sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Crise no DF

Paulo Octávio pede união de secretariado e diz que fica no cargo até 31 de dezembro


Márcio Falcão
da Folha Online, em Brasília

Um dia após ensaiar a entrega do cargo, o governador interino do Distrito Federal, Paulo Octávio (DEM), reuniu os 17 secretários e pediu união contra a ameaça de intervenção federal defendida pela Procuradoria Geral da República.

No encontro, Paulo Octávio anunciou que retoma na próxima semana o calendário de inauguração de obras, com o lançamento de duas escolas, além da entrega de dois campos de futebol de grama sintética. Ao todo, são mais 2.000 obras que estão previstas para serem inauguradas neste ano, além de R$ 2 bilhões de previsão de investimentos.

Segundo o secretário André Duda (Comunicação), Paulo Octávio pediu que os secretários continuem as ações de governo para mostrar que a crise é política e não atingiu a população.

"O governador quer mostrar para o Ministério Público Federal que o pedido de intervenção é fora de propósito. As escolas estão funcionando, a saúde está funcionando. A crise é grave, é política, mas para a população não está acontecendo", disse.

Segundo o secretário de comunicação, Paulo Octavio está disposto a permanecer no cargo até 31 de dezembro. "Ele disse que fica até 31 de dezembro", disse.

O secretário de comunicação minimizou o desgaste político em torno de Paulo Octávio por ter decidido permanecer no cargo. Paulo Octávio também é acusado de suposta participação no esquema de arrecadação e pagamento de propina que envolve o titular do cargo, José Roberto Arruda (sem partido), preso na Polícia Federal por determinação da Justiça.

"Na reunião não foi discutida a questão da renúncia. O governador já falou que quer ser um facilitador. Se entender que não tem o poder de agregar e ter governabilidade, ele sai", disse.

Duda afirmou ainda que, por enquanto, o governador não fará mudanças na equipe e que não há resultado da revisão de contratos de licitação emergenciais. Paulo Octávio foi orientado por líderes do DEM a promover uma mudança completa no secretariado, para fazer uma gestão de ruptura. Com o recuo em relação a renúncia e a ameaça de expulsão, Paulo Octávio deve entregar na segunda-feira sua carta de desfiliação.

Apoio

Paulo Octávio tenta restabelecer a sustentação no governo e na Câmara Legislativa. O governador interino marcou um encontro para amanhã com os 24 deputados distritais para tentar ganhar uma sobrevida e evitar que os três processos de impeachment abertos contra ele na Câmara Legislativa sejam acelerados.

Oficialmente, a reunião é para discutir a crise política da capital federal e a governabilidade diante das denúncias de envolvimento no esquema de arrecadação e pagamento de propina que pesam contra o democrata.

O governador interino já encontra resistência. A bancada do PT, que conta com quatro parlamentares, e o deputado Antonio Reguffe (PDT), considerado independente, prometem não aparecer no encontro para marcar publicamente que defendem a saída de Paulo Octávio.

A comissão especial que vai analisar os pedidos de impeachment de Paulo Octávio e outros quatro de Arruda se reúne na segunda-feira para escolher os relatores dos processos. Paulo Octávio foi informado na noite de ontem da abertura dos pedidos de afastamento contra ele, durante uma reunião com sete distritais.

Segundo parlamentares que estiveram presente, o governador interino demonstrou "irritação" com a decisão da Câmara Legislativa e chegou a reclamar dizendo que "não acreditava" que os parlamentares tinham tomado essa decisão.

Para convencer os distritais e tentar recuperar o apoio na Câmara, Paulo Octávio pretende afirmar aos parlamentares que a sua saída do governo reforça a tese de intervenção federal no Distrito Federal, o que também teria reflexo na Câmara e, especialmente, no bolso das famílias de alguns parlamentares que mantém contratos com o GDF (Governo do Distrito Federal).

Folha Online, 19/02/2010
http://www1.folha.uol.com.br/

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