terça-feira, 2 de novembro de 2010

Cenário pós-eleitoral

Eleições 2010 - algumas reflexões iniciais
 
Publiquei neste Blog, em 06/09/2010, um artigo intitulado "Explicando o óbvio", onde argumentei sobre as razões da provável e previsível vitória de Dilma Rousseff. Considero desnecessário voltar às mesmas questões. Desejo, nesse artigo, explorar novos aspectos, partindo dos resultados das urnas.
 
Contrariando a expectativa de diversos estrategistas e analistas, não houve correspondência entre os resultados das eleições presidenciais e das eleições para governadores de estados. Os exemplos são muitos: no AC o PT elegeu o governador, mas Serra venceu; em RO o PMDB elegeu o governador, mas Serra venceu; no PA o PSDB elegeu o governador, mas Dilma venceu; no TO o PSDB elegeu o governador, mas Dilma venceu; no RN o DEM elegeu o governador, mas Dilma venceu; em AL o PSDB elegeu o governador, mas Dilma venceu; no MT o PMDB elegeu o governador, mas Serra venceu; no MS o PMDB elegeu o governador, mas Serra venceu; no ES o PSB elegeu o governador, mas Serra venceu; em MG o PSDB elegeu o governador, mas Dilma venceu; no RS o PT elegeu o governador, mas Serra venceu. Uma evidência de que o voto não foi programático ou ideológico. O eleitor votou segundo o perfil dos candidatos, variando sua preferência independentemente das alianças partidárias.
 
Um número muito significativo de eleitores não votou nem em Dilma, nem em Serra. Foram mais de 38 milhões de eleitores, o equivalente a 28,2% do eleitorado, somando as abstenções (21,5%), os votos nulos (4,4%) e os votos em branco (2,3%). Isso evidencia um certo esgotamento da polarização entre PT e PSDB. Uma boa parte do eleitorado decidiu demonstrar que não se identifica com nenhum desses partidos ou com os candidatos que os representaram. É uma sinalização importante de um "vazio político" a ser preenchido.
 
O PSDB, mesmo derrotado nas eleições presidenciais, elegeu o maior número de governadores, vencendo em 8 estados, incluindo os dois maiores colégios eleitorais do país: SP, MG, PR, GO, TO, PA, RR e AL. Isso representou 45% do total de votos para governador. Considerando os dois governadores eleitos pelo DEM - SC e RN - é possível afirmar que as oposições terão força suficiente para manter um certo equilíbrio de poder.
 
O PSB surge como a principal força emergente. Elegeu 6 governadores: ES, PE, CE, PB, PI e AP. Estará apto a pressionar por uma maior participação no Governo Dilma e a fazer movimentações no sentido de sair da condição de coadjuvante do PT.
 
O PT elegeu 5 governadores: RS, BA, DF, SE e AC. Mesmo resultado obtido pelo PMDB: RJ, MT, MS, RO e MA. Reforça a situação de equilíbrio entre os dois partidos que ancoram a base do Governo Dilma e alimenta a disputa entre ambos por espaços de poder.
 
O PMN completa a base governista com o governador do AM.
 
Minha primeira impressão é de que o Governo Dilma iniciará sob forte pressão. Dilma não tem uma liderança consolidada. É uma invenção de Lula. Terá o ônus de substituir um mito e de dar continuidade a um governo com índices muito elevados de popularidade. Precisará se impor frente ao PT, ao PMDB, ao PSB e demais partidos aliados. Precisará evitar uma disputa interna que leve a uma situação de instabilidade política. Além disso, receberá o país numa situação econômica mais vulnerável. E terá oposição!
 
A oposição cresceu, ficou mais forte e absorveu o aprendizado de que precisa ser mais atuante, mais firme, mais contundente. Não terá em relação a Dilma a reverência que teve em relação a Lula. A segunda derrota de Serra na disputa presidencial e seu isolamento, durante a campanha, na relação com os aliados, implicou no seu enfraquecimento imediato. Mas Serra deu sinais de que pretende se manter na cena política. Portanto, considerando o hegemonismo paulista que caracteriza o PSDB, não é certa a emergência de Aécio Neves como a principal liderança da oposição. Mesmo porque seu perfil conciliador não seria o mais adequado para uma oposição que precisa afirmar sua identidade. Ainda assim, Aécio reúne as condições mais favoráveis, no momento, para liderar a oposição.
 
Há muitas especulações sobre uma eventual Reforma Política. Lula tem dito que deseja trabalhar pela constituição de uma Frente que reúna PT, PSB, PDT e PCdoB, além de outros aliados mais recentes. Na oposição, PSDB, DEM e PPS estão sempre cogitando uma eventual fusão. Caso seja aberta uma "janela de oportunidade" em relação às regras atuais de fidelidade partidária, poderá haver muita troca de partido.
 
É prudente aguardar as movimentações para composição dos futuros governos, que poderão implicar em alterações no cenário de alianças partidárias. Veremos.
 
Juarez de Paula

Um comentário:

  1. Caro Juarez, primeiramente parabéns pelo seu blog, vou visitá-lo de vez em quando para trocar figurinhas. Sobre este post, vale lembrar que o total do número de abstenções não necessariamente significa falta de identidade entre os candidatos da velha polarização. Infelizmente a Justiça Eleitoral é muito lenta em registrar óbitos de eleitores e tem muita gente morta incluida nestas abstenções. Só para dar um exemplo, li em algum jornal (não sei mais qual) que pessoas que morreram naquele voo da Air France que caiu no litoral brasileiro ainda estavam como votantes. O jornalista ligou para o TRE, deu o nome de um tripulante do voo e perguntou se poderia votar no 2º turno, a resposta foi que sim, apesar de constatarem que ele não votou no 1º turno! Será que um médium poderia votar no lugar dele?

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