tag:blogger.com,1999:blog-76718746633999466722024-02-08T09:43:48.025-03:00Blog do Juarez de PaulaComentários sobre o cenário político e econômicoJuarez de Paulahttp://www.blogger.com/profile/03291823647435428961noreply@blogger.comBlogger221125tag:blogger.com,1999:blog-7671874663399946672.post-22110095716035492162011-10-07T15:52:00.000-03:002011-10-07T15:52:37.684-03:00Artigo de Marina Silva<strong><span style="font-size: large;">Tempo da travessia</span></strong><br />
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<div style="text-align: justify;">Faz um ano que fomos às urnas escolher presidente, governadores, senadores e deputados. Ainda hoje repercute o patamar de votação -quase 20 milhões de votos, levando as eleições para o segundo turno- que eu e o empresário ambientalista Guilherme Leal conseguimos, representando um projeto de desenvolvimento sustentável para o país.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Venho, assim, com justa razão, suscitando análises, criticas e avaliações quanto a possíveis desdobramentos de meu papel no intrincado cenário de nossa realidade política.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Em recente palestra no Rio de Janeiro, encontrei o deputado do PV francês Daniel Cohn-Bendit. Ele referiu-se à baixa expectativa, no passado, de que ocorressem fatos históricos que levaram ao fim estruturas e sistemas que pareciam inamovíveis, como a queda do Muro de Berlim, o fim da Guerra Fria ou a existência da Comunidade Europeia. E, no presente, quem imaginaria a queda de algumas ditaduras no mundo árabe, onde o Egito é o exemplo mais eloquente?</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Dialogando com Daniel, permiti-me ser mais uma analista de meu próprio caso e lembrei que, até meados de 2008, ninguém, nem eu mesma, seria capaz de preconizar o que aconteceria nas eleições de 2010, ou seja, uma candidatura a presidente, com plataforma de sustentabilidade socioambiental, surpreender num cenário político em que o script eleitoral havia sido minuciosamente ensaiado para ser apenas uma espécie de plebiscito entre as principais forças políticas, PT e PSDB, que passaram a ocupar a cena de nossa crônica e empobrecedora polarização partidária.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Sem pretensão de sair de meu incômodo lugar de objeto de análise para o talvez menos incômodo lugar de analista, ouso dizer aos que supõem prever os fados da política só com base em correlações de dados pretéritos ou em tendências que sejam bem-vindos à era do imponderável, do imprevisível. Quem poderia afirmar, há 10 ou 15 anos, que os países ricos perderiam sua aura de inexpugnáveis e teriam que lidar abertamente com seus erros, tendo que enquadrar-se nas fórmulas e receitas de "sucesso" que nos ensinaram e prescreveram?</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Diante de tantas incertezas dos outros e minhas, foi em Condeúba (BA) que encontrei na poesia de Fernando Pessoa uma excelente metáfora para minhas buscas de respostas.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Estava lá para o encerramento da Campanha da Fraternidade e, graças ao refinamento do padre Juliano, conheci estes versos de Pessoa: "Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos". </div><br />
Marina Silva<br />
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Folha de São Paulo, 07/10/2011Juarez de Paulahttp://www.blogger.com/profile/03291823647435428961noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7671874663399946672.post-9062052297896977812011-09-21T10:15:00.001-03:002011-09-21T10:17:34.877-03:00Sobre o Movimento por uma Nova Política<strong><span style="font-size: large;">Um diálogo de longo alcance com Marina Silva</span></strong><br />
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Para onde vai Marina Silva? O que ela pensa? O que significa este seu movimento por uma nova política? Que sinais, símbolos e gestos são estes que ela movimenta e que chegam a embaralhar mentes habituadas a raciocinar sobre um plano cartesiano, mas que ao mesmo tempo lhe deram 20 milhões de votos? O que existe de “sólido” – se é que existe ou deveria existir -, em toda a liquidez de sua linguagem, liquidez que tende a nos deixar mesmo com impaciência diante de tanta imprevisibilidade?<br />
<div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Foi atrás de respostas a perguntas como estas que alguns dirigentes do PSOL – sem delegação partidária -, reunimo-nos com Marina Silva no escritório onde está sendo construído o Instituto Marina Silva, em Brasília, no último dia 13 de setembro. Estavam lá Martiniano Cavalcante, membro do Diretório Nacional e delegado pessoal de Heloisa Helena que por motivos pessoais não pode estar presente; o deputado do PSOL-RJ Jean Wyllys; o senador do PSOL-AP Randolfe Rodrigues; o presidente do PSOL-RJ e membro da Executiva Nacional do PSOL, Jefferson Moura; além deste que escreve este texto, Edilson Silva, presidente do PSOL-PE e também membro da Executiva Nacional. O destino do movimento que Marina representa importa e muito aos destinos da esquerda brasileira, daí nossa reunião exploratória.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Marina nos recebeu com o abraço generoso dos povos da floresta e com o seu firme aperto de mão. A generosidade e a firmeza não estariam somente nestes gestos, mas nas quase quatro horas em que se dedicou a nós, para conversarmos sobre política, Brasil, mundo, civilização, psicanálise, socialismo, povo e vários outros temas. Paciente, com um jeito sempre professoral – quase sempre concluindo seu raciocínio com uma pergunta afirmativa - certo?! Correto?! -, e sempre muito humilde, explicou em pormenores o que pensa sobre política, sobre o mundo, as revisões e sínteses que vem fazendo em suas convicções políticas. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ao final de sua primeira exposição, já ficou suficientemente claro – pelo menos para mim, que estávamos realmente diante de uma figura especial, diferente, cujo raciocínio se dedica com muito afinco a interpretar os sinais – que ela chama de desvios -, vindos da periferia do sistema, que ela chama de borda da sociedade. Já havia conversado, por duas vezes, um pouco mais de perto com Marina, mas não havia ainda capturado esta dimensão de seu ser retórico. Ou talvez ela tenha tirado conclusões contundentes de sua saída do PV e agora consiga as expor da forma mais completa, como nos fez perceber.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">A líder do Movimento Por Uma Nova Política não se deixa entabular nas funções lineares da velha política e nem na dialética vulgar. Às vezes tem-se a impressão que ela alterna sua visão entre um telescópio, de tão longe que enxerga, e um microscópio, tamanha a penetração que busca para interpretar os desvios vindos da borda. Uma mistura rara de fé e ética cristãs, psicanálise, resquícios de um marxismo católico militante e um profundo compromisso com a sustentabilidade ambiental.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">No meio deste turbilhão de difícil apreensão, consegue-se capturar alguns elementos “sólidos” e mesmo salientes que dão base ao seu pensamento estratégico. Marina Silva não acredita mais no monopólio da democracia representativa e mesmo na participativa, ou semi-direta, na gestão do Estado. Sua conclusão não se dá apenas pela visível falência do regime democrático tradicional em si, mas por que a sociedade não só não acredita mais nesta democracia, como já busca ela mesma outras formas de participação democrática – que Marina chama de “aplicativos” para a democracia. A internet, com suas múltiplas possibilidades, é parte deste reprocessamento estrutural, em que, mais que tudo, os partidos devem ser reinventados, pois eles têm papel importante na vida política. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Segundo concluí, Marina não vê futuro para os partidos nos moldes atuais, e nisto concordo com ela. A fúria anti-partidária que varre o mundo é parte dos sinais/desvios que emitem estas mensagens. Em relação a isto, sua saída do PV foi um gesto radical – atirou-se num precipício escuro, ou não -, que desenvolveu uma musculatura flagrantemente exposta na dimensão do ethos de seu discurso. Uma aula de coerência.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Do “alto” de nosso pragmatismo programático, duas perguntas não poderiam deixar de ser feitas – visto que em relação às questões ambientais a biografia de Marina fala por si: que fazer com a armadilha da dívida pública, que consome quase metade do orçamento do Estado brasileiro? - neste ponto, eu em particular critico muito o silêncio de Marina. E em 2014, o que esperar de Marina Silva? Ela deixou claro que entendeu a primeira pergunta mais como uma questão de natureza ideológica, estabelecendo que não se pode combater a inflação basicamente com política de juros e nos fez pensar que é preciso achar-se uma equação que equilibre as transformações necessárias na política econômica com possibilidades reais de causar estas transformações, e que ela ainda não tinha respostas para isto, logo, seguia sem ser conclusiva em relação ao tema. Se for assim, é bastante razoável. Sobre 2014, óbvio que ela não faria outra afirmação que não deixar todos os cenários abertos, colocando que as movimentações futuras é que dirão os passos posteriores às movimentações futuras.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Sobre os movimentos práticos da iniciativa que comanda, tudo é muito mais concreto. Quer atrair gente de todas as colorações que queiram desenvolver ações honestas em torno da plataforma do movimento, de Pedro Simon a Heloisa Helena. Sobre as eleições 2012, a idéia é contribuir com todos os atores que estejam disputando eleições e que dialoguem com esta plataforma. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Encerrada a reunião, e após um intervalo de poucas horas, encontramo-nos todos de novo num dos auditórios da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio. Lá estavam o deputado federal Reguffe (PDT-DF), os senadores Pedro Taques (PDT–MT); Cristovam Buarque (PDT-DF); Eduardo Suplicy (PT-SP); Walter Feldmann, deputado federal paulista que deixou o PSDB. Do PSOL, os parlamentares presentes eram o senador Randolfe e o deputado Jean Wyllys.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ao final da maratona, muitas imprevisibilidades ainda persistiam, mas algumas sinalizações estavam muito claras: as movimentações de Marina não são superficiais e efêmeras, mas dotadas de um navegador de longo alcance e com norte republicano, portanto de esquerda, ou no mínimo progressista; Marina pode até não ser “agraciada” com o título de ecossocialista – talvez ela nem queira este título, mas está muitíssimo longe de ser caracterizada como ecocapitalista; o Movimento pela nova política que Marina impulsiona tem uma inequívoca força magnética para setores mais à esquerda do espectro político do país, assim como da sociedade.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Trata-se de uma movimento, portanto, que merece o aplauso da sociedade e das forças da esquerda brasileira, que deve interagir com ele, intervir sobre ele, buscando produzir aí sínteses que ampliem as possibilidades de aprofundamento da democracia brasileira, única forma de construirmos uma cultura política de massas que desidrate com efetividade a corrupção, que respeite o meio ambiente e produza alternativas para a suposta crise fiscal que vive o Estado brasileiro.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Não foi, logo, discutido criação de partidos ou coisas pelo estilo. Discutimos os rumos da democracia, do Brasil, da civilização. Esta é a pauta que Marina Silva está propondo.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Edilson Silva<br />
Presidente do PSOL-PE, membro da Executiva Nacional do PSOL e do Movimento Ecossocialista de PE. </div>Juarez de Paulahttp://www.blogger.com/profile/03291823647435428961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7671874663399946672.post-71343605449979065912011-09-09T10:17:00.000-03:002011-09-09T10:17:02.667-03:00Artigo de Marina Silva - Política 2.0<strong><span style="font-size: large;">Política 2.0 </span></strong><br />
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<div style="text-align: justify;">Nem o clima de deserto que castigou Brasília no Sete de Setembro intimidou os cerca de 25 mil manifestantes da Marcha contra a Corrupção, em pleno centro do poder.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">A despeito do calor, a maioria foi de preto, para expressar seu luto diante da corrupção e da impunidade.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Gente muito jovem, em grande parte, foi dizer aos Poderes da República que não aceita a complacência e o corporativismo com que corruptos costumam ser tratados. É gente consciente, cidadã, que com razão considera aberrante o desfecho do caso da deputada filmada recebendo dinheiro sujo e absolvida pela Câmara, em votação secreta, acobertada do público.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Quem foi às ruas também não se conforma com o pragmatismo raso, que usa a necessidade de governabilidade como álibi eterno para políticos de todos os partidos. O movimento que pôs tanta gente no centro de Brasília não é espontâneo -rótulo enganador que sugere certa ingenuidade.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Houve a iniciativa de quem se dispõe a não aceitar o lugar de mero espectador da política. Pipocou nas redes sociais, foi autoconvocatório. Barrou quem queria entrar com bandeiras de partidos. Pacífico, livre, não atacou o governo, mas disse o que o revolta.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Agora desafia análises apressadas que, usando categorias e modelos mentais insuficientes para entender o presente, partem para rotular e desqualificar. "É de direita", "é moralista", "é apolítico".</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Talvez porque não estavam lá, à frente, faturando para seu grupo a sempre forte presença da população na rua, assustadora para quem, no poder ou na periferia dele, está pronto a servi-lo a qualquer preço. Falam como coro grego que vê sua função de intermediário esvair-se, pois a própria plateia resolve assumir a ação.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O povo apareceu, como gritaram em Brasília. Que é um movimento político, não há dúvida, mas não nos termos partidários ou do maniqueísmo da disputa entre esquerda/direita, progressista/conservador. No mínimo, as passeatas de Brasília e de outras cidades, mesmo que em menor número, mostraram que é possível se mobilizar em torno de um alinhamento ético e da busca por direitos e cidadania.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Mostram ainda que as novas metodologias e formas de comunicação funcionam e podem crescer em força, capacidade de agregação e na prospecção de novos aplicativos democráticos.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">É a borda caminhando para o centro, o seu lugar legítimo.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Isso deve incomodar muito quem pensa que as questões do poder não são da conta do povo. Como alguém postou no Twitter: "O "basta à corrupção" de hoje, fruto de uma espécie de autoconvocação, pode ser o embrião de um histórico movimento de cidadania".</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Esperamos que sim, embora não saibamos ainda no que vai dar. Mas certamente vem por aí a política 2.0.</div><br />
MARINA SILVA<br />
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Folha de São Paulo, 09/09/2011Juarez de Paulahttp://www.blogger.com/profile/03291823647435428961noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7671874663399946672.post-84374363503697045272011-09-03T15:00:00.003-03:002011-09-09T10:31:49.561-03:00Proposta de Programa para o Movimento<strong><span style="font-size: large;">21 propostas por uma nova forma de fazer política</span></strong><br />
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<div style="text-align: justify;">1. Defender e experimentar uma democracia radical e de alta intensidade.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">2. Defender uma cultura de paz, a não-violência ativa e adotar formas negociadas de gestão de conflitos.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">3. Defender um modelo de desenvolvimento socialmente includente e ambientalmente sustentável.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">4. Defender o desenvolvimento de uma economia verde, com investimentos, pesquisa, inovação e geração de novos empregos em atividades sustentáveis.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">5. Defender os empregos, o poder de compra dos salários, o acesso à renda mínima, o direito ao consumo responsável e consciente, como forma de manutenção de um mercado interno em crescimento.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">6. Defender a inclusão produtiva como principal forma de combate à pobreza, pela via do empreendedorismo, do microcrédito assistido, do fortalecimento da economia solidária e do comércio justo.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">7. Defender políticas públicas de fortalecimento das micro e pequenas empresas, gerando mais postos de trabalho e distribuindo melhor a riqueza.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">8. Defender o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, com ênfase nas tecnologias sociais, buscando fortalecer uma industrialização com forte conteúdo nacional e a transição da produção de bens primários para a produção de bens de alto valor agregado.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">9. Defender o desenvolvimento da economia criativa, fortalecendo as atividades econômicas baseadas na produção de bens culturais e simbólicos.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">10. Defender uma reforma fiscal baseada na adoção de um imposto único e uma reforma trabalhista baseada na desoneração dos contratos de trabalho, combatendo a informalidade e a sonegação de impostos.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">11. Defender o controle social sobre o Estado, a transparência e visibilidade na gestão dos recursos públicos e combater todas as formas de corrupção.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">12. Defender a expansão do uso de energias limpas, a eficiência energética, a transição para uma sociedade menos dependente dos combustíveis fósseis e combater o aquecimento global.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">13. Defender o cancelamento do uso da energia nuclear.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">14. Defender a preservação das florestas e o uso sustentável dos recursos florestais.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">15. Defender o uso sustentável dos recursos hídricos.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">16. Defender a agroecologia, a segurança alimentar, a produção sustentável de alimentos de qualidade.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">17. Defender o direito à moradia digna, com qualidade de vida, segurança e acesso aos serviços públicos essenciais.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">18. Defender o direito à mobilidade urbana, com respeito prioritário aos pedestres e com incentivo ao transporte coletivo e às formas não-poluentes de locomoção, em detrimento dos veículos automotivos de passeio.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">19. Defender o acesso a serviços públicos de educação e saúde, com qualidade, como direitos fundamentais de cidadania.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">20. Defender a liberdade de expressão, organização, participação e combater todas as formas de discriminação e repressão tais como a censura, o racismo, o machismo, a homofobia, a intolerância religiosa e comportamentos similares.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">21. Defender os grupos sociais mais vulneráveis e historicamente submetidos a formas de dominação, tais como: crianças, idosos, mulheres, negros, indígenas, homossexuais, portadores de necessidades especiais, pessoas em condição de pobreza, dentre outros.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div>Juarez de PaulaJuarez de Paulahttp://www.blogger.com/profile/03291823647435428961noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7671874663399946672.post-16994858586441969122011-09-03T14:00:00.003-03:002011-09-09T10:31:16.471-03:00Movimento por uma Nova Política<strong><span style="font-size: large;">A identidade do Movimento</span></strong><br />
