segunda-feira, 26 de abril de 2010

Artigo de Marina Silva

Represa de erros


Estão mais do que evidentes a complexidade e os riscos envolvidos na construção da usina hidrelétrica de Belo Monte no rio Xingu, no Pará.

Erros há 20 anos represados, sobram dúvidas e incertezas sobre a viabilidade econômica e a extensão dos impactos socioambientais do empreendimento.

Apesar de todas as manifestações em contrário, o governo se mantém indiferente. Fez-se o leilão semana passada e anunciou-se um vencedor, apesar da insegurança jurídica do processo e a fragilidade dos arranjos societários de última hora. Vê-se o direcionamento de todos os instrumentos de políticas públicas para viabilizar um projeto estrategicamente ruim, caro e de altíssimo risco socioambiental.

Enquanto isso, pouco se faz para reduzir perdas da ordem de 15% em energia no país, o equivalente a três vezes a capacidade média de Belo Monte. E o processo em curso aponta mais desperdício: Belo Monte terá uma produção energética efetiva bem menor do que sua capacidade total -4.428 MW, em função do regime hídrico do rio e da configuração do projeto, e não os 11.223 MW anunciados.

Surpreendem também as condições à disposição dos interessados em comercializar a energia gerada pelo rio Xingu. Tem-se R$ 13,5 bilhões em crédito subsidiado pelo BNDES, com prazo de 30 anos para pagamento, a juros de 4% ao ano.

Isenção de impostos sobre os lucros, o comprometimento do capital de empresas estatais e de fundos de pensão e, de quebra, o absurdo comprometimento de licenciamento ambiental com prazo preestabelecido para a obra começar já em setembro.

Mesmo assim, as duas empresas privadas que melhor conheciam o projeto não participaram do leilão.

Preferem a posição de contratadas aos de investidoras, enquanto outras, vitoriosas, ameaçam desistir dos benefícios aparentemente irrecusáveis. Imaginem se todas essas condições excepcionais fossem para melhorias da eficiência do sistema elétrico e para redução da demanda por energia?

A política energética em curso é manca: apoia-se apenas no aumento da oferta sem investir na diversificação, na conservação e na gestão do mercado. Temos um sistema com elevadas perdas por desvio, manutenção precária e pouco incentivo para o uso de técnicas construtivas de maior eficiência energética.

Definitivamente precisamos expandir a oferta de energia, mas não necessitamos, para isso, manter a cultura do desperdício e comprometer o patrimônio ambiental e os recursos do país, quando temos alternativas de geração.

Folha de São Paulo, 26/04/2010

Crescimento desordenado de Brasília

Brasília no Programa Cidades e Soluções

O jornalista André Trigueiro leva o seu programa "Cidades e Soluções" até Brasília, para mostrar o crescimento desordenado da nossa cidade.

Veja nos links abaixo:

http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1251557-7823-CIDADES+E+SOLUCOES+APONTA+PRINCIPAIS+PROBLEMAS+DA+PERIFERIA+DE+BRASILIA,00.html


http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1251740-7823-CONSTRUCOES+IRREGULARES+MANCHAM+O+PLANO+PILOTO+DE+BRASILIA,00.html


Juarez de Paula

domingo, 25 de abril de 2010

PV empata disputa presidencial na Colômbia

"Maré verde" empurra azarão na Colômbia


Ex-prefeito de Bogotá, filósofo e matemático Antanas Mockus cresce e empata nas pesquisas com candidato de Uribe


Famoso por excentricidades, candidato do Partido Verde motiva jovens e classe média com discurso grandioso e programa de governo vago


FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS


Figura midiática na Colômbia, ele já cantou rap e trocou fiscais de trânsito por mímicos nas ruas de Bogotá quando era prefeito da capital colombiana.

Agora, o excêntrico Antanas Mockus, 58, é a principal notícia do país de Álvaro Uribe por uma façanha: de azarão, no começo do mês, ele alcançou o candidato favorito governista, e, segundo a última pesquisa, ganharia a eleição presidencial no segundo turno.

O fenômeno Mockus foi batizado de "maré verde" -ele concorre pelo Partido Verde- e tem empolgado jovens no Facebook com um programa de governo vago e um discurso grandioso ("Sinto que tenho a capacidade de transformar profundamente nossa sociedade") envolto numa mensagem simples: "chega de vale-tudo".

Depois de escândalos políticos que marcaram os últimos anos -em especial o elo de parlamentares com paramilitares, que varreu um terço do Congresso-, o ex-prefeito atrai por ser um "outsider" do sistema de partidos e por ter localizado um centro político, fora da polarização entre o popular Uribe e seus detratores.

O matemático de origem lituana, que fez duas bem avaliadas administrações em Bogotá, começou a decolar justamente quando se uniu a um outro "outsider", o ex-prefeito de Medellín Sergio Fajardo.

Até então candidato à Presidência com cerca de 10% das intenções de voto, Fajardo topou ser seu vice após não conseguir eleger nenhum deputado nas eleições de março.

"É um momento mágico", derramou-se Fajardo à Folha, anteontem, ao acompanhar Mockus em Santa Marta, no Caribe colombiano. "Mostramos que sim, podemos", continuou, emulando o slogan já lugar-comum de Barack Obama.

