Por maiores que sejam as dificuldades a serem enfrentadas por um governo interventor, o desmantelamento dos esquemas de tráfico de influência, de pagamento de propinas e de arrecadação ilegal de doações financeiras para fins eleitorais evidenciados pela operação Caixa de Pandora, já seria um passo importante em direção à construção de um ambiente de respeito à ética, à moralidade e à honestidade na gestão dos interesses públicos.
Não podemos nos deixar enganar. Os discursos atuais em favor da autonomia política do DF, do respeito às instituições políticas locais, da necessidade de dar continuidade às obras iniciadas, aos projetos relacionados à Copa do Mundo, aos festejos do Cinquentenário de Brasília, tudo isso não passa de "cortina de fumaça" para encobrir os reais interesses de manutenção dos acordos políticos e econômicos escusos celebrados com o fim da reprodução desse mesmo grupo no poder.
Precisamos ter a coragem e a determinação de terminar a faxina. 
Não basta o impeachment de Arruda e Paulo Octávio.
É preciso cassar e tornar inelegíveis todos os parlamentares envolvidos.
É preciso que as investigações sejam aprofundadas, que sejam identificados e punidos os corruptos e também os corruptores.
É preciso desmontar toda a rede de relações entre políticos e empresas detentoras de contratos com o GDF.
A intervenção federal no GDF não tem como objetivo principal a constituição de um novo governo.
A intervenção federal no GDF tem como principal tarefa desconstituir o governo atual, ou seja, impedir que a administração pública continue a ser utilizada para promover e acobertar a utilização mafiosa do poder político em favor dos interesses particulares de uma quadrilha.
Como disse, certa vez, John Kenneth Galbraith, "a política não é a arte do possível, ela consiste em escolher entre o desastroso e o desagradável."
Melhor a situação desagradável da intervenção federal do que a continuidade dessa situação desastrosa de desgoverno no DF.

Juarez de Paula

Crise no DF

Paulo Octávio pede união de secretariado e diz que fica no cargo até 31 de dezembro


Márcio Falcão
da Folha Online, em Brasília

Um dia após ensaiar a entrega do cargo, o governador interino do Distrito Federal, Paulo Octávio (DEM), reuniu os 17 secretários e pediu união contra a ameaça de intervenção federal defendida pela Procuradoria Geral da República.

No encontro, Paulo Octávio anunciou que retoma na próxima semana o calendário de inauguração de obras, com o lançamento de duas escolas, além da entrega de dois campos de futebol de grama sintética. Ao todo, são mais 2.000 obras que estão previstas para serem inauguradas neste ano, além de R$ 2 bilhões de previsão de investimentos.

Segundo o secretário André Duda (Comunicação), Paulo Octávio pediu que os secretários continuem as ações de governo para mostrar que a crise é política e não atingiu a população.

"O governador quer mostrar para o Ministério Público Federal que o pedido de intervenção é fora de propósito. As escolas estão funcionando, a saúde está funcionando. A crise é grave, é política, mas para a população não está acontecendo", disse.

Segundo o secretário de comunicação, Paulo Octavio está disposto a permanecer no cargo até 31 de dezembro. "Ele disse que fica até 31 de dezembro", disse.

O secretário de comunicação minimizou o desgaste político em torno de Paulo Octávio por ter decidido permanecer no cargo. Paulo Octávio também é acusado de suposta participação no esquema de arrecadação e pagamento de propina que envolve o titular do cargo, José Roberto Arruda (sem partido), preso na Polícia Federal por determinação da Justiça.

"Na reunião não foi discutida a questão da renúncia. O governador já falou que quer ser um facilitador. Se entender que não tem o poder de agregar e ter governabilidade, ele sai", disse.

Duda afirmou ainda que, por enquanto, o governador não fará mudanças na equipe e que não há resultado da revisão de contratos de licitação emergenciais. Paulo Octávio foi orientado por líderes do DEM a promover uma mudança completa no secretariado, para fazer uma gestão de ruptura. Com o recuo em relação a renúncia e a ameaça de expulsão, Paulo Octávio deve entregar na segunda-feira sua carta de desfiliação.

Apoio

Paulo Octávio tenta restabelecer a sustentação no governo e na Câmara Legislativa. O governador interino marcou um encontro para amanhã com os 24 deputados distritais para tentar ganhar uma sobrevida e evitar que os três processos de impeachment abertos contra ele na Câmara Legislativa sejam acelerados.

Oficialmente, a reunião é para discutir a crise política da capital federal e a governabilidade diante das denúncias de envolvimento no esquema de arrecadação e pagamento de propina que pesam contra o democrata.

O governador interino já encontra resistência. A bancada do PT, que conta com quatro parlamentares, e o deputado Antonio Reguffe (PDT), considerado independente, prometem não aparecer no encontro para marcar publicamente que defendem a saída de Paulo Octávio.