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<div style="text-align: justify;">1. O Movimento é livre, aberto, autônomo e democrático, sem vínculos partidários ou religiosos.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">2. O Movimento é constituído por pessoas, onde cada um fala por si.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">3. O Movimento acolhe as diferenças e a diversidade, buscando fazer a gestão de conflitos pela via do diálogo, da negociação e da progressiva construção de consensos, respeitando o direito à divergência.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">4. O Movimento é uma experiência de um novo modo de fazer política: horizontal, participativo, dialógico, democrático, em rede.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">5. O Movimento é vivo, em permanente mutação e será o resultado da interação entre os seus integrantes.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Juarez de Paula</div>Juarez de Paulahttp://www.blogger.com/profile/03291823647435428961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7671874663399946672.post-38296728974149425702011-07-07T10:00:00.002-03:002011-07-13T17:35:15.737-03:00Saindo do PV - DF<strong><span style="font-size: large;">Dirigentes e filiados do PV DF deixam o partido em busca da nova política</span></strong><br />
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<div style="text-align: justify;">Em 2009 alguns de nós se filiaram ao Partido Verde inspirados pela mobilização que convidou Marina Silva a liderar uma campanha presidencial junto com os Verdes. Outros, já filiados anteriormente, renovaram as energias com essa perspectiva. Acreditamos, naquele momento, que viríamos a fazer parte de um processo de construção coletiva de coerência programática e ideológica, do qual tanto se orgulham os Verdes no mundo todo. A candidatura de Marina Silva inspirou centenas de pessoas a se juntarem ao PV e tomarem as ruas fazendo a diferença na campanha presidencial.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">As eleições mostraram que há um forte anseio de participação, principalmente dos jovens, além do desejo de mudar o modelo político hoje vigente visando ética e sustentabilidade na política. As eleições legaram também ao Partido Verde a oportunidade de se firmar no cenário nacional como a alternativa partidária mais comprometida com tais mudanças.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Passadas as eleições, entretanto, as direções nacional e distrital do Partido Verde fizeram sua opção por cerrarem fileiras na velha política. Ao não permitir a construção de processos internos democráticos, temendo a renovação, a maioria dos dirigentes do PV sinaliza que não há intenção de acompanhar o movimento nacional que afirmou nas urnas que deseja uma nova forma de fazer política. A burocracia partidária do PV não está preocupada em manter coerência entre discurso e prática.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O Partido Verde abriu mão de realizar sua transição democrática, consolidando suas estruturas organizacionais com processos democráticos para escolha dos Conselhos e das Comissões Executivas permanentes em todos os níveis. Não se pode querer ser o partido da nova política com a fragilidade de estruturas provisórias, alteradas a qualquer tempo, que geram insegurança para todos os dirigentes e filiados e dificultam a construção de ideais coletivos.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Sendo assim, depois de mais de um ano sem qualquer reunião da executiva do PV no Distrito Federal, tendo visto o partido assumir, sem qualquer debate interno ou proposta programática, espaços relevantes de definição de políticas públicas socioambientais no governo do Distrito Federal, constatamos que não há nem de longe a possibilidade de construir o partido aberto, democrático e de luta que desejamos. Permanecer no PV seria abrir mão de atuar politicamente à altura das exigências da atual conjuntura política. Para responder ao desafio de mudar o destino do Brasil e do planeta é preciso atuar com grandeza de propósitos, e isso é exatamente o que falta hoje aos dirigentes do Partido Verde.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Toda crise esconde uma oportunidade de crescimento. Lamentavelmente não vemos na direção do PV sequer a disposição para enfrentar esse impasse com vistas ao crescimento do próprio partido. Desta forma, nós, militantes por uma nova forma de fazer política que se coaduna com os desafios do desenvolvimento sustentável, não vemos outro caminho senão virar a página da história que nos levou ao PV. Mantemos assim a coerência e o sentido do que nos uniu que manteremos vivo em nossa militância política.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div>Adolpho Fuíca<br />
Adriana Ramos<br />
Alexandre Pimentel<br />
André Lima<br />
Carlos Inácio Prates<br />
Claudio Pádua<br />
Felipe Varella<br />
Fernando Cássio Costa<br />
Giovani Iemini<br />
Henrique Moraes Ziller<br />
João Francisco Araújo Maia<br />
João Suender<br />
Juarez de Paula<br />
Pedro Ivo Batista<br />
Larissa Barros<br />
Marcelo Lima Costa<br />
Pedro Piccolo Contesini<br />
Rafael Peixoto<br />
Raissa Rossiter<br />
Ramaiana Ribeiro<br />
Suzana Pádua<br />
Wellington AlmeidaJuarez de Paulahttp://www.blogger.com/profile/03291823647435428961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7671874663399946672.post-74278080113741032742011-07-07T09:00:00.000-03:002011-07-13T17:31:03.144-03:00Saindo do PV nacional<span style="font-size: large;">CARTA DE DESFILIAÇÃO À DIREÇÃO DO PARTIDO VERDE</span><br />
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<br />
<div style="text-align: justify;"><em>Chegou a hora de acreditar que vale a pena, juntos, criarmos um grande movimento para que o Brasil vá além e coloque em prática tudo aquilo que a sociedade aprendeu nas últimas décadas, experimentando a convivência na diversidade, a invenção de novas maneiras de resolver problemas solidariamente, indo à luta à margem [das estruturas burocráticas] do Estado para defender direitos, agindo em rede, expandindo e agregando conhecimento sobre novas formas de fazer, produzir, gerar riquezas sem privilégios e sem destruição do incomparável patrimônio natural brasileiro. </em></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Esse texto, que abre o documento “Juntos pelo Brasil que queremos – diretrizes para o programa de governo” expressa a motivação do grupo de pessoas que assina esta carta ao ingressar no Partido Verde, e que tinha na candidatura de Marina Silva à Presidência da República a oportunidade de ampliar essas idéias e dialogar com a sociedade.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Participamos, ao longo dos últimos 22 meses, da vida partidária com a expectativa de colaborarmos para colocar em prática os três compromissos que marcaram a entrada da Marina no partido: a candidatura própria à Presidência da República, a revisão programática e a reestruturação estatutária.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Apesar das dificuldades próprias de uma candidatura dessa envergadura, e algumas geradas por resistências internas a um projeto efetivamente autônomo, realizamos uma campanha ampla, que envolveu a militância do partido e a colaboração de inúmeras pessoas da sociedade que encontraram na candidatura um meio de expressão e de representação de desejos e esperança.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Depois de um resultado expressivo na eleição, entendíamos que era o momento de aproximarmos ainda mais o PV desse legado, incorporando na prática do partido propostas como uma nova forma de fazer política, o diálogo horizontal com a sociedade através de redes sociais - digitais ou não, a sustentabilidade como valor central para um projeto de desenvolvimento e muitas outras que receberam ampla adesão social.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Chegamos nesse momento em que reconhecemos que não é possível trilhar esse caminho dentro do PV. As resistências internas, que durante a campanha eram veladas e pontuais, expressaram-se claramente na sua totalidade. A direção do partido, em sua maioria, disse não à democratização de suas estruturas institucionais, ao diálogo com a sociedade e a um projeto autônomo de construção partidária.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Acreditamos que essas propostas não podem ficar enclausuradas em estruturas arcaicas de poder. Queremos resgatar as motivações originais desse projeto, agora participando da construção de uma nova política efetivamente democrática, ética, ecológica, participativa, inovadora e conectada com os desafios e oportunidades que o Século XXI nos impõe. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Pelas razões acima expostas, comunicamos à direção nacional do PV nossa desfiliação, juntamente com Marina Silva. Aos milhares de militantes do partido, estaremos sempre juntos na construção de um Brasil justo e sustentável.</div><br />
Adriana Ramos<br />
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Bazileu Alves Margarido Neto<br />
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João Paulo Capobianco<br />
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José Paulo Teixeira<br />
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Juarez de Paula<br />
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Guilherme Leal<br />
<br />
Luciano Zica<br />
<br />
Marcos Novaes<br />
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Pedro Ivo Batista<br />
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Ricardo Young<br />
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Roberto Kishinami<br />
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Rubens GomesJuarez de Paulahttp://www.blogger.com/profile/03291823647435428961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7671874663399946672.post-86452358024377786092011-05-18T16:03:00.000-03:002011-05-18T16:03:26.192-03:00Ranking Global de Competitividade<strong><span style="font-size: large;">Brasil cai para 44º em competitividade</span></strong><br />
<br />
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">País perde 6 posições em ranking que avalia ambiente de negócios; baixa produtividade e altos custos pesam</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Infraestrutura ruim e ineficiência do governo são pontos fracos; EUA e Hong Kong lideram lista de 59 países </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">NATÁLIA PAIVA</div><div style="text-align: justify;">DE SÃO PAULO </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Baixa produtividade e alto custo de vida se somaram a velhos problemas (como sobrecarga tributária e infraestrutura ruim) e derrubaram a posição do Brasil no ranking global de competitividade.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Em um ano, o Brasil perdeu seis posições -só Grécia e África do Sul perderam mais- e foi passado por México, Peru, Itália, Filipinas, Turquia e Emirados Árabes. É o quarto da América Latina, atrás também do Chile.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">A oitava economia mundial ocupa o 44º lugar entre 59 países. Os EUA voltaram ao topo, dividido com Hong Kong (em 2010, haviam perdido para Cingapura).</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O estudo, que mede o ambiente de negócios, foi feito pelo Instituto Internacional para o Desenvolvimento da Administração, da Suíça, em parceria no Brasil com a Fundação Dom Cabral. Ele considera dados oficiais e entrevistas com empresários.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O Brasil se destacou positivamente em dois subfatores. O primeiro foi Mercado de Trabalho (geração de empregos), em que saiu do 33º para o 9º lugar, bem longe do 44º de 2007. O outro foi Investimento Internacional (do 42º para o 19ª), atraído pelo bom desempenho econômico do país e por seus juros altos.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">"Mas os empregos gerados são em setores de baixa agregação de valor, que vão gerar pouco em relação ao PIB (Produto Interno Bruto). E os investimentos que entraram foram para fazer oferta ao mercado doméstico ou para ganhos financeiros, não em infraestrutura ou indústria de alto valor", afirma Carlos Arruda, da Dom Cabral.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Foi no subfator Produtividade e Eficiência que o Brasil mais caiu: do 28º para o 52º lugar, voltando ao patamar de 2007 (53º). No estudo, a produtividade considera o reflexo da alta do número de trabalhadores sobre o PIB.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">CÂMBIO</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Para Arruda, essa discrepância, aliada a um câmbio desfavorável à indústria, pode levar a um círculo vicioso.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">A massa desqualificada consome cada vez mais -e com mais crédito a juros altos disponível.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">"Com real valorizado e salário alto, fica muito caro produzir para o mercado doméstico; a importação é mais fácil. Daí haver fabricantes preferindo importar." À indústria brasileira restaria o nicho de baixo valor.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Para José Márcio Camargo, professor da PUC-RJ, uma força de trabalho pouco educada invariavelmente leva à baixa produtividade.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ou seja, "se quiser ter um trabalho com elevado nível de produtividade, é preciso investir pesadamente em educação".</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">"Você incorpora trabalhador com baixa produtividade e tem de pagar muito porque o mercado está superaquecido. É a principal razão no trabalho pela qual o Brasil não pode crescer mais que 4,5% no longo prazo", afirma.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Além de produtividade e preço (custo de vida alto), as principais fraquezas seguem as mesmas: falta de eficiência do governo em todas as esferas (55ª posição) e infraestrutura ruim (51ª), segmento que inclui logística, tecnologia, ciência, educação, saúde e ambiente. A diferença entre a eficiência privada e a governamental é maior no Brasil: 26 posições.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Leis defasadas, carga tributária alta e burocracia excessiva seguem como travas.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">"Coisas clássicas, que qualquer sistema tributário já resolveu há anos, nossas empresas ainda enfrentam. É mais capital de giro, custo e incerteza jurídica", afirma José Augusto Fernandes, diretor-executivo da CNI.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O Ministério do Desenvolvimento não comentou o estudo. Na semana passada, o governo criou a Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade, presidida pelo empresário Jorge Gerdau.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div>Folha de São Paulo, 18/05/2011<br />
<a href="http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me1805201103.htm">http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me1805201103.htm</a>Juarez de Paulahttp://www.blogger.com/profile/03291823647435428961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7671874663399946672.post-50831278880427244622011-05-01T12:39:00.001-03:002011-05-01T12:39:55.253-03:00Artigo de Marina Silva<span style="font-size: large;"><strong>Mais tempo para as florestas</strong></span><br />
<br />
É extremamente preocupante a forma como está sendo conduzido o debate em torno da atualização da principal lei que protege nossas florestas e nossa biodiversidade: o Código Florestal.<br />
