sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Ainda sobre a crise política no DF

Presentão de aniversário


A prisão preventiva do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, não foi decretada por causa da dinheirama em meias, cuecas, bolsas, haras e mansões, mas, sim, por um outro erro do réu: o suposto suborno do tal jornalista Edson Sombra, o que caracteriza obstrução de Justiça.

Arruda é campeão de ineditismos: o primeiro governador preso na democracia; o único senador a jurar pelos filhos em cima de uma mentira; o que se cerca dos braços direitos dos seus maiores inimigos; e, enfim, o envolvido com a compra de um jornalista, apesar de todas as câmeras, gravações e delações.

Que sirva de exemplo para governadores, senadores, deputados e candidatos em geral. E que sirva de troféu para uma população exausta com o festival de arbitrariedades e de desvio do dinheiro público.

A prisão preventiva dependia da decisão final do ministro Marco Aurélio Melo, do Supremo Tribunal Federal, sobre o pedido de habeas corpus. Não importa. Poderia demorar só três horas, cinco horas, dez horas, mas seu efeito ético e de alerta já se irradiava pelo país.

Arruda, que jogou fora a imagem de bom administrador pela ganância, arrogância e descaso pela ética, pode estar abrindo uma lista de novas prisões -em Brasília, onde o governo ruiu e há até a expectativa de intervenção federal. E no país, onde corruptores e corruptos devem ficar com as barbas de molho.

O clima não era de tristeza, era de festa. Entidades como a OAB (advogados), a AMB (magistrados) e a ANPR (procuradores da República) distribuíram notas elogiando o Superior Tribunal de Justiça pela decisão e projetando novos tempos, com menos impunidade e mais rigor contra os poderosos. A dois meses da festa pelo aniversário da "nova capital", agora uma senhora cinquentona, a prisão do governador foi recebida como um tremendo presente: a lei, enfim, começa a valer para todos?

Eliane Cantanhêde
elianec@uol.com.br

Folha de São Paulo, 12/02/2010

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