A comissão especial que vai analisar os pedidos de impeachment de Paulo Octávio e outros quatro de Arruda se reúne na segunda-feira para escolher os relatores dos processos. Paulo Octávio foi informado na noite de ontem da abertura dos pedidos de afastamento contra ele, durante uma reunião com sete distritais.

Segundo parlamentares que estiveram presente, o governador interino demonstrou "irritação" com a decisão da Câmara Legislativa e chegou a reclamar dizendo que "não acreditava" que os parlamentares tinham tomado essa decisão.

Para convencer os distritais e tentar recuperar o apoio na Câmara, Paulo Octávio pretende afirmar aos parlamentares que a sua saída do governo reforça a tese de intervenção federal no Distrito Federal, o que também teria reflexo na Câmara e, especialmente, no bolso das famílias de alguns parlamentares que mantém contratos com o GDF (Governo do Distrito Federal).

Folha Online, 19/02/2010
http://www1.folha.uol.com.br/

Crise no DF

Procuram-se um pacto e um pato


O governador interino, Paulo Octávio, fingiu que foi, mas não foi. Ele, porém, vai acabar indo -para a renúncia, que já está até escrita. Trata-se de uma questão de mais dia, menos dia, enquanto Lula tenta articular uma saída viável para a crise de Brasília.

Paulo Octávio andava em busca de "um pacto" para ter apoio político do governo federal, da Câmara Legislativa, dos partidos, da população e, assim, conseguir um mínimo de governabilidade por 11 meses. Era um sonho de verão.

E Lula está ainda em busca de "um pacto" para comprometer o Judiciário, o Legislativo, os partidos e até a oposição ao seu governo numa saída para a falta do governador (na cadeia), do governador interino (em vias de renúncia), do presidente da Câmara Legislativa (que não escapa) e do presidente do Tribunal de Justiça local (que não quer).

Tudo depende da votação da intervenção pelo Supremo. Enquanto ela não vem, Lula não quer meter a mão nessa cumbuca. Mas, pelo sim, pelo não, já procura discretamente, além de um pacto, um pato para ser eventualmente interventor. Os nomes circulam, e o importante é traçar o perfil.

Um interventor na capital da República teria de preencher vários atributos e alguns vácuos: ter ficha limpa, autoridade, sólido conhecimento jurídico, apoio do governo federal e da base aliada e transitar bem pela oposição. Além de não ser candidato a nada em outubro.

Parece se encaixar como uma luva em Nelson Jobim, que seria o homem certo na hora certa, já que fartamente testado em crises e já disposto a deixar o Ministério da Defesa ainda no primeiro semestre. O problema é que Jobim não tem vocação para pato. Prefere sugerir o advogado e político Sigmaringa Seixas, ex-tucano, agora petista. A questão, aí, é de autoridade.

O fato é que o GDF ruiu, e não tem mais jeito nem milagre. Ninguém quer a intervenção, mas vai acabar sendo ela ou ela.

Eliane Cantanhêde - elianec@uol.com.br
Folha de São Paulo, 19/02/2010

Crise no DF

São os negócios


Na opinião de quem conhece bem Paulo Octávio, um dos elementos para entender seus movimentos erráticos desde a prisão de José Roberto Arruda é o receio de que a renúncia ao governo, seguida de eventual intervenção, coloque em risco ao menos parte de seus muitos negócios no Distrito Federal.

Mais especificamente, o governador interino teme que o mandatário da faxina venha a revogar o Plano Diretor de Ordenamento Territorial do Distrito Federal, mina de ouro para as empreiteiras de "PO". Em depoimento à PF, o gravador-geral Durval Barbosa afirmou que cada um dos 19 votos para aprovar o Pdot na Câmara Distrital custou até R$ 420 mil. O Ministério Público do DF tenta anular a votação.

Fluxo de caixa. Além do possível prejuízo aos negócios, preocupa Paulo Octávio a perspectiva de, uma vez fora do cargo, ver seus bens bloqueados pela Justiça.

Reprise. Com a tirada de corpo de Lula e o "perdido" dado por Paulo Octávio, ministros do STF repetiam ontem uma conclusão: "Mais uma vez, jogaram tudo no colo do Supremo".

Agora espera. Mas a Corte não vai se apressar. O presidente Gilmar Mendes voltou a dizer que o processo seguirá seu rito natural. Vários ministros não sabem ao certo como se desenharia na prática a intervenção, dada a "metástase das instituições" no DF.

