quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Artigo de Leonardo Attuch

Leonardo Attuch é colunista da Revista Isto É

Lula de saias

Quem observa a tímida nascente que forma o lago Lauricocha, no sul do Peru, não é capaz de imaginar que aquelas pequenas gotas que descem das montanhas dão início ao rio mais caudaloso do mundo.

O Amazonas é assim, nasce frágil e desemboca no Atlântico com o maior volume de água da face da Terra, carregando tudo aquilo que encontra pela frente. Em 2010, o Brasil poderá assistir a um fenômeno semelhante na política. A senadora Marina Silva, lançada à Presidência pela Partido Verde, é também um Amazonas em formação. Na nascente, ela parece frágil. Mas sua candidatura, se bem conduzida, tem tudo para inundar e até afundar as canoas dos adversários, desaguando no Palácio do Planalto. Num tempo marcado pelo profundo desencanto com a política, Marina responde a uma necessidade básica do eleitor brasileiro: a de eleger mitos e heróis.

Acreana, seringueira e analfabeta até os 17 anos, a senadora Marina tem uma biografia inatacável. Carrega um belo passado, em defesa dos povos da floresta, e tem ficha limpa, o que não é pouca coisa nos dias de hoje. Marina simboliza ainda a agenda do futuro, que é o desenvolvimento sustentável, combinando progresso e preservação dos recursos naturais. E, se o Brasil parece estar pronto para eleger pela primeira vez uma mulher, seria o caso de compará- la com sua principal adversária: a ministra Dilma Rousseff , da Casa Civil. Se Dilma é mandona e fala grosso, Marina é doce e busca o consenso. Enquanto uma pratica a realpolitik e aceita qualquer tipo de aliança, mesmo as mais espúrias, Marina representa a utopia. Se Dilma é a mãe do PAC e a candidata das empreiteiras, Marina poderá incendiar a juventude, assim como Lula nos seus bons tempos. Dilma talvez fale à razão. Marina atinge diretamente o coração do eleitor.
Há quem enxergue o dedo de José Serra por trás do lançamento da candidatura do PV. Tudo não passaria, segundo os adeptos das teorias conspiratórias, de uma estratégia para rachar a esquerda e vencer a disputa no primeiro turno.

Se foi isso, o tiro poderá sair pela culatra. O que menos interessaria ao candidato que lidera com folga as pesquisas, mas não tem muito carisma, seria a entrada de um herói na disputa. Quando perdeu a disputa para Lula em 2002, Serra disse que era muito difícil, quase impossível, enfrentar um mito. Marina talvez seja um Lula de saias, sem as máculas de campanhas ou de governos anteriores - e, por isso, ela assusta tanto o PT. É um sopro de esperança na política brasileira e pode ser a única pessoa capaz de derrotar petistas e tucanos em 2010.

Nenhum comentário:

Postar um comentário