"Mockus é um fenômeno de opinião pública. Parte do país está mostrando que quer algo novo, sem os vícios da política atual e sem perder as conquistas de Uribe de segurança", resume a jornalista Juanita León, autora de "País de Plomo" (país de chumbo), sobre o conflito armado colombiano, e diretora do site La Silla Vacía.

A questão da segurança é a outra chave da "maré verde". Os governistas espalham na internet que não se derrota as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) "com girassóis e mímicos", mas Mockus tem várias posições próximas do governo no setor.

Como Uribe, ele é contra negociar com as Farc. Prega "legalidade democrática", resposta à uribista "segurança democrática", criticada por violações de direitos humanos e pelo controverso ataque à guerrilha no Equador, em 2008. Mockus diz que não caçará guerrilheiros no exterior e que será "prudente" com Hugo Chávez, às turras com Bogotá há anos.

Na economia, também há aproximações com a atual gestão. Quer vender 15% das ações da estatal Ecopetrol para criar um fundo educacional -a educação é outra bandeira de campanha, acenando ao pós-uribismo- e é a favor do Tratado de Livre Comércio com os EUA.

Já a plataforma verde que batiza a onda é incipiente. Mockus aderiu só em setembro passado ao Partido Verde, de DNA ecológico frágil. "Vamos trabalhar para tornar mais verde nosso partido", diz Fajardo.

As eleições são em 30 de maio, e Mockus já fala em ganhar no primeiro turno -se conseguir, terá como bancada própria só oito parlamentares.

O desafio é conquistar a "Colômbia profunda", uma incógnita, já que, em geral, as pesquisas só abrangem a área urbana.

O que hoje parece improvável não é algo inédito. Uribe começou como azarão e conseguiu ser eleito em 2002.

Folha de São Paulo, 25/04/2010

sábado, 24 de abril de 2010

Marina lamenta boicote a Ciro

A saída de Ciro e o retrocesso democrático


Qual o sentido político da democracia? É a liberdade de escolha bem informada. Numa eleição em dois turnos, como a presidencial, o primeiro foi concebido para oferecer ao eleitor um leque de alternativas políticas. A partir da diversidade de idéias e do debate entre elas, compete ao cidadão escolher as que entende serem as melhores para si e para o país.

 
É particularmente perverso que esse processo, que está no cerne da democracia, seja instrumentalizado para impedir abalos na manutenção de projetos de poder. Não é admissível que se queira manipular o direito de escolha por meio da redução forçada do leque de opções.

 
Assistimos agora, com o veto à candidatura de Ciro Gomes, a uma expressão exemplar desse tipo de intolerância democrática. É fácil prever que os mesmos grupos que trabalharam para tirar Ciro da disputa presidencial tentarão agora assimilá-lo.

 
Os que costumam agir dessa maneira são aqueles que têm dificuldade em transformar a visão democrática em ação e não admitem a alternância de poder. Primeiro, buscam eliminar os adversários que querem disputar legitimamente a preferência dos eleitores. Depois, tentam se colocar como o único hospedeiro possível para que os expurgados consigam sobreviver na vida pública.

 
Aquele que foi empurrado para fora do processo passa então a ser apontado como bom companheiro, patriota, desde que aceite ser assimilado por aqueles que articularam o seu expurgo.

 
Perde o país, perde a democracia.

Marina Silva
http://www.minhamarina.org.br/

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Fora Rosso!

Nova sede da Câmara Legislativa é invadida por 30 pessoas


Polícia negocia com manifestantes, que vão permanecer no local. Não há confrontos.

Daniel Brito

Policiais militares (do 11º CPMIND e do Bope) chegaram a nova sede da Câmara Legislativa do DF (CLDF), que foi invadida por um grupo de 30 manifestantes, que exigem a invalidação da eleição indireta e a saída do governador Rogério Rosso (PMDB). Não houve confronto e, depois de uma negociação, ficou definido que os estudantes ficarão restritos a uma área específica do prédio.
A partir de agora, apenas a imprensa e o advogado do grupo terão acesso ao local. Os funcionários da Ágil, empresa de segurança responsável pelo prédio, foram orientados pela polícia de que deveriam pedir a reintegração de posse, já que se trata de um prédio público desocupado.
Invasão
Os manifestantes invadiram a nova sede da Câmara Legislativa do Distrito Federal, localizada no Setor de Indústrias Gráficas, em frente ao Palácio do Buriti, por janelas abertas no subsolo, e se instalaram na segunda sobreloja. Uma faixa na fachada do prédio traz os dizeres "Poder público".
A expectativa era de que o prédio fosse inaugurado em maio. Os manifestantes disseram que a invasão foi planejada na noite desta terça-feira (20/4). Hoje, o grupo ainda protestou contra o governador Rogério Rosso (PMDB) e levou os bonecos do Tony Panetone e Bezerra de Ouro na parada da Disney.
Histórico
Os invasores da nova sede da CLDF são os mesmos que resistiram na reitoria da UnB, no ano passado, até a saída do reitor Timothy Mulholland, e que, em dezembro, tomou conta do prédio em uso da Câmara, no fim da Asa Norte.