PAINEL - Folha de São Paulo, 19/02/2010
Renata Lo Prete - painel@uol.com.br

Crise no DF

Crônica da renúncia que, anunciada, não aconteceu


Três e meia da tarde desta quinta-feira (18). Agripino Maia acabara de descer do avião, no aeroporto de Natal. Súbito, ouviu soar a campainha do celular.
Olhou o visor. Era Paulo Octávio. Atendeu. O governador interino do Distrito Federal informou ao líder do DEM: dali a instantes, renunciaria ao cargo.
Agripino perguntou ao interlocutor se ele comunicara a decisão Lula, E Paulo Octávio: “Comuniquei”. Tudo parecia correr como planejado.
Na véspera, ainda em Brasília, Agripino recebera Paulo Octávio em seu apartamento. “Renuncie”, o senador aconselhara.
“Se você ficar no governo, vai enfrentar dez meses de calvário diário. Isso não vai parar. Sua vida pública já está destroçada. Agora, as consequências serão pessoais, na sua vida, na rotina das suas empresas”.
Informado de que Paulo Octávio solicitara audiência a Lula, o senador sugerira: “Não vá lá para pedir proteção, não faça isso. Se o Lula te receber, comunique a ele que você está renunciando”.
Paulo Octávio concordara com cada palavra. Deixara o apartamento de Agripino decidido a abdicar do governo. Sua saída seria formalizada no dia seguinte.
Ainda na noite de quarta, redigiu a carta de renúncia. Escreveu um, dois rascunhos. Na terceira versão, deu o documento por acabado. De manhã, foi ao encontro de Lula.
Um assessor do presidente ligara à noite. Avisara que o presidente, depois de lhe dar o “bolo”, finalmente o receberia. Na conversa com Lula, mencionou a renúncia.
Ao deixar o gabinete do presidente, pendurou-se ao telefone. Contou a amigos e partidários o que depreendera da conversa. Lula torcia o nariz para o pedido de intervenção federal no DF.
Nada que o fizesse, porém, desistir da idéia de renunciar. Almoçou com o jornalista Mario Rosa, gerenciador de crises. Discutiram o formato da renúncia.
Depois, informou aos secretários de governo sobre a saída. Entregou a carta redigida na noite anterior à líder do DEM na Câmara do DF, Eliana Pedrosa.
Antes de tocar para Agripino, ligou para o seu advogado, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay. Concovou-o à sede do GDF. Queria ouvi-lo sobre as repercussões da renúncia no inquérito do panetonegate.
Kakay tranqüilizou o cliente. Disse-lhe que, fora do governo, sairia das manchetes. “Diminui a pressão política. Não há coisa melhor para um advogado do que o cliente fora da mídia”.
E quanto ao pedido de intervenção?, o quase ex-governador interino quis saber. E Kakay: “A tese cresce. Aumentam as chances de acontecer a intervenção”.
Paulo Octávio isolou-se numa sala contígua. Ao retornar de uma reflexão solitária de 15 minutos, a reviravolta: “Não vou renunciar, vou para o enfrentamento”.
Àquela altura, uma legião aguardava, na sala de entrevistas, o anúncio da saída. Repórtres, secretários de governo, deputados distritais. Em vez da renúncia, sobreveio o “fico”.
A carta está pronta, disse. Porém, “eu aguardo mais alguns dias, como me recomendou o presidente Lula”.
Ao injetar Lula na pantomima, Paulo Octávio irritou o presidente. E levou a cúpula do DEM à exasperação. Lula ordenou um desmentido. Desautorizado, Paulo Octávio se desdisse, em nota. O presidente não recomendara que ficasse, admitiu.
“O Lula que carregue o Paulo Octávio no colo”, reagiu Agripino Maia, alheio aos desmetidos. “Não entendi nada. Depois da comunicação tácita que ele me fez, uma presapada dessas! Estou perplexo.”
Agripino comprometera-se com Demóstenes Torres (DEM-GO), a acomodar a assinatura no pedido de expurgo de Paulo Octávio do partido.
Mas não se juntara ao pedaço do DEM que advoga a expulsão sumária do filiado encrencado. Defenderia na reunião da Executiva a abertura de prazo para a defesa.
O processo rolaria durante meses. E o futuro de Paulo Octávio na legenda seria condicionado à evolução das denúncias.
Ao renunciar à renúncia, o governador interino retirou da boca dos que o defendiam no partido a última réstia de argumento.
O deputado Rodrigo Maia (RJ), que também não aderira à turma do “mata e esfola”, ecoou Agripino: “Estou perplexo. Hoje, a situação é pior do que era ontem. Esse ziguezague da renúncia levou a uma deterioração. A situação dele no partido piorou”.
Em novo telefonema a Agripino, Paulo Octávio pediu desculpas. E informou que decidira antecipar-se ao vexame da expulsão. Vai se desfiliar do DEM até segunda-feira.
À estupefação seguiu-se o alívio. Livre do problema principal, o DEM vai cuidar, na reunião da Executiva, apenas do dissabor secundário. Será dissolvido, na próxima quarta, o diretório do DEM no DF, hoje controlado por Paulo Octávio.
Na Câmara Legislativa, a bancada do panetone, que já flertava com uma súbita conversão à probidade, terminou de esfacelar-se.
Pela manhã, aprovara-se na Comissão de Justiça a abertura do processo de impeachment contra Arruda, o titular preso.
No final da tarde, em reunião de emergência, colocou-se para andar também o processo de cassação de Paulo Octávio, o vice da “desrenúncia”.
Afora o governador interino, não há em Brasília muitas vozes que se aventurem a apostar na longevidade da administração provisória de Paulo Octávio.
Ecoam sobre a cidade as palavras de Agripino da última quarta: “Se você ficar no governo, vai enfrentar dez meses de calvário diário. Isso não vai parar”.

