segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Limites do crescimento

10% verde


Candidatura de Marina Silva esbarra nos limites da agenda ambiental, incapaz de romper a onda desenvolvimentista cavalgada por Lula e Dilma

Aos poucos se torna evidente que a candidatura da ex-ministra do Meio Ambiente e senadora Marina Silva (PV) à Presidência da República esbarrou num teto de cerca de 10% nas pesquisas de intenção de voto. O desempenho limitado, até agora, decorre da precariedade de sua campanha, sobretudo do diminuto tempo de TV, em comparação com os adversários do PT e do PSDB.

No entorno da candidata verde, e mesmo fora do círculo de sua campanha, havia certa expectativa de que mensagens mais programáticas e substanciais poderiam romper a moldura plebiscitária da eleição. O cerco marqueteiro ao debate de propostas logrou substituí-las por imagens irreais e promessas sem lastro.

Com o apoio de novas mídias, esperavam os verdes galvanizar parcelas crescentes do eleitorado, a começar pelos jovens. Estes estariam mais abertos a considerar as questões centrais do país sob a ótica da sustentabilidade, com ênfase em problemas ambientais.

Em lugar de crescimento pelo crescimento, Marina se pauta por uma noção de desenvolvimento mais larga. Para além da economia, incorpora a ela temas como qualidade de vida, realizações humanas e preservação de recursos naturais para gerações futuras.

A julgar pela reação do eleitorado até aqui, a mensagem verde não ecoou. Nem mesmo entre os que têm de 16 a 24 anos a candidata do PV alcança vantagem significativa. Segundo o Datafolha, 20% das intenções de voto que lhe são dedicadas provêm dessa faixa etária, fatia praticamente igual à representada pelo grupo no total da amostra (19%).

Além de não sensibilizar a juventude, Marina Silva tampouco consegue falar para o Brasil demograficamente mais relevante. As intenções de voto que atrai se concentram nas camadas de maior escolaridade e renda nas capitais. No Nordeste, por exemplo, sua penetração é diminuta.

Junto à população mais pobre do país, não há páreo para o efeito avassalador da progressão do salário mínimo e da distribuição de benefícios sociais como Bolsa Família. Para esses brasileiros, é indubitável que a vida melhorou nos oito anos de governo Lula. Os dividendos políticos do avanço social são colhidos por Dilma Rousseff nas urnas.

José Serra não tem conseguido conter a maré lulista, mesmo comprometendo-se a manter seu curso. Não se concebe, assim, que Marina Silva, só com um partido débil e propostas de rever a própria noção de crescimento econômico (o que para muitos se traduz como um esforço para contê-lo), possa ter mais sucesso.

Marina abriu mão de uma reeleição mais ou menos tranquila para o Senado em favor de uma candidatura presidencial com chances mínimas. Atribuiu-se a missão de aprofundar o debate, muito necessário, sobre qual feição assumiria o desenvolvimento do país em direção a uma economia de baixo carbono.

Serão necessárias uma ou mais eleições para que Marina Silva consiga se fazer ouvir. Nada demais para quem passou 16 anos no Senado e no governo falando quase sempre para as paredes.

Editorial da Folha de São Paulo, 06/09/2010

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