<div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O que tem pautado a ação dos que querem modificar a legislação às pressas parece limitar-se ao interesse imediato, que não leva em conta questões estratégicas, quando sabemos que essa discussão diz respeito à vida de todos nós: as florestas prestam um serviço inestimável de proteção, regulação climática e hídrica, essencial para nossa economia e para a produção agrícola e de energia.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">As perdas florestais avançam assustadoramente em todo o mundo, inclusive no Brasil. Já perdemos 93% da mata atlântica, quase metade do cerrado e da caatinga e quase 20% da Amazônia. Ao mesmo tempo, temos mais de 60 milhões de hectares de terras agrícolas que foram degradadas e estão abandonadas, como resultado de um modelo agrícola que precisa mudar.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O cerne das mudanças deve ser o de melhorar a proteção das florestas que nos restam, de criar políticas de incentivo que promovam o desenvolvimento do setor agrícola e florestal, gerando emprego e renda em uma escala muito maior.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Deve ser o de discutir os ajustes necessários para que os produtores rurais possam superar os passivos ambientais e para que nossa agricultura dê um salto de qualidade e produtividade, com sustentabilidade. É a nossa riqueza natural que nos permite ser um dos campeões mundiais de produção agrícola.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Não usar com sabedoria esses recursos é matar a galinha dos ovos de ouro. Quando discutimos o destino das florestas, estamos projetando o Brasil que queremos. Estamos definindo o papel que o país terá no mundo, o tipo de economia e qualidade ambiental que teremos.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Por isso, é absurdo opor produtores rurais e ambientalistas, produção agrícola e meio ambiente. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Mas o absurdo existe e considero que é na política que está o nosso maior problema. É na qualidade do debate e na forma como ele está sendo conduzido na Câmara dos Deputados. Eivado de preconceitos e falsas alegações de que quem defende as florestas estaria a serviço de interesses internacionais, ou, pior, de que a preservação implicaria a diminuição da produção de alimentos e que, com isso, haveria aumento de preços.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Isso nos faz lembrar dos momentos que antecederam a abolição da escravatura no país, quando parte dos produtores rurais bradava que sem os escravos o Brasil rural estaria falido e não haveria quem produzisse comida para nossas mesas.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Por isso, proponho que o Executivo assuma o protagonismo dessa discussão, empenhando-se em construir uma proposta bem estruturada, que atenda aos interesses de toda a sociedade, considerando o que dizem os cientistas brasileiros, com o fortalecimento da governança pública e a criação dos incentivos para o cumprimento da legislação ambiental.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Proponho que a presidente Dilma faça um chamamento à classe política e à nação para que, nos próximos meses, discutamos uma política nacional para a gestão sustentável de nossas florestas e de nossos recursos naturais.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Para tanto, poderíamos adiar o prazo de averbação da reserva legal, previsto para 11 de junho, de forma que tenhamos um ambiente menos tensionado para o diálogo.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Cabe ao governo a responsabilidade de colocar o país no caminho da sustentabilidade e impedir o desmonte da legislação ambiental. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Nos últimos 16 anos, atravessamos dois governos com muitas tentativas de mudanças na legislação. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Nesse período, a sociedade impediu que houvesse um retrocesso. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Agora, cabe a uma mulher a tarefa de promover o encontro e a mediação para a superação do impasse, para a construção de um caminho que integre e projete um futuro melhor para todos.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div>MARINA SILVA, professora de história, foi candidata à Presidência da República pelo PV em 2010, ministra do Meio Ambiente (2003-2008) e senadora pelo Acre (1995-2011). Site: <a href="http://www.minhamarina.org.br/">http://www.minhamarina.org.br/</a>.<br />
<br />
Folha de São Paulo, 01/05/2011Juarez de Paulahttp://www.blogger.com/profile/03291823647435428961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7671874663399946672.post-20858351942813839382011-04-27T09:30:00.000-03:002011-04-27T09:30:36.180-03:00Artigo de Fernando Rodrigues<strong><span style="font-size: large;">A volta de quem não foi </span></strong><br />
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">O possível retorno de Delúbio Soares ao PT marca o fim de um ciclo. Se ele voltar a se filiar à legenda, os petistas rasgam a fantasia. Dão por encerrado oficialmente o luto postiço iniciado em 2005, com o escândalo do mensalão. O teatro aproxima-se do final. Até porque o julgamento no STF tem data incerta e não sabida.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Delúbio era o tesoureiro do PT durante a eleição de Lula a presidente em 2002. A partir de 2003, mesmo sem cargo no governo, despachava de dentro do Palácio do Planalto. Era (e é) um arquivo vivo de todos os acertos financeiros ligados à cúpula petista. Foi escolhido para ser a Geni do mensalão. Aguentou o martírio em silêncio obsequioso por meia década.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Um "apparatchik" clássico, Delúbio tinha potencial e conhecimento para enterrar uma penca de deputados em 2005. Nunca comprometeu seus aliados na Justiça.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Passou uma vergonha final em 2009. Já reabilitado e em ação nos bastidores, quis voltar a ser filiado ao partido. Seu desejo foi negado. Ficou no degredo político para não chacoalhar a poeira do mensalão em 2010, quando Lula tentaria manter o PT no Planalto.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Agora é a hora ideal. Neste ano não há eleição. Lula já elegeu Dilma Rousseff. A presidente está com popularidade em alta. O PT tomará algumas bordoadas no noticiário durante um período pela falta de sem-cerimônia. Mas passa.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">A decisão sobre a refiliação de Delúbio Soares deve sair no sábado. Melhor dia impossível, pois a repercussão será durante a safra de partidas finais dos campeonatos regionais de futebol pelo país.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O ex-tesoureiro será premiado pelo seu silêncio. A "omertà" triunfou. Como Delúbio sempre operou nas sombras, será o retorno de quem nunca havia partido. Para o PT, é a hora da estrela. Emblemática. Quando o assunto é ética e moral, a sigla terá dado todos os passos necessários para se igualar aos partidos que um dia tanto execrou.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div>Fernando Rodrigues<br />
<a href="mailto:fernando.rodrigues@grupofolha.com.br">fernando.rodrigues@grupofolha.com.br</a><br />
Folha de São Paulo, 27/04/2011Juarez de Paulahttp://www.blogger.com/profile/03291823647435428961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7671874663399946672.post-11638101266168269102011-03-26T20:39:00.000-03:002011-03-26T20:39:30.927-03:00Manifesto pela democratização do PV<strong><span style="font-size: large;">Democracia Verde</span></strong><br />
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<br />
Manifesto por um PV Aberto, Democrático e de Luta<br />
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<div style="text-align: justify;">As eleições de 2010 deixaram um legado. Aproximadamente 20 milhões de eleitores demonstraram que a temática do desenvolvimento sustentável não é mais uma preocupação de minorias esclarecidas, nem uma agenda para um futuro que nunca chega. Pelo contrário, trata-se de um tema urgente, necessário e oportuno, um imperativo da contemporaneidade.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">A candidatura de Marina Silva à Presidência representou um novo momento na história do Partido Verde. Um número muito expressivo de antigos militantes, que estavam afastados das atividades partidárias, encontrou um novo ânimo, uma nova motivação para retomar suas atividades políticas. Além disso, milhares de novos militantes têm procurado se aproximar do PV, egressos dos mais diversos partidos e movimentos sociais, como também muitas pessoas que jamais cogitaram se filiar a um partido.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">A campanha eleitoral do PV em 2010 simbolizou, para todas essas pessoas, uma nova esperança, uma nova possibilidade de exercício da cidadania ativa, uma nova oportunidade de atribuir valor e sentido à atividade política, uma nova utopia, um novo modo de fazer política.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O PV pode e deve ser a expressão política deste legado. Para isso, precisa enfrentar o desafio imediato de renovar-se, de abrir-se à participação efetiva de seus militantes e simpatizantes.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Nesta perspectiva, os signatários deste documento, filiados ao PV, se colocam publicamente como um “movimento de opinião” em defesa das seguintes posições políticas:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">1. Defendemos um PV que assuma uma clara posição de protagonismo político em favor de um modelo de desenvolvimento includente e sustentável, recusando o papel de coadjuvante de outros projetos políticos que não guardam coerência com seus propósitos.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">2. Defendemos o cumprimento integral do acordo político que fundamentou a filiação de Marina Silva ao PV, onde se previa a abertura de um processo participativo de rediscussão programática e estatutária.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">3. Defendemos a convocação imediata de um Encontro Nacional do PV, para outubro de 2011, com a participação de representantes eleitos em Encontros Estaduais abertos à participação de todos os filiados, para a revisão do Programa, do Estatuto e para a eleição da direção nacional do PV.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">4. Defendemos a criação de diretórios municipais e estaduais do PV com direções eleitas em Encontros Estaduais e Municipais abertos a todos os filiados, em substituição às comissões provisórias nomeadas.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">5. Defendemos que todas as instâncias de direção partidária adotem composição proporcional à votação obtida pelas chapas que tenham participado em processos eleitorais internos, de modo a preservar a representação das minorias.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Acreditamos que a adoção destas posições contribuirá para organizar e motivar a militância e dotar o partido de uma orientação estratégica que o torne capaz de aproveitar o legado deixado pela campanha de Marina Silva à Presidência. O PV não pode se tornar obstáculo ao aproveitamento e à impulsão de toda essa energia mobilizadora que tem sido revelada nos mais diferentes setores da sociedade, em favor de uma nova utopia política, por um desenvolvimento includente e sustentável.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Desejamos construir um partido aberto, democrático e de luta, à altura das exigências da atual conjuntura política, capaz de responder ao desafio de mudar o destino do Brasil e do planeta. A tarefa não é trivial e exige de todos nós e do PV que atuemos com grandeza de propósitos. É o que esperamos e pelo que lutaremos.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Brasília, março de 2011.</div>Juarez de Paulahttp://www.blogger.com/profile/03291823647435428961noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7671874663399946672.post-18247214130404574102011-03-25T20:00:00.000-03:002011-03-25T20:00:38.573-03:00Artigo de Marina Silva<strong><span style="font-size: large;">O tempo do PV</span></strong><br />
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">Os quase 20 milhões de brasileiros que me deram seus votos na eleição presidencial do ano passado, possivelmente tinham em mente que até poderiam não estar elegendo, naquele momento, a presidente da República, mas, com certeza, estavam elegendo uma expectativa de mudança profunda na política e na adoção do olhar socioambiental como eixo estratégico de organização da sociedade e de estruturação do Estado. Precisamos honrar o crédito dessa expectativa, sob o risco de, eu e o PV, nos transformarmos em devedores de credibilidade, sonhos e esperança. Agora é o momento de mostrar com clareza e sinceridade que vamos saldar nossa conta.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Construir no país uma nova força política significa muito e não se pode confundir tal missão com cálculos imediatistas, nem com vaidades, nem com candidaturas. Não podemos ignorar a oportunidade que a sociedade brasileira nos deu de fazer História.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Agora é o momento de confirmar o que nos une, acima de divergências, erros e dificuldades de comunicação. E de traçar, a partir daí, a estratégia partidária que dialogue com a realidade política do país, mas como pólo inovador e não como mais uma usina de atraso. A esperança não pode ser traída pelas tentações do poder ou pela acomodação aos hábitos, aos costumes, às facilidades. Não estamos agora discutindo futuras candidaturas à Presidência da República ou a quaisquer outros cargos. Estamos discutindo de que matéria essas candidaturas serão feitas: da revitalização da essência democrática do espaço público, ou de política convencional, sem conexão com a sociedade, sem alma, sem causas.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Estamos discutindo aquilo que colocamos em perspectiva lá no início da campanha política de 2010, ou seja, a promessa de reestruturar o PV e, a partir de sua democracia interna, sua postura e seu programa, arejar a cultura política brasileira e apresentar propostas de desenvolvimento compatíveis com o que se espera no futuro, no século 21. Hoje, não há outro assunto mais importante do que esse, porque ainda não nos acertamos, nos detalhes, para seguir nessa direção. E se não é esta a direção, estaremos nos desconstituindo enquanto promessa e negando a própria gênese do PV no mundo.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Muitas vezes falei - falamos - da insatisfação da sociedade, da frustração da juventude com a incapacidade do sistema político para promover o bem-comum e para gerar dinâmicas democráticas verdadeiras em todas as esferas do processo de tomada de decisões de caráter público. Falei, falamos, dos avanços sociais, democráticos e econômicos conquistados com o processo de redemocratização do país, principalmente de FHC a Lula, mas também falei e falamos da necessidade de ir adiante na prática política e na concepção e prioridades do desenvolvimento.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O centro vital propositivo de nosso programa moldou-se a partir de três fontes poderosas de significados: a sustentabilidade, a educação e a renovação política. Não podemos abrir mão de nenhuma delas, ou gangrenamos. Em especial, se deixarmos de lado a renovação política dentro do partido, acabou-se a moral para falar de sonhos, de ética, de um mundo mais justo e responsável com o meio ambiente. Podemos até continuar falando, mas soará falso, como voz metálica de robô.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">É impossível negar os problemas. É preciso termos mútua tolerância e respeito à nossa diversidade; é imprescindível termos a paciência para o desconstruir/reconstruir responsável e paulatino. Só não podemos deixar de fazer ou abrir mão do que é essencial. E essa é uma decisão coletiva a ser tomada com clareza, à luz do sol, sem nenhuma dúvida. E a clareza se constrói no cotidiano de nossas pequenas ações e intenções, debruçando-nos, dentro do partido, sobre os passos necessários para atingir aquilo que pregamos para fora: a mudança. Não há como recuar de nossa própria reforma política, e há que encará-la com a coragem e o desprendimento que faltam ao sistema como um todo.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Esse novo jeito de fazer política requer enfrentar a crise geral pela qual passam os partidos, que de instrumentos de representação e avanço social cristalizaram-se como máquinas burocráticas, amorfas e voltadas para a conquista do poder pelo poder, muitas vezes não importando os meios, e abandonando a disputa programática pela simples disputa pragmática.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Em contraposição, podemos criar um partido em rede, capaz de dialogar com os núcleos vivos da sociedade para realizar as transformações de uma forma radicalmente democrática. E a disposição do Partido Verde não pode ser menor do que iniciar, nele mesmo, esse movimento de mudança.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Temos que chegar a uma proposta que reflita esse destino histórico escolhido, apregoado e aceito e abraçado por quase 20 milhões de pessoas.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Considero esse projeto que emergiu da campanha eleitoral de 2010 como um legado. Não é uma espécie de espólio a ser dividido entre herdeiros, mas, sim, um conjunto de propostas que podem e devem ser apropriadas pela sociedade e até mesmo por outros partidos e políticos. Meu maior desejo e, creio, de muitos novos e antigos filiados que participaram ativamente dessa campanha, é que o PV discuta profundamente o significado dessa eleição e incorpore novas práticas ao seu longo e rico percurso de construção partidária.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Por isso, parecia natural que o caminho adotado na reunião da Executiva Nacional, em Brasília, fosse o da adoção inconteste do novo jeito de fazer política. Mas essa não foi a tônica. Ao contrário, a decisão da Executiva Nacional de ampliar seu mandato por até um ano e, assim, postergar qualquer mudança endógena imediata, vai na contramão do que foi dito na campanha e do compromisso feito perante o país.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">A ampliação do mandato, segundo seus proponentes, é necessária para a realização de seminários, discussões e aprovação de propostas de democratização do partido. Não creio que o aprofundamento da democracia possa ser feito através da supressão, mesmo que temporária, da pouca democracia ainda existente.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">No PV, a maioria das Executivas Estaduais são provisórias, designadas pelo presidente do partido. O mesmo acontece com a totalidade das Executivas Municipais, designadas pelos presidentes estaduais. Praticamente não há convenções municipais e estaduais ou eleições diretas de dirigentes. Esses mecanismos provisórios têm sido vistos como forma de proteger o partido de atitudes oportunistas e da pressão do poder econômico. Agora, eles nos isolam da sociedade, nos fragilizam no que pode nos tornar mais fortes que é a nossa coerência e não nos protegem nem de nós mesmos.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Quero participar das discussões para propor formas mais democráticas de organização partidária, juntamente com todos que estiverem de fato motivados a abrir o partido para a energia revitalizante que vem da sociedade. Lembro que a proposta de adequar o PV a esses novos tempos foi feita pela própria Executiva Nacional, quando do convite feito a mim para ingressar no partido. Ouvi do próprio presidente que a atualização programática e democratização do PV já eram um movimento em curso, uma determinação da própria direção e, acrescento agora, uma imposição da realidade, um desaguadouro natural dos 25 anos de Partido Verde no Brasil.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Por isso, o que está em jogo é se o PV vai fortalecer tudo de positivo que foi construído nesses 25 anos, afastando de vez a zona sombria que ainda envolve o partido. Se beberá da fonte do impulso criativo de milhões de jovens, homens e mulheres que voltam a se apaixonar pela política e se dispõem a colaborar com os verdes. Se vai pegar a trilha civilizatória que se abre no mundo todo, apesar das forças reacionárias de todo tipo que teimam em manter seus status quo à custa de um futuro melhor para a humanidade e para o planeta.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Estou no PV não como plataforma para candidaturas. Estou porque o respeito e vi no partido, pela sua história e pelo que conversamos antes de minha entrada, uma coragem, um arejamento, um frescor juvenil no melhor sentido de ousar mudar, de querer o aparentemente impossível. Reafirmo meu desejo de permanecer neste Partido Verde, contribuindo para o seu crescimento e qualidade política. Estou confiante que a militância verde, seus amigos e simpatizantes, além de todas as pessoas que querem o jeito novo de fazer política, contribuirão para o reencontro do PV consigo mesmo. Tenho plena convicção, como dizia Victor Hugo, de que forte é "a idéia cujo tempo chegou". Não vamos deixar o nosso tempo passar. Ele está aqui, em nossas mãos e em nossos corações.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">São Paulo, 24 de março de 2011.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Marina Silva</div>Juarez de Paulahttp://www.blogger.com/profile/03291823647435428961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7671874663399946672.post-17695145196489877762011-03-23T10:59:00.000-03:002011-03-23T10:59:38.266-03:00Artigo de Renata Camargo<strong><span style="font-size: large;">PV, a meio passo do PPN</span></strong><br />