Blog do Josias de Souza, 19/02/2010
http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Crise no DF

Com carta de renúncia pronta, Paulo Octávio afirma que vai esperar para decidir futuro político e segue no governo do DF


Do UOL Notícias
Em São Paulo

Em pronunciamento na tarde desta quinta-feira (18), o governador interino do Distrito Federal, Paulo Octávio, disse que tem uma carta renúncia pronta, mas disse que vai esperar para tomar uma decisão sobre seu futuro político. Ele continua, portanto, a frente do governo do DF, encerrando as especulações sobre sua possível renúncia. "Apesar de carta renuncia pronta, eu aguardo mais alguns dias", disse o governador.

Paulo Octávio lembrou a falta de apoio dos partidos e pediu ajuda na governabilidade. Octávio disse ainda que Brasília atravessa "a maior crise política de seus 50 anos de existência". O governador interino disse ainda que uma possível intervenção federal no Distrito Federal seria uma "derrota para o todo o povo brasileiro".

O governador interino se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Cultural Banco do Brasil, sede provisória da Presidência da República em Brasília pela manhã. Participaram também do encontro o novo ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, e de Relações Institucionais, Alexandre Padilha.

O DEM vai avaliar a situação de Paulo Octávio na semana que vem. O partido poderá expulsar Octávio e intervir no Diretório Regional do DF. A estratégia de lideranças nacionais da legenda é a de tentar isolar a corrupção no partido no Distrito Federal. Desde a prisão de José Roberto Arruda, em 11 de fevereiro, o vice Paulo Octavio atua como governador interino do Distrito Federal.

Eleito em 2006 na chapa dos Democratas, Paulo Octávio Alves Pereira também presidia, desde 2008, a Regional do DEM-DF, cargo do qual se licenciou quando assumiu o governo.

http://noticias.uol.com.br/politica/

Crise no DF

Paulo Octávio discute termos da renúncia ao governo do DF


ANA FLOR
da Folha de S.Paulo, em Brasília

O governador do Distrito Federal, Paulo Octávio (DEM), discutiu agora há pouco os termos de sua renúncia com o jornalista Mário Rosa, especialista em gerenciamento de crises. O encontro ocorreu em um almoço no restaurante do Hotel Meliá, em Brasília.

Na conversa, Rosa por diversos momentos dá dicas de como o governador deve proceder. Chega a dizer que, se a decisão for por uma renúncia, que seja hoje. "A data de validade é hoje", diz.

Paulo Octávio perguntou se deveria distribuir uma carta de renúncia ou fazer um pronunciamento. "Pronunciamento nas rádios e TVs locais é melhor. Uma coletiva, melhor ainda", ouve.

Rosa usa a imagem do fim de um namoro como exemplo: "O senhor não liga para a namorada para terminar o namoro? Não faz só por carta. Você chama a namorada ou liga para ela", diz.

A Folha testemunhou o almoço. Mário estava de camiseta e chinelos de dedo. O governador, bastante sério, recebeu diversos telefonemas durante a conversa. Uma terceira pessoa, uma mulher, participou do encontro.

Nomes como o do ex-ministro José Dirceu, do PT, e do presidente Lula foram citados na conversa.

Rosa dá a entender que aconselha Paulo Octávio a renunciar. "O senhor tinha chance nos primeiros dias (da crise). Mas quem sabia que ia ter esse desdobramento?".

Em outro instante, Paulo Octávio diz que não conta sequer com o apoio de seu partido. "Como eu posso pedir o apoio do PT se nem o DEM me dá?", disse o governador em certo momento.

Ao final, o governador se despede de Rosa, que deixou o local para seguir para o aeroporto, dizendo eles teriam outros momentos melhores. "Muito obrigado, Mario, vai ser um dia histórico."

Folha On Line
http://www.folha.com.br/

Crise no DF

Paulo Octávio nega renúncia


Mariana Jungmann
Da Agência Brasil
Em Brasília

A assessoria de imprensa do governador em exercício do Distrito Federal, Paulo Octávio, negou categoricamente que ele tenha decidido renunciar hoje (18) ao cargo.

Os jornalistas aguardavam, há cerca de 3 horas, no Palácio do Buriti (sede do governo do Distrito Federal), uma entrevista do governador quando o assessor de imprensa, André Duda, comunicou que Paulo Octávio não falaria. Duda disse que estranhava a presença dos jornalistas e informou que o governador despachava normalmente do 11º andar do palácio.

O assessor de imprensa negou a existência de uma carta de renúncia escrita por Paulo Octávio e informou que, no fim da tarde, o governo deve divulgar nota sobre o teor da conversa do governador com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na manhã de hoje.

