sábado, 19 de março de 2011

Artigo de Fabiano Carnevale

Bem-me-quer, mal-me-quer: os impasses do Girassol e um chamado ao bom senso



Como construir as pontes entre o PV histórico e o PV que emergiu das urnas com cerca de 20 milhões de votos? Foi com essa pergunta martelando na cabeça desde outubro do ano passado que tenho definido minhas intenções dentro do partido no qual milito desde 1995 e que faço parte da direção nacional desde 2007, quando assumi o cargo de Secretário Nacional de Comunicação da Executiva Nacional. E foi com essa pergunta na cabeça que optei pelo voto de um cronograma que culminasse na Convenção Nacional em 6 meses. Mas já começo reafirmando meu pedido para que não me imputem a marca de ser do “grupo de Marina”, por ter votado pela posição defendida por ela, da mesma forma que rejeito a marca de ser do “grupo do Penna”, por ser parte do coletivo de dirigentes e da chamada “operativa” (o coletivo do Presidente e seu secretariado). Não me coloquem as amarras do debate personalista e despolitizado, pois quem conhece um pouco da minha trajetória partidária, sabe que minhas posições sempre tiveram a marca da independência e autonomia de pensamentos e ações.

Em 2007, depois de ter passado alguns anos afastado dos processos internos por discordar da intensa e cruel disputa interna que havia se estabelecido, decidi que retornaria à luta por um partido ecologista, democrático e plural, dessa vez não mais só no papel de militante mas no de dirigente nacional.

Foi com esse pensamento que apoiei entusiasticamente a entrada de Marina Silva e contribuí ativamente durante a campanha, tendo a oportunidade de conhecer, admirar e colaborar com o trabalho pessoas como Nilson Oliveira, Caio Túlio, Juliano Spyer, Marcelo Albagli, Felipe Vaz, entre outros.

Não podemos correr o risco de abrir novamente um espaço para o debate despolitizado e personalista. Recuso a visão de que se trata de uma luta entre “fisiológicos” e “ideológicos”, ou qualquer intenção de polarizar a disputa política entre “bem” e “mal”, que nós leva ao paralisante “nós” contra “eles”. Possuo em alta conta pessoas que estão em todos os lados dessa disputa. Reconheço na atual direção a competência de ter tirado o partido de uma organização amadora para o que, em 2009, recebeu Marina Silva e em 2010 abalou a polarização PT-PSDB para se transformar numa terceira via moderna e consistente. Da mesma forma que tenho em altíssima conta, os “novos-velhos” companheiros e companheiras que entraram na direção em 2009 e que possuem a mesma importância no rumo dos acontecimentos de 2010 e nas discussões do partido que queremos para a nova década.

Por isso, me recuso novamente a entrar no velho rame-rame das acusações ferinas e das palavras ácidas que só servem para desestimular e mascarar o importante debate que todos queremos, que é a construção de novos caminhos para o Partido Verde. Entendo que para se construir uma disputa política de alto nível, a primeira constatação tem que ser a de que não há anjos nem demônios nesse “éden infernal” que são os partidos políticos brasileiros. Para isso, necessitamos despersonalizar o debate e nos focar no que foi um consenso durante a reunião da última quinta-feira, que é um gradual movimento de atualização programática e reforma estatutária, nos levando a processos mais plurais e participativos dentro de todas as estruturas de poder interno, municipais, estaduais e nacional. Da mesma forma que não é aceitável como argumento de debate, a posição-ameaça de sair do PV e/ou fundação de um novo partido. As experiências recentes de partidos criados como uma forma de resgate de uma espécie de “pureza original” são suficientemente fracassadas para nos tirar desse caminho. E não deixemos, como sempre disse o Gabeira, que o fracasso nos suba à cabeça. Pois um novo partido desse tipo só surge quando o diálogo e a Política fracassam.

O que defendo é que, daqui para frente, o debate precisa sair do dissenso sobre os prazos e ser feito a partir do consenso surgido durante a reunião, que é o estabelecimento de um cronograma de seminários e congressos que culminem numa Convenção Nacional regida por processos que abram o partido para a participação inclusiva de um número expressivo de militantes qualificados (novos e antigos) que legitimem as escolhas das novas direções em todo o país.

O desafio é imenso. Nenhum partido político brasileiro possui verdadeira tradição de debates democráticos e plurais, portanto não temos onde nos espelhar. Será preciso construir algo novo, principalmente utilizando as novas tecnologias da informação como nossas aliadas. Fortalecer (técnica e politicamente) a RedePV (http://redepv.ning.com), nossa rede social interna que já conta com quase 4.000 filiados e simpatizantes de todo o país, para que ela possa se transformar em espaço privilegiado de participação e debates internos.

E como dizia a máxima da conspiração aquariana: let the sunshine in! Deixem o brilho do Sol entrar, iluminando as trevas das acusações pessoais e do debate despolitizado. Começamos agora, apenas começamos. Mas estamos mais vivos do que nunca.

Fabiano Carnevale

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