domingo, 20 de dezembro de 2009

Novas pesquisas eleitorais

Interpretando os números

O jornal O Estado de São Paulo divulgou, ontem, pesquisa realizada pelo Instituto Vox Populi, sob encomenda da Revista Isto É. Na pesquisa, José Serra (PSDB) aparece com 39% das intenções de voto, Dilma Rousseff (PT) com 18%, Ciro Gomes (PSB) com 17% e Marina Silva (PV) com 13%. A pesquisa apurou também que 69% dos eleitores avalia positivamente o Governo Lula.

Podemos dizer que esta pesquisa coloca Marina Silva numa condição bastante favorável. É importante considerar que Serra já foi candidato a presidente, é governador do estado mais importante do país e é apoiado por um grande partido. Dilma é ministra, tem o apoio de Lula e do PT, além de contar com todo o peso da "máquina governamental". Ciro é o deputado federal mais votado do país e já foi candidato a presidente duas vezes. Portanto, Marina é a pré-candidata menos conhecida, com menor visibilidade e com menor estrutura de apoio. Mesmo assim, está próxima de Dilma e Ciro. É uma demonstração de grande potencialidade eleitoral.

O jornal Folha de São Paulo divulgou, hoje, uma nova pesquisa do Instituto Datafolha. Na pesquisa, Serra aparece com 37%, Dilma com 23%, Ciro com 13% e Marina com 8%. Esta pesquisa mostra que as candidaturas de Ciro e Marina são fundamentais para assegurar um segundo turno, pois do contrário, Serra venceria ainda no primeiro turno. Isso evidencia que a estratégia de polarização da campanha entre PT e PSDB desejada pelo Governo Lula pode ser um erro. A pesquisa mostra também que a taxa de rejeição dos pré-candidatos é relativamente a mesma: Dilma tem 21%, Serra tem 19%, Ciro tem 18% e Marina tem 17%. O maior diferencial está na taxa de conhecimento dos pré-candidatos. Serra tem 93%, Ciro tem 89%, Dilma tem 80% e Marina tem apenas 51%. Isso significa que, com a menor rejeição e sendo a menos conhecida, Marina é a que tem maior potencial de crescimento.

Juarez de Paula

PV realiza Convenção Nacional

Sob nova direção

O Partido Verde realizou sua Convenção Nacional na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, ontem, 19 de dezembro de 2009. O plenário foi ocupado pelos dirigentes nacionais e as galerias estavam completamente lotadas por militantes do PV, de vários municípios do estado, numa positiva demonstração da capacidade de mobilização do partido. Os trabalhos foram abertos às 10h, por Maurício Brusadin, presidente do PV/SP, enquanto José Luiz Penna, presidente nacional do PV e Marina Silva, senadora do PV, davam uma entrevista coletiva.

A Fundação Verde Herbert Daniel apresentou seu portal web - http://www.fvhd.org.br/, onde está aberto o processo de revisão do Programa do PV e de discussão do Programa Brasil Sustentável, para a campanha eleitoral de 2010. Também foi apresentado o instrumento de doação financeira on line disponível no portal web do PV - http://www.pv.org.br/.

Assumindo a coordenação dos trabalhos, o presidente José Luiz Penna apresentou para aprovação os nomes de dez novos integrantes da Direção Nacional, indicados pela senadora Marina Silva: Luciano Zica, João Paulo Capobianco, Bazileu Alves, Roberto Kishinami, Rubens Gomes - Rubão, Adriana Ramos, Marcos Novaes, Eduardo Jorge, José Paulo Teixeira e Juarez de Paula. Foram aprovados por aclamação.

A senadora Marina Silva foi convidada a falar. No seu discurso, elogiou a ousadia do PV em cogitar o lançamento de uma candidatura própria para a Presidência da República e a urgência em incluir o tema do desenvolvimento sustentável na agenda do país. Fez uma detalhada análise da participação brasileira na COP-15, destacando o papel extremamente relevante das organizações não-governamentais. Criticou duramente a postura da delegação oficial do governo brasileiro, que considerou amadorística e eleitoreira. Registrou a enorme frustração da opinião pública internacional diante do fracasso das negociações e da ausência de acordos relevantes. Finalmente, agradeceu o entusiasmo com que tem sido acolhida pelos militantes do PV em todos os municípios do país onde tem participado de atividades políticas e concluiu dizendo que "do jeito que as pessoas me olham por todo o lugar onde ando, sinto que vai dar namoro."

Convidado a falar, o deputado federal Fernando Gabeira chamou a atenção para os grandes desafios da campanha eleitoral de 2010. Colocou a necessidade de seguirmos adiante com a agenda de conquistas que a sociedade brasileira vem construindo desde a redemocratização do país. Falou da relevância de outros temas, como a economia, a ética na política, a educação, a segurança pública, mas que todos deveriam estar subordinados a uma visão de desenvolvimento sustentável. Concluiu afirmando a enorme potencialidade representada por Marina Silva diante de outros pré-candidatos inventados pelo marketing eleitoral e a grande oportunidade para o crescimento do PV e da discussão sobre a sustentabilidade global.

Depois, o empresário Guilherme Leal fez uso da palavra. Iniciou dizendo que era a primeira vez que se filiava a um partido político, por não ter conseguido ficar indiferente ao convite da senadora Marina Silva. Falou de toda a sua vida dedicada a construir uma empresa comprometida com a ética e a sustentabilidade ambiental e do desafio de assumir uma tarefa política.

Encerrando os trabalhos, o presidente José Luiz Penna convocou a todos para saírem em passeata até o Monumento dos Bandeirantes, em frente ao Parque do Ibirapuera, concluindo a Convenção Nacional com um ato público. A imprensa estimou a presença de 1,5 mil participantes.

Juarez de Paula

Artigo de Marina Silva sobre a COP-15

O que foi feito de Copenhague


Enquanto escrevo este artigo, há movimentação na COP-15, a esperada convenção da ONU que deveria ter sido o grande momento histórico no consenso global para enfrentar as mudanças climáticas. É gravíssimo que não tenha sido. Pelos compromissos com força legal não acordados e, mais ainda, pela constatação de que as lideranças mundiais ainda não estão à altura do papel que as circunstâncias lhes delegaram. O que teve chances reais de ser decidido foi apenas delineado, empurrado para o futuro, talvez para a COP-16, no próximo ano, ou para além disso

O que li no Twitter da ONG brasileira Vitae Civilis dá a medida da perplexidade geral: “Nada que valha a pena tuitar: a COP-15 terminou com a saída à francesa dos líderes, das metas e do foco”. Como bem apontou o Correio Braziliense, nem a tradicional foto oficial dos chefes de Estado foi feita, o que simboliza o desconforto presente naquela que chegou a ser chamada de Hopenhague, em alusão à palavra esperança em inglês

A esperança sobrevive, mas agora se sabe que não há mágicas nem salvadores da pátria planetária. E que é preciso reconectar a política com a vontade das sociedades e com a substância dos fatos, das urgências, das decisões. O que se viu em Copenhague, em atitudes explícitas e implícitas de algumas lideranças presentes, foram movimentos em torno do tema poder, não do tema clima. Mudanças nessa postura também deveriam ser consideradas metas relevantes, quantificáveis e verificáveis, a serem alcançadas no esforço de adaptação da humanidade às mudanças climáticas.

Faltam ainda ousadia e capacidade operacional para agir acima de cálculos geopolíticos e interesses imediatistas. O microfone da COP-15 aceitou tudo em termos de distância entre discursos e ações, entre a retórica e o dever de casa não feito ou malfeito. Pois é esse dever de casa, com qualidade e coerência, dentro das possibilidades de cada um, que dará legitimidade e concretude às negociações.

Além do ambiente de protesto e mobilização, da reação de países pobres mais severamente atingidos pelas mudanças climáticas e dos problemas de organização, a COP-15 será lembrada pelo vaivém de chefes de Estado tentando fechar acordo de última hora para evitar o vexame. O que demonstrou a falta de envolvimento anterior para que o desfecho fosse o adequado e o esperado. Ficou para os técnicos e diplomatas o esforço ingente de dar roupagem apresentável a esquivas, descompromissos, lamentáveis irresponsabilidades e quedas de braço que refletem divergências de outras naturezas.

No mínimo desde a Rio 92 se sabia que chegaríamos à hora da verdade do clima. A correria para “fechar alguma coisa” revela o pouco que se andou em compromisso político nesse período em que se avançou muito em conhecimento e em engajamento da sociedade. É um desfecho injustificável, já que a capacidade das nações, especialmente as mais ricas, para enfrentar emergências ficou demonstrada em 2008, durante o auge da grave crise financeira global.

Verdadeira operação de guerra foi deflagrada e quantidade impressionante de recursos financeiros utilizada para blindar o mundo dos negócios. E para a crise mais grave ainda, a ambiental, que ameaça a segurança do planeta e coloca em risco imediato tantas populações, faltam determinação e dinheiro. À sociedade civil planetária resta a missão de empurrar seus governantes para as decisões que faltaram. Até aqui, ela tem obtido bons resultados, como é evidente no caso do Brasil.

Foi, sem dúvida, a pressão da opinião pública o principal fator por trás das relevantes propostas levadas pelo país à COP-15. É nessa governança— a participação cada vez maior da sociedade nas decisões de Estado – que reside a esperança que tem aguentado o tranco dos revezes e decepções. Participo das COPs desde 2003 e nunca havia visto tamanha mobilização e interesse no Brasil e no âmbito global. Esse é o maior sucesso de Copenhague, o que fez a diferença, inclusive para evidenciar a insuficiência de resultados, diante das expectativas.

O que será do Fundo Global para dar suporte aos países pobres no enfrentamento das mudanças do clima? Ainda não sabemos ao certo. Quais serão as obrigações com força de lei para cada país? Ainda não sabemos quando e como estarão no papel, assinadas. Sabemos apenas, pela observação dos últimos encontros, que a sociedade não deixará de fazer a sua parte. O que é um grande alento.



Marina Silva
Senadora, foi ministra do Meio Ambiente
Correio Braziliense – 20/12/2009

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Artigo de Marina Silva

Prazo para desmatar mais


A impunidade ganhou mais tempo. Mesmo com a previsão legal de prazo de até 30 anos para recuperar áreas de preservação permanente e da reserva legal já desmatadas, o governo deu mais três anos para que os proprietários façam a regularização ambiental de suas áreas sem serem incomodados pela fiscalização.

Apesar da boa intenção do título -Programa Mais Ambiente-, o decreto recém-editado pelo governo acaba por promover, na prática, uma anistia ampla, geral e irrestrita a todos os que desrespeitaram a legislação ambiental até agora. Entre as muitas causas do desmatamento, uma das mais fortes é a impunidade. E, lamentavelmente, o decreto acaba por lhe dar alento, favorecendo sem distinção quem desmatou nos últimos 15 anos. E que poderá continuar a desmatar hoje, sabendo que, se aderir ao programa, não pagará multa pela área desmatada.