Ainda segundo André Duda, Paulo Octávio não visitou o governador licenciado, José Roberto Arruda, hoje na prisão, nem pretende fazer a visita.

Arruda está preso desde o dia 11 deste mês na sede da Superintendência da Polícia Federal em Brasília. Ele é acusado de ter tentado subornar uma testemunha do suposto esquema de arrecadação e pagamento de propina no Distrito Federal. Segundo denúncias, o próprio governador chefiaria esse esquema.

UOL Notícias
http://noticias.uol.com.br/

Crise no DF

Paulo Octávio diz a líderes do DEM que vai renunciar

O governador em exercício do Distrito Federal, Paulo Octávio (DEM), informou a lideranças do seu partido que decidiu renunciar ao cargo.
Até aqui, Paulo Octávio mencionava a renúncia apenas de modo hipotético. Nos novos diálogos tratou do tema, pela primeira vez, em timbre peremptório.
Numa das conversas, Paulo Octávio chegou mesmo a informar que vai formalizar sua saída do GDF antes do final de semana, provavelmente nesta quinta (18).
Alega que não obteve apoio para restaurar a “governabilidade” da administração da Capital. Isolado, disse ter optado por bater em retirada.
Planejara reformar o secretariado, cercando-se de auxiliares notáveis. Os convites que formulou foram refugados.
Esperava obter o apoio de Lula para se contrapor ao pedido de intevenção federal no DF. O presidente nem o recebeu.
De resto, Paulo Octávio tentara convencer o DEM a não levar à Executiva o pedido de expulsão dele dos quadros do partido.
Os autores da proposta, Demóstenes Torres e Ronaldo Caiado, não recuaram.
Se Paulo Octávio fizer valer o que disse em privado, o cargo de governador ficará vago pela segunda vez em uma semana.
Preso na quinta-feira (10) da semana passada, o titular da cadeira, José Roberto Arruda, foi afastado das funções pelo STJ por tempo indeterminado.
Confirmando-se a renúncia do vice, o cargo de governador cairá no colo do presidente da Câmara Legislativa do DF.
Chama-se Wilson Lima, um deputado do PR. É um personagem controverso. Integra o bloco que, até a semana passada, apoiava cegamente o governo local.
Seu currículo anota: “Vendeu picolés, foi frentista, mecânico, lanterneiro, pintor, balconista e cobrador de ônibus...”
“...Empresário, foi sócio da rede de supermercados Organizações Lima”. Tem apenas o “ensino médio completo”.
Reza a Lei Orgânica do Distrito Federal que, em caso de vacância do cargo de governador no último ano, o substituto completará o mandato.
Vêm depois de Wilson Lima na linha sucessória do DF o vice-presidente da Câmara, Cabo Patrício (PT) e o presidente do Tribunal de Justiça, Níveo Geraldo Gonçalves.

Blog do Josias de Souza, 17/02/2010
http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/

Pesquisa IBOPE

Dilma diminui vantagem de Serra nas intenções de voto


A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, possível candidata do PT para as eleições presidenciais de outubro, diminuiu ainda mais a vantagem do governador paulista José Serra, do PSDB, revelou hoje uma pesquisa de intenções de voto.

O Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE) em uma pesquisa encomendada pela Associação Comercial de São Paulo, indicou que Dilma passou de 17% a 25%, enquanto Serra caiu de 38% para 36%. A variação deixa o governador "tecnicamente estável" segundo a margem de erro.

Na terceira posição apareceu o deputado cearense Ciro Gomes, do PSB, com 11% das intenções, seguido da senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, do PV, com 8%.

Ciro Gomes perdeu dois pontos percentuais, enquanto Marina Silva aumentou dois pontos em relação à pesquisa anterior realizada em dezembro.

Pela margem de erro, de dois pontos percentuais da enquete, Ciro Gomes e Marina Silva ficaram na mesma posição.

A percentagem de votos brancos foi de 11% e o de eleitores ainda indecisos foi de 9%.

Na simulação de um eventual segundo turno, Serra aparece com o 47% das intenções de voto, enquanto Dilma, favorita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com 33%.

A pesquisa foi realizada nos dias 6 e 7 de fevereiro com 2.002 eleitores em 144 municípios de todo o país e um nível de confiança de 95%.

UOL Notícias, 17/02/2010
http://noticias.uol.com.br/

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Artigo de Juarez de Paula

Reinventar Brasília e o DF

O propósito da política, da conquista do poder, do exercício do governo, é a realização de um projeto. Os líderes políticos e seus partidos representam diferentes projetos. As eleições são uma oportunidade de escolha, o momento de optar entre diferentes projetos que se apresentam ao julgamento do eleitor.

Temos a oportunidade de eleger um governo comprometido com a honestidade e a ética. Um governo comprometido com a transparência. Um governo comprometido com a participação democrática e com a valorização da cidadania. Um governo comprometido com um futuro promissor, resultante do planejamento e da vontade empreendedora em favor do desenvolvimento sustentável.

Temos a possibilidade de construir juntos um governo de mudanças. Um governo que nos devolva o direito à esperança. Um governo a serviço da população, onde cada funcionário público compreenda o significado de ser um servidor do público, alguém comprometido com a construção da felicidade dos cidadãos.

Temos a possibilidade de participar de um governo que orgulhe os brasilienses, que respeite nosso povo, sobretudo os segmentos sociais mais vulneráveis, como as crianças, os pobres, as mulheres, os negros, os portadores de necessidades especiais, os remanescentes de nações indígenas.

Construir a felicidade dos cidadãos deveria ser o propósito maior do governo do DF. Um propósito ousado e ambicioso, mas capaz de contagiar corações e mentes, de despertar nossa paixão e generosidade, nossos sonhos e desejos, nossa vontade de realizar uma cidade feliz.

No ano do cinquentenário, somos todos convidados a participar da reinvenção do nosso futuro, para Brasília, para o Distrito Federal, para todos os brasilienses.

Veja a íntegra do artigo na seção "Textos"

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Artigo de Juarez de Paula

Algumas razões a favor da intervenção

Começa a ficar perceptível uma grande movimentação política contra a intervenção federal no DF. Esta movimentação unifica vários partidos, à direita e à esquerda. Muitos argumentam que a intervenção colocaria em risco a autonomia política do DF. Outros temem um interventor nomeado pelo Governo Federal, o que provocaria mudanças no cenário eleitoral em favor do PT. Há setores do PT que preferem deixar Paulo Octávio no governo, com o DEM "sangrando", para tirar proveito eleitoral, em detrimento da administração do DF e da sua população. Setores do DEM já perceberam a manobra e pretendem expulsar Paulo Octávio, exigir a saída de todos os membros do DEM que ocupam cargos no GDF e até dissolver o diretório distrital, de modo a se diferenciar do PT no tratamento dos responsáveis pelo seu "mensalão".

Paulo Octávio, numa situação de grande vulnerabilidade política, está tentando convencer diversos dirigentes partidários a comporem um governo de coalizão e promete encerrar sua carreira política sem disputar as eleições de 2010. Pediu que o secretariado coloque seus cargos à disposição, sinalizando a possibilidade de absorver indicações de outros partidos. Pediu também uma audiência com Lula para solicitar a colaboração do Governo Federal e convocou uma reunião com presidentes de partidos para depois do carnaval.

É impossível prever o que vai acontecer. Todavia, não tenho dúvidas de que a intervenção federal é a única possibilidade de colocar o GDF numa rota de reconstrução da moralidade política. A escolha de um interventor com imagem pública de compromisso com a ética e a honestidade, a exemplo de Sepúlveda Pertence ou de Sigmaringa Seixas, apenas para citar dois nomes que já foram lembrados, representaria, simbolicamente, a tomada de um novo caminho, uma nova direção, um recomeço. Aliás, o cinquentenário de Brasília é um momento oportuno para que se opere esta virada histórica.

Veja a íntegra do artigo na seção "Textos"

Discutindo a intervenção no DF

Sem saída


O governador José Roberto Arruda está afastado, passando o Carnaval na cadeia e sem condições políticas e emocionais, senão jurídicas, de reassumir.

O vice, Paulo Octávio, está numa corda bamba, equilibrando-se entre o que já foi, está sendo e ainda poderá ser publicado sobre a Operação Caixa de Pandora. Ele dorme sonhando com um "arco de alianças políticas", mas perdeu o próprio DEM e acorda num pesadelo.

O presidente da Câmara Legislativa, Wilson Lima (PR), não só é um ilustre desconhecido como representa uma Casa em demolição, com pelo menos 8 dos seus 24 membros atingidos pela confusão, e a maioria empurrando a sujeira e a CPI para debaixo do tapete.

Sobra na linha de sucessão o presidente do Tribunal de Justiça do DF, Níveo Gonçalves, para assumir e convocar eleições indiretas em 30 dias. O que só manteria girando o círculo do infortúnio. Quem tem legitimidade para se candidatar?

A crise policial, legal, pessoal e de legitimidade, portanto, indica que a autonomia que Brasília conquistou na Constituinte de 1988 esfarelou-se nesses 20 anos, com dois de seus três governadores e três de seus senadores implodidos por impeachment, cassação, prisão.

A solução para a crise aguda, portanto, seria a intervenção. Mas ninguém a quer -o Supremo, que teria de aprová-la; o governo Lula, que teria de gerenciá-la; o Congresso, que ficaria impedido de votar emendas constitucionais. E há alguém aí louco para ser interventor?

Além de inédita, uma intervenção do DF seria fatalmente traumática, e o interventor ficaria numa situação que não se deseja para o pior inimigo: sem sustentação política, com a administração de pernas para o ar e tendo de driblar a rejeição da Câmara Legislativa. A população, horrorizada com tudo e com todos, não ia entender nada.

