sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Explicando a crise política no DF - 1

Em 20 anos de autonomia política, DF acumulou coleção de escândalos


Rui Nogueira


Em 20 anos de autonomia política, que serão completados em outubro próximo, o Distrito Federal cultivou uma verdadeira coleção de escândalos. O tamanho do pântano brasiliense pode ser medido por dois grandes recordes nacionais.

Primeiro recorde: em apenas cinco mandatos de governadores eleitos desde que o DF voltou a escolher livremente os seus representantes - três de Joaquim Roriz (1991-1995 e 1999-2006), um de Cristovam Buarque e outro de José Roberto Arruda -, Brasília contabiliza um governador preso e outro que escapou a duras penas de um processo de cassação.

Arruda foi preso ontem. Roriz reelegeu-se em 2002 para um terceiro mandato com o uso tão escancarado da máquina pública - distribuindo lotes e títulos de propriedade - que foi alvo de 35 processos. No último deles, julgado no TSE em 2005, foi absolvido por 4 votos a 2. Apesar dos documentos anexados, o TSE decidiu que não tinha como provar que foi o uso da máquina que o elegeu.

O segundo recorde do DF diz respeito à qualidade dos seus parlamentares, no Congresso Nacional e na Câmara Distrital. O primeiro senador cassado na história da República brasileira é de Brasília: Luiz Estevão, senador pelo PMDB, foi cassado em junho de 2000 por quebra de decoro parlamentar - mentiu à CPI do Judiciário, no caso do desvio de R$ 169 milhões nas obras do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de São Paulo. O governador preso ontem, era senador em 2001 quando teve de renunciar ao cargo para escapar da cassação por envolvimento no escândalo da violação do painel eletrônico da Casa. O motivo da violação é que ele queria saber como foi a votação secreta da cassação de Estevão.

O mesmo Senado assistiria seis anos depois, em junho de 2007, à renúncia do senador e ex-governador Roriz. O método da renúncia para escapar à cassação livrou o senador de explicar o caso da "bezerra de ouro", envolvendo um cheque de R$ 2,2 milhões recebido do empresário Nenê Constantino, dono da Gol. Escutas legais da Operação Aquarela revelaram que o cheque foi descontado na boca do caixa do Banco Estatal de Brasília (BRB). Roriz disse que do total descontado ele ficou "apenas" com R$ 300 mil para pagar uma bezerra arrematada em um leilão de gado. Jamais apresentou a bezerra.

Em 1993, no escândalo dos Anões do Orçamento, Roriz, então governador em primeiro mandato eleito, foi flagrado distribuindo cheques para pelo menos quatro deputados distritais - um mensalinho que Arruda, 17 anos depois, repetiria em proporções só vistas no mensalão do primeiro mandato do governo Lula (2003-2006). Hoje, no "mensalão do DEM", pelo menos um terço da Câmara Distrital, que tem 24 deputados, está envolvida no esquema de propinas distribuídas pelo governo Arruda.

O Estado de São Paulo, 12/02/2010

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