Tal decisão compromete as iniciativas de regularização ambiental dos Estados que não criaram a "suspensão de multas". Além disso, vai na contramão do Superior Tribunal de Justiça, que vem julgando em favor da obrigatoriedade dos produtores de recuperar as áreas desmatadas acima do permitido, mesmo quando isso ocorreu antes da compra do imóvel rural.

Talvez esse seja o problema. Desde 2004, quando começou a ser implementado o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia, o Estado brasileiro vem ampliando a sua capacidade de fiscalização. Com isso, o desmatamento vem caindo ano a ano, o que é bom para a sociedade, mas incomoda alguns.

Segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), a maior parte dos proprietários rurais não deverá aderir ao programa, na expectativa de que o Código Florestal seja alterado em 2010.

Opinião compartilhada pelo ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes. Para ele, apesar do novo prazo, o agricultor, o pecuarista e o próprio governo terão dificuldades para cumprir as "exigências".

Ganhar tempo, nesse caso, não significa mais prazo para o agricultor adequar-se às leis ambientais, o que seria desejável se não fosse desnecessário, pois o Código Florestal já contempla essa situação.

Na prática, está dada a senha para a bancada ruralista manter a pressão para desmontar a legislação ambiental, duramente conquistada após a Constituição de 1988.

Ao ceder, mais uma vez, o governo perde a oportunidade de caminhar na direção correta. E coloca sob forte suspeita o compromisso anunciado de reduzir o desmatamento em 80% na Amazônia e em 40% no cerrado -pontos centrais da meta de redução de emissões de gases-estufa apresentada agora em Copenhague.

Folha de São Paulo, 14/12/2009.

contatomarinasilva@uol.com.br

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Artigo de Ricardo Abramovay

Ambiente: Copenhague coloca em jogo o sentido do crescimento econômico

Muito mais que o clima, discute-se o capitalismo

Por Ricardo Abramovay, para o Valor, de São Paulo 10/12/2009 p. D 10
"Mundo em Transe - Do Aquecimento Global ao Ecodesenvolvimento" - José Eli da Veiga
Editora Armazém do IPE. 128 páginas, R$ 19,00

A conferência de Copenhague é apenas o momento crucial de um amplo processo em que o capitalismo contemporâneo passa a incorporar elementos estranhos à lógica básica em torno da qual sempre funcionou. O que começa a se alterar são os parâmetros a partir dos quais se julga a utilidade e o sentido da vida econômica. É claro que o mercado não será suprimido e vai continuar oferecendo os sinais básicos pelos quais indivíduos e empresas se norteiam. Mas esses sinais terão que ir muito além dos preços, envolvendo dimensões que, para a esmagadora maioria dos economistas, só poderiam ser consequências não previstas, não antecipadas, não coordenadas das ações de cada unidade econômica individual. Um capitalismo em que o mundo importa pode parecer uma verdadeira contradição nos termos. É exatamente a esse paradoxo que uma parte crescente das ciências sociais contemporâneas se volta. A síntese desse movimento político e intelectual oferecida por José Eli da Veiga (professor titular do departamento de economia e do Instituto de Relações Internacionais da USP, colunista do Valor e autor de vários trabalhos científicos sobre o tema) em seu último livro é profunda e totalmente acessível ao leitor não iniciado.

A transição para uma economia de baixo carbono (tratada no primeiro capítulo do livro) pode ser encarada, é verdade, como um gigantesco processo de inovação, capaz de permitir que as economias se adaptem tanto à urgência de reduzir as emissões de gases de efeito estufa quanto à escassez de combustíveis fósseis. Nesse caso, o progresso tecnológico se encarregaria, por si só, de equacionar o grande desafio de nosso tempo, que é a luta contra o aquecimento global. E, de fato, como ensinam alguns dos mais destacados economistas contemporâneos, faz parte da corrida competitiva produzir inovações que reduzem a quantidade de matéria e de energia por unidade de produto. Assim, em tese, havendo liberdade de comércio e estímulo à inovação, o aquecimento global seria evitado por um descasamento ("decoupling"), entre o aumento da produção e a base material e energética em que o crescimento se apoia. À medida que matéria e energia vão encarecendo, produzem-se os meios pelos quais os protagonistas da inovação cumprem seu papel social de oferecer alternativas, ao mesmo tempo em que ocupam lugares privilegiados em novos mercados. Sob essa óptica, a questão ambiental é somente mais uma fronteira no incessante processo capitalista de inovação e em nada muda os objetivos e o sentido da vida econômica. O segredo é garantir o crescimento, medido por seu instrumento convencional, o produto interno bruto.

O problema desse raciocínio, como mostra o segundo capítulo do livro, é que, apesar de o descasamento relativo a cada unidade de produto acontecer de maneira cada vez mais frequente, ele é mais que contrabalançado pelo aumento da própria riqueza material, ou seja, pelo ritmo do crescimento econômico. Em última análise, é por essa razão que, apesar do declínio na intensidade material e energética (isto é. na quantidade de matéria, energia e até de emissões por unidade de produto em diferentes economias) o crescimento econômico mais que compensou o ganho relativamente a cada unidade produzida. Isso se deve não só ao aumento populacional total, mas, sobretudo, a um fator muito positivo, que é a redução da parcela da população mundial vivendo em pobreza absoluta e que, portanto, tem acesso a bens de consumo que antes não estavam ao seu alcance.

Se isso é verdade, então o desafio básico de Copenhague é socioambiental e não, fundamentalmente, tecnológico. Enfrentar esse desafio exige uma dupla revolução, à qual é dedicado o terceiro capítulo. Trata-se, em primeiro lugar, de devolver a economia a seu berço original, a ética, perguntando para que serve a riqueza e qual o sentido de aumentá-la de forma incessante, mesmo ali onde a psicologia econômica contemporânea mostra que seu poder para ampliar a felicidade humana é decrescente. A segunda revolução lança a economia num universo do qual ela sempre fez questão de se separar: a natureza. Não é infinita, nem pode ser regulada espontaneamente pelo mercado, a possibilidade de compatibilizar o aumento da prosperidade com a resiliência dos ecossistemas.

Mas quem imagina que esses temas básicos da economia ecológica (da qual Nicholas Georgescu Roegen e Herman Daly são os pioneiros) fazem parte de uma espécie de romantismo folclórico, com o qual pessoas e instituições sérias não perdem tempo, não pode deixar de ler o quarto capítulo do livro. Nos últimos dez anos, ética e resiliência dos ecossistemas ocupam lugar de destaque crescente na agenda do Banco Mundial, da OCDE e de várias agências das Nações Unidas. A comissão de desenvolvimento sustentável do governo britânico encomendou a Tim Jackson um relatório cujo título é emblemático: "Prosperidade sem crescimento: a transição para uma economia sustentável". Mas a expressão mais clara e mais recente desse processo é o relatório da Comissão sobre a Medida do Desempenho Econômico e do Progresso Social, formada por iniciativa de Nicolas Sarkozy, presidida por Joseph Stiglitz e para o qual contribuíram nomes do peso de Amartya Sen, Kenneth Arrow, James Heckman, Daniel Kahneman (os cinco, contemplados com o Nobel de economia), além do expoente da psicologia econômica, Cass Sunstein, do cientista político Robert Putnam, de um dos mais importantes especialistas em pobreza e distribuição de renda, Anthony Atkinsons, e também de Sir Nicholas Stern, autor do conhecido relatório que leva seu nome.

O livro de José Eli da Veiga não se limita a apontar a fragilidade do Protocolo de Kyoto e as óbvias dificuldades diplomáticas de Copenhague. Muito mais que isso, mostra a formação de algumas das condições para a grande transição de nosso tempo, que vai do aquecimento global ao ecodesenvolvimento. O livro será lançado segunda-feira, com um debate, às 16h30, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional (São Paulo), do qual participarão Ladislau Dowbor, Paulo Itacarambi, e o próprio autor.

Ricardo Abramovay é professor titular do departamento de economia da FEA/USP, coordenador de seu Núcleo de Economia Socioambiental (Nesa) e pesquisador do CNPq e da Fapesp ( www.econ.fea.usp.br/abramovay )

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Artigo de Ruth de Aquino

Ninguém é culpado de nada no Brasil



“Aproxima-se o tempo do mais desprezível dos homens, daquele que já não pode se desprezar a si mesmo.” Essa é uma passagem sobre “o último homem” de Assim falava Zaratustra, do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, no fim do século XIX. Os homens públicos de hoje espalham propina pelos bolsos e pelo corpo, no suor das nádegas ou dos pés. Mais vergonhosa ainda é a certeza que eles têm da impunidade.

Já não existem bolsos nem sacolas suficientes para carregar dinheiro no alto escalão do governo em Brasília. Evaporaram os espaços para qualquer receio ou pudor. De tanto viver num país em que o presidente da República não sabe de nada e passa a mão na cabeça de ministros demitidos por corrupção. De tanto aprender que aqui ninguém é culpado pelo que pensa ou faz. De tanto ver personagens caídos em desgraça que, meses ou anos depois, retornam com pompas, paetês e panetones. De tanto testemunhar que corregedores, oligarcas, congressistas do alto e baixo cleros, presidentes de Conselho de Ética, ativistas de ONGs, comandantes do MST, prefeitos, governadores, chefes do aparato sindicalista são acusados de atos secretos, malversação, desvio, abuso, nepotismo, criação de cargos e, no fim, inocentados...

De tanto ver tudo isso, não surpreende que o governador de Brasília, José Roberto Arruda, sorria em público. Quem já foi flagrado dedilhando errado o piano de votação eletrônica não tem medo de caixa de Pandora. Pode abrir a caixa que quiser. Se o cofre estiver na casa de uma governadora, filha de um todo-poderoso, pode até ser aberto, mas será esquecido. São todos superiores, não podem ser tratados como pessoas comuns. Assim falava Zaralula.

As CPIs são fachadas para alimentar o circo, render manchetes, provocar a ilusão de providências.

O ex-corregedor da Câmara Edmar Moreira continua politicando. Foi seu partido, o DEM – o mesmo do governador Arruda –, que ameaçou expulsá-lo. Edmar dissera uma verdade: “Vamos parar de nos julgar uns aos outros, somos suspeitos pelo vício insanável da amizade”. Pegou mal, mas só. O imortal José Sarney, cuja renúncia do comando do Senado foi prevista tantas vezes neste ano de escândalos, permanece o mais incensado parceiro do presidente da República. Mas foi chamado de “grileiro e ladrão” por Lula, o filho do Brasil, em tempos combativos fora do Palácio do Planalto.