A situação é de caos. Ruim sem intervenção, ficaria pior ou melhor com ela? Não há resposta.

Eliane Cantanhêde
Folha de São Paulo, 16/02/2010

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Artigo de Marina Silva

Antídotos contra a corrupção


Em "A República", Platão conta o mito do camponês Giges que, certo dia, pastoreando suas ovelhas, encontra uma cratera aberta por violenta tempestade. Lá, ele descobre o cadáver de um homem, com um anel no dedo.

Pega o anel e o coloca no próprio dedo. E, para sua surpresa, percebe que a joia lhe dá a faculdade de se tornar invisível.

Com esse poder, Giges passa a cometer uma série de delitos: seduz a rainha, mata o soberano, usurpa o poder. O mito desvenda, assim, a propensão humana a praticar atos condenáveis quando há a certeza da invisibilidade. Impossível não pensar nisso diante do mais novo escândalo nacional, envolvendo o governador de Brasília.

Repetem-se comportamentos -mudando apenas os nomes e os partidos- e fica evidente que a visibilidade dos atos públicos, a tão decantada transparência, somada a ações exemplares de punição ao mau uso do dinheiro do contribuinte, é o melhor caminho para inibir a corrupção e constranger atos ilegais e imorais. Quando não temos processos consolidados que permitam o acompanhamento e o controle social, a corrupção, que se nutre da doentia obsessão pelo poder em si mesmo, ganha espaço e desenvoltura.

Infelizmente, ainda se entende o controle social como algo que atrapalha, empata. Atrapalha o quê e a quem? Seguramente, não a população e o interesse público, como estamos cansados de ver.

A corrupção política, envolvendo agentes públicos e privados, deteriora as instituições e rouba da sociedade o seu espaço de escolha, de realização de objetivos comuns e de solução de problemas dentro de regras democráticas. É a sombra que acompanha a história brasileira e hoje atinge o paroxismo.

A política se descolou da sociedade e atua movida por suas próprias razões e interesses, o que não leva e nunca levará a atos eticamente aceitáveis, mesmo que muitos deles não estejam tipificados em lei como crimes.

Nossa tarefa é a de identificar, na política, onde estão os anéis de Giges e destruí-los. No caso de Brasília, não penso que se deva tripudiar ou correr para tirar proveito político da desgraça que, a rigor, é da cidade. Não cabe vingança, mas sim justiça, para retomar o primado do interesse coletivo. Mas isso não esgota o assunto.

O risco está aí, no modelo de financiamento de campanhas, na tendência a mostrar o mínimo possível das entranhas da gestão pública, na pouca disposição a enterrar os privilégios que alimentam a fogueira da corrupção. O projeto de iniciativa popular conhecido como Ficha Limpa ainda está patinando no Congresso, o que é um mau sinal. Não é este o momento emblemático de aprová-lo?

Marina Silva
Folha de São Paulo, 15/02/2010

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Ainda sobre a crise política no DF

Presentão de aniversário


A prisão preventiva do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, não foi decretada por causa da dinheirama em meias, cuecas, bolsas, haras e mansões, mas, sim, por um outro erro do réu: o suposto suborno do tal jornalista Edson Sombra, o que caracteriza obstrução de Justiça.

Arruda é campeão de ineditismos: o primeiro governador preso na democracia; o único senador a jurar pelos filhos em cima de uma mentira; o que se cerca dos braços direitos dos seus maiores inimigos; e, enfim, o envolvido com a compra de um jornalista, apesar de todas as câmeras, gravações e delações.

Que sirva de exemplo para governadores, senadores, deputados e candidatos em geral. E que sirva de troféu para uma população exausta com o festival de arbitrariedades e de desvio do dinheiro público.

A prisão preventiva dependia da decisão final do ministro Marco Aurélio Melo, do Supremo Tribunal Federal, sobre o pedido de habeas corpus. Não importa. Poderia demorar só três horas, cinco horas, dez horas, mas seu efeito ético e de alerta já se irradiava pelo país.

Arruda, que jogou fora a imagem de bom administrador pela ganância, arrogância e descaso pela ética, pode estar abrindo uma lista de novas prisões -em Brasília, onde o governo ruiu e há até a expectativa de intervenção federal. E no país, onde corruptores e corruptos devem ficar com as barbas de molho.

O clima não era de tristeza, era de festa. Entidades como a OAB (advogados), a AMB (magistrados) e a ANPR (procuradores da República) distribuíram notas elogiando o Superior Tribunal de Justiça pela decisão e projetando novos tempos, com menos impunidade e mais rigor contra os poderosos. A dois meses da festa pelo aniversário da "nova capital", agora uma senhora cinquentona, a prisão do governador foi recebida como um tremendo presente: a lei, enfim, começa a valer para todos?