Correio Web
http://www.correioweb.com.br/

Pesquisa IBOPE

Nova pesquisa IBOPE será divulgada amanhã

O IBOPE realizou pesquisa no período entre 13 e 18/04, sob encomenda da Associação Comercial de São Paulo. Pesquisa similar foi feita há dois meses. Veja a evolução dos números:
Serra - cresceu de 35% para 36%
Dilma - caiu de 30% para 29%
Ciro - caiu de 11% para 8%
Marina - cresceu de 6% para 8% 

Os resultados da pesquisa do IBOPE têm correspondência com os resultados da mais recente pesquisa do Datafolha, também publicada e comentada neste Blog. Indicam que Serra e Dilma estacionaram, indicam uma tendência de queda de Ciro e indicam um crescimento de Marina.

Juarez de Paula

Intervenção Já!

Intervenção federal ainda é a melhor solução no Distrito Federal, diz procurador-geral da República no dia do aniversário de Brasília

Camila Campanerut
Do UOL Notícias
Em Brasília

Em meio às comemorações do aniversário de 50 anos de Brasília nesta quarta-feira (21) e dias depois da eleição do novo governador do Distrito Federal, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, disse acreditar que a melhor forma de dar fim ao maior caso de corrupção do DF é a intervenção federal, proposta por ele ao STF (Supremo Tribunal Federal).

“Continuo convencido de que é a intervenção [a melhor solução para o DF]. Não é a solução que eu desejaria, mas a única solução que  me parece indispensável para o saneamento do Distrito Federal é a intervenção”, afirmou Gurgel, que participou de uma sessão solene em comemoração aos 50 anos da sede do STF em Brasília.

Questionado se com a eleição indireta o governo local poderia ter restaurada a normalidade de seus trabalhos e serviços, o procurador reforçou que a corrupção não se restringe ao Poder Executivo, em referência ao fato de servidores da Câmara Legislativa serem citados no inquérito da Polícia Federal sobre o caso de corrupção no DF.

“Eu acho que a eleição indireta reforçou a necessidade de intervenção federal na medida em que o colégio eleitoral é formado pela maioria de deputados envolvidos no escândalo de corrupção instalado no governo do Distrito Federal”, destacou Gurgel, sobre o fato de oito dos 13 votos nas eleições indiretas que elegeram Rogério Rosso (PMDB) serem de deputados investigados pela PF.

Para Gurgel, o assunto da intervenção deve entrar na pauta do STF assim que houver a troca de ministros que ocupam a presidência – sai Gilmar Mendes e entra Cesar Peluzo. “A normalidade não existe, é apenas uma aparência de normalidade (...) tenho certeza que passada a troca de presidentes, teremos mais brevidade para tratar o tema.”

sábado, 17 de abril de 2010

Eleições indiretas para o GDF

Parlamentares elegem Rogério Rosso o novo governador do DF

Ana Elisa Santana
Débora Álvares

Rogério Rosso é o novo governador do Distrito Federal. Ele foi eleito na tarde deste sábado (17/4), em sessão extraordinária da Câmara Legislativa com 13 votos a favor, número mínimo necessário para que não houvesse segundo turno.

Votaram no candidato peemedebista os deputados Aguinaldo de Jesus, Alírio Neto, Ailton Gomes, Batista das Coopertativas, Benedito Domingos, Benício Tavares, Cristiano Araújo, Dr. Charles, Eurides Brito, Geraldo Naves, Pedro do Ovo, Rogério Ulysses e Roney Nemer.

Wilson Lima, inicialmente cotado como favorito a vencer o pleito, recebeu apenas quatro votos, dos distritais Jaqueline Roriz, Milton Barbosa, Paulo Roriz e Raimundo Ribeiro. O candidato petista teve a preferência de seis dos parlamentares: Chico Leite, Eliana Pedrosa, Érika Kokay, Paulo Tadeu, Reguffe e Cabo Patrício.

O deputado Raad Massouh absteve-se na votação.

Rogério Rosso passa a ser o chefe do executivo local até o dia 31 de dezembro. A nova vice-governadora é Ivelise Longhi. Na próxima segunda-feira (19/4), haverá sessão solene na Câmara Legislativa, às 10h, para a tomada de possedo novo governador.

Correio Braziliense
http://www.correiobraziliense.com.br/

Comentário do Blog: Rogério Rosso e Ivelise Longhi são aliados históricos de Roriz e de Arruda, tendo participado do governo de ambos. Receberam votos de todos os deputados distritais denunciados na Operação Caixa de Pandora. Tudo leva a crer que o aparelhamento político do GDF para obtenção de contribuições financeiras com finalidade eleitoral vai continuar, interferindo nas eleições de outubro. Venceu a hipocrisia da "normalidade". Uma eleição sem povo, ilegítima, com a participação de um terço de deputados denunciados por corrupção, um dos quais acabou de sair da prisão, sem contar aqueles que são empresários cujas empresas são contratadas do GDF. As razões que justificam uma Intervenção Federal permanecem. Intervenção Já!

