O presidente Lula tem aproveitado o debate sobre a regulação do processo de exploração das reservas de petróleo do pré-sal para discutir a destinação dos resultados desta riqueza mineral recem-descoberta. Tem proposto que a riqueza não fique concentrada apenas nos estados "produtores" de petróleo (na verdade foi a decomposição natural de matéria orgânica que o produziu), mas que seja distribuída para todas as unidades da Federação. Além disso, tem proposto que parte desta riqueza seja dirigida para um fundo social, destinado a investimentos em educação, preservação ambiental e combate à pobreza. Também tem defendido restrições à exportação de petróleo, de modo que o país desenvolva ainda mais sua indústria petroquímica, exportando derivados, com maior valor agregado, gerando empregos e oportunidades de negócios no mercado interno. Por fim, tem reforçado o monopólio da PETROBRAS na exploração das reservas, de modo que o país não perca o controle sobre os estoques.
Considero todas as preocupações essencialmente corretas. Porém, ficou faltando um detalhe. Todos sabemos que reservas de petróleo, por maiores que possam ser, são recursos finitos. Portanto, é preciso colocar a questão: e quando o petróleo acabar? Quanto da riqueza do petróleo do pré-sal será destinada ao desenvolvimento de tecnologias para aproveitamento de fontes energéticas sustentáveis e renováveis, tais como a energia eólica, a energia solar, a energia cinética das marés ou os biocombustíveis?
A era do petróleo está chegando ao fim. Não necessariamente porque os estoques de petróleo estejam em declínio, o que também é verdade. Mas principalmente porque o consumo de energia tem sido crescente, porque a maior parte dessa energia tem sido gerada a partir de combustíveis fósseis (petróleo, gás natural e carvão mineral) e isso tudo tem ampliado o efeito estufa, provocando mudanças climáticas imprevisíveis, incontroláveis e que ameaçam a manutenção da vida no planeta. Dentro em breve, as restrições ambientais ao uso de combustíveis fósseis será de tal ordem, que os estoques remanescentes de petróleo, gás natural e carvão mineral perderão valor. Alguém já disse que "a idade da pedra acabou não porque as pedras tenham acabado". O mesmo vale para os combustíveis fósseis.
A era do petróleo vai acabar na medida em que as tecnologias para aproveitamento de fontes energéticas sustentáveis e renováveis forem competitivas, em termos de custos, para a substituição dos combustíveis fósseis. Hoje, os custos de exploração das reservas de petróleo do pré-sal só são viáveis em razão do constante crescimento do preço do barril do petróleo, que é um reflexo da redução da oferta e do crescimento do consumo. Porém, na medida em que se ofereçam alternativas mais baratas, ou de igual custo, mas sem os passivos ambientais decorrentes do uso dos combustíveis fósseis, toda a indústria do petróleo ficará obsoleta.
O Brasil possui todas as condições naturais para ser uma potência no aproveitamento de fontes sustentáveis e renováveis de energia. Porém, precisa dar prioridade a essa tarefa e precisa investir seriamente em ciência e tecnologia aplicada para este fim. A riqueza do pré-sal deveria ser fortemente orientada nesta direção. Não interessa ser a última potência da era do petróleo. É melhor ser a primeira potência em tecnologia de aproveitamento de fontes sustentáveis e renováveis de energia. É assim que vamos ter "crescimento econômico com distribuição de renda", ao tempo em que abrimos caminho para um modelo de desenvolvimento sustentável.
Juarez de Paula
Juarez de Paula
Corretíssimo, Ju.
ResponderExcluirO meu consolo para a estupidez desenvolvimentista é que, muito provavelmente, a humanidade se extinguirá antes de destruir completamente o planeta. E este ainda será capaz de gerar novas espécies, esperemos mais inteligentes, antes do sol se apagar e tudo voltar ao silêncio e a escuridão...
Como você pode ver, ando otimista (rs rs rs)...
Abraços,
Atila
Ótimo artigo que nos leva a perceber que algumas "excelentes" notícias de possível crescimento econômico, na verdade, faz-nos esquecer da necessidade de repensar a forma errônea de uso dos recursos naturais. É hora de não mais mascarar a necessidade de uma mudança de mentalidade a caminho do desenvolvimento sustentável.
ResponderExcluirJoana Bicalho
Esse detalhe que falta é TUDO. Concordo plenamente e cheguei a questionar a Petrobrás, quando do lançamento da descoberta do pré-sal.
ResponderExcluirEla já está criando de forma experimental, um posto de abastecimento de energia renovável para motos. O que eu não entendo é por que os conhecimentos técnicos não são libertários? porque a gente não capta diretamente a energia renovável para os veículos e utilitários? Vamos ser eternamente dependentes de abastecimento, quando poderíamos direcionar o consumo de energias com autonomia para novas pesquisas no desenvolvimento sustentável.