segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Explicando o óbvio

"É a economia, estúpido!"

(James Carville, marqueteiro da campanha de Clinton em 1992)


Tudo indica que Dilma Rousseff vencerá a campanha presidencial no primeiro turno. Não é difícil entender as razões. Quase tudo se explica pelo sucesso do Governo Lula, particularmente na economia.

Lula conseguiu construir o melhor dos mundos. Preservou os interesses dos banqueiros, pagando a maior taxa de juros do mercado financeiro internacional na remuneração dos títulos da dívida pública. Cooptou as grandes empreiteiras, através de relevantes investimentos em obras de infra-estrutura que podem ser simbolizados pelo PAC - Plano de Aceleração do Crescimento. Atendeu os interesses das grandes empresas, por intermédio de generosos e subsidiados empréstimos do BNDES, sob o pretexto de financiar empresas brasileiras para se tornarem líderes mundiais em seus respectivos mercados.

Mas a jogada de mestre foi a "criação de um mercado interno de consumo de massas", sempre preconizado pelo PT, elevando a capacidade de consumo das assim chamadas "classes C, D e E" através de políticas sociais de transferência direta de renda tais como o Bolsa Família, ou da correção do valor do salário mínimo acima dos índices inflacionários, ou da expansão da base da Previdência Social, ou ainda da muito relevante ampliação do crédito subsidiado para a agricultura familiar através do PRONAF.

Assim, simultaneamente, melhorou o poder de compra de milhões de brasileiros, que ingressaram no mercado consumidor, e possibilitou maiores ganhos ao setor empresarial, que expandiu seus negócios para atender essa nova demanda.

Além disso, manteve sob controle os "movimentos sociais" tradicionais (as centrais sindicais, a UNE, o MST, dentre outros), que passaram a receber um volume extraordinário de recursos públicos, sob a condição de total e completa domesticação.

Isso explica porque não existe oposição relevante contra o Governo Lula, apesar dos problemas na saúde, na educação, na segurança pública, no saneamento, no transporte urbano, no déficit habitacional, na corrupção política, etc.

A questão é: até quando poderá ser mantida esta situação? Indicadores mostram que há um grande crescimento no "endividamento das famílias", enquanto o "consumo das famílias", a grande mola-propulsora do crescimento econômico recente até mesmo num cenário de crise financeira internacional, começou a declinar. Aumenta também o déficit público, a despeito da elevada carga tributária e dos recordes de arrecadação. Aproxima-se a hora do acerto de contas!

Mas Lula vai deixar o problema para Dilma. Quando vier o arrocho, muita gente vai pensar: "Bom mesmo era no tempo do Lula. Tinha emprego, salário, inflação baixa, a gente podia comprar televisão, geladeira, celular, moto, etc." Será a chave para o movimento "Volta Lula". Logo mais, em 2014.

Mas seria injusto atribuir todo o mérito apenas à política econômica de Palocci, Mantega e Henrique Meirelles.

Lula também tem seu mérito particular. Além de ser uma liderança carismática com incrível capacidade de comunicação popular, é um arguto negociador político e estrategista eleitoral.

Lula construiu uma estratégia e a executou rigorosamente:
(a) cuidou para que seu governo tivesse a melhor avaliação possível;
(b) manteve os aliados tradicionais e trouxe o PMDB, garantindo o maior tempo de TV;
(c) controlou completamente o PT, a ponto de impor a candidata que desejou;
(d) inviabilizou a candidatura do Ciro;
(e) interviu nos palanques estaduais para garantir chapas competitivas em todos os estados;
(f) beneficiou e depois pressionou os empresários para obter doações de campanha, arrecadando o dobro da soma dos demais candidatos;
(g) operou, no momento oportuno, para inflar a candidatura do Serra e esvaziar a do Aécio, "escolhendo" o adversário mais fácil de derrotar;
(h) isolou a oposição, a ponto de ninguém querer ser identificado como "de oposição".

São esses dois fatores que explicam, sinteticamente, a situação atual de favoritismo de Dilma. Dilma é o produto desta estratégia. Poderia ser qualquer outra pessoa escolhida por Lula. Nenhum líder político constrói sucessores que possam ameaçar sua própria liderança. Lula escolheu Dilma porque não vê nela uma ameaça. Ponto.

Dilma vencerá porque os eleitores estão satisfeitos com o Governo Lula e desejam sua continuidade. Lula conseguiu comunicar aos eleitores que Dilma é a continuidade do Governo Lula. A oposição foi anulada por sua própria incapacidade de explicar o presente e oferecer uma proposta sedutora de futuro. Ninguém troca o certo pelo duvidoso. Dilma é mais do mesmo. Então tá bom. Deixa assim.

Só não me venham com nenhuma conversa mole de querer atribuir algum caráter inovador, progressista ou de esquerda para a candidatura Dilma. É a candidata dos banqueiros, das empreiteiras, do grande empresariado, dos "movimentos sociais" cooptados e silenciados, dos partidos acomodados aos seus cargos no Governo, da campanha milionária, da militância remunerada, do PT rendido à lógica da manutenção do poder a qualquer custo. Ignorar isso é apenas uma forma cínica ou ingênua de auto-engano.

Juarez de Paula

2 comentários:

  1. Caro Juarez, parece que mesmo dizendo tantas verdades claras parece que voce não perdeu a
    elegancia dos bons tempos da PJMP. Desculpe não vi voce cita-la no seu perfil !!! Mesmo assim parabens. Paulo Holanda . Fortaleza_CE.

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  2. Parabens! A verdade nua e crua...
    e vamos ao segundo tempo...Governo Dilma...
    Abs
    Neusa

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