sábado, 21 de agosto de 2010

Minha avaliação

Uma estratégia equivocada

Permaneço como eleitor de Marina, mas não sei se ainda estou ou se algum dia estive na coordenação da campanha. Não estou reclamando, mesmo porque minha disponibilidade é reduzida e minha disposição pessoal não é mais a mesma de algum tempo atrás. A última vez que fui convocado para uma reunião da coordenação nacional da campanha foi em 04/06/2010. Desde então, acho que lembraram de me esquecer.

Minha percepção é a seguinte:

Marina tem uma história pessoal que permite alguma associação com a história “mítica” do Lula, tem carisma, e tem uma relativamente boa capacidade de comunicação, apesar de ter adquirido um estilo que considero, muitas vezes, excessivamente acadêmico.

Marina construiu um discurso onde tenta se vender como representante de uma trajetória que parte da herança de FHC (estabilidade monetária, responsabilidade fiscal e consolidação democrática), passa pelas conquistas de Lula (retomada do crescimento econômico, aumento da renda das classes C, D e E por meio das políticas sociais, ampliação do mercado interno) e aponta em direção a um novo modelo de desenvolvimento, pretensamente “sustentável”. Todavia, penso que não consegue explicar e comunicar da forma adequada o que seria esse novo modelo de desenvolvimento. Seu discurso tem se mostrado repetitivo, indicando um certo esgotamento do repertório.

Houve uma clara subestimação dos problemas internos do PV. Marina está sendo usada para ampliar a votação do partido e aumentar sua bancada, beneficiando uma burocracia que sobrevive às custas da parcela do PV no Fundo Partidário. Todos os acordos feitos previamente foram desrespeitados. Não há candidaturas majoritárias próprias do PV na maioria dos estados. Há dezenas de alianças estaduais do PV que simplesmente inviabilizam a campanha de Marina. Não há nenhuma democracia interna no PV e as instâncias de direção não funcionam, de modo que a direção real acontece de forma personalista e informal.

Mesmo sabendo que não existiriam palanques estaduais fortes, nem doações empresariais relevantes para financiamento da campanha, demorou muito para ser criada uma estrutura capaz de estimular e captar milhões de pequenas doações espontâneas, e não foi criada, até agora, uma estrutura para dar suporte a uma campanha baseada no trabalho voluntário de milhões de pessoas espalhadas pelo país.

A campanha, até agora, é "virtuosa e virtual", ou seja, tem se resumido ao aproveitamento de espaços de mídia e às atividades que contam com a participação pessoal de Marina. Para isso existe uma estrutura minimamente suficiente: jatinho particular, carros com motoristas, staff de assessores, veiculação própria em diversas ferramentas da internet. Fora disso, não há mais nada: material de campanha suficiente, comitês, suporte para os candidatos majoritários e proporcionais do PV etc. Afirmei várias vezes que o ambiente é de “cada um por si e todos por Marina”.

Tenho dito que se trata de uma campanha “doméstica”. Marina se cerca de amigos, funcionários do seu gabinete no Senado, ex-integrantes de sua equipe no Ministério do Meio Ambiente e dirigentes de algumas ONGs ambientalistas. Quase ninguém tem experiência política partidária e eleitoral. Há exceções, mas têm se revelado insuficientes para a tarefa. Essas pessoas criaram um "cordão sanitário" que isola Marina e dificulta o contato até mesmo com seus apoiadores.

Há uma sobrevalorização da capacidade de Marina em capitalizar o “voto evangélico” (como se os demais candidatos também não tivessem aliados importantes nesse segmento) e uma subestimação dos impactos negativos de seus compromissos religiosos junto ao eleitorado de classe média urbana com perfil ideológico mais à esquerda. Há uma sobrevalorização do impacto eleitoral de iniciativas como o “Movimento Marina Silva” e as “Casas de Marina”, apresentados como instrumentos inovadores de campanha.

A verdade é que Marina estacionou em todas as pesquisas, a despeito de termos atravessado uma fase da campanha em que os candidatos vinham sendo tratados de forma equivalente. Agora, após o início do Horário Eleitoral, a relação passará a ser bastante desigual e desvantajosa para Marina. Existe a expectativa de que Marina cresça nos debates. Entretanto, sua participação no primeiro debate não deu indicativos seguros disso. Existe a expectativa de que Marina cresça com as propagandas de TV. Veremos.

Sinceramente, acho que o "projeto político", que nunca foi discutido coletivamente, está se revelando bastante personalista e messiânico. Não há esforço efetivo para eleger uma bancada nem para constituir um grupo político nacional. Há apenas a iniciativa de aproveitar a oportunidade das eleições presidenciais para projetar Marina como símbolo de "alguma coisa nova" que ainda não se sabe exatamente o que é ou virá a ser. Lamento, mas é muito pouco para dar sentido à militância de quem, há trinta anos, tenta construir projetos coletivos.

Continuarei torcendo, como tenho feito desde o início, para estar completamente equivocado. Continuarei esperando, até o fim, por uma surpreendente reviravolta nos acontecimentos. Sei, desde agora, quem serão considerados os grandes estrategistas e coordenadores de uma campanha vitoriosa. Porém, caso ocorra o que considero uma derrota, ou seja, um resultado muito aquém do potencial e uma eventual redução da representação do PV, espero que esses mesmos estrategistas e coordenadores assumam suas responsabilidades, de forma compartilhada com Marina, que os escolheu e empoderou, em detrimento de outros que apostaram muito em um projeto coletivo.

Juarez de Paula

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