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<div style="text-align: justify;">“O Partido Verde precisa se reformular para não ser mais um PPN (Partido de Porra Nenhuma). Se a tão prometida revisão do PV não sair do papel, é provável que essa falta de rumo e coerência partidária acabe afundando a legenda”</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Renata Camargo* </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">A expressão “jogou merda no ventilador” cabe bem para o momento. Os artigos publicados pelo deputado federal Alfredo Sirkis (PV-RJ), em seu blog nos últimos dias, abrindo o jogo da confusão envolvendo grandes figurões do Partido Verde brasileiro, mostrou que o buraco da legenda, que se diz alinhada ao pensamento sustentável, é mais embaixo. Por outro lado, fez reacender um sentimento adormecido desde o último outubro: um sentimento de esperança em ver na política uma limpeza de toda essa porcaria.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Em linhas bem gerais, pode-se dizer que Sirkis, em dois textos, faz literalmente o que a expressão acima diz: ele jogou os podres do partido aos ventos e espalhou a lamaceira. A sujeira foi lançada após o grupo ligado ao presidente do PV, José Luiz Penna, no cargo desde 1999, ter reconduzido o mesmo ao posto máximo do partido, a contragosto dos “marineiros”. O fato causou a ira do seleto grupo, que pretendia postular ao cargo um indicado da ex-senadora do PV.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Nos textos, o deputado, em palavras enfáticas, apresenta as disputas internas dos verdes relacionadas, basicamente, à perpetuação no poder de um grupo e a falta de interesse em mexer no conteúdo programático do partido (que significaria a queda de alguns). Nas entrelinhas, Sirkis mostrou também a iconização de uma figura, que pode ser o “chantili” do PV e, ao mesmo tempo, o “estorvo” do partido: a própria Marina Silva.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Em janeiro de 2009, no Fórum Social Mundial de Belém, no Pará – quando ninguém falava em candidato do PV à Presidência –, Marina Silva, ao fim de suas palestras, tinha seu nome ovacionado pelo público – em sua maioria, jovens de classe média, com pensamentos e ideologias ligadas ao que acostumaram chamar de esquerda. Em coro, os jovens – às vezes, “jovens” de cabelos brancos – gritavam “Marina presidente do Brasil”.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">A cena, naquele contexto, era, no mínimo, inesperada. Até mesmo para a atriz principal do episódio, a aclamação parecia pegá-la de surpresa. Com um sorriso sem graça (mas daqueles que evidenciam orgulho de si mesma), Marina deixava os locais de palestra escoltada, como uma digna atriz de Hollywood, cujos fãs, ensandecidos, rogavam por um pouco de sua atenção e, quiçá, um autógrafo.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Uma das cenas, eu me lembro bem, foi tão inusitada que chegou a ser bizarra. Na ocasião, me fez lembrar (e rir, por isso) de cenas daquele filme O guarda-costas, da década de 1990, quando Whitney Houston saía protegida pelo seu guarda-costas Kevin Costner. Marina não chegou a ser levada no colo, mas em clima similar de tumulto de fãs, teve que entrar correndo no carro, sob escolta e empurra-empurra.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Marina naquele contexto não era PV. Já era verde, já era relacionada a ambientalistas e à causa da sustentabilidade, já tinha seu nome reconhecido nacional e internacionalmente, mas não era Partido Verde, ela não se restringia à legenda, nem era colocada como o sustentáculo de uma legenda.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Naquele cenário, em que milhares de pessoas ditas esquerdistas ou simpatizantes discutiam terceiras vias para o desenvolvimento da sociedade (e, muitas vezes, sob linguagens ultrapassadas, usando em vão o nome de Marx), Marina simbolizava uma luz no fim do túnel, um caminho para fugir das dicotomias, uma via para sair da esvaziada esquerda-direita, da triste política do jogo dos interesses individuais ou de grupos dominantes. Na época, ela era ainda do PT, mas era aclamada como uma terceira via.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Foi sob o papel de terceira via, que meses depois do fórum, em outubro de 2010, pelo PV, Marina mostrou a força de uma alternativa de poder. Os 20 milhões de votos em Marina forçaram um segundo turno eleitoral e conduziram aquele pleito sem graça para um caminho do “podemos mudar”. À revelia de membros do próprio partido, Marina conseguiu, ao menos de forma macro, negociar acordos programáticos, ao invés de cair no simples troca-troca de cargos para apoio político.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Agora, com as feridas expostas do PV, o sentimento despertado pelo “fenômeno Marina” – o sentimento de uma terceira via para o país, de uma busca por um desenvolvimento do Brasil enquanto nação, com políticos e políticas públicas olhando para a mesma direção do benefício coletivo – se renova de esperança. Será que o partido que se diz bandeira de uma nova forma de pensar o mundo vai conseguir se livrar das antigas e mesquinhas amarras do poder?</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O Partido Verde brasileiro, cujo verde aparece, muitas vezes, apenas no título da legenda, precisa se reformular para não ser mais um PPN (Partido de Porra Nenhuma). Com ou sem Marina, se a tão prometida revisão programática (profunda) do PV não sair do papel neste momento político, é capaz que ela não saia nunca mais, e que essa falta de rumo e de coerência partidária acabe afundando a legenda verde no Brasil.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Os 20 milhões de eleitores de Marina são heterogêneos e não podem ser classificados em uma ou duas categorias. Mas é certo que todos aqueles eleitores depositaram naquele voto o sentimento da mudança, da esperança por uma política melhor. Jogar a merda no ventilador neste momento se apresenta como uma forma de reacender a esperança por uma política mais limpa. Talvez a esperança da espera por um milagre, no qual seja possível largar a velha cartilha do poder-pelo-poder, para pensar no poder como um movimento de cidadãos.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">*Formada em Jornalismo pela Universidade de Brasília (UnB), Renata Camargo é especialista em Direito Ambiental e Desenvolvimento Sustentável pelo CDS/UnB. Já atuou como repórter nos jornais Correio Braziliense, CorreioWeb e Jornal do Brasil e como assessora de imprensa na Universidade de Brasília e Embaixada da Venezuela. Trabalha no Congresso em Foco desde 2008.</div><div style="text-align: justify;"><a href="http://congressoemfoco.uol.com.br/coluna.asp?cod_publicacao=36464&cod_canal=14">http://congressoemfoco.uol.com.br/coluna.asp?cod_publicacao=36464&cod_canal=14</a></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div>Juarez de Paulahttp://www.blogger.com/profile/03291823647435428961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7671874663399946672.post-90699559247665258562011-03-19T18:50:00.000-03:002011-03-19T18:50:18.592-03:00Artigo de Fabiano Carnevale<span style="font-size: large;"><strong>Bem-me-quer, mal-me-quer: os impasses do Girassol e um chamado ao bom senso</strong></span><br />
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<div style="text-align: justify;">Como construir as pontes entre o PV histórico e o PV que emergiu das urnas com cerca de 20 milhões de votos? Foi com essa pergunta martelando na cabeça desde outubro do ano passado que tenho definido minhas intenções dentro do partido no qual milito desde 1995 e que faço parte da direção nacional desde 2007, quando assumi o cargo de Secretário Nacional de Comunicação da Executiva Nacional. E foi com essa pergunta na cabeça que optei pelo voto de um cronograma que culminasse na Convenção Nacional em 6 meses. Mas já começo reafirmando meu pedido para que não me imputem a marca de ser do “grupo de Marina”, por ter votado pela posição defendida por ela, da mesma forma que rejeito a marca de ser do “grupo do Penna”, por ser parte do coletivo de dirigentes e da chamada “operativa” (o coletivo do Presidente e seu secretariado). Não me coloquem as amarras do debate personalista e despolitizado, pois quem conhece um pouco da minha trajetória partidária, sabe que minhas posições sempre tiveram a marca da independência e autonomia de pensamentos e ações.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Em 2007, depois de ter passado alguns anos afastado dos processos internos por discordar da intensa e cruel disputa interna que havia se estabelecido, decidi que retornaria à luta por um partido ecologista, democrático e plural, dessa vez não mais só no papel de militante mas no de dirigente nacional.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Foi com esse pensamento que apoiei entusiasticamente a entrada de Marina Silva e contribuí ativamente durante a campanha, tendo a oportunidade de conhecer, admirar e colaborar com o trabalho pessoas como Nilson Oliveira, Caio Túlio, Juliano Spyer, Marcelo Albagli, Felipe Vaz, entre outros.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Não podemos correr o risco de abrir novamente um espaço para o debate despolitizado e personalista. Recuso a visão de que se trata de uma luta entre “fisiológicos” e “ideológicos”, ou qualquer intenção de polarizar a disputa política entre “bem” e “mal”, que nós leva ao paralisante “nós” contra “eles”. Possuo em alta conta pessoas que estão em todos os lados dessa disputa. Reconheço na atual direção a competência de ter tirado o partido de uma organização amadora para o que, em 2009, recebeu Marina Silva e em 2010 abalou a polarização PT-PSDB para se transformar numa terceira via moderna e consistente. Da mesma forma que tenho em altíssima conta, os “novos-velhos” companheiros e companheiras que entraram na direção em 2009 e que possuem a mesma importância no rumo dos acontecimentos de 2010 e nas discussões do partido que queremos para a nova década.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Por isso, me recuso novamente a entrar no velho rame-rame das acusações ferinas e das palavras ácidas que só servem para desestimular e mascarar o importante debate que todos queremos, que é a construção de novos caminhos para o Partido Verde. Entendo que para se construir uma disputa política de alto nível, a primeira constatação tem que ser a de que não há anjos nem demônios nesse “éden infernal” que são os partidos políticos brasileiros. Para isso, necessitamos despersonalizar o debate e nos focar no que foi um consenso durante a reunião da última quinta-feira, que é um gradual movimento de atualização programática e reforma estatutária, nos levando a processos mais plurais e participativos dentro de todas as estruturas de poder interno, municipais, estaduais e nacional. Da mesma forma que não é aceitável como argumento de debate, a posição-ameaça de sair do PV e/ou fundação de um novo partido. As experiências recentes de partidos criados como uma forma de resgate de uma espécie de “pureza original” são suficientemente fracassadas para nos tirar desse caminho. E não deixemos, como sempre disse o Gabeira, que o fracasso nos suba à cabeça. Pois um novo partido desse tipo só surge quando o diálogo e a Política fracassam.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O que defendo é que, daqui para frente, o debate precisa sair do dissenso sobre os prazos e ser feito a partir do consenso surgido durante a reunião, que é o estabelecimento de um cronograma de seminários e congressos que culminem numa Convenção Nacional regida por processos que abram o partido para a participação inclusiva de um número expressivo de militantes qualificados (novos e antigos) que legitimem as escolhas das novas direções em todo o país.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O desafio é imenso. Nenhum partido político brasileiro possui verdadeira tradição de debates democráticos e plurais, portanto não temos onde nos espelhar. Será preciso construir algo novo, principalmente utilizando as novas tecnologias da informação como nossas aliadas. Fortalecer (técnica e politicamente) a RedePV (http://redepv.ning.com), nossa rede social interna que já conta com quase 4.000 filiados e simpatizantes de todo o país, para que ela possa se transformar em espaço privilegiado de participação e debates internos.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">E como dizia a máxima da conspiração aquariana: let the sunshine in! Deixem o brilho do Sol entrar, iluminando as trevas das acusações pessoais e do debate despolitizado. Começamos agora, apenas começamos. Mas estamos mais vivos do que nunca. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Fabiano Carnevale</div><div style="text-align: justify;"><a href="http://blog.biano.com.br/blog/2011/03/bem-me-quer-mal-me-quer-os-impasses-do-girassol-e-um-chamado-ao-bom-senso/">http://blog.biano.com.br/blog/2011/03/bem-me-quer-mal-me-quer-os-impasses-do-girassol-e-um-chamado-ao-bom-senso/</a></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div>Juarez de Paulahttp://www.blogger.com/profile/03291823647435428961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7671874663399946672.post-44514392114304164982011-03-18T18:22:00.000-03:002011-03-18T18:22:53.975-03:00Artigo de Alfredo Sirkis<span style="font-size: x-large;"><strong>O pesadelo verde</strong></span><br />
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<div style="text-align: justify;">Ontem vivi o pesadelo verde. Vi o risco de desmoronar diante de meus olhos o sonho que tivemos em janeiro de 1986 quando juntamente com Gabeira, Herbert Daniel, Lucélia e um punhado de outros fundamos o PV, no teatro Clara Nunes. Nada indicava que aquela reunião da executiva nacional, na quinta-feira, 17 de março de 2011, em Brasília, iria produzir algo tão kafquiano. Era a primeira reunião desde o segundo turno das eleições. Uma direção partidária que não se reunia a cinco meses (!) o que não significa que durante esses cinco meses o poder partidário deixara de ser exercido...</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ao longo dos últimos anos instalou-se uma espécie de presidencialismo sub-reptício neste partido programaticamente parlamentarista. O presidente passou a exercer solitariamente boa parte do poder que caberia à direção do partido com o auxilio de um virtual politiburo (“a operativa”) à qual caberiam apenas tarefas burocráticas mas, como no precedente stalinista, acabou se convertendo no órgão de deliberação, de fato, no lugar de uma executiva balofa, de 58 membros, dos quais boa parte cooptada em barganhas que asseguravam o controle do PV nos estados por quadros fracos e sem representatividade social.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">A campanha de Marina Silva à presidência com seus quase 20 milhões de votos e quase 20% do eleitorado deveria ter sido o grande marco de transição para um novo partido que se abre para acolher esse extraordinário movimento. O partido encontra-se diante de uma oportunidade ímpar de crescimento, renovação, incorporação de novas energias. Esboçou-se claramente durante a campanha, na sociedade brasileira, um espaço gigantesco, fascinante, no qual Marina jogou um papel catalisador. Mas dentro da nossa carapaça burocrática, cartorial e clientelista começava a se gestar um discurso bizarro, mesquinho: “afinal o fenômeno Marina não foi tão bom assim para o PV porque o partido só elegeu um deputado a mais do que em 2006”. Houve quem até comentasse, recentemente, à luz da aposentadoria de Ronaldinho: “a era dos fenômenos acabou”. Marina passou a ser vista como um “problema”. Interessante enquanto “cereja” ou “chantili”, mas estorvo quando vem aí com esse papo de democratização do PV. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Acostumado há muitos anos à presença na direção do PV de pessoas intelectual, política e teoricamente totalmente despreparadas cuja cooptação se dá na lógica de assegurar a longevidade presidencial, também me acostumei, por outro lado, a um certo bom senso de evitar romper radicalmente com os verdes históricos. Essa bizarra reação anti-Marina seria, na minha avaliação inicial, um ranger de dentes efêmero de pessoas que não entendiam a grandeza do que havia acontecido na campanha presidencial mas que, como bons companheiros, entenderiam melhor esse significado logo mais adiante. Por essa razão essas articulações e discursos a pé de ouvido não me preocuparam em demasia.