É essa a sensação hoje no país. Ninguém é culpado. Todos se sentem protegidos pela teoria do rabo preso conjunto. Nem os vídeos falam mais por si. Um dia depois de fazer pouco das imagens, Lula resolveu endurecer. Considerou “deplorável” a corrupção exibida. O PT exigiu impeachment do governador. Com que moral um partido que abafou um mensalão pode exigir impedimento? Todo mundo faz. Esse é o mantra de Brasília que torna qualquer investigação uma pantomima.

Lembram-se dos 432 apartamentos funcionais que sofreriam reformas de até R$ 150 milhões? Lembram-se do auxílio-moradia embolsado indevidamente até por Sarney “sem saber”? Lembram-se da verba indenizatória mensal de R$ 15 mil – uma grana extra dos deputados, que haviam prometido prestar contas à população? Lembram-se dos R$ 8,6 milhões em contas de celulares do Senado pagas com nosso dinheiro no ano passado? O que aconteceu com as promessas de moralização de gastos do Senado e da Câmara?

Estes últimos vídeos são particularmente abjetos. Foram fornecidos à Polícia Federal por um elemento beneficiado com a delação premiada para se safar de mais de 30 processos. Os maços de dinheiro são atochados dentro da cueca apertada pela barriga, dentro da meia no sapato social, distribuídos por bolsos externos e internos sem a menor cerimônia. As imagens têm o efeito de uma campanha de “deseducação em massa”. Se, no governo, todo mundo faz e se sente inocente, não importa o partido político, o povão olha e pensa: por que não eu?

Houve quem temesse, após os vídeos, por uma campanha eleitoral enlameada no próximo ano. Que nada. Se depender dos partidos, será limpa como nunca. Sob todos os telhados de vidro, só quem corre risco de se ferir é o eleitor.

RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br

Publicado na Revista Época - N° 603 - 05/12/2009

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Pesquisa CNI / IBOPE

Serra e Dilma oscilam em pesquisa; Ciro perde 4 pontos


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), oscilaram positivamente, dentro da margem de erro, na intenção de votos para presidente, de acordo com pesquisa CNI/Ibope divulgada ontem.

Já o deputado federal Ciro Gomes (PSB) perdeu quatro pontos no cenário que hoje se mostra mais provável.

Serra foi de 35%, obtidos em setembro, para 38%, em novembro, enquanto Dilma passou de 15% para 17%. Ciro tinha 17% e ficou com 13% agora, enquanto Marina Silva (PV) oscilou de 8% para 6%. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, o que deixa Ciro, por exemplo, no limite da margem.

A oscilação de Serra, segundo a CNI, foi ajudada pela exibição de comerciais de TV do PSDB em novembro. A pesquisa, feita de 26 a 30 de novembro e que ouviu 2.002 eleitores, foi realizada antes das inserções do PT em que Dilma aparece em destaque.

No cenário em que o candidato tucano é Aécio Neves, quem lidera é Ciro, com 26%. Dilma tem 20%, seguida pelo governador de Minas, com 14%, e Marina, com 9%.

A pesquisa também mostrou que Dilma ainda não é muito conhecida pela população. No levantamento, 32% declaram conhecer a ministra, o mesmo patamar do anterior. Esse desconhecimento contribui para um alto número de quem diz que não votaria na petista: o índice de rejeição é de 41%, contra 33% de Ciro e 29% de Serra.

O presidente Lula voltou aos níveis de popularidade anteriores à crise. Seu governo é avaliado como ótimo ou bom por 72%, e sua aprovação pessoal chega a 83%.

Folha de São Paulo – 08/12/2009

Artigo de Marina Silva

Culpa e vergonha



Nesses dias de novos e velhos escândalos na política aqui por Brasília, lembrei-me de um colóquio do psicanalista Ricardo Goldemberg, autor do excelente livro "Psicanálise e Política", que acompanhei com pessoas participantes de um dentre os vários grupos de estudos de uma escola de psicanálise da cidade.

Ao final de sua fala, talvez por estar no centro do poder, Goldemberg fez uma breve, mas muito relevante e significativa referência à diferença entre nosso "ethos" político ocidental e o dos asiáticos.

Não comparou culturas, mas evidenciou as diferenças de percepção e sentido do ato de cometer erros em cada uma das cosmovisões, sobretudo no que diz respeito ao trato da coisa pública.

Se bem entendi, na tradição asiática, o sujeito situa-se no mundo pelas mãos, olhar e escuta do grupo ao qual pertence-família, colegas do trabalho, comunidade-, o que resulta num peso incomum, para o coletivo, de tudo o que o indivíduo faz. Já na tradição ocidental, o referencial que orienta nossa conduta moral, ética e social está centrado quase que exclusivamente nas virtudes ou defeitos dos indivíduos.

Isso implica grande diferença na forma como as duas tradições lidam com o erro, a fraude ou os malfeitos em geral que campeiam no reino da política. Na primeira, o sujeito é reconhecido pela maneira como o grupo o aceita e empodera.

Assim, se qualquer atitude ou ação desabonadora individual se transforma em prejuízo material ou moral também para o coletivo, quando ela acontece, é fonte de grande e quase irremediável vergonha.

Na segunda, ainda que o pertencer a um grupo seja igualmente condição para situar-se no mundo, os erros e virtudes são predominantemente focados no indivíduo.

A atitude ou ação desabonadora que alguém fizer recai sobre ele mesmo. O prejuízo moral e ético, motivo ou não de culpa, terá um peso majoritariamente pessoal.

Lá, quando erram, a vergonha perante o grupo ao qual devem honra e satisfação é tanta que muitos chegam ao extremo de acabar com a própria vida.

Aqui, quando não tentam tapear a inteligência alheia com justificativas esfarrapadas, às vezes apelam a uma segunda chance, com juras de "lição aprendida". Isso quando não desaparecem por um tempo necessário ao esquecimento e voltam para repetir os mesmos erros e contravenções.

Seria muito bom para o Brasil se, nos casos que envolvem a ética pública e o dinheiro do contribuinte, para além da apuração dos fatos, julgamento rápido, isento e severa responsabilização criminal, houvesse arrependimento sincero, menos culpa e mais, muito mais, vergonha.

Folha de S. Paulo de 07/12/2009


contatomarinasilva@uol.com.br

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Outro artigo de Ruth de Aquino

O coco-verde, vilão do verão?


O verão elege musas e vilões. Às vezes injustamente. Na semana passada, no Rio de Janeiro, os barraqueiros receberam uma ordem: será ilegal vender coco na areia a partir de dezembro. Quase 60% do lixo recolhido nas praias são cocos-verdes – 20 mil cocos por dia. Cada um pesa em média 1 quilo. O “Comitê Gestor da Orla” informou que o coco é o maior detrito, o maior poluidor das praias. Coitado do coco. O maior poluidor das praias é o brasileiro, um povo sem a menor educação ambiental.

Todos se indignaram com a prefeitura, que estaria violando a tradição carioca de beber água geladinha de coco à beira-mar. A tradição, tanto nas praias quanto nos parques, em todos os Estados, é espalhar imundície por onde se anda. No Rio, a mesma multidão que quer se refrescar com coco junto ao mar deixa nas areias, aos domingos, até 180 toneladas de lixo.

É tudo o que se pode imaginar. Garrafas, latas, saquinhos plásticos, palito de churrasco, fralda descartável, luvas (para passar água oxigenada nos pelos do corpo!) e muito mais. A casca do coco leva dez anos para se decompor na natureza. Os sacos e copos de plástico, de 200 a 450 anos.

Acho admirável o desempenho da Comlurb, companhia municipal de limpeza urbana no Rio. Como é árduo o trabalho dos garis para tornar invisível a sujeirada que todos – madames, celebridades, atletas, favelados, jovens e velhos – largam para trás! Quem caminha muito cedo na praia, antes da chegada dos garis, vê a areia coalhada de detritos. É vergonhoso.

A proibição da venda de cocos na areia (prestem atenção, é só na areia, porque os quiosques no calçadão poderão vender) foi destaque em colunas, reportagens e sites. Pouco se falou sobre o resto do choque de ordem praieiro. Camarão no espeto e queijo coalho na brasa não poderão ser vendidos na areia. Botijão de gás, churrasqueira, aparelhos elétricos ou de som e recipientes de vidro estão entre os barrados da praia. Só o coco despertou protestos.

Acho inacreditável alguém se atrever a dizer que deixa lixo na praia porque não há contêineres suficientes na areia ou no calçadão. Em primeiro lugar, há. É só andar alguns metros. Um coco é pesado para levar até o calçadão? Dá preguiça? Imaginem 20 mil cocos diariamente. Junto com os cocos, as famílias – mesmo as educadas em colégios de elite – também abandonam os canudos de plástico. Por que, em países civilizados, os usuários levam saquinhos para as praias (especialmente as desertas, sem contêineres)? Para tomar conta de seu próprio lixo.

Aconteceu uma cena insólita recentemente no Rio. Uma motorista jogou lixo pela janela do carro e uma pedestre arremessou o lixo de volta para dentro do carro, gritando: “Este lixo é seu!”. Foi aplaudida. Existe um despertar de consciência. Mas ainda é uma minoria. Mesmo alguns dos que aplaudem a militante talvez sujem a praia. Sem perceber que é a mesma falta de civilidade.

Eu gostei da medida da prefeitura. Por ter despertado um debate. Não por achar que vai mudar alguma coisa. Por si só, é uma medida inócua, que apenas reduz o trabalho braçal dos garis. Às vezes penso numa medida mais radical. Parar de limpar por uns dois dias a praia. Só para a gente se olhar no espelho turvo. Claro que vão culpar a prefeitura: “Pô, ninguém limpa isso?”. Alguém uma hora vai dizer: “E quem sujou isso?”. Fomos nós.

Sem educação ambiental no currículo das escolas desde o primeiro ano, nossas crianças repetirão os vícios dos pais. Com campanhas maciças do governo pela televisão, quem sabe nossos filhos nos repreenderão quando cometermos crimes contra o meio ambiente?

Não sei se nossos sujismundos são os mesmos cidadãos preocupados com o aquecimento global, com a poluição, com os bueiros entupidos que provocam enchentes. Não sei se são os mesmos cidadãos preocupados com o fim das geleiras, com o desmatamento da Amazônia, com as metas que o Brasil vai apresentar em Copenhague no início de dezembro.

Dizem que o brasileiro adora praia. Eu acho que detesta. Ninguém trata tão mal algo que adora.

RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br
Publicado na Revista Época – N° 601 – 21/11/2009

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Pesquisa CNT / SENSUS

Em um ano, Serra cai 15 pontos em pesquisa de intenção de voto, diz CNT/Sensus

Claudia Andrade
Do UOL Notícias
Em Brasília
O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), continua à frente da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) nas pesquisas de intenção de voto para presidente da República no ano que vem. Mas, de acordo com pesquisa CNT/Sensus divulgada nesta segunda-feira (23), a vantagem do tucano em relação aos adversários está diminuindo.
Na pesquisa estimulada, em que é apresentada uma lista de candidatos aos entrevistados, José Serra aparece com 31,8% das intenções de voto, contra 21,7% da ministra Dilma. Em terceiro lugar aparece Ciro Gomes (PSB), com 17,5%, seguido de Marina Silva, com 5,9%.
Segundo o diretor do Instituto Sensus, Ricardo Guedes, nas pesquisas de primeiro turno realizadas no ano passado o índice favorável a José Serra oscilava de 45 a 49%. "Foram 15 pontos de queda ao longo de um ano".
Em um cenário sem Ciro Gomes, o tucano segue na liderança, com 40,5% das intenções de voto, contra 23,5% de Dilma Rousseff. Em setembro deste ano, a pesquisa apontava o mesmo resultado, com 40,1% e 19,9%, respectivamente.
Considerando-se Aécio Neves como o candidato do PSDB, a ministra Dilma leva vantagem, com 27,9% das intenções de voto, contra 20,7% do tucano e 10,4% de Marina Silva. Na pesquisa anterior, os percentuais foram de 25,6% para Dilma, 19,5% para Aécio e 11,2% para Marina Silva.
A pesquisa também fez levantamentos para o segundo turno. A disputa entre Serra e Dilma dá vantagem ao primeiro, com 46,8% das intenções de voto, contra 28,2% da ministra. Em setembro, os percentuais eram de 49,9% e 25%, respectivamente.
Com Aécio Neves na disputa, Dilma Rousseff vence com 36,6% contra 27,9% do governador de Minas Gerais. O levantamento anterior mostrava Dilma com 35,8% contra 26% de Aécio Neves.
Na pesquisa espontânea, em que não há indicação de candidatos, Serra aparece com 8,7% contra 5,8% da ministra Dilma. Em primeiro lugar ainda aparece, absoluto, o presidente Lula, com 18,1% das intenções de voto, apesar de não disputar as eleições do ano que vem.
Em terceiro lugar na pesquisa espontânea está o tucano Aécio Neves, que disputa a indicação do partido com Serra. Ele soma 4,2% das intenções de voto, á frente de Ciro Gomes, com 2,6%, Heloísa Helena, com 1,4% e Marina Silva, com 0,7%.
Rejeição a FHC
Para o presidente da CNT (Confederação Nacional do Transporte), a queda resulta, em parte, da rejeição ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que apoia José Serra. "O Serra cai muito fortemente em função do apoio do Fernando Henrique. Está clara a rejeição fortíssima do ex-presidente".
A pesquisa divulgada nesta segunda avaliou a capacidade de transferência de votos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de Fernando Henrique nas eleições do ano que vem. O índice dos que não votariam em um candidato apoiado pelo atual presidente da República baixou de 20,2% em setembro para 16% em novembro. Os que afirmaram que só conhecendo o candidato poderiam fazer uma avaliação passaram de 24,6% para 27,4%.
Os percentuais dos que só votariam em um candidato apoiado por Lula mantiveram-se estáveis, passando de 20,8% para 20,1%, enquanto os que responderam que poderiam votar em um candidato com o apoio do atual presidente passaram de 31,4% para 31,6%.
A pesquisa também considerou, pela primeira vez, um cenário de transferência de votos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, apontando que 49,3% não votariam em um candidato apoiado pelo tucano.
Outros 14,2% disseram que poderiam votar em um candidato apoiado por FHC e 27% responderam que só conhecendo o candidato poderiam opinar. Apenas 3% afirmaram que o candidato apoiado pelo ex-presidente seria o único em que votariam.
Na avaliação do presidente da CNT, Aécio e Dilma devem crescer nas intenções de voto. "Dilma tem mais votos masculinos do que femininos, assim como o Aécio. E o voto masculino, na reta de chegada, acaba puxando o voto feminino. Se o Aécio continuar no páreo, vai crescer", disse Clésio Andrade, destacando ainda o caráter "agregador" de Aécio como outra vantagem em relação a Serra.
Publicado em 23/11/2009 - 12h34

domingo, 22 de novembro de 2009

Artigo de Ruth de Aquino

A fábula do lobão e da vovó do PAC

A fábula da semana – o apagão – colocou em evidência um personagem que andava sumido, o Lobão. Num primeiro momento, ninguém sabia onde andava a avó (do PAC). Temeu-se por Dilma porque o Lobão é emburrado e de poucas palavras. Ele deu o conto por “encerrado”. Depois se soube que a ex-ministra de Minas e Energia estava cuidando da floresta. Nós – os Chapeuzinhos Vermelhos – somos tão ingênuos que acreditamos que raios deixaram 18 Estados do Brasil às escuras por até quatro horas.

Nós também acreditamos que a floresta será salva, especialmente porque o grande caçador de votos depende do verde para não deixar a “fada-marina” enfeitiçar eleitores e atrapalhar a sucessão em 2010.

Quando a avó do PAC ressurgiu com todo o vigor, todos respiraram aliviados. O ministro Edison Lobão, ex-governador do Maranhão, em sua hesitação de meias palavras, consegue menos empatia com o público do que a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Já estava ficando embaraçoso ver e escutar as desculpas de Lobão. E Dilma caiu na armadilha da oposição, que a provocou. “Quem escondeu a ministra?” A pré-candidata (conhecida no Nordeste como “a mulher do Lula”) hoje sobe em todos os bons palanques – do pré-sal, do pós-sal, do pré-pós-PAC. Não falta a uma festa ou inauguração. Quando o palanque é frágil, ela some na floresta para preparar o discurso ambientalista que apresentará em Copenhague em dezembro.

Como o país inteiro sabe, e o Chapeuzinho Vermelho também, Dilma é contra o desmatamento desde criancinha. Tanto que nem o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, consegue mais aparecer. Depois de reunião ministerial em São Paulo sobre metas para reduzir emissão de gases, mandaram Minc sair de fininho para Dilma falar com a imprensa. Seja pelo “efeito cabocla” – de Marina Silva como candidata pelo PV –, seja por um súbito despertar para a questão ambiental, Dilma aos poucos tenta vestir o colete de campeã da causa verde. A ministra comemorou na quinta-feira o menor desmatamento anual da Amazônia desde 1988 – e apagou da foto oficial a senadora do Acre, que saiu do governo derrotada pelo desenvolvimentismo de Dilma.

Os efeitos do blecaute sobre o governo são modestos, se comparados aos efeitos de Dilma sobre si mesma. Será que Lula escondeu sua candidata durante 40 horas e jogou o Lobão às feras com o objetivo de desvinculá-la de um evento tão impopular? Falta de luz e água, muito mais que um desconforto político, é uma tragédia social, com prejuízos inestimáveis para pessoas comuns. Ou será que submeteram Dilma a um curso relâmpago de marketing para ela reaparecer positivamente, com luz e água restauradas no país e argumentos na ponta da língua?

Se ela tiver recebido treinamento intensivo, melhor trocar enquanto é tempo os magos de imagem. Lula pode também providenciar uma transposição de personalidade. Dilma não passa em nenhum Enem de simpatia ou serenidade, mesmo se receber antes a prova. É só colocar um microfone diante dela, é só uma repórter fazer uma observação simples e pertinente. “Ministra, a senhora garantiu há duas semanas que não havia mais risco de apagão porque agora o país tem planejamento”. A ministra encrespa as mãos, engrossa a voz: “Minha filha, você está confundindo duas coisas. O que houve foi um apagão, não um blecaute. Blecaute é barbeiragem”. Era uma referência ao racionamento de 2001.

Indagada se o país poderia sofrer outro apagão, já que o sistema de Itaipu seria vulnerável a intempéries, Dilma rebateu: “Minha querida, nós, humanos, temos um problema imenso. Nós não controlamos chuva, vento e raio. Sempre quisemos, mas não conseguimos ainda. Talvez algum dia, né?”.

Talvez algum dia, ministra, a senhora encare as perguntas como elas são. Perguntas são feitas em busca de respostas. Talvez a senhora mude o tom. Seria bom entender que a água rola, a Terra gira, e que não adianta Lula tentar blindar a avó do PAC se ela se mostrar mais arrogante que o Lobo Mau. Não somos o Chapeuzinho e o PT deixou de ser vermelho.

RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro

Publicado na Revista Época - N° 600 - 16/11/2009

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Líderes da destruição da vida

EUA e outros líderes mundiais adiam chance de acordo sobre clima

Do Valor Econômico
Em São Paulo
16/11/2009 - 08h39

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e outros líderes mundiais decidiram adiar a difícil tarefa de alcançar um acordo sobre as mudanças climáticas na conferência marcada para o próximo mês em Copenhague (Dinamarca). De lá, sairia um acordo de "comprometimento político", que jogaria as questões mais complicadas para o futuro.

Ontem, Washington e Pequim, apoiados por algumas dos principais países emergentes do mundo, comunicaram, em Cingapura, o governo da Dinamarca de que não será possível conseguir um acordo vinculante que permita a redução das emissões de dióxido de carbono.

Em vez disso, se tentará um acerto de duas etapas, que, na realidade, consiste em fazer em Copenhague uma mera declaração de intenções, adiando os compromissos obrigatórios para um momento mais à frente, talvez em outra conferência, como a do México, no ano que vem.

"Houve uma coincidência entre os líderes de que não é realista esperar que um grande acordo internacional completamente vinculante possa ser negociado até Copenhague", observou o vice-conselheiro de segurança nacional para assuntos econômicos internacionais da Casa Branca, Michael Froman.

A declaração foi dada ao fim de uma reunião ocorrida ao lado da assembleia do Fórum da Cooperação Econômica da Ásia-Pacífico (Apec, da sigla em inglês).

Segundo o jornal El Mundo, Obama não quer assinar nenhum acordo que depois não seja referendado pelo Congresso. A China, por sua vez, não está disposta a fazer movimentos relevantes no campo do clima que não sejam acompanhados por Washington. O mesmo pode se dizer da Indonésia, terceiro maior poluidor. Japão, cujo novo governo anunciou recentemente a disposição de reduzir as emissões de gases, também não quer atuar sem ações recíprocas da China e EUA.

Conforme a publicação, dessa forma, com toda probabilidade, outros grandes países em desenvolvimento, como Índia e Brasil, devem se negar a apoiar acordos que não estejam respaldados por aqueles quatro países.

"Considerando o fator tempo e a situação de cada país, devemos, nas próximas semanas, focar no que é possível e não nos distraírmos com o que não é possível", declarou o primeiro-ministro dinamarquês, Lars Rasmussen.