Eliane Cantanhêde
elianec@uol.com.br

Folha de São Paulo, 12/02/2010

Explicando a crise política no DF - 2

Roriz é o roteirista do filme de Durval


João Bosco Rabello


Ainda que sujeita a idas e vindas (a batalha jurídica só começou), a prisão do governador José Roberto Arruda já é um divisor de águas na história política brasileira, caracterizada pela impunidade que levou a classe política ao mais baixo nível de descrédito na última década.

Para consumar a prisão do governador foi necessária uma operação político-jurídica sem precedentes. Ordem dos Advogados do Brasil, Procuradoria-Geral da República e Superior Tribunal de Justiça se uniram para viabilizá-la, depois de concluir que não havia mais como Arruda exercer a autoridade de que estava investido.

Contribuiu para esse desfecho o impacto das imagens de corrupção.

Vê-la foi mais forte que sabê-la.

O episódio é desmerecedor e não traz felicidade. Mas deve ser comemorado pela inédita reação do Poder Judiciário a um processo de assalto ao Estado, protagonizado por um governo que agia com a desenvoltura própria dos que se sentem inatingíveis.

Em Brasília instalou-se no poder, desde o segundo mandato de Joaquim Roriz, em 1991 (o primeiro por eleição direta), um grupo ao qual José Roberto Arruda pertence desde o primeiro momento. Ele foi secretário de Obras do governo Roriz.

O esquema foi avançando por outras instituições, cooptando integrantes de outros Poderes, entrou pela Câmara Distrital, pelo Judiciário local, arrebanhou o empresariado, parte da polícia, e consolidou-se com um forte esquema de publicidade para toda a mídia regional.

Ficou vulnerável pela briga interna entre os chefes das facções, ou seja, Joaquim Roriz - o criador - e José Roberto Arruda - a criatura.

Os vídeos de Durval Barbosa, o policial do esquema (não é o único), são encomenda de Roriz. A decisão de exibi-los idem.

Roriz tem o controle porque Arruda, na eleição que dizia ter ganho "por dentro", absorveu em sua equipe seus principais operadores.


O Estado de São Paulo, 12/02/2010

Explicando a crise política no DF - 1

Em 20 anos de autonomia política, DF acumulou coleção de escândalos


Rui Nogueira


Em 20 anos de autonomia política, que serão completados em outubro próximo, o Distrito Federal cultivou uma verdadeira coleção de escândalos. O tamanho do pântano brasiliense pode ser medido por dois grandes recordes nacionais.

Primeiro recorde: em apenas cinco mandatos de governadores eleitos desde que o DF voltou a escolher livremente os seus representantes - três de Joaquim Roriz (1991-1995 e 1999-2006), um de Cristovam Buarque e outro de José Roberto Arruda -, Brasília contabiliza um governador preso e outro que escapou a duras penas de um processo de cassação.

Arruda foi preso ontem. Roriz reelegeu-se em 2002 para um terceiro mandato com o uso tão escancarado da máquina pública - distribuindo lotes e títulos de propriedade - que foi alvo de 35 processos. No último deles, julgado no TSE em 2005, foi absolvido por 4 votos a 2. Apesar dos documentos anexados, o TSE decidiu que não tinha como provar que foi o uso da máquina que o elegeu.

O segundo recorde do DF diz respeito à qualidade dos seus parlamentares, no Congresso Nacional e na Câmara Distrital. O primeiro senador cassado na história da República brasileira é de Brasília: Luiz Estevão, senador pelo PMDB, foi cassado em junho de 2000 por quebra de decoro parlamentar - mentiu à CPI do Judiciário, no caso do desvio de R$ 169 milhões nas obras do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de São Paulo. O governador preso ontem, era senador em 2001 quando teve de renunciar ao cargo para escapar da cassação por envolvimento no escândalo da violação do painel eletrônico da Casa. O motivo da violação é que ele queria saber como foi a votação secreta da cassação de Estevão.

O mesmo Senado assistiria seis anos depois, em junho de 2007, à renúncia do senador e ex-governador Roriz. O método da renúncia para escapar à cassação livrou o senador de explicar o caso da "bezerra de ouro", envolvendo um cheque de R$ 2,2 milhões recebido do empresário Nenê Constantino, dono da Gol. Escutas legais da Operação Aquarela revelaram que o cheque foi descontado na boca do caixa do Banco Estatal de Brasília (BRB). Roriz disse que do total descontado ele ficou "apenas" com R$ 300 mil para pagar uma bezerra arrematada em um leilão de gado. Jamais apresentou a bezerra.

Em 1993, no escândalo dos Anões do Orçamento, Roriz, então governador em primeiro mandato eleito, foi flagrado distribuindo cheques para pelo menos quatro deputados distritais - um mensalinho que Arruda, 17 anos depois, repetiria em proporções só vistas no mensalão do primeiro mandato do governo Lula (2003-2006). Hoje, no "mensalão do DEM", pelo menos um terço da Câmara Distrital, que tem 24 deputados, está envolvida no esquema de propinas distribuídas pelo governo Arruda.

O Estado de São Paulo, 12/02/2010