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Quinta-feira tudo começou aparentemente bem. Junto com alguns outros companheiros fiz uma análise do processo eleitoral, das novas perspectivas que se abriam e sobretudo da necessidade de uma transição democrática no PV. O PV sempre se debateu com o drama de querer fugir aos modelos de grupúsculo ideológico ou de partido eleitoreiro tradicional. Constantemente viveu a dificuldade de abrir espaço de participação a um universo de simpatizantes e eleitores muito heterogêneo, com múltiplos interesses, variadas formas de se relacionar com a questão ambiental e outras bandeiras verdes. Um universo de diversificadas motivações: desde a tradicional aspiração a uma candidatura até a necessidade de apoio para enfrentar um problema de vizinhança em sua rua. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Depois de muitas experiências traumáticas com as repetidas tentativas de controle por parte de políticos fisiológicos o PV acabou se fechando no que para muitos apareceu como um “grupo de amigos”, o que, convenhamos, é melhor que um grupo de inimigos, mas não resolve o problema. Esse controle estrito pode ter sido importante para a sobrevivência do partido em seus momentos mais difíceis, nos anos 90 e 00, mas deixou de corresponder à realidade de uma nova etapa. Agora, os verdes ou crescem quantitativa e qualitativamente junto com o movimento de opinião pública que suscitaram ou estagnam e entram em decadência.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">A hora de começar a mudar é agora, depois daquele extraordinário resultado de 2010. Cabe a construção de um partido-rede. Cada vez mais em todo o mundo se evidenciam as grandes possibilidades de mobilização e participação política com o uso da internet e das redes sociais. O PV deve criar ou adaptar uma rede social para se relacionar com seus filiados de forma participativa e interativa integrando-os aos processos de decisão, inclusive para a eleição das suas direções municipais, estaduais e nacional. Isso passa por essa filtragem --coerente com a noção de “partido de quadros” e não “partido de massas” que o PV se propôs a construir-- por filiados que demonstrem conhecer minimamente o Manifesto e o Programa verdes e por uma certificação digital para efeito de participação nos processos de tomadas de decisões. Mas devemos caminhar, gradualmente, para que as decisões deixem de ser de meia dúzia de dirigentes apenas, mas de milhares, potencialmente milhões de verdes em rede. Isso não é um processo imediato mas precisaria começar a ser construído a partir de agora. O PV não pode ser visto senão como instrumento de uma causa e não a causa em si. Não pode ser simplesmente uma “coisa nossa” cuja tradução em italiano prefiro não mencionar aqui...</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Propus um calendário: 1) a correção imediata de certas graves anomalias regionais como as de alguns estados amazônicos onde tivemos dirigentes em conluio com oligarquias locais do tipo Cassol ou Amazonino Mendes (!), boicote à campanha de Marina e um resultado eleitoral nulo 2) uma rodada de seminários nos estados e um nacional sobre O Partido Verde dos Anos 10, 3) um Congresso de Atualização Programática incorporando o trabalho programático feito durante a campanha, inclusive a Agenda Verde do segundo turno, ao programa do partido 4) e, finalmente, em tempo hábil para a reta final do prazo de filiações para as eleições de 2012, nossa Convenção Nacional para eleger o novo Conselho que por sua vez elegeria uma nova executiva e esta seus cargos, inclusive a presidência. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Todos, aparentemente, concordaram com essa linha de procedimento e, também, com a noção de que nos últimos anos o partido sofrera uma deriva presidencialista anômala. Marco Mroz, Sergio Xavier, Mauricio Bruzadim e, finalmente, a própria Marina falaram no mesmo sentido abrindo para o PV a perspectiva de assimilar os frutos da campanha e tomar o caminho de uma transição democrática que, na minha opinião, deveria resultar também numa transição geracional logo mais. Penso que o partido não deve ser conduzido indefinidamente por sessentões e cinquentões. A campanha revelou uma juventude maravilhosa que pode em pouco tempo receber o bastão. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Todos pareciam concordar. Eu estava tranqüilo, relaxado, feliz com o nosso partido que parecia acordar da letargia e dos bizarros rumores dos longos cinco meses pós-eleitorais. De repente alguém me avisou que o deputado José Sarney Filho ia propor uma pura e simples prorrogação, por um ano, do mandato daquela executiva, e, consequentemente --é claro-- do presidente José Luiz Penna que está no seu décimo segundo ano como presidente. Minha indignação foi na medida da minha surpresa. Não me passara pela cabeça que tendo, aparentemente, maioria no conselho e provavelmente da convenção eles chegariam ao extremo da cara-de-pau de propor prorrogação de mandato apenas para poder assegura-se ainda mais de que a coisa não lhes fugiria das mãos. Que manteriam por mais um ano o poderzinho para poder, em seguida, se perpetuar no partido, que assim insiste em permanecer alheio ao movimento da sociedade. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Argumentamos que realizar uma convenção em ano eleitoral seria uma temeridade. Surgirá certamente um bom argumento para adia-la mais uma vez, para não dividir o partido diante das eleições. Até lá já terão aderido ao governo e assegurado o controle completo do partido mediante os métodos tradicionais da política brasileira. Não reagi da maneira mais conveniente. Bater boca nunca é o melhor caminho, mas tem situações onde engolir sapo dá vômito, e se não der, dá câncer. O fato é que “estourei”. Logo mais surgiu a brilhante idéia de prorrogar por dois anos! Seria apenas o bode na sala? Começo a acreditar que a palavra de ordem Penna Forever, que vi num cartaz em São Paulo há tempos, não é piada não. É sério: caminhamos para uma presidência vitalícia??? A quebra de confiança se instalou entre nós.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Marina ficou perplexa ainda que não propriamente surpresa. A animosidade da burocracia no partido contra ela era algo que ela vinha reparando há tempos e constantemente lhe garantindo que exagerava. Naquela hora percebi que não. Digamos que, na melhor das hipóteses, criaram por ela uma relação amor-ódio. Amor pelo que de prestígio indireto pode lhes aportar. Ódio quando sua visão de transição democrática é vista como ameaça a seus poderzinhos...</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O fato é que aprovaram a moção de Sarney Filho por 29 votos a 16 com base em acordos com as clientelas internas que dominam muitos estados mantendo o partido na sua condição de vergonhosa estagnação, garantias de cargos e também o medo que existe em relação a qualquer mudança mais profunda no pequeno partido que somos, naquela nossa "coisa nossa". Dirão que estou exagerando já que “quase tudo” de minha proposta foi aprovado e que é apenas uma questão de prazo: em vez de fazer a convenção em julho de 2011 fazer até março de 2012. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Mas é uma diferença muito grande sempre que tivermos uma convencão já em cima ou depois do prazo fatal de filiação em final de setembro de 2011. Mas a questão central não foi aquela decisão, em si, mas tudo que ela sinaliza. Sinaliza a disposição de manter um presidencialismo com aparente vocação de, pelo andar da carruagem e sem piada, tornar-se vitalício. Significa a disposição de Penna e Sarney de romper com o setor mais histórico e ideológico dos verdes e afastar Marina --a não ser que sirvamos simplesmente de “chantili”, como ela define--, mediante sucessivas rasteiras e levar o partido para o governo em conluio com o novo partido de Kassab com o qual eles têm tido muitas reuniões. O sentido mais estratégico de tudo isso é anular os verdes como terceira força, desconstruir 20 milhões de votos, debandar 20% do eleitorado. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O que nos resta? Digo aqui claramente que não admito o presidencialismo vitalício, o pensar pequeno, o fechar-se em um pequeno grupo, o não abrir-se ao universo que emergiu na sociedade brasileira na campanha de Marina. Vamos esgotar todas as possibilidades de diálogo, discussão e esforço fraterno para fazer o PV recuperar seu juizo, seu ideário, seu idealismo, sua identidade como instrumento, não como finalidade em si mesmo. Diz o nosso Manifesto: O Partido Verde se define como um movimento de cidadãos e não de políticos profissionais ou homens de aparelho. Considera que o povo brasileiro está descontente com a chamada "classe política" e almeja um tipo de representação e ação mais eficiente, desinteressada e moderna. O povo brasileiro está cansado de uma elite fisiológica, que vê na política não uma forma de representação das aspirações dos cidadãos, mas uma carreira profissional, um caminho de enriquecimento e poder individual. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Há vinte cinco anos redigi este texto, aprovado pelo coletivo verde que criou o PV, e continuo fiel a ele. Se, eventualmente, tivermos que começar tudo de novo o faremos. Não seremos, como garante Marina, “uma fraude”, um discurso falso, um consenso oco, um chantili, muito menos uma confraria de hipócritas.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Alfredo Sirkis, deputado federal (PV/RJ)</div><div style="text-align: justify;"><a href="http://alfredosirkis.blogspot.com/2011/03/o-pesadelo-verde.html">http://alfredosirkis.blogspot.com/2011/03/o-pesadelo-verde.html</a></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div>Juarez de Paulahttp://www.blogger.com/profile/03291823647435428961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7671874663399946672.post-4094376911401537422010-12-19T12:43:00.001-02:002010-12-19T15:43:48.743-02:00Governo Lula<strong><span style="font-size: large;">Interpretando os números</span></strong><br />
<br />
<div style="text-align: justify;">O Presidente Lula chega ao final de oito anos de governo com inéditos e consagradores 83% de aprovação. Muitas podem ser as razões elencadas para explicar o fenômeno. Lula é um personagem-símbolo da história recente do país. Emergiu das lutas sindicais e do movimento pela redemocratização. Fundou o PT e a CUT. Disputou quatro eleições presidenciais até alcançar a vitória. Revelou-se um líder carismático, um notável negociador e um hábil estrategista. Construiu uma profunda identidade com os segmentos sociais historicamente excluídos. Indubitavelmente, será sempre lembrado na história brasileira.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Para além de todos esses atributos, vou repetir argumentos publicados em artigos anteriores: está na economia a principal explicação para a popularidade de Lula. Seu governo termina com o menor índice de desemprego (5,7%) desde que foram iniciadas tais medições pelo IBGE. Sob Lula, a economia brasileira voltou a crescer, houve redução da pobreza e crescimento da classe média. A estratégia foi distribuir renda, facilitar o crédito, elevar a capacidade de consumo, ampliar o mercado interno e com isso sustentar a expansão da produção e a criação de novos empregos. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Os ricos ganharam. Os banqueiros continuaram financiando o déficit público em troca da mais elevada taxa de juros do mercado financeiro internacional. Os investidores externos continuaram trazendo suas empresas para o país em troca de acesso a um dos maiores mercados de consumo em expansão. Os empreiteiros continuaram ampliando suas operações com as obras do PAC. O BNDES elevou a oferta de crédito a juros subsidiados para facilitar a fusão de empresas brasileiras, transformando-as em líderes mundiais nos seus respectivos segmentos de mercado.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Os pobres também ganharam. "Bolsa-família", "Minha casa, minha vida", "Luz para todos", "PRONAF", "Programa de Aquisição de Alimentos - PAA", "Territórios da Cidadania", são exemplos de políticas públicas com forte repercussão social, além da elevação do valor do salário-mínimo acima da inflação e da expansão da cobertura da previdência social, que tiveram significativo impacto na elevação da renda e das condições de consumo dos grupos sociais historicamente excluídos.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Para sustentar esse modelo, chegaremos também à maior carga tributária da história: 37% do PIB se alcançarmos o crescimento esperado de 7,5%. Houve expansão das despesas correntes, redução da poupança interna e manutenção dos investimentos nos mesmos patamares dos governos anteriores, quando a economia não cresceu. Isso significa que temos um crescimento baseado na sustentação de uma bolha de consumo, alimentada por crédito barato e endividamento das famílias.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Enquanto todos compram celulares, TVs de tela plana, carros, motos, imóveis etc., a saúde e a educação entram em colapso. Nosso desempenho nos mais recente PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), que comparou 65 países, foi de 53° lugar em leitura e 57° lugar em matemática. A falta de educação afeta também os níveis de cultura e participação política. No último ranking mundial sobre democracia da revista "The Economist", o Brasil caiu do 41° para o 47° lugar.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O governo Lula melhorou a distribuição de renda, mas não conseguiu reduzir as desigualdades regionais. Segundo o IPEA, nos últimos 13 anos quase não houve nenhuma alteração na distribuição regional das riquezas. Enquanto o PIB per cápita da região sudeste é 33% maior que a média nacional, o da região nordeste é 53% menor que a média nacional. Há uma enorme concentração espacial da riqueza. Segundo o IBGE, seis capitais, com apenas 13,5% da população do país, concentram 25% do PIB.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Aparentemente, suceder um governo que termina com 83% de aprovação é um enorme desafio. Dilma Rousseff terá que enfrentá-lo. Mas é possível antever um caminho. Certamente, é preciso manter o crescimento, os empregos, a renda, o consumo. Todavia, também é possível fazê-lo melhorando os serviços de saúde e educação; criando oportunidades de trabalho em empreendimentos ambientalmente sustentáveis como a ampliação da energia eólica, solar e de biomassa na nossa matriz energética; substituindo a prioridade para o transporte individual pelo transporte público de qualidade; fortalecendo políticas públicas de desenvolvimento local que promovam a desconcentração do conhecimento, da riqueza e do poder político.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Tenho esperança de que uma mulher consiga compreender o desenvolvimento de uma outra maneira, que possa ir além do conceito tradicional, obsoleto e insustentável, baseado na idéia do crescimento e do progresso material ilimitado.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Juarez de Paula</div>Juarez de Paulahttp://www.blogger.com/profile/03291823647435428961noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7671874663399946672.post-74865877504914436012010-11-20T21:48:00.003-02:002010-11-27T17:47:40.126-02:00Transição<strong><span style="font-size: large;">Erradicação da pobreza</span></strong><br />
<br />
<div style="text-align: justify;">A primeira reunião de trabalho da Equipe de Transição do Governo Dilma Rousseff ocorreu nesta última quinta-feira, 18/11/2010, entre 14 e 17h, no Centro Cultural do Banco do Brasil. O tema escolhido: Erradicação da Pobreza. Fui um dos 25 especialistas convidados a apresentar idéias e propostas.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Estiveram presentes, pela Equipe de Transição, a Presidente eleita Dilma Rousseff, o Vice-Presidente eleito Michel Temer, Antonio Palocci, José Eduardo Cardoso, Nelson Barbosa e Clara Ant. Dentre os especialistas convidados, cabe destacar: Ricardo Paes e Barros, Marcelo Neri, Marcio Pochmann, Paul Singer, José Graziano, Laís Abramo, Márcia Lopes, Miriam Belchior, dentre outros.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Márcia Lopes, Ministra do Desenvolvimento Social, foi a primeira convidada a falar. Iniciou destacando os resultados alcançados com as políticas sociais do Governo Lula, ressaltando o Programa Bolsa-Família, o Sistema Único de Assistência Social e o Sistema de Segurança Alimentar. Defendeu vários temas como prioritários para uma política de erradicação da pobreza: inclusão produtiva, renda básica de cidadania, formação profissionalizante, micro-crédito, incentivo à economia solidária, atenção especial à pobreza rural, à juventude e à erradicação do trabalho infantil. Concluiu defendendo a necessidade de integração das políticas públicas nos territórios, como uma condição para o alcance de maior efetividade.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ricardo Paes e Barros, o próximo convidado a falar, apresentou dados demonstrativos da redução da pobreza alcançada no Governo Lula. Defendeu a viabilidade "orçamentária" da erradicação da pobreza com investimentos da ordem de 8 bilhões de reais por ano. Apontou que as políticas atuais atingiram seu limite de "cobertura". Chamou atenção para a diversidade da pobreza e defendeu a necessidade de maior focalização e customização de soluções. Argumentou em favor de uma abordagem territorial e familiar, com integração das políticas públicas e um serviço de "coaching" executado por uma rede de agentes de desenvolvimento social.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Marcelo Neri, o convidado seguinte, também apresentou indicadores de redução da pobreza e estimativas de custos para sua erradicação. Defendeu a necessidade de focalização nos mais pobres dentre os pobres e na primeira-infância. Argumentou em favor de uma maior diversidade de soluções, de modo a permitir, aos beneficiários das políticas sociais, escolhas mais apropriadas a cada situação particular. Também defendeu a proposta de uma rede de agentes de desenvolvimento social. Finalmente, chamou atenção para a necessidade de redefinição da "linha de pobreza", de modo a possibilitar o monitoramento e avaliação das políticas sociais a partir deste parâmetro.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Seguiram-se as falas dos demais convidados, com um tempo mais restrito. Destaco algumas delas.