Artigo do Mangabeira Unger

A sucessão presidencial e o futuro do Brasil


O futuro, não o passado, é o tema de uma grande eleição, como será a de 2010. O assunto central há de ser como superar a contradição central do Brasil: uma vitalidade imensa ainda coexiste, para a maioria dos brasileiros, com a falta de instrumentos e de capacitações.

Hoje essa vitalidade está encarnada, sobretudo, em classe média surpreendente, que inaugura cultura de autoajuda e de iniciativa. Já está no comando do imaginário popular. A revolução brasileira de agora é consumar as inovações institucionais que permitam à maioria seguir o caminho dessa vanguarda de batalhadores e de emergentes.

O governo Lula promoveu grandes avanços. São eles a base indispensável para o que deve vir em seguida. Consolidou a estabilidade econômica, barrando o regresso à hiperinflação.

Livrou milhões da pobreza extrema.

Abriu, para outros milhões, as portas da universidade e da escola técnica.

Iniciou obras indispensáveis ao desenvolvimento do país.

Tudo isso somado, entretanto, não resolve a contradição entre o dinamismo do povo brasileiro e a negação à maioria dos instrumentos para criar e empreender. O próximo passo é a construção de modelo de desenvolvimento baseado na democratização de oportunidades econômicas e educativas. O povo brasileiro não quer caridade, quer oportunidade. Quer ver os interesses do trabalho e da produção ganharem primazia sobre os interesses do rentismo financeiro.

Cinco conjuntos de iniciativas traduzem essa aspiração libertadora em transformação prática. Nenhum deles se acomoda dentro do que hoje predomina no pensamento e no discurso dos principais pré-candidatos à Presidência: o desenvolvimentismo da década de 70.

O primeiro projeto é democratizar a economia de mercado. Não basta regular o mercado. Não basta contrabalançar suas desigualdades com programas sociais. É preciso reconstruí-lo em seu conteúdo institucional para torná-lo mais includente.

Parte dessa obra é a consolidação de uma política industrial que facilite para as pequenas e médias empresas -o setor mais importante de nossa economia- o acesso ao crédito, à tecnologia, ao conhecimento, aos mercados globais e às práticas de inovação permanente.

Parte é a superação do contraste entre agricultura empresarial e agricultura familiar. Esta tem de ganhar as características daquela.

E parte é a definição de regras que protejam, organizem e representem os trabalhadores precarizados que hoje formam a maioria do povo brasileiro: precarizados ou porque continuam na economia informal ou porque, na economia formal, atuam em trabalho temporário, terceirizado, doméstico ou autônomo.

O segundo projeto é dotar nossa afirmação nacional de escudo econômico. Cortar a falsa ortodoxia econômica ao meio. Reafirmar a parte sadia: realismo fiscal e responsabilidade fiscal. Mas repudiar a parte nociva: a aceitação de baixo nível de poupança nacional, privada e pública, e o apelo à poupança estrangeira como base de nosso desenvolvimento. Mobilizar a poupança de longo prazo para o investimento produtivo de longo prazo e não permitir que seu potencial se desperdice em cassino financeiro.

O terceiro projeto é capacitar o povo brasileiro por meio do ensino público. Uma prioridade é construir as regras e os meios para reconciliar a gestão local das escolas pelos Estados e municípios com padrões nacionais de investimento e de qualidade. A qualidade da educação que uma criança recebe não deve depender do acaso do lugar onde ela nasce.

Outra prioridade é substituir, na maneira de ensinar e de aprender, decoreba -o enciclopedismo informativo superficial- por ensino analítico e capacitador, com foco no básico, análise verbal e numérica.

O quarto projeto é construir Estado capaz de fazer tudo isso. A agenda do profissional administrativo. A agenda da eficiência na gestão pública. A agenda do experimentalismo na maneira de prestação e na qualificação dos serviços públicos, inclusive de educação e saúde, por meio do engajamento da sociedade civil na provisão competitiva e experimental deles.

O quinto projeto é tirar a política da sombra corruptora do dinheiro. Instituir o financiamento público das campanhas eleitorais para diminuir a influência do dinheiro privado. Substituir a maior parte dos cargos comissionados por carreiras de Estado. E rever o processo orçamentário para que não sirva à negociação obscura entre os interesses poderosos.

Nada disso é utópico. Tudo serve ao mesmo objetivo: dar braços, asas e olhos à energia humana que fervilha, frustrada e dispersa, no Brasil.

________________________________________

ROBERTO MANGABEIRA UNGER é professor titular da Universidade Harvard (EUA), ex-ministro extraordinário de Assuntos Estratégicos (2007-2009) e ex-colunista da Folha.

Publicado no jornal Folha de São Paulo - 15/11/2009

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Artigo de Leonardo Attuch

Levem uma motosserra


Ir de mãos vazias a Copenhague é desperdiçar a maior oportunidade que o Brasil já teve

Um mês atrás, uma grande comitiva brasileira desembarcou em Copenhague, na Dinamarca. O Brasil tinha um bom plano, metas ousadas e uma alegria contagiante. O resultado? A cidade do Rio de Janeiro foi escolhida pelo Comitê Olímpico Internacional para sediar os Jogos de 2016. Dentro de algumas semanas, uma nova comitiva do governo, chefiada pela ministra Dilma Rousseff, chegará à capital dinamarquesa. Só que, desta vez, sem plano, sem metas e sem nenhum entusiasmo - na verdade, o Brasil irá à Conferência do Clima numa cadência totalmente defensiva. Irá de mãos vazias, apenas porque os países desenvolvidos, no passado, também derrubaram suas florestas. E não assumirá o compromisso de reduzir suas emissões de gases do efeito estufa porque outras nações estão agindo da mesma forma, sob o pretexto de não sacrificar seu crescimento econômico.

O que está por trás dessa postura anacrônica é a visão de que o Brasil não deve se subordinar a pressões externas na área ambiental, como se isso fosse sinal de bravura. Ocorre que o País deveria ser um dos maiores interessados em combater o aquecimento global. Primeiro, porque tem responsabilidade sobre o tema - é o quarto maior emissor de gases poluentes, com suas queimadas e sua pecuária extensiva. Segundo, porque é também um dos países mais afetados pelo problema. Se os estudos científicos estiverem corretos, cidades como Recife e Fortaleza poderão ficar submersas dentro de 50 anos, deixando milhões de pessoas desabrigadas. E o Brasil, que é hoje o celeiro do mundo, poderá perder toda a competitividade da sua agricultura no Centro-Oeste, se o regime de chuvas da Amazônia for afetado pelo aquecimento.

O mais grave é que a agenda ambiental é a única que o Brasil realmente tem condições de liderar. Não só pelo simbolismo da Amazônia, mas também devido ao fato de o País ser um dos únicos no mundo com capacidade para expandir, ao mesmo tempo, a produção de alimentos e de combustíveis limpos, como o etanol. No entanto, em vez de agarrar a oportunidade, o Itamaraty, que tem tanta sede de protagonismo em causas perdidas, hoje parece mais preocupado com o futuro de Manuel Zelaya do que com a agenda do século XXI.
De concreto, o Brasil fará apenas uma promessa vazia de reduzir o desmatamento ilegal na Amazônia em 80% - o que legitima uma cota de 20% para o crime. Enquanto isso, tramita no Congresso Nacional um projeto de lei que pode anistiar todos aqueles que desmataram suas terras no passado. Se a comitiva brasileira não tinha nada de bom a apresentar em Copenhague, seria melhor não ir. Mas já que vai, talvez fosse o caso de levar apenas uma motosserra.

Publicado na Revista Isto É - Edição 2087 - 11/11/2009

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Artigo de Marina Silva

Todo mundo e ninguém


Terminou sem acordo, na sexta, em Barcelona, a última etapa oficial de negociação para a Cúpula do Clima. Embora essa expressão já tenha se transformado quase em chavão, faltou vontade política para chegar a um consenso antes do encontro de Copenhague, daqui a quatro semanas.

Com raras exceções, os países se recusam a apresentar metas substanciais de cortes nas emissões de gases-estufa, o que não é condizente com a gravidade do problema.

Permanecem, no jogo diplomático, as cobranças mútuas de metas entre os países em desenvolvimento e os desenvolvidos. Ao cabo, sobram apenas declarações de intenções, sem resultado prático.

O Brasil, lamentavelmente, parece seguir o mesmo caminho. Resiste a apresentar meta de redução de gases de efeito estufa que vá além da promessa de diminuição do desmatamento da Amazônia, que, se espera, possa ser revertido pela pressão dos setores mais lúcidos do governo e da sociedade.

Autoridades brasileiras chegaram a declarar, na semana passada, que o Brasil não apresentaria meta em Copenhague para não criar constrangimentos aos demais países em desenvolvimento. O governo parece temer uma "saia justa" com importantes parceiros comerciais, como Índia e China.

Diante desse quadro, lembro de um antigo dito popular que conta a história de Todo Mundo, Alguém, Qualquer Um e Ninguém, encarregados de uma tarefa importante. A história termina assim: Todo Mundo culpou Alguém quando Ninguém fez o que Qualquer Um, agindo com responsabilidade, poderia ter feito.

Enquanto isso, a ciência moderna afirma, majoritária e categoricamente, que caminhamos para um colapso climático. A maioria da população mundial se mostra preocupada e demonstra apoio a decisões mais ousadas, para que se evite o pior. Mas os governos dos países ricos, que mais podem contribuir para uma solução satisfatória, dividem-se entre aqueles que querem fazer pouco e os que não querem fazer praticamente nada.

Poucos países têm quebrado essa regra. Um bom exemplo é o da Noruega, que se comprometeu a reduzir em 40% as emissões até 2020 e criou um dos maiores programas voluntários de proteção das florestas tropicais do mundo. Porém, parece ter sido totalmente ignorado.

Apesar da necessidade de um regramento jurídico internacional para a redução das emissões de gases-estufa, até agora só se veem intenções políticas genéricas. Os governantes não querem sair da condição de "sujeitos indeterminados" na luta contra as mudanças do clima. A maioria tem se abrigado na inaceitável sombra da irresponsabilidade comum e indiferenciada.

Até quando?

