quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Interpretando o cenário

A quem interessa a polarização?

O jornalista Fernando Rodrigues postou em seu blog - http://uolpolitica.blog.uol.com.br/ , no domingo, 24/01/2010, resultados de duas pesquisas eleitorais realizadas no Rio de Janeiro.

O Instituto Vox Populi, sob encomenda da TV Bandeirantes, realizou pesquisa no período de 14 a 17/01/2010. Foi apurado: Serra com 27%, Dilma com 26%, Ciro com 14% e Marina com 9%.

O Instituto Data Folha realizou pesquisa no período de 14 a 18/01/2010. Foi apurado: Serra com 29%, Dilma com 21%, Ciro com 14% e Marina com 12%.

Os resultados indicam que Dilma se afastou de Ciro e se aproximou de Serra, e que Ciro e Marina se mantiveram estáveis, quer dizer, sem crescimento nem queda.

O crescimento de Dilma anima a estratégia do Governo Lula de forçar a polarização entre os candidatos do PT e do PSDB.

Coerentemente com essa estratégia, o Governo Lula  e o PT pressionam o PSB pela retirada da candidatura de Ciro. Dirigentes do PSB exigem que seja mantido o acordo anterior, onde o prazo para essa decisão seria o mês de março. Ciro, que retornou de férias ontem, declarou, segundo divulgado hoje, no blog do jornalista Josias de Sousa - http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/ , que não tem interesse em se candidatar ao governo de São Paulo (conforme desejo do Presidente Lula), que mantém sua candidatura à presidência e que só a retirará por decisão do PSB. Nesse caso, ficará fora da disputa eleitoral. Ciro continua acreditando que a polarização pode resultar na vitória de Serra no primeiro turno.

Coerentemente com essa mesma estratégia, o Governo Lula e o PT tentam esvaziar a candidatura de Marina. São produzidos boatos de que Marina estaria pretendendo ser vice de Serra ou que representaria uma "linha-auxiliar" do PSDB, para tentar impedir a adesão de um expressivo número de eleitores de Lula e militantes do PT que não aceitam a candidatura de Dilma, inventada e imposta sem discussão democrática no partido, quebrando sua tradição histórica. Outra variante tem sido a de argumentar que a candidatura de Marina é inviável, que apenas tira votos de Dilma, tornando-se uma ameaça à continuidade das conquistas representadas pelo Governo Lula, como se os eleitores desejassem apenas "mais do mesmo".

A estratégia de Serra é adiar ao máximo o início da campanha, o debate público e os confrontos inerentes a uma disputa eleitoral, de modo a se manter na dianteira, apostando numa vitória ainda no primeiro turno.

A estratégia de Ciro é se colocar como principal opositor de Serra. Confia no seu talento como polemista e nas fragilidades de Dilma, que nunca disputou uma eleição, para conseguir crescer nas pesquisas e se afirmar como a alternativa mais competitiva, terminando por obrigar o Governo Lula a apoiá-lo. Sua estratégia esbarra apenas nos interesses dos governadores do PSB, que desejam o apoio do Presidente Lula para garantirem suas respectivas reeleições, o que pode levá-los a ceder à estratégia da polarização. Convém observar que Ciro, mesmo sumido do noticiário em todo o período do final do ano, mesmo tendo sua candidatura questionada por todos os lados, manteve-se estável nas pesquisas, o que o autoriza a considerar que pode crescer, na medida em que reforçar suas atividades como pré-candidato.

A estratégia de Marina é mostrar que a polarização entre Serra e Dilma condena o país à repetição do passado. Sendo a pré-candidata com menor rejeição e menor reconhecimento pelos eleitores, é a que tem as maiores oportunidades de crescimento. Mesmo sem grande estrutura partidária, sem alianças com outros partidos, sem recursos materiais e sem exposição na mídia, também vem se mantendo estável nas pesquisas. Portanto, tudo leva a crer que crescerá, na medida em que intensificar sua pré-campanha. Além disso, como bem observado pelo jornalista Fernando de Barros e Silva, na edição de hoje do jornal Folha de São Paulo, Marina concentra sua preferência eleitoral, nesse momento, nos eleitores jovens e nos eleitores urbanos, com maior acesso à informação, com formação de nível superior, residentes nas capitais, ou seja, setores que são considerados pelos especialistas como "formadores de opinião", o que representa um grande potencial multiplicador.

Portanto, a estratégia da polarização é uma impostura política que serve apenas aos interesses do PT e do PSDB de se reproduzirem no poder, cerceando o acesso de outras representações políticas ao espaço público do debate sobre o futuro do país. Trata-se, claramente, de uma estratégia anti-democrática, que pretende impedir a diversidade, o pluralismo, a manifestação do dissenso, a afirmação da diferença. O povo brasileiro, que resistiu à Ditadura Militar, que fez a luta pelas Diretas Já, que redemocratizou o país, que soube exigir o impeachment de um presidente eleito em nome da ética na política, que soube eleger um operário metalúrgico para presidir o país quando este representava uma promessa de mudanças, tem suficiente maturidade política para não se deixar enganar por manobras que fragilizam nossa democracia.

Juarez de Paula

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