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">José Graziano defendeu a priorização da pobreza rural e da pobreza das periferias das áreas metropolitanas. Destacou a situação das mulheres pobres com filhos menores, que têm mais dificuldade de ingresso no mercado de trabalho. Argumentou também sobre a necessidade de políticas "pro-ativas", que busquem os pobres onde estão.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Paul Singer defendeu uma maior investigação qualitativa da pobreza, para conhecer melhor as diferentes realidades dos pobres e propor soluções customizadas. Colocou a idéia da "busca da felicidade" como objetivo estratégico a ser perseguido. Defendeu uma abordagem territorial, através de políticas de desenvolvimento local.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Juarez de Paula começou afirmando que a melhor forma de inclusão social é pela via do empreendedorismo. Defendeu a combinação de três políticas sociais: apoio ao desenvolvimento local/territorial, apoio às tecnologias sociais e apoio aos fundos solidários/rotativos. Argumentou que já existem experiências exitosas que precisam ganhar escala. Destacou que essas políticas consideram a lógica da territorialização e da customização de soluções, valorizando o protagonismo e a conquista da cidadania. Concluiu defendendo a continuidade do Programa Territórios da Cidadania, ampliando sua atuação de modo a incluir as áreas urbanas, sobretudo as periferias das áreas metropolitanas.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Maya Takagi defendeu a priorização dos grupos mais vulneráveis, a exemplo dos "sem registro civil", dos analfabetos, dos ribeirinhos, dos quilombolas, dos indígenas, dos sem-teto, etc. Defendeu também a integração das políticas públicas nos territórios, onde a articulação pode ser tornar mais efetiva.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Laís Abramo defendeu a priorização das mulheres, sobretudo as jovens e negras. Destacou a necessidade da erradicação do trabalho infantil. Argumentou em favor das creches como condição para a inclusão produtiva das mulheres.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Daniel Vargas defendeu a criação de uma plataforma nacional de políticas sociais baseada numa "Lei de Responsabilidade Social", no "Serviço Civil Obrigatório" para bolsistas universitários e num plano de metas com incentivos e sanções para Estados e Municípios.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Marcio Pochmann falou sobre a necessidade de chegar ao "núcleo-duro" da pobreza que ainda não é alcançado pelas políticas sociais. Falou sobre a segregação espacial da pobreza, o que justifica uma abordagem territorial. Falou sobre a transição do trabalho material para o trabalho imaterial, processo que gera novas exclusões e novos pobres. Defendeu a redefinição da "linha de pobreza", as políticas de desenvolvimento local e a construção de um "pacto nacional" pela erradicação da pobreza.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Nelson Barbosa defendeu a priorização de um programa de creches que permita o atendimento da primeira-infância (crianças de 0 a 4 anos), com alimentação, educação e saúde, quebrando o ciclo de reprodução da pobreza.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Miriam Belchior argumentou que as políticas atuais estão corretas, devem ser mantidas, mas que é preciso ampliar a cobertura e aprimorar a gestão. Defendeu a manutenção do Programa Territórios da Cidadania como um bom ensaio de integração de políticas públicas nos territórios.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Antonio Palocci colocou a necessidade de continuidade e aprofundamento do debate.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Convidados a tentarem fazer uma síntese final, os três primeiros oradores foram novamente chamados a falar.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Marcelo Neri destacou a introdução do conceito de "felicidade" como um objetivo estratégico relevante. Reforçou a idéia da diversidade e customização das soluções e a proposta da rede de agentes de desenvolvimento social.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ricardo Paes e Barros destacou a necessidade do foco no atendimento e acompanhamento familiar, através da rede de agentes de desenvolvimento social. Reforçou a idéia da convergência das políticas nos territórios, como no Programa Territórios da Cidadania. Defendeu mais gestão, acompanhamento e avaliação como uma forma de dar um salto de qualidade nas políticas já existentes.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Marcia Lopes defendeu a criação de um forum permanente de debate das políticas sociais. Reconheceu que a capacidade de gestão é um dos limites atuais. Defendeu soluções de desenvolvimento local e territorial como o Programa Territórios da Cidadania. Defendeu a necessidade de ampliar a cobertura e a escala das políticas atuais. Concluiu argumentando em favor de uma visão sistêmica do combate à pobreza, o que exige a convergência das políticas públicas.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Concluindo a reunião, a Presidente eleita Dilma Rousseff afirmou que a escolha deste tema para a primeira reunião foi proposital, para deixar claro que a erradicação da pobreza é a primeira prioridade do governo. Concordou com a necessidade de investir num melhor mapeamento e conhecimento das realidades diversas da pobreza. Concordou com a necessidade de melhorar a gestão e a eficácia das políticas existentes, mas também com a necessidade de criar novas soluções customizadas. Concordou com a necessidade de manter o Programa Territórios da Cidadania como um esboço de estratégia de integração das políticas públicas. Concordou com a idéia de criação de um forum permanente do desenvolvimento social, para o qual gostaria de continuar contando com a contribuição dos convidados. A reunião foi encerrada.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Penso que esse tipo de reunião tem mais um caráter simbólico do que técnico. O importante não é o resultado imediato da reunião, o produto gerado, mas a construção de uma agenda temática que oriente as iniciativas governamentais. Nesse sentido, considero que foi um momento promissor.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Juarez de Paula</div>Juarez de Paulahttp://www.blogger.com/profile/03291823647435428961noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7671874663399946672.post-26997123932753810402010-11-02T00:56:00.001-02:002010-11-02T11:44:37.457-02:00Cenário pós-eleitoral<strong><span style="font-size: large;">Eleições 2010 - algumas reflexões iniciais</span></strong><br />
<br />
<div style="text-align: justify;">Publiquei neste Blog, em 06/09/2010, um artigo intitulado "Explicando o óbvio", onde argumentei sobre as razões da provável e previsível vitória de Dilma Rousseff. Considero desnecessário voltar às mesmas questões. Desejo, nesse artigo, explorar novos aspectos, partindo dos resultados das urnas. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">Contrariando a expectativa de diversos estrategistas e analistas, não houve correspondência entre os resultados das eleições presidenciais e das eleições para governadores de estados. Os exemplos são muitos: no AC o PT elegeu o governador, mas Serra venceu; em RO o PMDB elegeu o governador, mas Serra venceu; no PA o PSDB elegeu o governador, mas Dilma venceu; no TO o PSDB elegeu o governador, mas Dilma venceu; no RN o DEM elegeu o governador, mas Dilma venceu; em AL o PSDB elegeu o governador, mas Dilma venceu; no MT o PMDB elegeu o governador, mas Serra venceu; no MS o PMDB elegeu o governador, mas Serra venceu; no ES o PSB elegeu o governador, mas Serra venceu; em MG o PSDB elegeu o governador, mas Dilma venceu; no RS o PT elegeu o governador, mas Serra venceu. Uma evidência de que o voto não foi programático ou ideológico. O eleitor votou segundo o perfil dos candidatos, variando sua preferência independentemente das alianças partidárias. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">Um número muito significativo de eleitores não votou nem em Dilma, nem em Serra. Foram mais de 38 milhões de eleitores, o equivalente a 28,2% do eleitorado, somando as abstenções (21,5%), os votos nulos (4,4%) e os votos em branco (2,3%). Isso evidencia um certo esgotamento da polarização entre PT e PSDB. Uma boa parte do eleitorado decidiu demonstrar que não se identifica com nenhum desses partidos ou com os candidatos que os representaram. É uma sinalização importante de um "vazio político" a ser preenchido. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">O PSDB, mesmo derrotado nas eleições presidenciais, elegeu o maior número de governadores, vencendo em 8 estados, incluindo os dois maiores colégios eleitorais do país: SP, MG, PR, GO, TO, PA, RR e AL. Isso representou 45% do total de votos para governador. Considerando os dois governadores eleitos pelo DEM - SC e RN - é possível afirmar que as oposições terão força suficiente para manter um certo equilíbrio de poder. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">O PSB surge como a principal força emergente. Elegeu 6 governadores: ES, PE, CE, PB, PI e AP. Estará apto a pressionar por uma maior participação no Governo Dilma e a fazer movimentações no sentido de sair da condição de coadjuvante do PT. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">O PT elegeu 5 governadores: RS, BA, DF, SE e AC. Mesmo resultado obtido pelo PMDB: RJ, MT, MS, RO e MA. Reforça a situação de equilíbrio entre os dois partidos que ancoram a base do Governo Dilma e alimenta a disputa entre ambos por espaços de poder. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">O PMN completa a base governista com o governador do AM. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">Minha primeira impressão é de que o Governo Dilma iniciará sob forte pressão. Dilma não tem uma liderança consolidada. É uma invenção de Lula. Terá o ônus de substituir um mito e de dar continuidade a um governo com índices muito elevados de popularidade. Precisará se impor frente ao PT, ao PMDB, ao PSB e demais partidos aliados. Precisará evitar uma disputa interna que leve a uma situação de instabilidade política. Além disso, receberá o país numa situação econômica mais vulnerável. E terá oposição! </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">A oposição cresceu, ficou mais forte e absorveu o aprendizado de que precisa ser mais atuante, mais firme, mais contundente. Não terá em relação a Dilma a reverência que teve em relação a Lula. A segunda derrota de Serra na disputa presidencial e seu isolamento, durante a campanha, na relação com os aliados, implicou no seu enfraquecimento imediato. Mas Serra deu sinais de que pretende se manter na cena política. Portanto, considerando o hegemonismo paulista que caracteriza o PSDB, não é certa a emergência de Aécio Neves como a principal liderança da oposição. Mesmo porque seu perfil conciliador não seria o mais adequado para uma oposição que precisa afirmar sua identidade. Ainda assim, Aécio reúne as condições mais favoráveis, no momento, para liderar a oposição. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">Há muitas especulações sobre uma eventual Reforma Política. Lula tem dito que deseja trabalhar pela constituição de uma Frente que reúna PT, PSB, PDT e PCdoB, além de outros aliados mais recentes. Na oposição, PSDB, DEM e PPS estão sempre cogitando uma eventual fusão. Caso seja aberta uma "janela de oportunidade" em relação às regras atuais de fidelidade partidária, poderá haver muita troca de partido. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">É prudente aguardar as movimentações para composição dos futuros governos, que poderão implicar em alterações no cenário de alianças partidárias. Veremos. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">Juarez de Paula</div>Juarez de Paulahttp://www.blogger.com/profile/03291823647435428961noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7671874663399946672.post-15409907274975606072010-11-01T09:00:00.001-02:002010-11-04T09:14:38.983-02:00Artigo de Marina Silva<strong><span style="font-size: large;">Velado e revelado</span></strong><br />
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<div style="text-align: justify;">Ao longo de mais de 30 anos construiu-se no Brasil um campo de conhecimento e de ação que, nestas eleições, furou a última carcaça que ainda o mantinha longe do nível mais decisório da vida do país: a política. Com um rico acúmulo de produção teórica, experiências práticas, conquistas legislativas, institucionais e culturais, as propostas socioambientais para um modelo de desenvolvimento que dialogue com o século 21 começam a ser reconhecidas como um projeto nacional, abrindo uma brecha para a formação de nova força política. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Esse é o horizonte. Para consolidá-lo temos longa batalha pela frente, mas o passo essencial está dado. O projeto socioambiental não quer frear a economia nem empatar o crescimento. Quer tão somente fazer o encontro entre economia, ecologia, justiça social e desenvolvimento durável. É preciso amalgamar, juntar as pontas, dar escala e visibilidade ao que já está disperso na realidade, comparar com o modelo ainda dominante, transformar em alternativa real de escolha política. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O caminho está aberto, e muita gente, quase 20 milhões de pessoas, se interessou por ele. Pela primeira vez um projeto identificado com uma visão de transição de grande impacto consegue saltar do quase total desconhecimento para um adensamento eleitoral tão relevante. É uma base excepcional para pensar a construção de uma terceira via, para não só quebrar a polarização conservadora hoje representada pelo confronto PT X PSDB, como para motivar novos contingentes de brasileiros a assumir uma prática política ativa e nova, mais integradora, não destrutiva e menos obcecada por hegemonia. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">A experiência de uma campanha desse porte extravasou minha capacidade de apreendê-la em toda sua riqueza, nesse momento. Vi-me entre um Brasil revelado – e que quer se revelar - e um Brasil velado, que quer se esconder na velha política das coisas meio vistas, meio ditas, meio comprometidas, meio esfumaçadas, inteiramente ultrapassadas. No cotejo entre ambos, fica patente o enorme equívoco do Brasil velado. Não percebe a intensa predisposição dos brasileiros a ouvir opiniões sinceras, que valorizam mesmo quando não concordam com elas. Preferem que a disputa se faça pela exposição do pensamento, das propostas e das práticas, não por meio de técnicas de mútua desconstrução, da qual ninguém sai maior. Nem atacante nem atacado, nem a ética nem a política. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Uma revelação honesta vale mais que a resposta ensaiada. Senti isso de maneira enfática na juventude. Em Varginha, Minas Gerais, uma escola inteira pressionou os professores para ir até o auditório da cidade ouvir minha fala. Em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, um grupo de jovens fez por sua própria conta cartazes improvisados de cartolina para aguardar nossa passagem. Essas manifestações movidas a pura vontade me deixam certa de que há uma terceira via política, vigorosa e inovadora, pedindo passagem. Para quem, como eu, disse que queria ser mantenedora de utopias, não poderia haver maior realização.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ao mesmo tempo, constatei a força dos costumes que empurra muita gente a cobrar dos candidatos o ataque na jugular do oponente, o fazer dos defeitos alheios o seu trampolim. Ao me recusar a isso, parecia a muitos, num primeiro momento, que não estava sendo suficientemente contundente. Parte da imprensa vai muito por essa linha. O que surpreendeu a esses é que a nossa opção teve grande acolhimento. Há, de fato, espaço para tratar de problemas no seu mérito e na qualidade das soluções propostas. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Essas eleições merecem leituras criteriosas e profundas, não meras justificativas partidárias. É preciso reconhecer a exaustão do sistema político e a crise no campo social-democrata que acabou servindo, tanto do lado do PT quanto do PSDB, de biombo para a sobrevida política de velhas oligarquias. A campanha do Partido Verde causou perplexidade porque saiu do roteiro previsível e se legitimou de tal forma que exigiu respostas e sinalizações das demais campanhas. Que isso não seja considerado mero acidente de percurso, que não se pense que é modismo, porque não é. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Agora, o desafio do PV, do campo socioambiental e de todos aqueles que sentiram esperança numa mudança política, é colocá-la de pé. O desafio dos vencedores ou dos que ficarão na oposição é dialogar com a realidade e a complexidade do mundo e do Brasil de hoje, saindo do casulo de suas estratégias de poder reducionistas. Tenho certeza de que todos os eleitores esperam por isso, independentemente de suas paixões partidárias. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Como disse na Carta Aberta enviada a Dilma Roussef e José Serra, “não há mais como fechar os olhos ou dar respostas tímidas e insuficientes às crises que convergem para a necessidade de adaptar o mundo à realidade inexorável ditada pelas mudanças climáticas”. E repito aqui: o principal desafio não é a natureza, é a urgência de encararmos os limites dos nossos modelos de vida e de darmos um salto civilizatório, de valores. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">A sociedade, afirmei na Carta Aberta, está entendendo cada vez mais o papel dessa mudança para o país, a humanidade e o Planeta. Os votos que me foram dados podem não refletir conceitualmente essa consciência, mas refletem o sentimento de superação de um modelo. E revelam também a intuição de que o grande nó está na política, porque é nela que se decide a vida coletiva, se consolidam valores ou a falta deles. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Essas eleições nos mostraram uma oportunidade única de inflexão. Será extremamente injusto com o Brasil não aproveitá-la.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Marina Silva, 52, é senadora do Acre pelo PV, foi candidata do partido à Presidência da República nestas eleições e ministra do Meio Ambiente do governo Lula (2003-2008).</div><br />
O Estado de São Paulo, 01/11/2010Juarez de Paulahttp://www.blogger.com/profile/03291823647435428961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7671874663399946672.post-17865961446853914102010-10-07T18:19:00.000-03:002010-10-07T18:19:05.447-03:00Artigo de Antonio Augusto de Queiroz<strong><span style="font-size: large;">Quem são e para onde irão os eleitores de Marina Silva?</span></strong><br />