Marina Silva – Folha de São Paulo – 09/11/2009

contatomarinasilva@uol.com.br

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Conselho

O estudo traz uma releitura da vida


"Dos 05 aos 14 anos, morei com minha avó Julia, em Messejana, no Ceará. Eu morava numa casinha de palha, a 10 quilômetros da casa do meu pai. Ficava numa capoeira. Minha avó era uma pessoa muito inteligente, capaz de decorar um livro inteiro de cordel apenas de ouvir a história umas duas vezes. Como ela não sabia ler, meu pai lia para ela, e ela me contava as histórias. Ou as cantava em forma de cantoria, como os repentistas. Foi com ela que aprendi os rudimentos do cristianismo. Ela tinha um catecismo feito de papel-cuchê, com umas ilustrações belíssimas da Capela Sistina, que mostrava desde a Criação até o Apocalipse, o fim do mundo. O livro não tinha escrita, só ilustração. Era feito para analfabetos. Minha avó dizia que no Ceará havia padres, freiras e tudo isso. No meu imaginário de criança, ao ouvir tudo isso, eu comecei a dizer que, quando eu crescesse, seria freira. Todas as vezes que eu dizia isso, ela me aconselhava a estudar. Dizia que freira não podia ser analfabeta. E cresci com esse conselho. Quando fiquei doente, resolvi cuidar da minha saúde e ser freira. Fui para um convento, onde fiquei dois anos e oito meses. Foi assim que comecei a estudar. Para ser freira, eu tinha de aprender a ler. Eu tinha 16 anos e meio quando fui para Rio Branco para ser freira. E continuo tentando me curar do analfabetismo até hoje. Analfabeto é também quem não consegue fazer uma leitura em relação aos tempos que está vivendo, quem não consegue ler os valores que se quer reforçar ou outros que a gente precisa mudar. Enfim, a alfabetização é um processo contínuo; é dar outra significação à vida."

Marina Silva, 51 anos, acreana, senadora

"O melhor conselho que recebi" – Revista Época – Ed. 596 – 17/10/09

Novidades no PV

Direção Nacional do PV determina candidatura majoritária própria nos estados


Em encontro que reuniu as direções de Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia, discutiu-se estratégias e diretrizes para as eleições 2010

No último sábado na cidade de Belo Horizonte, membros da Direção Nacional do PV se reuniram com integrantes das direções estaduais para discutir estratégias e diretrizes para as eleições de 2010.

De acordo com Fernando Guida, membro da Direção Nacional do PV e coordenador da região, “Há uma determinação da direção nacional para que haja candidaturas aos governos estaduais em todas as unidades federativas e essa determinação será cumprida.”

Para o Presidente do PV Bahia, Ivanilson Gomes, que estava presente no evento, “não há momento melhor para uma candidatura verde ao Governo da Bahia, devido à conjuntura e as candidaturas já postas abrem possibilidades reais de ampliarmos o debate sobre a agenda ambiental, fazermos palanque pra Marina Silva e potencializarmos as candidaturas proporcionais e os votos de legenda.”

Também presente no evento, o deputado federal Luiz Bassuma (PV BA), fez coro e também defendeu a candidatura própria: “É a hora da onda verde. Um fenômeno político que levará o Partido Verde a um crescimento jamais visto. Não podemos perdem o bonde da história.”

Carla Piranda, Secretária Nacional de Organização e da Direção Estadual do Rio de Janeiro, foi enfática ao ser perguntada sobre o que aconteceria se algum estado não cumprisse a determinação de lançar uma candidatura própria. “A direção estadual será renomeada com verdes que estejam em sintonia com o projeto do Partido Verde. Quem não seguir o caminho do Projeto do PV em 2010 terá graves problemas e isso se aplica às direções municipais, candidaturas proporcionais, dirigentes e militantes.”

Da Bahia também estiveram presentes André Fraga e Eduardo Mattedi.

Blog do Partido Verde - 01/11/2009
http://redepv.org.br/blog

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Ameaça de retrocesso na legislação ambiental

CÓDIGO AMBIENTAL RURALISTA

A Câmara dos Deputados instalou recentemente uma Comissão Especial criada para analisar as propostas de alteração do Código Florestal, incluindo o projeto de Lei de Código Ambiental de autoria do presidente da Frente Parlamentar Ruralista e que pretende revogar e alterar as principais leis ambientais brasileiras: lei de crimes ambientais, Código Florestal, lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação e lei da Política Nacional de Meio Ambiente

O processo de instalação dessa Comissão, que levou a uma composição notoriamente tendenciosa, formada por maioria de membros da bancada ruralista e que, portanto, não representa a diversidade de setores da sociedade brasileira interessada na sustentabilidade do nosso desenvolvimento, aponta para intenções retrógradas de eliminar direitos e flexibilizar garantias socioambientais conquistadas ao longo dos últimos 21 anos de vigência da Constituição Federal brasileira de 1988.

Nos últimos meses o governo brasileiro e o Congresso Nacional tomaram decisões temerárias sobre a legislação ambiental. A revogação da legislação da década de 1990 que protegia as cavernas brasileiras; a aprovação da MP 458 que incentivou a grilagem de terras, a concentração fundiária e o avanço do desmatamento ilegal na Amazônia; a edição do Decreto 6848, que, ao estipular um teto para a compensação ambiental de grandes empreendimentos, contraria decisão do Supremo Tribunal Federal, que vincula o pagamento ao grau dos impactos ambientais.

Além disso, o governo brasileiro tem negligenciado a política ambiental, mantendo paralisados na Casa Civil da Presidência da República várias propostas de criação de unidades de conservação.

As organizações da sociedade brasileira abaixo assinadas denunciam esse ataque à legislação ambiental. É inaceitável que às vésperas da reunião da Convenção de Clima, em Copenhague, momento em que o Brasil discute compromissos de redução do desmatamento, e das emissões de gases causadores do efeito estufa, o Congresso Nacional tente promover retrocessos na legislação ambiental.

Os compromissos de redução de desmatamento que o Brasil assumiu não serão alcançados e as áreas hoje ambientalmente comprometidas jamais serão recuperadas se o marco regulatório existente for desconfigurado, como propõe a Bancada Ruralista com a conivência e o apoio da base do Governo no Congresso Nacional.

Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável - FBOMS
Grupo de Trabalho Amazônico - GTA
Rede de ONGs da Mata Atlântica - RMA
Fórum Carajás
Assembléia Permanente de Entidades em Defesa do Meio Ambiente do Estado do Rio de Janeiro - APEDEMA-RJ
Associação Alternativa Terrazul
Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida - APREMAVI
Associação de Proteção ao Meio Ambiente - APROMAC
Centro de Estudos Ambientais - CEA
Ecologia & Ação - ECOA
Fundação Vitória Amazônica - FVA
Greenpeace
Grupo Ambientalista da Bahia - GAMBA
Grupo de Defesa e promoção Socioambiental - GERMEN
Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor - IDEC
Instituto Centro Vida - ICV
Instituto de Estudos Socioeconômicos - INESC
Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola - IMAFLORA
Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia - IMAZON
Instituto Ipanema
Instituto Socioambiental
Instituto Socioambiental da Baía da Ilha Grande - ISABI
4 Cantos do Mundo
Mater Natura - Instituto de Estudos Ambientais
Movimento pela Despoluição, Conservação e Revitalização do Rio do Antônio - MODERA
Programa da Terra - PROTER
TNC
WWF Brasil

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A TARDE (BA) comenta pesquisa IBOPE

Ibope: Dilma melhora, mas Ciro mostra força


Paixão Barbosa - A Tarde (BA) – 22/10/2009

Como aconteceu na pesquisa CNI/Ibope, em setembro, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff e o deputado federal Ciro Gomes (PSB-SP) aparecem com um empate técnico numa pesquisa realizada pelo mesmo instituto, encomendada pelo PSDB, mas com a provável candidata do PT à frente do socialista. Dilma surge com 17% enquanto Ciro fica com 16% das intenções de voto no cenário que tem o governador de São Paulo, José Serra, como candidato a presidente. Aliás, a maior novidade desta pesquisa (que ouviu 2002 pessoas e tem uma margem de erro de apenas 2 pontos percentuais) é justamente Serra, que voltou para a casa dos 40% das intenções de voto, depois de ter descido para 38% na consulta anterior. Por ser encomendada pelo PSDB, a pesquisa não perde em credibilidade, mas, como tenho alertado sempre, toda consulta de opinião deve ser vista como algo relativo e não considerada como uma determinação absoluta. Até porque ainda faltam 11 meses para a eleição.

Como um dos principais interesses dos tucanos era medir a competitividade dos seus dois nomes que disputam a indicação, o Ibope montou dois cenários: um com Serra e outro com Aécio Neves, governador de Minas. Vejam como ficaram:

Cenário 1

1º José Serra - 41%; 2º Dilma Rousseff - 17%; 3º Ciro Gomes - 16%; 4º Marina Silva (PV) - 9%; Brancos e nulos - 9%; Não sabe - 8%.

Cenário 2

1º Ciro Gomes - 26%; 2º Aécio Neves - 19%; 3º Dilma Rousseff - 19%; 4º Marina Silva - 11%; Brancos e nulos - 14%; Não sabe - 11%.

Como se vê, pelos números do cenário 2, Ciro Gomes continua a ser competitivo e Aécio Neves não parece mesmo empolgar o eleitorado de oposição, o que deixa José Serra numa condição cada vez mais confortável como provável candidato à Presidência.

Outro dado interessante a observar é que a senadora Marina Silva continua numa linha ascendente desde que seu nome foi lançado e pode começar a entrar nas vizinhanças dos que estão à sua frente. Ela ganhou mais força depois que a ex-senadora Heloísa Helena (PSOL) anunciou que não concorrerá ao Palácio do Planalto e sim ao Senado.

E, por fim, Dilma Rousseff parou de cair, mas não cresceu (sua ascensão se deu dentro da margem de erro da pesquisa). A seu favor consta o fato de que a consulta não refletiu ainda o efeito dos últimos movimentos da ministra - vinda a Salvador e viagem pelo São Francisco – que lhe deram grande visibilidade, positiva (as entrevistas foram feitas entre os dias 1 e 5 de outubro, enquanto as viagens aconteceram depois disto).

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Aliança PV - PSOL

Heloísa Helena costura acordo com o PV para 2010

GUSTAVO URIBE - Agencia Estado

SÃO PAULO - Ao sinalizar que pretende concorrer ao Senado Federal em 2010, a ex-senadora Heloísa Helena caminha agora para uma articulação com o PV com vistas ao apoio à candidatura de Marina Silva ao Palácio do Planalto. A presidente nacional do PSOL sugeriu durante reunião da Executiva Nacional da legenda, na noite da sexta-feira, a abertura de negociações formais com o PV para as eleições gerais de 2010. A proposta de criação de um canal de diálogo com os verdes será deliberada no próximo dia 7, em uma nova reunião da Executiva em São Paulo.

À espera da chancela do partido sobre a sua participação na disputa ao Senado, que será dada em convenção apenas no mês de março, a presidente do PSOL trabalha pelo apoio do partido àquela que é sua candidata preferida à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "O nome de Heloísa ao Senado é questão praticamente consolidada", antecipou o secretário-geral da sigla, Edilson Silva. "Na próxima reunião da Executiva, no dia 7, vamos deliberar a questão de uma eventual aliança com o PV", completou.