Pesquisa Datafolha

Datafolha: Serra 38% X 28% Dilma


Marina fica com 10% e Ciro bate em 9%
Tucano ganha mais com saída de Ciro


Pesquisa Datafolha publicada hoje (17.abr.2010) pela “Folha de S.Paulo” revela que a corrida presidencial não registrou mudanças bruscas na comparação com os números de três semanas atrás. O candidato José Serra (PSDB) está com 38% das intenções de voto contra 28% de Dilma Rousseff (PT). Em seguida está Marina Silva (PV), que registra 10%, à frente de Ciro Gomes (PSB), que pontuou 9%.

Há 7% que votarão em branco, nulo ou em nenhum. Outros 8% dizem ainda estar indecisos. O Datafolha entrevistou 2.600 pessoas em todo o país nos dias 15 e 16 deste mês de abril. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos. A pesquisa está registrada no TSE com o número 8383/2010.

Em março, Serra tinha 36% contra 27% de Dilma. A diferença entre ambos era de 9 pontos percentuais. Agora, é de 10 pontos. Ou seja, trata-se de uma oscilação dentro da margem de erro da pesquisa.

Blog do Fernando Rodrigues
http://uolpolitica.blog.uol.com.br/

Comentário do Blog: Serra e Dilma mantêm suas posições, a despeito da forte inserção na mídia. Ciro caiu, o que é um reflexo da forte campanha movida pelo Governo para forçar o PSB a retirar sua candidatura. Marina cresceu, apesar da pequena inserção na mídia e de uma cobertura jornalística tendenciosa, que destaca as dificuldades da falta de estrutura do PV e explora negativamente as posições religiosas da candidata, o que não é relevante para o exercício da Presidência, nem é matéria de discussão com os demais candidatos. 

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Artigo de Roberto Smeraldi

"Xingubras", uma aposta na incerteza


ROBERTO SMERALDI


Convocar o leilão de Belo Monte às pressas foi decisão assumidamente política, e contraria o parecer formal da equipe técnica do Ibama


É impossível atestar a viabilidade econômica da usina de Belo Monte, no rio Xingu. É igualmente impossível atestar o contrário. Mas estamos às vésperas de um leilão que, num quadro de incerteza por decisões liminares da Justiça, comprometeria maciços recursos do contribuinte e trabalhador brasileiros, em detrimento de investimentos cuja viabilidade e interesse público seriam, ao contrário, garantidos.

Por exemplo, reduzir as enormes perdas na distribuição, como no caso paradoxal do "linhão" de Itaipu. Pelos dados disponíveis, o atual projeto é inviável, e um eventual plano B não é apenas desconhecido, mas expressamente negado pelo governo.

A hipótese pela qual a usina geraria 4,6 mil MW de energia firme depende da construção de outros quatro reservatórios a montante, com custos adicionais inestimados. Sem isso, a energia firme ficaria, em meses mais secos, entre 690 e 2,2 mil MW, dependendo de diferentes estudos disponíveis. Há também duas estimativas no meio, de 1,1 e 1,8 mil MW.

Apesar da margem de incerteza, todas elas tornariam o Valor Presente Líquido (VPL) do empreendimento negativo. Note-se que energia firme significa produção máxima contínua e ininterrupta, e não energia média: é como confundir renda média per capita com renda mínima.

Por outro lado, os impactos das barragens complementares parecem de natureza e tamanho inaceitáveis na sociedade contemporânea: o próprio governo nega terminantemente a hipótese de sua construção, sem, porém, assumir isso formalmente. Em suma, realiza um leilão deixando de fora aquilo que poderia tornar o investimento viável, e joga para governos futuros a incômoda escolha entre sacrificar mais recursos do contribuinte ou mais capital natural e social do país.

Também ficaram fora da conta as chamadas externalidades, ou seja, os próprios custos ambientais e sociais desta primeira fase.

Isso não é privilégio de Belo Monte, sendo procedimento padrão nas demais grandes obras do PAC, mas nesse caso elas seriam muito expressivas: passivos oriundos da realocação de dezenas de milhares de pessoas, da perda de biodiversidade, da emissão de gases estufa, do comprometimento da atividade pesqueira, dos custos sociais para atender o fluxo populacional para a região, entre outros. Para dar uma ideia, trata-se de secar 100 km do curso de um enorme rio e afetar pelo menos 100 mil pessoas, com cerca de 30 mil a serem realocadas.

Tais custos deveriam ser bancados pelo mesmo poder público que também bancaria o resto da obra, com recursos do Tesouro Nacional, do Fundo de Amparo do Trabalhador e de fundos de pensão das estatais. Ao incorporá-los, o VPL da obra se tornaria ainda mais negativo.

Prova é que esta usina nunca seria construída se dependesse do setor privado assumir o risco: jamais empresas aceitariam se engajar em um empreendimento que nem sequer demonstra capacidade de remunerar o investidor. Por essa razão, no caso de Belo Monte o subsídio público teria de abranger tudo: obra, empreendedor e tarifa.

A decisão de convocar o leilão às pressas foi assumidamente política: contraria o parecer formal da equipe técnica do Ibama, que havia atestado a impossibilidade de conceder a licença, assim como as advertências do Tribunal de Contas da União.

Este apontou para inúmeras falhas, como o fato de que "estudos cartográficos possuem elevados níveis de incerteza, incompatíveis com o porte da obra", alertando: "Somando-se aos problemas apresentados em Belo Monte, há casos de projetos de responsabilidade tanto da iniciativa privada quanto públicos que tiveram aumentos consideráveis de custos como consequência de erros, omissões ou falta de detalhamento de estudos de viabilidade".