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<div style="text-align: justify;">A resposta a esta pergunta será dada pelas pesquisas qualitativas que estão sendo feitas pelos institutos de pesquisa e pelas urnas no dia 31 de outubro, mas já é possível antecipar algumas constatações desse processo eleitoral, que está em fase de decantação. Minha hipótese é de que o peso político de Marina Silva é menor do que os votos que recebeu e que seu partido, o PV, é menor e menos verde que ela.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">A senadora Marina Silva foi apresentada pela intelectualidade e pela mídia como a candidata ideal: mulher, religiosa, de origem humilde, comprometida socialmente, defensora do meio ambiente, honesta e sem o suposto radicalismo do PT nem o conservadorismo do PSDB. Seria a terceira via, embora não dispusesse de grande estrutura partidária, tempo de televisão e recursos para uma campanha presidencial.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Com esse perfil, Marina recebeu votos de um eleitorado difuso, que pode se classificado em quatro grupos: a) o da fadiga, b) o flutuante, c) o da revanche ou do troco, e d) o convicto.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O primeiro grupo, da fadiga, é composto por eleitores que não estão satisfeitos com o PT nem têm saudades do PSDB. Esse grupo descarregou seus votos na Marina menos por convicção e mais por considerá-la uma candidata simpática, honesta, boazinha, que poderia, eventualmente, se converter numa terceira via. Foi falta de opção.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O segundo grupo, o flutuante, foi determinante para levar a eleição para o 2º turno. É composto de eleitores pendulares, que não queriam José Serra, estiveram indecisos um período, declararam votos para Dilma, mas próximo da eleição desistiram e votaram em Marina.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Esse grupo é muito heterogêneo. É formado por eleitores que não gostaram dos escândalos no Governo (quebra de sigilo e episódio da Casa Civil) e também se deixaram influenciar pelos boatos de que a candidata Dilma era a favor do aborto, da união civil de pessoas do mesmo sexo e que teria declarado que “nem Cristo" tiraria sua eleição em primeiro turno.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Especula-se que neste grupo, formado majoritariamente por potencias eleitores de Dilma, inclui-se até gente de partidos da base aliada, que, certo da vitoria da candidata governista, teria (por ação ou omissão) consentido levar a eleição para o 2º turno como forma de reduzir o poder do PT e forçar uma negociação política em novas bases, inclusive com o fortalecimento dessas forças na coordenação de campanha.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O terceiro grupo, o da revanche ou do troco, é formado por pessoas que antes votavam no PT, mas que se sentiram traídas ou chateadas com determinadas políticas públicas ou com a postura das autoridades.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Esse grupo inclui, por exemplo, os aposentados do serviço público que tiveram que pagar contribuição previdenciária, os pensionistas que tiveram redução na pensão, os servidores que não tiveram reajuste, além de pessoas que resolveram punir o PT por suposta arrogância no Governo.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O quarto grupo, o da convicção, é formado pelos eleitores que tem certeza do voto, ou seja, acham que Marina é mais preparada para governar e possui o melhor programa. É um grupo heterogêneo, formado majoritariamente por intelectuais, jovens, por pessoas de classe média alta e também por gente humilde. Seu universo, entretanto, não passa de 5% do eleitorado brasileiro ou um terço dos votos da Marina.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Entre os postulantes à presidência da República, Marina foi poupada pelos dois principias candidatos, José Serra e Dilma Rousseff, ambos interessados em seus votos, na hipótese, que afinal se confirmou, de 2º turno.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ninguém poderá afirmar, com certeza, para quem irão esses votos, se para Dilma ou Serra, ou, se ainda, serão anulados. O mais provável é que estes votos sejam distribuídos igualmente entre Dilma, Serra e abstenção ou nulos. Neste caso, se Dilma mantiver os votos do primeiro turno e acrescentar mais um terço dos votos dados a Marina terá sua eleição assegurada. É essa a minha aposta.</div><br />
<div style="text-align: justify;"><strong>Antônio Augusto de Queiroz</strong> é jornalista, analista político, diretor de Documentação do Diap e autor dos livros “Por dentro do processo decisório – como se fazem as leis” e “Por dentro do Governo – como funciona a máquina pública”.</div>Juarez de Paulahttp://www.blogger.com/profile/03291823647435428961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7671874663399946672.post-11904735620533144662010-10-06T18:22:00.000-03:002010-10-06T18:22:20.495-03:00Artigo de Rafael Peixoto<strong><span style="font-size: large;">Porque Marina deve ser neutra </span></strong><br />
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<div style="text-align: justify;">O primeiro turno passou, e saímos dele com vinte milhões de votos. São vinte milhões de brasileiros que fizeram de Marina Silva a sua porta-voz. E notem a mudança estrutural vivida: o voto em Marina não foi um voto de protesto, como quem vota no Tiririca ou na Mulher Pêra. Antes, foi uma opção clara e consciente por um projeto de governo. Um projeto compartilhado por pessoas que não se furtam a assumir suas responsabilidades para com suas famílias, suas comunidades, seu País, seu mundo. Que desejam um Brasil inserido entre os países desenvolvidos, porém com respeito às diferenças. E que admiram a coerência entre discurso e ação, a praxis que tangibiliza valores e ideais.</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Há uma história vívida de luta pela democracia no Brasil. A geração dos meus pais enterrou milhares dos seus melhores jovens nas trincheiras da guerra suja contra a Ditadura. Lutaram com panfletos, sensibilidade e discurso. Quando não funcionou, alguns pegaram parabelo e peixeira. Já no fim, aparentemente derrotados pela supremacia feia das armas, lutaram com a resiliência das salas de aula, criando mentes para fazer a hora, e não mais esperar acontecer. São pessoas que choraram nas Diretas Já e que abraçaram seus filhos e pais quando veio a Anistia. São pessoas que, após a falência da metalidade yuppie de toda uma geração, criaram seus filhos valorizando as diferenças, admirando a contestação embasada na solidariedade, na justiça social e no respeito ao meio ambiente. São, em resumo, pessoas calejadas que valoriozam a democracia sobretudo, independentemente de coloração. Basta lembrar que na mesma trincheira tínhamos Serra, Gabeira, José Dirceu e Dilma. No outro pólo, numa linha desarmada, porém não menos relevante, tínhamos Lula. E num rincão do Brasil tínhamos Marina e Chico Mendes, o exemplo brazuca das lições de Gandhi e sua resistência pacífica, buscando justiça na mata sem lei da Amazônia. A geração dos meus pais lutou pela democracia. E os vinte milhões de votos de Marina são o melhor exemplo da maturidade democrática do Brasil. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">E estou aqui para falar também dos seus filhos, as gerações X e Y, pra manter uma terminologia modernosa. Nós – sou um X tardio ou um Y precoce, vocês escolhem – somos diferentes. Em primeiro lugar, falar de contestação conosco é mais do mesmo. Nós tivemos pais tolerantes e descolados, até pedimos conselhos a eles o tempo todo, nada dessa linha doida de rebeldia inconsequente. Nós valorizamos o livre discurso, tão consolidado na democracia libertária e anônima da Internet. Nós nos sabemos brasileiros, parte de um País que já viveu seus momentos mais medonhos e tristes, mas que se ergueu com o “vamos fazer juntos”. Não temos o ranço triste e lúgubre da luta contra a Ditadura, porque nossos pais já sofreram o suficiente, e stamos cansados de lágrimas. Somos habitantes do mundo wiki, do universo colaborativo, da Terra como uma grande nação. Nossos pais nos deram segurança, então somos pessoas bem resolvidas, de opiniões fortes, para quem a autoridade instituída é apenas mais um trabalho. Duvido ver um jovem chamando um presidente de Senhor, só se for obrigado.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Nossa relação de hierarquia reside na admiração. E nossa admiração reside no coletivo, na livre circulação de ideias. Somos jovens, alguns, como eu, já na casa dos 30, outros nos 20, e alguns adolescentes que em quatro anos vão chegar às urnas. O Brasil é um país jovem. E nós não somos burros.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Por isso escolhemos Marina.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Nós sabemos que um projeto de poder não deve e n ão pode ser mantido a qualquer custo. E defendemos Marina Silva porque sua vida corrobora esta máxima. Ao discordar de Dilma Roussef e do Governo Lula, Marina rompeu um casamento de décadas com o PT. Sua aparente fragilidade oculta um gigante, cuja força, sensibilidade, senso de justiça e coerência foram calcificados em uma vida de seringais, de protesto contra a servidão e o latifúndio, de força de vontade e, sobretudo, de afeto. Afeto pelo brasileiro, seja ele pobre ou rico. Afeto pela sua família, suas crenças, seus ideais. Afeto pelo Brasil, esta nossa terra que vaga na dicotomia entre belezas naturais e bizarrices socioeconômicas. Se recebiam Marina à bala, ela respondia com palavras e atitudes, uma mulher que sabe o poder das construções semânticas, a força do verbo contra o poder da faca, a força das massas contra o poder individual, exatamente como os pensadores da nossa geração. Nós conhecemos o poder acachapante da resistência pacífica e das torres vetustas das palavras. Aí está porque votamos em Marina. E nós não confiamos levianamente.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Nós somos vinte milhões de brasileiros. E não vamos admitir que Marina apoie quaisquer dos candidatos à presidência no segundo turno sem uma consulta aos seus eleitores. Esta não pode ser uma decisão exclusiva da cúpula do PV.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Vejam, nós buscamos um novo caminho. Sabemos que às vezes um projeto de poder exige sacrifícios, e que faríamos muito pelo Brasil com dois, talvez três ministérios em nossas mãos. Mas não são estes os projetos de País que defendemos. Não queremos o niilismo econômico e social da espúria aliança entrre PSDB e Democratas. Tampouco nos agrada o milagre econômico – quando ouvimos isso antes? – com verniz stalinista sinalizado por PT e PMDB, ainda que admitamos as óbvias b enesses que o Governo Lula trouxe para o Brasil. Quem votou em Marina não é tão ingênuo. Não aceitaremos uma heroína com pés de barro.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Tenho orgulho de ser uma pessoa esclarecida, inteligente e sobretudo pragmática. Em política, sei-me sempre obstinado na defesa de minha particularíssima visão de mundo, protegendo o cimento ideológico que me mantém coeso. Meu pragmatismo – homem de comunicação que sou – pede uma aliança. Não preciso prender-me a análises de cenário, qualquer cientista político já elencou vantagens e desvantagens das polarizações do PV e da Marina entre os dois jogadores do segundo turno. Acredito que cada eleitor de Marina tem igual capacidade de analisar os retornos práticos de uma aliança com Dilma ou Serra.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Mas subitamente vejo-me jogando fora meu pragmatismo, meu racio nalismo. Porque meu voto em Marina não foi apenas racional. Foi antes de tudo um voto de esperança num Brasil menos pragmático e mais sensível. Num governo que analise estrategicamente as mais relevantes questões nacionais, com a coragem de sugerir soluções impensadas e por vezes aparentemente irracionais, mas que em vinte anos mostrar-se-ão as mais acertadas. Visão de futuro é um misto de racionalidade e sentimento. Meu governo ideal é um governo com visão de futuro. E a visão de Dilma e Serra é um futuro do pretérito, um futuro reativo e careta, limitado pela racionalidade mecanicista e parcial de pessoas presas a um passado maniqueísta. E o mais incrível, duvido que qualquer um deles tenha sofrido mais do que Marina, lá nos seringais do Acre. É preciso coragem para deixar de lado o rancor de uma vida inteira de privações. Marina teve esta coragem, enquanto Serra e Dilma chafurdam em sua covardia, brandindo seu poderio autoritário como se fossem os su cessores daqueles com quem lutaram. Serra difamou Dilma e planejou estratégias para o segundo turno no velório do pai do Aécio Neves. Dilma tentou calar a imprensa e abafar o absurdo tráfico de influências em todas as esferas dos três poderes. É um jogo sujo. Uma mulher como Marina não pode apoiar pessoas assim.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">É por isso que sou pela neutralidade em cenário nacional. E há outros porquês.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Porque daqui a quatro anos teremos uma candidata mais que viável à presidência. Porque Marina representa um ideal jovem e moderno, que eclode a visão careta de um mundo de velhas oligarquias e da luta marxista de classe (nem a China é comunista mais, gente!). Porque Marina sempre foi contra o Governo FHC e seus desmandos, e sabemos que José Serra é um FHC com um vocabulário menos rebuscado. Porque Marina abandono u um ministério por não acreditar que se deva construir uma usina no meio da Amazônia sem a devida avaliação de seu impacto ambiental. Porque Marina foi suficientemente elegante para não usar seu imenso poder contra o autoritarismo grotesco de Dilma. Porque Marina é diferente, e qualquer opção outra que não a neutralidade será interpretada como um fisiologismo barato e politiqueiro, que não condiz com a vida desta mulher que é um exemplo do que o Brasil tem de melhor.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">E porque uma aliança, seja com Serra ou com Dilma, vai decepcionar-me profundamente.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Sabem, Marina tem cara de carro elétrico, de energia eólica, de rede social, de SWU, de médico da família, de dar o peixe sim, mas ensinar a pescar logo depois. Marina tem a cara da wikipedia, da long tail, de APL, do consumo responsável, de preferir um colar de coco a uma joia da H Stern. Marina tem a minha cara, e a dos meus filhos, que são crianças hoje, mas que daqui a oito anos já poderão votar. Marina tem a cara dos meus pais, que mesmo tendo passado pela Ditadura conseguiram manter bom humor e alegria de viver. Marina tem a cara do jovem que olha para um adulto mandão e diz “hã?”, porque Marina nunca é mandona, ela ouve você, absorve suas ideias e depois lidera um mundo com elas. Marina tem a cara dos chinelos havaianas, de político que não usa terno, porque um palhaço pode usar terno, mas ninguém copia as atitudes de um político de verdade. E Marina é verde. Da cor do Brasil. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Sei que o estatuto do PV permite que decisões de cúpula sejam tomadas à revelia das bases. Mas entendo que há um processo democrático a ser cumprido junto à sociedade, junto aos eleitores de Marina Silva. Acima do PV há vinte mi lhões de eleitores – pessoas da sociedade civil, artistas, intelectuais. Há o Movimento Marina Silva, surgido antes ainda de sua candidatura à Presidência. E há a figura pública de Marina Silva, a gestalt que faz dela um exemplo nacional, uma esperança, um sopro de renovação nesta política tão vilipendiada pela interferência nefasta do Executivo sobre os outros dois poderes. Meu apelo aqui dirige-se àqueles que como eu votaram em Marina Silva, uma Senadora de registro impecável, ex-Ministra, uma figura que esteve no cerne das discussões mais relevantes do País. Dirijo minhas palavras ainda à mulher Marina, doce Marina, talhada na dureza da selva, na doença, na sabedoria adquirida em uma vida de escolhas nobres e muitas vezes difíceis. Nós temos uma líder para o futuro. Não podemos enterrá-la sob os escombros de uma política falida que defende interesses de curto prazo. O Brasil merece mais. Nós merecemos mais. Marina merece mais.</div><br />
Rafael de Freitas PeixotoJuarez de Paulahttp://www.blogger.com/profile/03291823647435428961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7671874663399946672.post-45153312378366353682010-10-06T14:56:00.000-03:002010-10-06T14:56:42.086-03:00Artigo de Alfredo Sirkis<strong><span style="font-size: large;">Marina no segundo turno</span></strong><br />
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<strong>Marina torna-se instrumento para a elevação de um debate que tende a virar briga de torcida organizada, na busca da vitória a qualquer preço </strong><br />