A costura de uma aliança entre PSOL e PV em torno do nome de Marina Silva se estende informalmente desde setembro. A pedido de lideranças da sigla favoráveis ao acerto, o senador José Nery (PA) e o deputado federal Ivan Valente (SP) vinham dialogando com a ex-ministra do Meio Ambiente sobre a proposta. Amiga de longa data de Marina, Heloísa tomou as rédeas da negociação no começo de outubro, quando o ex-governador de Alagoas Ronaldo Lessa (PDT) sinalizou que concorrerá ao Executivo estadual. A movimentação facilitaria a eleição de Heloísa a uma das duas vagas ao Senado no pleito de 2010.

Embora parte da Executiva do PSOL seja favorável a uma aliança com o PV, a hipótese de sacrificar uma candidatura própria à Presidência da República não é consenso entre as lideranças do partido. Na corrida pela indicação da legenda ao Palácio do Planalto, disputam o ex-deputado federal Milton Temer (RJ) e os militantes históricos Plínio de Arruda Sampaio e Martiniano Cavalcante.

Favorito entre os nomes da sigla, Milton vem comandando desde o mês passado um movimento favorável à candidatura própria e contra o apoio ao nome de Marina. "(Milton)Temer é um bom nome, mas não tem recall eleitoral", minimizou uma das lideranças do PSOL. "A candidatura de Marina responde mais aos interesses da legenda", emendou.

Xadrez Eleitoral

Sem o nome de Heloísa Helena na disputa à Presidência da República, o xadrez eleitoral para 2010 ganha novo formato. O cenário daria impulso aos presidenciáveis Marina Silva e Ciro Gomes (PSB) e prejudicaria a virtual candidata petista, Dilma Rousseff.

A última pesquisa de intenções de voto, da CNI/Ibope, indica que, excluindo o nome de Heloísa da simulação, Serra lidera com 35%, Ciro Gomes aparece com 17%, Dilma Rousseff soma 15% e Marina Silva, 8%. Com Aécio no lugar de Serra e sem Heloísa, Ciro lidera com 28%, seguido de Dilma com 18%, Aécio com 13% e Marina com 11%. Com ela no páreo, num cenário com Serra, Dilma, Ciro e Marina, a presidente do PSOL aparece com 8%.

sábado, 17 de outubro de 2009

Discutindo o Brasil em Copenhagen

Nota Pública da Campanha TicTacTicTac

São Paulo, 15 de Outubro de 2009

Frente à notícia divulgada ontem (14/10/09) de que a ministra Dilma Rousseff exigiu a revisão da proposta apresentada pelo Ministério do Meio Ambiente para que fosse minimizado o compromisso sugerido de redução das emissões de gases de efeito estufa a ser apresentado durante a CoP 15*, a coordenação da Campanha TicTacTicTac - tendo em conta as reivindicações expressas em seu manifesto, subscrito por dezenas de organizações representativas dos mais variados setores da sociedade brasileira - vem a público alertar para o que se segue:

1. O argumento de precisar emitir mais gases de efeito estufa em decorrência de um objetivo de taxas mais elevadas de crescimento econômico coloca o Brasil na contramão da história. O desenvolvimento econômico é necessário, mas só faz sentido se acompanhado de real melhoria na qualidade de vida, conquistada de forma sustentável. Inflar o PIB fomentando tecnologias que em breve serão obsoletas impulsiona nosso país para o passado, e não para o futuro. O desafio que pode de fato ajudar o país é sim o crescimento, mas com qualidade e sustentabilidade. Com inovação e visão de futuro, que coloquem o Brasil na vanguarda do século XXI.

2. As metas anunciadas pelo Ministério do Meio Ambiente - aparentemente calcadas exclusivamente na contenção do desmatamento - são boas na medida em que acenam com compromissos de que há muito o Brasil precisa, mas totalmente insuficientes. Por um lado, há consistentes demandas para reduções ainda mais significativas do desmatamento, que devem ser ouvidas. Por outro, é imprescindível que, além disso, sejam estabelecidas metas de aumento da eficiência (produção versus emissões de gases de efeito estufa) também para os setores energético, de transportes, industrial, agrícola, de serviços e tantos outros. Serão essas metas que orientarão os investimentos públicos e privados rumo a uma economia moderna e sustentável. Negá-las é um desserviço ao país e um apego inaceitável ao atraso. É jogar no lixo as inúmeras oportunidades de empregos "verdes" e de renda em atividades social, econômica e ambientalmente sustentáveis, que hoje se descortinam. Portanto, requeremos das autoridades brasileiras posturas à altura do momento que vivemos e das suas responsabilidades históricas, perante as presentes e futuras gerações. Chamamos a atenção especialmente do presidente Lula e dos Ministros responsáveis pela articulação da posição brasileira em Copenhague, para que se guiem pelos reais interesses do país, não se rendendo aos interesses de curto prazo. É mais do que tempo de os governantes assumirem, aqui e agora, posturas para a construção de um futuro sustentável e digno para todos.

Rubens H. Born - rborn@vitaecivilis.org.br - pela coordenação geral da campanha (11-8244-7918)

Aron Belinky - aron@ecopress.org.br - coordenador executivo da TicTacTicTac (11-8181-9336)

Assessoria de Imprensa: Verônica Marques - (21-9981-0211)

*15ª Conferencia das Partes da Convenção de Mudança de Clima - 07 a 18/12/09, em Copenhagen

Visite www.tictactictac.org.br - assine e multiplique nosso abaixo-assinado!

Esther Neuhaus
Gerente Executiva
FBOMS - Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento
SCS, Quadra 08, Bloco B-50
Edifício Venâncio 2000, Sala 105
CEP 70333-900 Brasília, DF – Brasil
Fone: (61) 3033.5535 ou 3033.5545
http://www.fboms.org.br/

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Invencionice cearense - cultura brasileira viva!

Quem quer fazer a festa do Saci ?


As festas do Dia do Saci crescem por todo o Brasil a cada 31 de outubro. O enfrentamento irreverente que os brasileiros fazem com o seu mito mais famoso ao Halloween do consumismo norte-americano ainda é desigual, mas é divertido. No Ceará, o Departamento de Patrimônio Imaterial da Secretaria de Estado da Cultura vem realizando um dia todo de festa na Biblioteca Pública, o município de Fortaleza instituiu o Dia do Saci em seu calendário oficial (PL nº 0189/2007) e a sacizada tem se espalhado aos pulos e redemoinhos por vários municípios do interior.


Desde que lancei o livro “A Festa do Saci” (Cortez Editora, 2007), no qual relato a história da libertação do Saci do calabouço da sociedade de consumo, por seres imaginários de todo o planeta, que muita gente me pergunta interessada como é mesmo que se faz uma festa do Saci. Respondo que a vantagem dessa festa é não ter fórmulas, cada qual faz a sua, do jeito que quiser. Nas áreas públicas há brincadeiras de corrida numa perna só, contação de histórias de assombração, apresentações teatrais e musicais performáticas, passeios saciclísticos, lanches coletivos, oficinas de bonecos de Saci e outras animadas sacizisses.


Mesmo assim, deu vontade de experimentar como seria uma festa do Saci em casa, na rua, no condomínio, no clube, no sítio, na casa de praia. Afinal, as bruxas do Halloween atacam é nesses espaços privados, levadas pelo cinema, tevê e internet. E foi convicto do quanto precisamos criar oportunidades para as crianças, especialmente as urbanas, vivenciarem o mito do Saci, que acabamos inventando na nossa casa uma festa do Saci, para ver como é mesmo, para experienciar com amigos esse encantador ritual de inversão e para poder sair contando a quem quer que queira fazer a sua própria festa do Dia do Saci.


A primeira coisa que fizemos foi transformar a quadra de futebol do condomínio em um capoeirão. Com o apoio do José Adjafre, que é um cenógrafo com trejeitos de saci, colocamos folhas secas no chão, jarros com muitas plantas e a iluminação foi toda feita com tochas de lamparinas. Ao fundo da quadra, emoldurada pela trave de futebol, ele fez um desenho enorme da cabeça de um saci, que serviu de imagem de fundo para os momentos de contação de histórias arrepiantes inventadas na hora pelas próprias crianças.


Foram escolhidas 77 imagens de Saci para serem projetadas e 77 músicas para animar a festa, porque 77 é a idade que uma pessoa pode virar Saci, se tiver conseguido continuar imaginativa depois dos 7 anos. Conseguimos 77 imagens diferentes de saci, com o pesquisador Vladimir Sacchetta, feitas nos mais impensáveis estilos plásticos e gráficos, por artistas como André Le Blanc, Angeli, Glair Arruda, J.U.Campos, Lobo, Marcus Cartum, Monteiro Lobato, Ohi, Paulo Caruso, Sônia Magalhães, Voltolino e Ziraldo. Essas imagens foram projetadas em um telão, apoiado no poste da rede de voleibol. Da tela que cobre a quadra, saltavam fitas coloridas anunciando as brincadeiras do vento à espera do assobio do Saci.


A DJ Renatinha montou sua parafernália no meio do mato. E, assim, como ocorreu com as imagens, o repertório musical foi composto pelos mais variados gêneros e estilos, tendo como ponto em comum apenas o caráter lúdico. Tocou Cássia Eller (A Cuca te pega), Itamar Assumpção (Adeus Pantanal), Karnak (Alma não tem cor, O Mundo, Ai, ai, ai, ai, ai), Suzana Salles (A mulher do atirador de facas, Zé Pelintra), Bia Bedran (As caveiras, Dona Árvore, Flor do Mamulengo, Pato Injuriado, Quintal), Ná Ozzetti (Atlântida), Diana Pequeno (Camaleão), Adriana Calcanhotto (Esquadros, Lig lig lig lé), Raul Seixas (Carimbador maluco), Tom Zé (Companheiro Bush), Paula Tesser e Valdo Aderaldo (Sou mais no tempo do Figueiredo), Kleiton e Kledir (Canção da meia noite), Madan (Emprego, O Bife, Letra Mágica, Patacoada, Gato da China), Balão Mágico (Super Fantástico, ET tererê) e Moisés Santana (Gentileza).


E a festa que rolou das 19 até as 22 horas tocou ainda Carol e os Malucos (Itsy bitsy spider, La bella polenta), Los patita de perro (La fiesta, Las tortugas), Toquinho (Caderno), Chico César (Odeio Rodeio, Pelado), Secos & Molhados (O Vira), Jota Quest (Pedrinho), Carlinhos Brown (Pererê Peralta), Daúde (Quatro meninas, Vamos fugir, Vida Sertaneja), Palavra Cantada (Rato), Gilberto Gil (Saci-Pererê, Sítio do Picapau Amarelo), Jorge Benjor, (Sasaci-Pererê), Rosi Campos (Tem gato na tuba), Herlon Robson (Tô ligado), Herbert Vianna (Uma Brasileira), The Beatles (Yellow Submarine), MPB-4 (O Pato), Frenéticas (Aula de piano), Gal Costa (Grande final), MC Marcinho (Rap do Lúcio), Patrícia Marx (A Festa do Menino Maluquinho); Sérgio Ricardo (Emília), Girotando (Ambaraba cicci’ cocco’) e Mawaca (Kazoe Uta, Sansa Kroma).


