sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Artigo de Leonardo Attuch

Levem uma motosserra


Ir de mãos vazias a Copenhague é desperdiçar a maior oportunidade que o Brasil já teve

Um mês atrás, uma grande comitiva brasileira desembarcou em Copenhague, na Dinamarca. O Brasil tinha um bom plano, metas ousadas e uma alegria contagiante. O resultado? A cidade do Rio de Janeiro foi escolhida pelo Comitê Olímpico Internacional para sediar os Jogos de 2016. Dentro de algumas semanas, uma nova comitiva do governo, chefiada pela ministra Dilma Rousseff, chegará à capital dinamarquesa. Só que, desta vez, sem plano, sem metas e sem nenhum entusiasmo - na verdade, o Brasil irá à Conferência do Clima numa cadência totalmente defensiva. Irá de mãos vazias, apenas porque os países desenvolvidos, no passado, também derrubaram suas florestas. E não assumirá o compromisso de reduzir suas emissões de gases do efeito estufa porque outras nações estão agindo da mesma forma, sob o pretexto de não sacrificar seu crescimento econômico.

O que está por trás dessa postura anacrônica é a visão de que o Brasil não deve se subordinar a pressões externas na área ambiental, como se isso fosse sinal de bravura. Ocorre que o País deveria ser um dos maiores interessados em combater o aquecimento global. Primeiro, porque tem responsabilidade sobre o tema - é o quarto maior emissor de gases poluentes, com suas queimadas e sua pecuária extensiva. Segundo, porque é também um dos países mais afetados pelo problema. Se os estudos científicos estiverem corretos, cidades como Recife e Fortaleza poderão ficar submersas dentro de 50 anos, deixando milhões de pessoas desabrigadas. E o Brasil, que é hoje o celeiro do mundo, poderá perder toda a competitividade da sua agricultura no Centro-Oeste, se o regime de chuvas da Amazônia for afetado pelo aquecimento.

O mais grave é que a agenda ambiental é a única que o Brasil realmente tem condições de liderar. Não só pelo simbolismo da Amazônia, mas também devido ao fato de o País ser um dos únicos no mundo com capacidade para expandir, ao mesmo tempo, a produção de alimentos e de combustíveis limpos, como o etanol. No entanto, em vez de agarrar a oportunidade, o Itamaraty, que tem tanta sede de protagonismo em causas perdidas, hoje parece mais preocupado com o futuro de Manuel Zelaya do que com a agenda do século XXI.
De concreto, o Brasil fará apenas uma promessa vazia de reduzir o desmatamento ilegal na Amazônia em 80% - o que legitima uma cota de 20% para o crime. Enquanto isso, tramita no Congresso Nacional um projeto de lei que pode anistiar todos aqueles que desmataram suas terras no passado. Se a comitiva brasileira não tinha nada de bom a apresentar em Copenhague, seria melhor não ir. Mas já que vai, talvez fosse o caso de levar apenas uma motosserra.

Publicado na Revista Isto É - Edição 2087 - 11/11/2009

Nenhum comentário:

Postar um comentário