domingo, 4 de outubro de 2009

Artigo de Marcos Coimbra

Os eleitores na internet

Se pensarmos nos eleitores que combinam três ou mais mídias na sua informação sobre assuntos políticos, chegamos perto de 27% do total. Ou seja: em cada quatro eleitores das regiões metropolitanas, um pode ser considerado muito informado — imaginando que quem procura informação em tantas mídias simultaneamente acaba por encontrá-la.

Em pesquisa recente, vimos que a proporção de eleitores que usam a internet para se informar sobre política já chega a 36% nas principais regiões metropolitanas do país. Ela foi feita pela Vox Populi e seus trabalhos de campo aconteceram nos primeiros dias de setembro, cobrindo as oito maiores metrópoles brasileiras e o Distrito Federal.

Quase dois terços dessas pessoas se informam exclusivamente em sites de notícias e blogs jornalísticos, enquanto que 7% utilizam somente as redes sociais, como Orkut, Facebook e Twitter com essa finalidade. Os 29% restantes combinam as duas possibilidades. São eleitores que acessam a rede com muita intensidade: cerca de 70% dos que procuram nela essas informações dizem que navegam “todo dia ou quase todo dia” com esse intuito.

É muito incomum o eleitor que só busca informação sobre o tema na internet, sem complementá-la com nenhuma outra mídia. Na pesquisa, apenas 3% dos entrevistados afirmaram ter esse comportamento. Mais frequente é o hábito de usar a internet com a televisão, como disseram fazer 5% dos entrevistados, ou de utilizar as duas e o jornal impresso, resposta de outros 6%. Há, ainda, 4% de entrevistados que integram o rádio a essas três fontes.

O padrão de respostas mais frequente, de 9% dos pesquisados, no entanto, envolve um “mix de mídias” com um ingrediente adicional. Esses quase 10% disseram procurar informação sobre política em cinco mídias diferentes, misturando televisão, rádio, jornais impressos e internet às revistas de informação.

Pode não ser muito, mas não é pouco. Se pensarmos nos eleitores que combinam três ou mais mídias na sua informação sobre assuntos políticos, chegamos perto de 27% do total. Ou seja: em cada quatro eleitores das regiões metropolitanas, um pode ser considerado muito informado — imaginando que quem procura informação em tantas mídias simultaneamente acaba por encontrá-la.

Mais relevante, quase 20% dos entrevistados incluem a internet em seu mix, permitindo dizer que já é expressiva, no Brasil metropolitano, a fatia de eleitores não apenas bem informados, mas que a acessam e que podem ser acessados por meio dela.

Como essas proporções só sobem ano a ano, é fácil perceber quão diferente vai ficando nossa sociedade política com o passar do tempo. A cada eleição, a internet aumenta de importância, como vimos já em 2008 nas eleições de muitas capitais, onde foi um elemento decisivo do processo de ascensão e queda de diversos candidatos. Em 2010, todo mundo espera que seja ainda mais relevante.

Entre as áreas pesquisadas, o Distrito Federal é a que concentra a maior proporção de eleitores que usam a internet na procura de informação sobre política, com 47% dos entrevistados. A seguir, Porto Alegre, com números igualmente acima dos 40%. Em nenhuma ficam abaixo de 30%.

O que o futuro nos reserva pode ser visto no detalhamento dos resultados segundo os grupos etários. Entre eleitores muito jovens, com idades indo de 16 a 24 anos, a taxa de uso da internet com esse objetivo chega a 54%, caindo sistematicamente daí em diante. Quando chegamos aos eleitores com mais de 50 anos, ela atinge 16%, quase três vezes menos que no meio de jovens.

A escolaridade e a renda se mostram correlacionadas a esse modo de consumo de informação política. Pessoas com o equivalente ao antigo curso primário estão praticamente fora dele: na média das áreas pesquisadas, a taxa não chega a 3%, sendo próxima de zero em algumas. Inversamente, entre eleitores com acesso ao ensino superior, ela atinge 62%, na média, e chega aos 70% em algumas áreas.

Na renda, algo parecido, mas não idêntico. Mesmo entre eleitores cujas famílias têm rendimentos muito baixos, os números já são significativos: 18% dos entrevistados com renda familiar equivalente a dois salários mínimos ou menos usam a internet para se informar sobre política. Muito provavelmente, isso decorre do aumento da escolaridade nos segmentos jovens das camadas mais pobres.

Se pensarmos como era, nesses termos, a sociedade brasileira que fez a primeira eleição presidencial moderna em 1989, vemos como mudamos em 20 anos. Daqui a outubro de 2010, teremos mudado ainda mais. Os políticos que não perceberem isso correm o risco de não conseguir falar para o país que seremos.

Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

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