segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Artigo de Marina Silva

Todo mundo e ninguém


Terminou sem acordo, na sexta, em Barcelona, a última etapa oficial de negociação para a Cúpula do Clima. Embora essa expressão já tenha se transformado quase em chavão, faltou vontade política para chegar a um consenso antes do encontro de Copenhague, daqui a quatro semanas.

Com raras exceções, os países se recusam a apresentar metas substanciais de cortes nas emissões de gases-estufa, o que não é condizente com a gravidade do problema.

Permanecem, no jogo diplomático, as cobranças mútuas de metas entre os países em desenvolvimento e os desenvolvidos. Ao cabo, sobram apenas declarações de intenções, sem resultado prático.

O Brasil, lamentavelmente, parece seguir o mesmo caminho. Resiste a apresentar meta de redução de gases de efeito estufa que vá além da promessa de diminuição do desmatamento da Amazônia, que, se espera, possa ser revertido pela pressão dos setores mais lúcidos do governo e da sociedade.

Autoridades brasileiras chegaram a declarar, na semana passada, que o Brasil não apresentaria meta em Copenhague para não criar constrangimentos aos demais países em desenvolvimento. O governo parece temer uma "saia justa" com importantes parceiros comerciais, como Índia e China.

Diante desse quadro, lembro de um antigo dito popular que conta a história de Todo Mundo, Alguém, Qualquer Um e Ninguém, encarregados de uma tarefa importante. A história termina assim: Todo Mundo culpou Alguém quando Ninguém fez o que Qualquer Um, agindo com responsabilidade, poderia ter feito.

Enquanto isso, a ciência moderna afirma, majoritária e categoricamente, que caminhamos para um colapso climático. A maioria da população mundial se mostra preocupada e demonstra apoio a decisões mais ousadas, para que se evite o pior. Mas os governos dos países ricos, que mais podem contribuir para uma solução satisfatória, dividem-se entre aqueles que querem fazer pouco e os que não querem fazer praticamente nada.

Poucos países têm quebrado essa regra. Um bom exemplo é o da Noruega, que se comprometeu a reduzir em 40% as emissões até 2020 e criou um dos maiores programas voluntários de proteção das florestas tropicais do mundo. Porém, parece ter sido totalmente ignorado.

Apesar da necessidade de um regramento jurídico internacional para a redução das emissões de gases-estufa, até agora só se veem intenções políticas genéricas. Os governantes não querem sair da condição de "sujeitos indeterminados" na luta contra as mudanças do clima. A maioria tem se abrigado na inaceitável sombra da irresponsabilidade comum e indiferenciada.

Até quando?

Marina Silva – Folha de São Paulo – 09/11/2009

contatomarinasilva@uol.com.br

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