Concessão de licenças por decisão política não é novidade, e pode até passar imune na guerra de liminares em primeira instância, mas fatalmente irá complicar as obras na medida que o contencioso atingir o julgamento do mérito.

Não é razoável empurrar goela abaixo do país uma obra a respeito da qual existe, pelo menos, incerteza fundamental na esfera da viabilidade econômica. Preocupações com cronograma eleitoral não deveriam pautar a agenda de bancos estatais ou de fundos de pensão, que deveriam se pautar pela cautela.

Pior, para viabilizar os subsídios haverá mais sangria do Tesouro em prol do BNDES, que já comprometeu boa parte de sua carteira em outros investimentos além da prudência, como os de Jirau, Santo Antônio e alguns frigoríficos: coincidentemente, todos também caracterizados por expressivos passivos socioambientais.
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ROBERTO SMERALDI, 50, jornalista, é diretor da Oscip Amigos da Terra - Amazônia Brasileira e autor do "Novo Manual de Negócios Sustentáveis" (Publifolha, 2009).

Folha de São Paulo, 16/04/2010

Eleições no DF

Em Brasília, eleitor prefere intervenção à eleição indireta


Pesquisa mostra apoio de 56,3% a interventor indicado por Lula
Maioria de 61,7% rejeita todos os candidatos a governador


Deputados distritais de Brasília devem escolher amanhã (17.abr.2010), de maneira indireta, um governador interino para a capita federal. Mas se dependesse do eleitorado local, no entanto, essa eleição indireta não ocorreria, segundo constatou pesquisa realizada de 10 a 13 de abril pela consultoria O & P Brasil Opinião, Análise e Estratégia.

A consultoria perguntou a 1.200 eleitores de Brasília se “seria melhor o presidente Lula nomear um interventor para governar até [31 de] dezembro ou os [deputados] distritais escolherem o novo governador”. Resultado: 56,3% dos entrevistados preferem a intervenção federal e apenas 35,4% aprovam a eleição indireta. Não souberam ou não quiseram responder à pergunta 8,3% dos entrevistados.

Registrada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em 9 de abril, a pesquisa tem margem de erro de 2,8 pontos percentuais.

A sondagem também quis saber qual candidato inscrito na eleição indireta a população elegeria, se houvesse essa possibilidade. A imensa maioria relevou não ter identificação com os nomes apresentados. Não souberam ou não quiseram responder à pergunta 33,2% dos entrevistados. Outros 28,5% não votariam em nenhum dos nomes. Ou seja, 61,7% rejeitam os atuais candidatos inscritos para concorrer a governador na eleição de amanhã.

Entre os eleitores que manifestaram alguma preferência pelos candidatos a governador de Brasília na eleição indireta, apenas 17,1% escolheram Wilson Lima (PR). Ele é o atual governador interino. Presidente da Câmara Legislativa do DF, Lima assumiu o cargo em 23 de fevereiro, quando renunciou o ex-vice governador, Paulo Octávio (sem partido, ex-DEM).

Depois de Lima, os percentuais dos outros candidatos é muito baixo. O segundo colocado na preferência dos eleitores de Brasília é Rogério Rosso, com 4,7% das intenções de voto. Em seguida, Aguinaldo de Jesus, com 3,5%.

Próximo ano

A O & P ainda questionou o eleitorado do DF sobre as eleições de outubro para governador, presidente e senador (cujos mandatos se iniciam em 1.jan.2011).
Os resultados foram os seguintes:

Presidente (em qual candidato votará o eleitor do DF)

José Serra (PSDB): 30,2%

Dilma Rousseff (PT): 24,3%

Marina Silva (PV): 13%

Ciro Gomes (PSB): 12,4%

Brancos, nulos, não sabe ou não respondeu: 20,1%


Governador – DF

1° turno:

Joaquim Roriz (PSC): 38,8%

Agnelo Queiroz (PT): 25,1%

Alberto Fraga (DEM): 4,4%

Toninho (PSOL): 2,8%

Gim Argello (PTB): 2,3%

Indecisos, Brancos, Nulos e Nenhum: 26,6%


2° turno

Quadro 1: Roriz 43,7% x Queiroz 34,7%

Quadro 2: Queiroz 41,6% x Abadia 25,6%

Quadro 3: Roriz 47,9% x Abadia 16%


Senador – DF (cada eleitor vota duas vezes)

Lista 1:

Cristovam Buarque (PDT): 47,3%

Rollemberg (PSB): 28,9%

Abadia (PSDB): 22,5%

Jofran Frejat (PR): 11,2%

Fraga (DEM): 11,2%

Adelmir Santana (DEM): 7,1%

Nenhum: 39,5%

Não sabe ou não respondeu: 30,1%


Lista 2:

Cristovam Buarque (PDT): 49,7%

Rollemberg (PSB): 28,7%

Adelmir Santana (DEM): 6,7%

Eliana Pedrosa (DEM): 14,3%

Jaqueline Roriz (PMN): 14,1%

Rodovalho (PP): 10%

Nenhum: 44,3%

Não sabe ou não respondeu: 33,8%


Lista 3:

Cristovam Buarque (PDT): 50,7%

Rollemberg (PSB): 32,1%

Adelmir Santana (DEM): 7,6%

Eliana Pedrosa (DEM): 17,7%

Rodovalho (PP): 8,4%

Nenhum: 46,7%

Não sabe ou não respondeu: 35,3%


Blog do Fernando Rodrigues

http://uolpolitica.blog.uol.com.br/

quinta-feira, 15 de abril de 2010

PV cresce em disputa eleitoral na Colômbia

Colômbia: saudável ascensão de Antanas Mockus


Antonio Martins


Num ano em que a política institucional na América Latina parecia tender para o conservadorismo, acaba de surgir uma grande supresa. Vem de onde menos se esperava: a Colômbia. Em rápida ascensão, o heterodoxo Antanas Mockus passou a ocupar o segundo posto, nas últimas pesquisas de intenção de voto, com 24,8% das preferências. O líder nas sondagens ainda é Juan Manuel dos Santos (29,5%), apoiado pelo presidente Alvaro Uribe. As eleições estão marcadas para 30 de maio, mas um segundo turno (em 20 de junho) parece cada vez mais provável.

Mockus inaugurou em 1994 a importante tradição dos prefeitos reformadores em Bogotá, capital do país. Ela perdura até hoje. É de esquerda e inovadora. Consiste na adoção de programas distributivos de alto impacto (entre eles, excelentes escolas públicas em período integral e restaurantes populares); no estímulo à participação da sociedade civil na administração da cidade; num combate ao crime constante e central — que, no entanto, não se baseia principalmente em medidas repressivas.

A disputa atual à Presidência começou há apenas duas semanas, e todas as avaliações são, portanto, provisórias. Mas a rápida ascensão de Mockus (que partiu de 10% de apoios e dobrou o índice) sugere uma interessante disputa de projetos. A Colômbia que o candidato expressa choca-se com um país devastado pela violência, paramilitares e narcortráfico. Os assassinatos encomendados (por disputas de terras, para eliminar ativistas políticos ou por criminalidade comum) tornaram-se banais. Provocaram 30 mil mortes nas três últimas décadas e geraram um recorde mundial de deslocamentos internos. Três milhões de colombianos deixaram suas casas ou pequenas propriedades, no período.

No poder há oito anos, o presidente Uribe conseguiu mobilizar em seu favor o medo da sociedade, e difundir a ideia de que a “mão dura” é a única arma eficaz contra o crime. Sua estratégia é facilitada pela ação das FARC. Elas não são as principais responsáveis pela violência, mas permitem ao poder e à mídia argumentar que também a esquerda é uma ameaça à sociedade.

Altamente popular, Uribe tentou um terceiro mandato, por meio de plebiscito. A Corte Constitucional barrou este intento, em fevereiro. Abriu-se então uma campanha eleitoral de curtíssimo prazo, cujos contornos parecem se definir agora. O Polo Democrático, força de esquerda mais visível (e à frente da prefeitura de Bogotá), não conseguiu até o momento projetar seu candidato — o senador Gustavo Petro, um líder da luta contra os paramilitares. Frente de múltiplas tendências, muitas vezes paralisada pela disputa entre elas, o Polo tem enorme dificuldade para apresentar ao eleitorado uma face clara. Em ocasiões decisivas, as divergências internas o impedem de tomar posição.

Talvez por isso, três dos prefeitos que viveram a experiência democrática de Bogotá — Antanas Mockus, Luís Eduardo (“Lucho”) Garzón e Enrique Peñalosa — transferiram-se, há poucos meses, para o Partido Verde. Em 11 de março, participaram de uma prévia, vencida pelo primeiro. No início de abril, Mockus conseguiu atrair, para vice-presidente em sua chapa, Sérgio Fajardo, também ex-prefeito de uma grande cidade (Medellin), igualmente envolvido em fortes iniciativas de participação popular. A dobradinha decolou, sugerindo que parte importante da população quer mudanças — e prefere, entre os candidatos que a representam, quem demonstra capacidade de administrar e tomar decisões.

Filósofo, antigo reitor da Universidade de Bogotá, de origem lituana e aparência nórdica, Antanas Mockus é, entre os ex-prefeitos de Bogotá, o que melhor expressa heterodoxia também do ponto de vista pessoal. Maneja o marketing político com habilidade desconcertante. Para reduzir a violência, instituiu limites ao consumo de álcool e batizou a medida de hora-zanahoria (hora-cenoura), tomando emprestada uma gíria usada para qualificar indivíduos conservadores (seria a “hora-café-com-leite, no Brasil). Colocou palhaços nas ruas, para zombar dos motoristas que dirigiam de maneira incivilizada. Distribuiu entre a população cartões vermelhos e brancos com os quais se expressava facilmente desapreço por atitudes anti-sociais, ou apoio à solidariedade. Foram, porém, apenas a face mais visível de uma administração que instituiu conselhos populares, restringiu a circulação de veículos particulares, revolucionou o transporte coletivo, espalhou ciclovias e parques.

Mockus trabalhou como consultor em diversas cidades brasileiras. Impressionada com a redução da violência em Bogotá ao longo da experiência democrática (de 80 mortos por 100 mil habitantes para 18/100.000 ao ano), a mídia conservadora tentou mais de uma vez arrancar dele declarações em favor de brutalidade contra o crime. Numa destas tentativas, respondeu a Época: [Em nossa experiência] “o que realmente contou foi uma campanha de valorização da vida. A idéia central é que a vida é insubstituível. (…) Fizemos uma campanha de conscientização e uma agenda diária para discutir como proteger e preservar a vida até que isso fosse incorporado à cultura da sociedade”.


segunda-feira, 12 de abril de 2010

Artigo de Marina Silva

Plano de fuga

Um milhão e meio de brasileiros se manifestaram favoravelmente ao projeto de lei de iniciativa popular apresentado ao Congresso em 2009, que impede o registro como candidato de pessoa condenada em primeira ou única instância ou, ainda, com denúncia recebida por um tribunal em virtude de crimes graves como racismo, homicídio, estupro, tráfico de drogas e desvio de verbas públicas. É o chamado projeto Ficha Limpa, que altera a Lei das Inelegibilidades.
Promovido pelo Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), tem encontrado muita resistência no Congresso. Na semana passada, por decisão dos líderes partidários que representam a maioria, não foi votado em plenário, mas enviado para a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara, o que pode inviabilizar a aplicação nesta eleição.
O que os parlamentares não entenderam ainda é que a proposta fala pelo sentimento da maioria da população: a política, fundamental para a vigência da democracia, precisa ser exercida às claras por bons cidadãos, capazes de mediar os interesses da sociedade, no âmbito do Estado, movidos pelo objetivo do bem comum.
Há quem ache injusto ou veja nisso uma limitação à defesa ou até mesmo da soberania popular, que teria o poder de "inocentar" nas urnas os eleitos. Mas a política não pode ser local de refúgio para quem busca impunidade, quer fugir da Justiça ou visa privilégios pessoais.
Hoje, o melhor plano de fuga para protelar e paralisar processos judiciais não passa pelo aeroporto, mas, paradoxalmente, pela eleição a um cargo político.
A seleção de candidatos de "ficha limpa" deveria começar nos próprios partidos. O Partido Verde aprovou a Resolução 1/2010, impedindo a candidatura de pessoas condenadas por órgão colegiado em crimes de abuso de autoridade, lavagem de bens, contra a vida e a dignidade sexual, contra o meio ambiente e a saúde pública, entre muitos outros.
Não se pode mais ignorar que a desonestidade está, em grande parte, na raiz da ineficiência e até da ausência de serviços públicos vitais, em setores como saúde, educação, habitação, saneamento, segurança pública e proteção ao ambiente.
Por trás de muitos fatos que revoltam os brasileiros está, na verdade, a cultura perversa que transforma o poder político em instrumento para corromper, não para melhorar a vida das pessoas.
Cada centavo do dinheiro público é trabalho de toda a sociedade. Deve ser usado de forma eficiente, justa, técnica e socialmente correta. E, sobretudo, deve estar nas mãos de quem não tem do que se envergonhar. 

Marina Silva é Senadora (PV/AC)
Folha de São Paulo, 12/04/2010

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Intervenção Já

Procurador-geral vê corrupção ainda maior no DF


A corrupção revelada pela Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal (PF), registra só uma parcela do desvio de dinheiro público no Distrito Federal - esquema supostamente liderado pelo governador cassado José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM) chamado de mensalão do DEM -, segundo o procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Ele afirmou que a situação é gravíssima e que há indícios de que a corrupção pode ser maior do que foi divulgado até agora.

"Estamos desde sempre prosseguindo e aprofundando as investigações. Há indícios de que além do que já foi revelado haveria muito mais em termos de irregularidades, em termos de uma corrupção disseminada pela máquina administrativa do Distrito Federal", declarou Gurgel ontem. "A situação, diferentemente do que certas aparências possam indicar, continua extremamente grave."

Gurgel defendeu ontem a necessidade de o Supremo Tribunal Federal (STF) determinar a intervenção no DF. "Na verdade, se tem procurado dar uma aparência de normalidade ao funcionamento das instituições do Distrito Federal. Mas é uma aparência que se limita à superfície", disse.

De acordo com o procurador, problemas graves persistem no Executivo e no Legislativo. "O Ministério Público continua convencido que (os problemas) só poderiam ser resolvidos com a decretação da intervenção federal", afirmou. O procurador é contra a realização de eleição indireta para escolha do novo governador. Segundo ele, o objetivo é tentar enfraquecer o pedido de intervenção.

O Estado de São Paulo, 07/04/2010

domingo, 4 de abril de 2010

Pesquisa Vox Populi

Vox Populi: Serra 34% X 31% Dilma



Saiu pesquisa Vox Populi para a disputa presidencial, encomendada pela TV Bandeirantes:

• José Serra (PSDB) – 34%

• Dilma Rousseff (PT) – 31%

• Ciro Gomes (PSB) – 10%

• Marina Silva (PV) - 5%

A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais. A coleta dos dados foi de 30 a 31 de março.
Votos nulos e brancos somam 7%. Outros 13% dos entrevistados não souberam ou não quiseram responder.
Quando Ciro Gomes não está entre os candidatos, Serra aparece com 38%. Dilma tem 33%. Marina Silva fica com 7%. Brancos e nulos são 7% e outros 15% que não quiseram ou não souberam responder.

Blog do FernandoRodrigues

Comentário do Blog: Resultados bem diferentes de outros institutos que publicaram pesquisas recentes. A Coluna Painel, do jornal Folha de São Paulo, antecipou possíveis distorções. Publicamos, ontem, a referida nota.

sábado, 3 de abril de 2010

Artigo de Cesar Benjamin

Procuro um candidato


Nas economias contemporâneas, que operam com moedas fiduciárias, a emissão de moeda pelos bancos centrais precisa ser feita de forma coordenada com a emissão de títulos da dívida pública pelos tesouros nacionais. Com uma das mãos, o Estado põe moeda em circulação; com a outra, a retira. Um aspecto essencial da gestão macroeconômica é justamente encontrar, em cada momento, o equilíbrio entre as políticas monetária e fiscal. A virtual ausência dessa coordenação na Europa atual, em que o banco central é continental mas os Estados nacionais continuam a operar os seus próprios tesouros, está na raiz de uma prolongada estagnação e, recentemente, de crises que questionam a sobrevivência do euro. O Brasil funciona com uma coordenação precária e perversa. Nossa política monetária padece de uma deficiência estrutural. Por isso, tem de ser tensionada ao ponto de, no limite, retirar os graus de liberdade da política fiscal. Na raiz disso estão duas coisas: a existência de "moeda financeira" e a desregulamentação da entrada e saída de capital. O Banco Central é responsável por ambas as disfunções. Por causa delas, precisa operar sempre com uma overdose de juros. As variações na taxa básica de juros afetam a economia real ao provocarem movimentos inversos na oferta de dinheiro. Mas esse efeito é menor, entre nós, pelo fato de que a taxa básica incide sobre grande parte da dívida pública, a qual, por sua vez, negociada livremente no over, tem a mesma liquidez da moeda. Eis um nó que precisa ser desatado: operamos com um ente híbrido, que é meio de pagamento à vista, mas recebe juros reais. Recursos que têm a liquidez da moeda são remunerados como se fossem investimento ou poupança. Isso contraria os fundamentos de todas as escolas de pensamento econômico, sem distinção. A irracionalidade é óbvia.

Nesse contexto, cada alta do juro tem o efeito paradoxal de aumentar a quantidade de moeda financeira disponível e, com ela, o potencial de liquidez da economia. Logo, nunca há condições para que nossos juros se aproximem dos patamares internacionais; ao contrário, eles tendem sempre a voltar a subir.

Nosso BC autônomo arbitra soberanamente o custo de rolagem da dívida pública, remunerando rentistas, enquanto renovam-se na imprensa apelos à "responsabilidade fiscal". O dinheiro que gira no over, desassociado de qualquer iniciativa produtiva, recebe anualmente do Estado cerca de 8% do PIB, pagos com receita tributária ou com novos títulos que mantêm a roda girando.

Para alguns é o paraíso. Mas esse mesmo Estado não consegue investir 1% do PIB.

Sem coragem para contrariar a coligação rentista que nos governa, restou ao governo Lula brincar de PAC, inaugurando sofregamente promessas e miudezas, aliás com bastante êxito político numa sociedade que se habituou ao espetáculo.

O resultado está aí: nesta década, fomos o último colocado em crescimento na América do Sul. Nossa taxa média anual foi inferior à da África. Mas estamos felizes. Há circo e Bolsa Família para o povo, e os negócios (ancorados, em parte, na moeda financeira) vão bem.

Enquanto isso, o Estado permanece sem autonomia decisória na política macroeconômica: as "expectativas do mercado" determinam a taxa de câmbio, a política monetária e, por meio dela, os compromissos fiscais.

Procuro um candidato que sinalize uma mudança na macroeconomia brasileira, sem a qual não teremos projeto nacional.

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CESAR BENJAMIN, 55, editor da Editora Contraponto e doutor honoris causa da Universidade Bicentenária de Aragua (Venezuela), é autor de "Bom Combate" (Contraponto, 2006). Escreve aos sábados, a cada 15 dias, nesta coluna.
cesarben@uol.com.br
Folha de São Paulo, 03/04/2010

Sobre as pesquisas eleitorais

Outra notícia "didática" sobre as pesquisas eleitorais

Prancheta 1. Chama a atenção, no questionário de pesquisa Vox Populi sobre a sucessão presidencial com campo em 30 e 31 de março, a inclusão de pergunta relativa aos cargos que os candidatos já ocuparam, quebrando o fluxo das respostas espontânea e estimulada sobre intenção de voto. Esse tipo de procedimento é conhecido por distorcer resultados.

Renata Lo Prete – Coluna Painel
Folha de São Paulo, 03/04/2010

Marina Silva na TV

PV produz novos vídeos com Marina Silva


O PV está divulgando dois novos filmes, dirigidos pelo cineasta Fernando Meirelles e produzidos para inserção na TV, com a participação de Marina Silva.
Além disso, divulga também outras produções para veiculação na internet.
Veja no link: http://www2.pv.org.br/noticia.kmf?noticia=9744185&canal=252