quarta-feira, 27 de abril de 2011

Artigo de Fernando Rodrigues

A volta de quem não foi


O possível retorno de Delúbio Soares ao PT marca o fim de um ciclo. Se ele voltar a se filiar à legenda, os petistas rasgam a fantasia. Dão por encerrado oficialmente o luto postiço iniciado em 2005, com o escândalo do mensalão. O teatro aproxima-se do final. Até porque o julgamento no STF tem data incerta e não sabida.

Delúbio era o tesoureiro do PT durante a eleição de Lula a presidente em 2002. A partir de 2003, mesmo sem cargo no governo, despachava de dentro do Palácio do Planalto. Era (e é) um arquivo vivo de todos os acertos financeiros ligados à cúpula petista. Foi escolhido para ser a Geni do mensalão. Aguentou o martírio em silêncio obsequioso por meia década.

Um "apparatchik" clássico, Delúbio tinha potencial e conhecimento para enterrar uma penca de deputados em 2005. Nunca comprometeu seus aliados na Justiça.

Passou uma vergonha final em 2009. Já reabilitado e em ação nos bastidores, quis voltar a ser filiado ao partido. Seu desejo foi negado. Ficou no degredo político para não chacoalhar a poeira do mensalão em 2010, quando Lula tentaria manter o PT no Planalto.

Agora é a hora ideal. Neste ano não há eleição. Lula já elegeu Dilma Rousseff. A presidente está com popularidade em alta. O PT tomará algumas bordoadas no noticiário durante um período pela falta de sem-cerimônia. Mas passa.

A decisão sobre a refiliação de Delúbio Soares deve sair no sábado. Melhor dia impossível, pois a repercussão será durante a safra de partidas finais dos campeonatos regionais de futebol pelo país.

O ex-tesoureiro será premiado pelo seu silêncio. A "omertà" triunfou. Como Delúbio sempre operou nas sombras, será o retorno de quem nunca havia partido. Para o PT, é a hora da estrela. Emblemática. Quando o assunto é ética e moral, a sigla terá dado todos os passos necessários para se igualar aos partidos que um dia tanto execrou.

Fernando Rodrigues
fernando.rodrigues@grupofolha.com.br
Folha de São Paulo, 27/04/2011