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<div style="text-align: justify;">É de praxe na política brasileira que os candidatos derrotados no primeiro turno operem rápida adesão a um dos remanescentes em gabinetes fechados, almoços ou telefonemas em que são barganhados ministérios, fatias de Orçamento, secretarias, diretorias, superintendências e cargos comissionados.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">No jargão corrente, são os tais "espaços políticos". Esse não será o caminho dos verdes. Nossa primeira responsabilidade agora é fazer jus aos 20 milhões de votos (quase 20%) obtidos por Marina Silva.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Fique claro: não são votos verdes e nem mesmo Marina pretende que sejam "seus". Conforme ela própria vem colocando insistentemente, são votos dos eleitores.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">De qualquer maneira, pairam sobre nós como uma enorme responsabilidade. Exigem que deles sejamos dignos. Não foram tanto votos "de protesto", mas, sim, de diferenciação e de esperança.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Votaram em Marina a classe média iluminista, os jovens e as mulheres pobres, em grande parte cristãs. O voto verde veio incluído nos dois primeiros segmentos. O terceiro representa um poderoso vínculo de identificação pessoal com Marina. Um laço de amor.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O segundo turno, de fato, exige uma definição. Dilma, Serra ou o não envolvimento eleitoral. Isso será deliberado em aproximadamente 15 dias, por convenção nacional do Partido Verde, prevista desde o ano passado, na qual se garantirá à posição minoritária o direito de se expressar individualmente.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Nossa responsabilidade imediata é criar canais de participação para os que atuaram intensamente na campanha, mas que não pertencem aos verdes (grupos de programa, Movimento Marina Silva e apoios religiosos), e, sobretudo, condensar um programa mínimo a ser apresentado e discutido de forma séria, transparente e responsável com Dilma e Serra.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Vamos colocar a sustentabilidade socioambiental no cardápio das discussões com ambos, empedernidos desenvolvimentistas clássicos.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Mas abordaremos também outros aspectos: garantias de conduta republicana e respeito às instituições (traduzidas em providências práticas), educação, segurança, saúde etc. Será abordagem realista.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Sem faca no pescoço, com direito a discussão aprofundada, checagem de números e fatos. Mas que poderá demandar eventuais mudanças de rota e colidir com outros compromissos por eles já assumidos. Marina, no segundo turno, torna-se uma referência para os questionamentos da sociedade e um instrumento para a elevação de um debate que tende a virar briga de torcida organizada, na busca da vitória a qualquer preço.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Queremos ajudá-los a evitar esse destino. Até porque Marina disse que, caso vencesse, tentaria realinhamento histórico que juntasse o melhor desses dois partidos social-democratas, que disputam entre si a "liderança do atraso".</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O Brasil não pode deixar de discutir como direcionar seus investimentos públicos e seu sistema tributário para a sustentabilidade.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Precisa discutir também o que seria uma nova economia "verde", de baixo carbono; as ameaças à legislação ambiental; como a esfera federal poderia contribuir melhor para a segurança nos Estados; e como os terríveis gargalos na educação podem ser vencidos.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Deve ser discutido como o saneamento básico e a prevenção de acidentes podem reduzir dramaticamente a pressão sobre nosso sistema público de saúde; como podemos robustecer as boas práticas republicanas e as garantias individuais dos cidadãos; e como, enfim, reformar um sistema político gravemente enfermo.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">A ausência de Marina no segundo turno, por força da decisão soberana dos eleitores, transforma-se, assim, em uma presença ética e programática.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">ALFREDO SIRKIS, 59, deputado federal eleito pelo Partido Verde (RJ), é vereador pelo mesmo partido no Rio de Janeiro, presidente do PV do Rio e vice-presidente nacional do partido. É autor, entre outras obras, de "Os Carbonários".</div><br />
Folha de São Paulo, 06/10/2010Juarez de Paulahttp://www.blogger.com/profile/03291823647435428961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7671874663399946672.post-41997979703634164182010-10-06T11:04:00.000-03:002010-10-06T11:04:02.748-03:00Artigo de Maurício Abdalla<strong><span style="font-size: large;">Marina,... você se pintou? </span></strong><br />
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<div style="text-align: justify;">Marina, morena Marina, você se pintou diz a canção de Caymmi. Mas é provável, Marina, que pintaram você. Era a candidata ideal: mulher, militante, ecológica e socialmente comprometida com o grito da Terra e o grito dos pobres, como diz Leonardo. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Dizem que escolheu o partido errado. Pode ser. Mas, por outro lado, o que é certo neste confuso tempo de partidos gelatinosos, de alianças surreais e de pragmatismo hiperbólico? Quem pode atirar a primeira pedra no que diz respeito a escolhas partidárias? </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Mas ainda assim, Marina, sua candidatura estava fadada a não decolar. Não pela causa que defende, não pela grandeza de sua figura. Mas pelo fato de que as verdadeiras causas que afetam a população do Brasil não interessam aos financiadores de campanha, às elites e aos seus meios de comunicação. A batalha não era para ser sua. Era de Dilma contra Serra. Do governo Lula contra o governo do PSDB/DEM. Assim decidiram as famiglias que controlam a informação no país. E elas não só decidiram quem iria duelar, mas também quiseram definir o vencedor. O Estadão dixit: Serra deve ser eleito. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Mas a estratégia de reconduzir ao poder a velha aliança PSDB/DEM estava fazendo água. O povo insistia em confirmar não a sua preferência por Dilma, mas seu apreço pelo Lula. O que, é claro, se revertia em intenção de voto em sua candidata. Mas os filhos das trevas são mais espertos do que os filhos da luz. Sacaram da manga um ás escondido. Usar a Marina como trampolim para levar o tucano para o segundo turno e ganhar tempo para a guerra suja. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Marina, você, cujo coração é vermelho e verde, foi pintada de azul. Azul tucano. Deram-lhe o espaço que sua causa nunca teve, que sua luta junto aos seringueiros e contra as elites rurais jamais alcançaria nos grandes meios de comunicação. A Globo nunca esteve ao seu lado. A Veja, a FSP, o Estadão jamais se preocuparam com a ecologia profunda. Eles sempre foram, e ainda são, seus e nossos inimigos viscerais. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Mas a estratégia deu certo. Serra foi para o segundo turno, e a mídia não cansa de propagar a vitória da Marina. Não aceite esse presente de grego. Hão de descartá-la assim que você falar qual é exatamente a sua luta e contra quem ela se dirige. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Marina, você faça tudo, mas faça o favor: não deixe que a pintem de azul tucano. Sua história não permite isso. E não deixe que seus eleitores se iludam acreditando que você está mais perto de Serra do que de Dilma. Que não pensem que sua luta pode torná-la neutra ou que pensem que para você tanto faz. Que os percalços e dificuldades que você teve no Governo Lula não a façam esquecer os 8 anos de FHC e os 500 anos de domínio absoluto da Casagrande no país cuja maioria vive na senzala. Não deixe que pintem esse rosto que o povo gosta, que gosta e é só dele. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Dilma, admitamos, não é a candidata de nossos sonhos. Mas Serra o é de nossos mais terríveis pesadelos. Ajude-nos a enfrentá-lo. Você não precisa dos paparicos da elite brasileira e de seus meios de comunicação. Marina, você já é bonita com o que Deus lhe deu. </div><br />
Maurício Abdalla<br />
Professor de filosofia da UFESJuarez de Paulahttp://www.blogger.com/profile/03291823647435428961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7671874663399946672.post-23969455928144442262010-10-05T10:01:00.001-03:002010-10-05T10:04:15.817-03:00Artigo de Aldo Fornazieri<strong><span style="font-size: large;">Uma dura lição para o PT</span></strong><br />
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<div style="text-align: justify;">Como o processo eleitoral ainda não terminou, o resultado do primeiro turno permite afirmar que o PT saiu dele com uma derrota relativa: não alcançou seu principal objetivo, que era o de eleger Dilma Rousseff sem a necessidade de um segundo turno. De quebra, a oposição saiu fortalecida nas disputas estaduais, com quatro governadores eleitos pelo PSDB e dois pelo DEM. O PSDB manteve os seus dois principais baluartes: São Paulo e Minas Gerais; e o DEM não foi extirpado da política brasileira. A conquista do Paraná foi contrabalançada pela perda do Rio Grande do Sul.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O novo fracasso do PT nos dois principais colégios eleitorais do País revela duas coisas: em Minas houve um enorme erro de estratégia com o não lançamento de uma candidatura própria. Em São Paulo o PT precisa mudar de rumos e apostar em novas lideranças. Com a vitória de Tarso Genro no primeiro turno, o eixo de poder no PT passa por fora do Sudeste.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O resultado final em 18 Estados, com 4 governadores do PMDB, 4 do PT, 3 do PSB e um do PMN, mostra um quadro de equilíbrio entre governo e oposição, o que é salutar para a democracia, já que impede um hegemonismo desequilibrador de uma sigla. A oposição fugiu do apocalipse que se anunciava, é verdade. Mas terá de se reconstruir, pois PSDB e DEM são partidos fragmentos, sem base social e sem eixos programáticos claros, capazes de lhes conferir identidade e sentido.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Marina Silva foi a grande vencedora do primeiro turno. Ganha força para negociar uma agenda com um dos candidatos - Dilma ou José Serra. Um purismo olímpico de Marina neste momento representaria um não dar consequência à sua expressiva votação.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Serra vai para o segundo turno não por méritos próprios, mas graças ao desempenho de Marina. O que ele ganhou é uma oportunidade de se reabilitar, de reconstruir sua credibilidade, de apresentar uma agenda para o Brasil, pois a sua campanha no primeiro turno foi sofrível, errática e sem foco. O segundo turno, de qualquer forma, recoloca em cena aquilo que se previa no início do processo eleitoral: uma campanha dura e polarizada entre Dilma e Serra. Naquele momento se esperava até mesmo que Serra pudesse chegar à frente de Dilma no primeiro turno.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Dilma fez uma campanha centrada nas realizações do governo, mas também deficitária em termos de agenda futura. O que mais pesou para o seu recuo na reta final, e a ascensão de Marina, foram a tradicional arrogância petista, ancorada numa sede desmedida de poder, e a insistência em não aprender com os erros do passado. Três erros graves da campanha governista determinaram o segundo turno.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O primeiro erro foi o escândalo envolvendo Erenice Guerra. Alegar desconhecimento do tráfico de influência na Casa Civil é absolutamente insustentável, pois o governo dispõe da Abin, da Política Federal e de outros órgãos de controle interno para saber o que se passa no alto escalão governamental e no seu entorno. O que o episódio Erenice demonstra é que o PT e o governo abandonaram os cuidados necessários com o tema da moralidade pública, acreditando que o poder é uma espécie de salvo-conduto para práticas antirrepublicanas. Na verdade, desde que chegou ao poder, o PT foi enfraquecendo sua vértebra republicana, caminhando para a vala comum dos outros partidos nesse quesito. Não é raro ouvir de militantes petistas a tese de que sem essas práticas não se governa. O que a evidência tem demonstrado é que a assimilação dessas teses e dessas práticas representa muito mais risco do que benefício político, além de uma descaracterização em termos de valores republicanos.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O segundo erro, na reta final da campanha, consistiu em morder a isca, pisar na casca de banana jogada pelos adversários. Os petistas - presidente Lula à frente - passaram a atacar a imprensa, abrindo o flanco para que proliferassem acusações de antidemocratismo e para que se publicassem manifestos em defesa da liberdade de expressão, reanimando o medo que é tônica nas campanhas desde 1989, quando Lula chegou perto da vitória. O próprio presidente parece ter-se esquecido de que o que ganha votos são mensagens positivas, simplicidade e um estilo "Lulinha paz e amor".</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O terceiro erro foi em torno do polêmico tema do aborto. Inicialmente, documentos do PT o declararam a favor do aborto. Dilma manteve uma posição ambígua sobre o assunto até que, na véspera das eleições, no contexto de perda de votos por causa das dúvidas sobre sua posição, ela se manifestou contra o aborto. Mas já era tarde. Aqui também há uma falta de aprendizado com a História. Temas morais, altamente sensíveis para a maioria das pessoas comuns, merecem todo o cuidado no trato dispensado por candidatos majoritários. Um presidente da República deve ser o símbolo da unidade da Nação. Os temas morais polêmicos devem ficar no âmbito do Legislativo.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Dilma e Serra precisam extrair uma bela lição da campanha de Marina. Não são apenas cimento, ferro, estradas e obras que rendem votos. O "eu fiz" ou "fiz mais" também não resolve tudo. Uma campanha para a Presidência precisa irradiar valores vinculantes, uma perspectiva de civilização. Os dois candidatos mais votados pouco falaram de valores.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Uma eleição presidencial é também uma promessa de futuro, uma visão de destino que a sociedade quer e precisa se dar. O futuro não se define apenas no factível em termos de obras, mas também na regulação social pelo metro dos valores. A política é um dos fatores sociais nos quais os indivíduos querem encontrar uma razão de vida. A política é a atividade que consegue configurar de forma mais abrangente um sentido de pertencimento a uma comunidade de destino. Uma disputa presidencial apartada de valores e de sentido civilizador perde a sua razão principal de ser.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">ALDO FORNAZIERI<br />
DIRETOR ACADÊMICO DA FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO (FESPSP) </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div>O Estado de São Paulo, 05/10/2010Juarez de Paulahttp://www.blogger.com/profile/03291823647435428961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7671874663399946672.post-22252748588913278742010-10-05T09:57:00.001-03:002010-10-05T10:03:01.878-03:00Artigo de Augusto de Franco<strong><span style="font-size: large;">A derrota política do lulo-petismo </span></strong><br />
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<strong>Marina contribuiu para separar o joio do trigo em uma base eleitoral que o governo acreditava cativa e abriu fenda no esquema neopopulista</strong><br />
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<div style="text-align: justify;">Contra fatos não há argumentos.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">E "o dado concreto" é que os brasileiros, em sua maioria, não apoiaram o terceiro mandato de Lula (por interposta pessoa).</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Os quase 47% dos votos de Dilma configuram uma derrota política, se considerarmos o fortíssimo empenho da máquina estatal a favor de sua candidatura e o engajamento exorbitante do presidente da República -como "nunca antes se viu neste país"- em prol da sua vitória no primeiro turno.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Com efeito, Lula abandonou a sua posição de magistrado para se engajar na guerra eleitoral da forma mais rasteira, transformando vítimas em culpados, levantando solertes suspeições, falsificando a opinião pública, investindo contra a liberdade de imprensa.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ele cometeu esse erro porque estufou com seus 80% de popularidade. Perigo! Em política, a hiperinflação do ego costuma vir acompanhada de pretensões despóticas. E o sujeito possuído pelo mito que criou sobre si mesmo acredita-se o único eleitor e acaba confundindo popularidade com legitimidade.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Em certa época, 99% dos albaneses achavam o governo do ditador Hoxha ótimo ou bom. Saddam, nos seus tempos de glória, alcançou 96% de aprovação dos iraquianos.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Fujimori, quando deu um golpe em 1992, dissolvendo o Congresso e intervindo no Judiciário, chegou a 80% de popularidade no Peru.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Na lista das duas dezenas de ditadores remanescentes, de Lukashenko (em Belarus) a José Eduardo (em Angola), de Kim Jong Il (na Coreia) a Gaddafi (na Líbia), dos irmãos Castro (em Cuba) a Mugabe (no Zimbábue) passando por al-Bashir (no Sudão), temos um verdadeiro festival de campeões de popularidade.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Todos esses autocratas, a despeito dos votos que teriam ou tiveram, eram e são ilegítimos. Lula deveria refletir sobre isso.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Mas, independentemente do resultado do segundo turno, uma derrota política mais profunda do lulo-petismo já começou.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Porque a degeneração da política que atingiu o coração do governo-partido aborreceu seu público mais íntegro e criativo. Quem tinha um pouco de honestidade e espírito inovador não via a hora de pular fora daquele antro.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Quando apareceu uma candidatura alternativa, como a de Marina, a porta se escancarou. Militantes, simpatizantes e eleitores que ainda votavam no petismo para não parecer retrógrados acorreram para a saída, aos milhões.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Marina contribuiu para separar o joio do trigo numa base eleitoral que o governo acreditava cativa.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Abriu uma fenda no esquema neopopulista, que só tende a se alargar. Lula e o PT ficaram com o joio.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Restaram-lhes, além das vítimas do clientelismo assistencialista e os mesmerizados pela sua retórica, os militantes mais deformados e os negocistas da política.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Tudo isso dependeu, em parte, do discurso inovador de Marina, mas, muito mais, da situação que objetivamente se configurou.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Mesmo que ela, Marina -tentada a se construir como liderança mítica substituta de Lula ou como chefe de uma espécie de "PT do bem"-, não recomende o voto em Serra no segundo turno (o que seria um erro), o estrago no lulo-petismo está feito.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">AUGUSTO DE FRANCO, 60, escritor, é autor, entre outras obras, de "Alfabetização Democrática". Foi conselheiro e membro do Comitê Executivo da Comunidade Solidária durante o governo FHC (1995-2002). Foi membro da direção nacional do Partido dos Trabalhadores de 1982 a 1993.</div><div style="text-align: justify;"><br />
Folha de São Paulo, 05/10/2010</div>Juarez de Paulahttp://www.blogger.com/profile/03291823647435428961noreply@blogger.com0