Dos meus livros “Flor de Maravilha” e “A Festa do Saci”, entraram na brincadeira as músicas cantadas por Olga Ribeiro (A sementinha, Bolhas de sabão, Curupira e Boitatá, Fábula sem moral, Pinóquio e Emília, Rói-rói, Vamos passear pela cidade, Xacundum no tum-tum do papai), Giana Viscardi (Brincar de Brincadeira, O nome do meu País), Marcelo Pretto (Marimbondo Azul), Suzana Salles (No ritmo das batidas do relógio da Praça do Ferreira) e, óbvio, a música A Festa do Saci, que fiz com o Orlângelo Leal, especialmente para chamar o Saci Pererê.


Por falar em chamar o Saci, um dos momentos mais mágicos da festa foi o da aparição do saci, na hora do Guarnicê. Peço ao leitor e à leitora que não comente esta parte na frente das crianças nem dos convidados, pois o segredo dela está na surpresa. É o seguinte: na hora em que o Orlângelo canta “Estou aqui meu Saci / Estou aqui chamei você / Pererê chamei você”, cuidamos que um ator, no caso o Márcio, da Banda Dona Zefinha, aparecesse pintado e vestido de Saci em uma laje na parte ao lado da quadra. Ele apareceu rapidamente, deu pulos e gargalhadas, jogou uma porção de gorros para a meninada e sumiu. Uns viram e outros não. E isso gerou um converseiro mítico maravilhoso, mediado pelo também zefínico Paulo Orlando.


Bom, mas já estou me adiantando na festa, quando ainda nem falei o que colocamos no convite: “Você só precisa trazer um pouquinho da sua guloseima preferida, aquela que você acha a mais gostosa de todas, para repartir com os amigos” (No centro da quadra, um círculo de tecido transformou-se em mandala de guloseimas). E tinha uma observação: “A Festa do Saci é uma festa que valoriza a criatividade e a imaginação. Portanto, crie o seu próprio personagem e venha para curtirmos juntos essa noite sacizística cheia de surpresas”.


Na entrada do prédio, colocamos uma cartolina e muitos pincéis coloridos pendurados em fio de náilon. Naquele papel, mais de trinta crianças escreveram o nome e a missão dos seus personagens. A resposta foi reveladora: Agente 00SACI (Lutar pela paz no futebol), Branca de Neve (Cuidar dos habitantes da floresta), Dama da Noite (Cuidar da paz na hora do sono), Fada da Natureza (Eu e o Saci devemos proteger a Natureza), Fada do Ar (Acabar com a poluição), Garota Azul (Deixar a festa mais azul), Duende (Minha missão é achar o Saci), Peloe (Acabar com a destruição das flores), Reg!!! (Minha missão é me conhecer), Robô Verde (Aguar todas as plantas e salvar o planeta), Saci (Cuidar do mundo), Senhor Noite (Alertar as lendas da noite) e Vaqueiro (Acabar com o aquecimento global, poluição e drogas). A festa terminou doce e animada com a Caça ao Brigadeirão.


Flávio Paiva – Diário do Nordeste – 15/10/2009

sábado, 10 de outubro de 2009

Marina Silva premiada

Marina Silva recebe mais um prêmio internacional

A senadora Marina Silva (PV-AC) receberá, hoje, em Mônaco, o Prêmio Mudanças Climáticas, oferecido pela Fundação Príncipe Albert II de Mônaco, em reconhecimento à sua contribuição para projetos na área do meio ambiente, ações e iniciativas conduzidas sob a ótica do desenvolvimento sustentável.

Anualmente, a fundação premia pessoas ou instituições com atuação especial e trabalho reconhecido em favor do meio-ambiente e da preservação do planeta nos três domínios de ação considerados prioritários pela instituição internacional: a mudança climática; a preservação da biodiversidade; o acesso à água e a luta contra a desertificação.

A Fundação, criada em 2006, se dedica, sobretudo, ao financiamento de projetos nas áreas de florestas, biodiversidade, água e meio-ambiente da região do Mediterrâneo. Em 2008, o “Climate Change Award”, foi concedido a Alain Hubert, explorador belga, da Fundação Internacional Polar.

Desde sua criação, em 2006, a Fundação apoiou financeiramente mais de 95 projetos, num total de 14,6 milhões de euros. Seu Conselho de Administração reúne 14 personalidades internacionais, inclusive ganhadores do Prêmio Nobel da Paz. Seu Conselho Científico e Técnico é constituído por 12 especialistas de projeção mundial.

Além de ser agraciada com um troféu especialmente criado para a ocasião, a senadora Marina Silva receberá da Fundação um prêmio de 40 mil euros. A entrega do prêmio, pelo Príncipe Albert II de Mônaco, será às 18 horas (hora local), no Fórum Grimaldi.

Este é o quinto prêmio internacional que Marina Silva recebe desde a sua volta ao Senado, depois de ter saído do Ministério do Meio Ambiente, em maio de 2008. Em abril deste ano, ela foi agraciada, em Oslo, na Noruega, com o Prêmio Sofia 2009, concedido anualmente pela Fundação Sofia a pessoas e organizações que se destacam nas áreas ambientais e do desenvolvimento sustentável.

Em outubro do ano passado, a senadora recebeu das mãos do príncipe Philip da Inglaterra, no palácio de Saint James, em Londres, a medalha Duque de Edimburgo, em reconhecimento à sua trajetória e luta em defesa da Amazônia brasileira - o prêmio mais importante concedido pela Rede WWF.

Marina Silva ainda foi agraciada, em 16 de outubro de 2008, depois que retornou ao Senado, com o Prêmio "World Rainforest Award", concedido pela Rainforest Action Network (RAN), como reconhecimento ao seu trabalho e compromisso para proteger a floresta tropical, Recebeu também, em março deste ano, o XIV Prêmio N´Áitun 2009, criado em 1996 por Artistas Pro Ecologia, destinado anualmente a pessoas e instituições que tenham se destacado na defesa do meio ambiente.

Assessoria de Imprensa da senadora Marina Silva (PV-AC)

domingo, 4 de outubro de 2009

Artigo de Marcos Coimbra

Os eleitores na internet

Se pensarmos nos eleitores que combinam três ou mais mídias na sua informação sobre assuntos políticos, chegamos perto de 27% do total. Ou seja: em cada quatro eleitores das regiões metropolitanas, um pode ser considerado muito informado — imaginando que quem procura informação em tantas mídias simultaneamente acaba por encontrá-la.

Em pesquisa recente, vimos que a proporção de eleitores que usam a internet para se informar sobre política já chega a 36% nas principais regiões metropolitanas do país. Ela foi feita pela Vox Populi e seus trabalhos de campo aconteceram nos primeiros dias de setembro, cobrindo as oito maiores metrópoles brasileiras e o Distrito Federal.

Quase dois terços dessas pessoas se informam exclusivamente em sites de notícias e blogs jornalísticos, enquanto que 7% utilizam somente as redes sociais, como Orkut, Facebook e Twitter com essa finalidade. Os 29% restantes combinam as duas possibilidades. São eleitores que acessam a rede com muita intensidade: cerca de 70% dos que procuram nela essas informações dizem que navegam “todo dia ou quase todo dia” com esse intuito.

É muito incomum o eleitor que só busca informação sobre o tema na internet, sem complementá-la com nenhuma outra mídia. Na pesquisa, apenas 3% dos entrevistados afirmaram ter esse comportamento. Mais frequente é o hábito de usar a internet com a televisão, como disseram fazer 5% dos entrevistados, ou de utilizar as duas e o jornal impresso, resposta de outros 6%. Há, ainda, 4% de entrevistados que integram o rádio a essas três fontes.

O padrão de respostas mais frequente, de 9% dos pesquisados, no entanto, envolve um “mix de mídias” com um ingrediente adicional. Esses quase 10% disseram procurar informação sobre política em cinco mídias diferentes, misturando televisão, rádio, jornais impressos e internet às revistas de informação.

Pode não ser muito, mas não é pouco. Se pensarmos nos eleitores que combinam três ou mais mídias na sua informação sobre assuntos políticos, chegamos perto de 27% do total. Ou seja: em cada quatro eleitores das regiões metropolitanas, um pode ser considerado muito informado — imaginando que quem procura informação em tantas mídias simultaneamente acaba por encontrá-la.

Mais relevante, quase 20% dos entrevistados incluem a internet em seu mix, permitindo dizer que já é expressiva, no Brasil metropolitano, a fatia de eleitores não apenas bem informados, mas que a acessam e que podem ser acessados por meio dela.

Como essas proporções só sobem ano a ano, é fácil perceber quão diferente vai ficando nossa sociedade política com o passar do tempo. A cada eleição, a internet aumenta de importância, como vimos já em 2008 nas eleições de muitas capitais, onde foi um elemento decisivo do processo de ascensão e queda de diversos candidatos. Em 2010, todo mundo espera que seja ainda mais relevante.

Entre as áreas pesquisadas, o Distrito Federal é a que concentra a maior proporção de eleitores que usam a internet na procura de informação sobre política, com 47% dos entrevistados. A seguir, Porto Alegre, com números igualmente acima dos 40%. Em nenhuma ficam abaixo de 30%.

O que o futuro nos reserva pode ser visto no detalhamento dos resultados segundo os grupos etários. Entre eleitores muito jovens, com idades indo de 16 a 24 anos, a taxa de uso da internet com esse objetivo chega a 54%, caindo sistematicamente daí em diante. Quando chegamos aos eleitores com mais de 50 anos, ela atinge 16%, quase três vezes menos que no meio de jovens.

A escolaridade e a renda se mostram correlacionadas a esse modo de consumo de informação política. Pessoas com o equivalente ao antigo curso primário estão praticamente fora dele: na média das áreas pesquisadas, a taxa não chega a 3%, sendo próxima de zero em algumas. Inversamente, entre eleitores com acesso ao ensino superior, ela atinge 62%, na média, e chega aos 70% em algumas áreas.

Na renda, algo parecido, mas não idêntico. Mesmo entre eleitores cujas famílias têm rendimentos muito baixos, os números já são significativos: 18% dos entrevistados com renda familiar equivalente a dois salários mínimos ou menos usam a internet para se informar sobre política. Muito provavelmente, isso decorre do aumento da escolaridade nos segmentos jovens das camadas mais pobres.

Se pensarmos como era, nesses termos, a sociedade brasileira que fez a primeira eleição presidencial moderna em 1989, vemos como mudamos em 20 anos. Daqui a outubro de 2010, teremos mudado ainda mais. Os políticos que não perceberem isso correm o risco de não conseguir falar para o país que seremos.

Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi